ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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4.10.08
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 4 de Outubro de 2008 A UE está, pouco a pouco, a acabar. A reunião de uma coisa chamada G4, a que as instituições comunitárias deram a caução da sua presença, institucionaliza um directório informal que aparece a decidir por cima do normal funcionamento da UE. O argumento é o da urgência e o da eficácia, mas este tipo de reuniões está a mudar o carácter e as regras de igualdade entre os membros da UE. * O Primeiro-ministro aparece todos os dias a fazer um comício contra a oposição, intercalado por operações de propaganda. Não parece especialmente atarefado em governar, mas sim a encher os ecrãs da televisão que obedientemente o seguem. E que tal instituir para estas sessões o mesmo principio do contraditório que existe para qualquer declaração da oposição, logo seguida da "resposta" do governo? E se o mesmo passasse a existir para estes comícios de propaganda e ataque do Primeiro-ministro? Ou seja, ele fala, passa no telejornal, seguido da resposta do PSD, PP, PCP e BE, conforme a natureza da matéria e quem ele atinge. Porque é que há órgãos de comunicação social do estado que tem esta instrução para as actividades da oposição e não a seguem para o governo? (url) (url)
OUVINDO
Janet Baker a cantar o lamento de Dido da Dido e Eneias de Purcell.
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OUVINDO
The Nashville Bluegrass Band a cantar Train Carryin' Jimmie Rodgers We'd some hard times these last few years,JD Sumner a cantar Wayfaring Stranger. I am a poor wayfaring stranger (url)
NUNCA É TARDE PARA APRENDER: UM JACOBINO AMERICANO
Christopher Hitchens, Thomas Jefferson, Harper Collins Publishers, 2005 Este livro é uma desilusão: nem é uma biografia, nem um estudo do pensamento e acção política de Jefferson. É um pouco de tudo isto, numa espécie de ensaio biográfico, mas o resultado é muito insatisfatório. No seu tom deliberadamente underrated, consegue a proeza de tornar a figura de Jefferson bastante menos interessante do que ela é, não se percebendo sequer se, ao autor, o homem é simpático ou antipático, um claro óbice para trabalhos deste género que necessitam sempre de "empatia" weberiana para se tornarem interessantes e dizerem-nos alguma coisa, concordemos ou não. É evidente que Jefferson é daqueles homens excepcionais que, de vez em quando, a história "faz", colocando-os no lugar certo na altura certa. Mas, no livro de Hitchens, ele parece estar sempre a fazer as coisas en passant, como se nada tivesse com elas, mesmo quando essas coisas incluem escrever alguns dos documentos fundadores dos EUA, e ter dado ao novo país a sua dimensão continental através da compra da Luisiana e das expedições de exploração em direcção ao Oeste. Já as páginas de Hitchens são mais interessantes ao retratarem as simpatias pela Revolução Francesa e mesmo pelo seu período de terror jacobino, fundadas no explicito republicanismo de Jefferson e no seu menos explícito, mas evidente, agnosticismo ou até ateísmo. O bibliófilo Jefferson, que ofereceu (vendeu) a primeira colecção de livros a sério que deu origem à Biblioteca do Congresso, organizava-os em três secções, "memory", "understanding" e "imagination", e incluía a Bíblia na história antiga... Outro dos temas obrigatórios do livro de Hitchens é a questão da escravatura e das hesitações que o iluminista Jefferson, dono de escravos e que viveu com uma escrava Sally de quem teve filhos, sabia muito bem quão contraditório era com o corpo do seu pensamento a existência da escravatura. A mancha original da nação americana já então era claramente percebida como mancha, com a consciência que, a prazo, a escravatura iria ser um dos problemas mais graves da conflitualidade civil que até aos dias de hoje deixou restos na experiência de ser americano e negro, em particular nos antigos estados esclavagistas do Sul. Não digo que não valha a pena ler este livro, principalmente como introdução à figura de Jefferson, mas para quem já saiba alguma coisa mais, sabe a pouco. * Um aspecto pouco conhecido da expedição de Lewis e Clark, a mais famosa das «expedições de exploração em direcção ao Oeste» a que faz referência, reside no facto de um dos objectivos deste ser encontrar mamutes vivos. Este objectivo pode parecer estranho, mas provinha da visão que Jefferson tinha da Natureza, que fazia com que lhe repugnasse a ideia de que as espécies se pudessem extinguir. O interesse de Jefferson pela paleontologia também se revelou quando ele identificou uma mandíbula fóssil como sendo de um leão, o que, em virtude do seu tamanho, muita satisfação deu aos seus instintos nacionalistas, pois o conde de Buffon escrevera que os animais no Novo Mundo eram sempre versões degeneradas das espécies correspondentes do Velho Mundo, mas um leão daquele tamanho seria um contra-exemplo perfeito. Infelizmente, Jefferson estava, por uma vez, enganado; a mandíbula era, isso sim, de uma preguiça terrestre gigante. Buffon baptizou-a Megalonyx Jeffersoni. (url) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "MAGALHÃES" (4) (Primeira; segunda, terceira parte.) (...) concordo inteiramente com a sua opinião de que temos neste momento uma comunicação social seguidista a um nível quase "Américo Thomaz". Como sou da área informática, segui ainda com mais interesse o seu debate na televisão e as suas posições sobre o Magalhães, e as contribuições dos leitores. Há uma em especial muito reveladora, a de Nuno Ferreira. Gostava de dar mais uma contribuição, sobre um aspecto pouco abordado, e que se relaciona com a visita de Steve Balmer, Presidente da Microsoft, e que teve direito a uma recepção de gala a celebrar a Parceria com a Microsoft para o Magalhães, do tipo "Deus está connosco". O facto é que o Magalhães, na sua versão portuguesa, é um sistema duplo, com Windows e com o sistema operativo Linux Caixa Mágica [1], como aliás se pode ouvir no vídeo disponível no site do Plano tecnológico [2] Contudo a empresa portuguesa Caixa Mágica não teve direito a televisões e contrato assinado com o Primeiro Ministro. Parece que temos vergonha das pequenas empresas nacionais. Nem a JP Sá Couto teve este tratamento. Será que para fingir que o governo nada tem a ver com a empresa? Outro facto que foi escamoteado, é a de que ao contrário do que se pretendeu fazer crer, a Microsoft não tem nada a ver com a exportação dos Magalhães... A primeira, a de 1 milhão de computadores para a Venezuela, não inclui um único programa da Microsoft - não tem Windows, não tem MS Office. Os computadores a serem vendidos para a Venezuela serão equipados únicamente [3] [4] com o sistema operativo Linux Canaíma [5] Donde Steve Balmer foi o convidado errado. O governo português deveria antes ter agradecido a Linus Torvalds, criador do sistema operativo Linux [6] Talvez a razão seja a onda de protocolos assinada entre o governo português e a Microsoft [7], que ignora concursos públicos, que faz tábua rasa da impracialidade que o estado deveria ter, e que está a fortalecer ainda mais em Portugal o monopólio de uma única empresa no sector do software, em vez de promover a pequena mas crescente indústria nacional de software [8]. É históricamente sabido que sistemas únicos de pensamento conduzem à estagnação, e que só sistemas concorrenciais vibrantes levam ao desenvolvimento. Creio firmemente que a nível tecnológico estamos a seguir caminho errado em Portugal. Paulo Costa [1] http://www2.caixamagica.pt/ [2] http://www.planotecnologico. [3] http://www.portatilmagalhaes. [4] http://www.portatilmagalhaes. [5] http://canaima.softwarelibre. [7] http://www.microsoft.com/ [8] http://www.esop.pt (url) (url) (url) 3.10.08
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COISAS DA SÁBADO: A POLÍTICA PORTUGUESA NO SEU MAIS COMUM MISERABILISMO
… É esta história das casas de Lisboa. Durante todas as presidências, socialistas, social-democratas e centrista, em vereações com o PCP ou sem ele, ou seja, na prática com todos os partidos, as casas da Câmara foram atribuídas discricionariamente. Sabendo nós muito bem como as coisas são feitas, e toda a gente na Câmara Municipal de Lisboa tinha que o saber, a começar pelos Presidentes antigos e actual, a maioria das casas devia ser entregue a quem de direito o justificava e uma minoria, presumo que considerável, existia ou para fazer favores ou pagar favores políticos e pessoais. Passeiem-se pela administração pública toda e encontrarão por todo o lado mecanismos destes, usados bem e abusados, dependendo da politização do sector dos seus responsáveis, e do grau de potencial escândalo público. Pode até fazer-se a equação de que quanto mais um responsável por estas áreas estiver ligado ao aparelho partidário, maior é o favorecimento político, porque a ascensão e a permanência dessas personagens depende muito da capacidade de fazerem favores dentro do seu partido. E uma casa boa e barata é um excelente favor. Mas não se pense que este tipo de prebendas se fica pelos activistas partidários, porque em muitas áreas do estado há sinecuras deste tipo, para escritores no Ministério da Educação, por exemplo. O caso actual foi claramente o resultado de manobras eleitorais e tinha como alvo o PSD, e acabou, como sempre acontece, por rebentar nas mãos do PS, envolvendo uma actual vereadora. Também como é habitual, agora toda a gente quer moralizar a atribuição de casas, torna-la “transparente”, regulamentar burocraticamente o sistema de atribuição, batendo com a mão no peito como se não soubessem o que se passava. Depois o escândalo deixará de ser novidade, e os favores migrarão para outra área qualquer, porque nunca será possível regulamentar tudo, nem sequer vantajoso, e os favores e as cunhas são de cima a baixo o lubrificante dos sectores intermédios das estruturas partidárias, principalmente no poder autárquico. (url) (url) cold nights on the farm, a sock-shod stove-warmed flatiron slid under the covers, mornings a damascene- sealed bizarrerie of fernwork decades ago now waking in northwest London, tea brought up steaming, a Peak Frean biscuit alongside to be nibbled as blue gas leaps up singing decades ago now damp sheets in Dorset, fog-hung habitat of bronchitis, of long hot soaks in the bathtub, of nothing quite drying out till next summer: delicious to think of hassocks pulled in close, toasting- forks held to coal-glow, strong-minded small boys and big eager sheepdogs muscling in on bookish profundities now quite forgotten the farmhouse long sold, old friends dead or lost track of, what's salvaged is this vivid diminuendo, unfogged by mere affect, the perishing residue of pure sensation (Amy Clampitt) (url) (url) 2.10.08
INTERIORES / EXTERIORES: CORES DESTES DIAS Clicando na fotografia fica na boa dimensão. Para se ver Retratos do trabalho no Maputo. (António Silva) Motor de caça F16, Esquadra Falcões, hoje, na Base Aérea de Monte Real. (Fernando Correia de Oliveira) CCB. (Vera Palma) (ana) O mar e o Céu ao Largo de S. Miguel Açores. (Jorge Delfim) Monte de S. Tecla. (Jorge Delfim) Aeroporto de Bruxelas. Sinalização que adverte para a necessidade de agilizar o trânsito. deixar as pessoas que se levaram ao aeroporto e ir embora depressa, minimizando o tempo gasto com as despedidas. (Raul Mendes) (Leonel Silva) O maior bloco de cristal de quartzo de Portugal e um dos maiores do mundo. Parte de uma colecção de centenas de cristais, serve de altar numa capela da frequesia do Barral, Ponde da Barca onde, alegadamente se verificou uma aparição a 10 de Maio de 1917 (ver azulejos da capela com fac símile de jornais da época). (Emanuel Ferreira ) (url) (url)
VÍRUS
Um poema de Safo sobre a perturbação do amor. A morte de HAL. A mão que "escreve" o Morse. O recital proibido. Impostos para os que não fazem nada. Umas das vozes da Voz. (url) (url) (url) (url) 1.10.08
(url) Must all of worth be travailled for, and those Life's brightest stars rise from a troubled sea? Must years go by in sad uncertainty Leaving us doubting whose the conquering blows, Are we or Fate the victors? Time which shows All inner meanings will reveal, but we Shall never know the upshot. Ours to be Wasted with longing, shattered in the throes, The agonies of splendid dreams, which day Dims from our vision, but each night brings back; We strive to hold their grandeur, and essay To be the thing we dream. Sudden we lack The flash of insight, life grows drear and gray, And hour follows hour, nerveless, slack. (Amy Lowell) (url) 30.9.08
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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "MAGALHÃES" (3)
(Primeira; segunda parte.) Depois do programa "Quadratura do Círculo", no dia 26/09/2008 o Governo apressou-se a emitir um comunicado: «(...) Em declarações à agência Lusa, fonte oficial do Ministério tutelado por Mário Lino disse que o "Governo não mantém qualquer relação contratual com a JP Sá Couto" (...) A mesma fonte explicou que não houve concurso público porque a distribuição dos computadores é financiada pelos operadores móveis (...)» http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/97d04a1480a4717e8c1d4c.html Isto é FALSO! No programa "Quadratura do Círculo", Lobo Xavier levantou a ponta do véu que permite chegar à verdade dos factos. Na realidade, em 2003 as operadoras ficaram efectivamente obrigadas a contribuir para os projectos necessários ao desenvolvimento da sociedade da informação e como tal definidos pelo Governo. Mas esta obrigação extinguiu-se em 2007 mediante protocolo celebrado em 5 de Junho desse ano. Documentos do ICP (ANACOM): 1 e 2. Nas notícias: 1, e 2. Assim, criou-se um FUNDO: «Fundo para a Sociedade da Informação (FSI)» Este FSI depende do MOPTC. Os dirigentes são nomeados por Despacho. O FSI recebeu em 2007 quase 25 milhões de Euros (24 939 894,85) das 3 operadoras para que fosse extinta a obrigação acordada em 2003 pela atribuição das licenças para frequências UMTS. Portanto, as operadoras não estão a comprar os computadores para o programa e.Escola. Muito menos fizeram qualquer contrato para o Magalhães, ao contrário do que quer fazer crer o Governo. Até é possível que os contratos estejam a ser pagos com os 25M de Euros do FSI, mas isso não invalida a realização de um Concurso Público. ATÉ PORQUE O FUNDO PODE ESTAR/VIR A GERIR DINHEIROS PÚBLICOS!!! «(...) A entidade gestora tem por missão praticar todos os actos e operações necessários ou convenientes à boa administração do Fundo para a Sociedade de Informação (FSI), de acordo com as prioridades definidas pelo Governo, bem como preparar o necessário enquadramento jurídico e financeiro à transformação do FSI num fundo SUSCEPTÍVEL DE SER FINANCIADO TAMBÉM POR CAPITAIS PÚBLICOS. (...)» Senão, qual será a diferença entre: 1. O Governo diz: Quem ganhar o Concurso Público para as licenças de UMTS terá de comprar computadores a uma empresa a designar pelo Governo (sem Concurso Público). e: 2. O Governo diz: Quem ganhar o Concurso Público para as licenças de UMTS terá de colocar X milhões de Euros num fundo gerido pelo Governo. O Governo aplica a verba na compra de computadores a uma empresa que escolherá sem Concurso Público. Mais valia irem directos ao assunto: 3. O Governo diz: Quem ganhar o CP para UMTS coloca X milhões de Euros repartidos equitativamente nas contas bancárias a designar. FACTOS: As operadoras não fizeram qualquer contrato de aquisição de computadores, para os programas e.Escolas e similares, desde meados de 2007, porque a sua obrigação extinguiu-se. O Governo, através do FSI que depende do MOPTC, tem escolhido SEM QUALQUER CONCURSO PÚBLICO desde 2007 as compras dos computadores para os programas3e.Escola, e.Escolinha e similares. (Nuno Ferreira) * A Microsoft tem uma página com a abordagem das visitas de Steve Ballmer aos 5 países na Europa, com descrição do conteúdo programático por país. Imagine-se que o único a que se refere a palavra “government”, várias vezes utilizada, chama-se… Em todos os outros países a abordagem é comercial e técnica, mas a nós calhou-nos “business owners, government leaders and policy makers”. Poderá ser interessante descobrir quem serão os “policy makers”, certamente acima do PM. Mas acima de tudo, há que apreciar o teatro, porque na sexta-feira vai haver teatro e, quem sabe, um boa ópera às 20h. Isto é o que diria uma má-língua, porque muito provavelmente, nada disto vai acontecer. Mas uma coisa não deverá faltar: “um dos homens mais ricos do mundo está em Portugal”. (Paulo Loureiro) * Há, na realidade, um enorme equívoco na forma como o governo e o PM se afadigam a insinuar as tecnologias de informação na pequena (porque insinuar que a máquina de propaganda do PS e do governo é grande, equivaleria a emprestar-lhes uma autoridade e capacidade que não possuem) propaganda política. Para ilustrar o que escreveu a propósito, passo um excerto do texto introdutório enviado aos novos alunos, por uma das mais reputadas universidades mundiais: “You will need to use Mathematics widely in your professional career once you leave university. We want to make sure that you have a good 'feel' for the subject so you do not always have to rely on computers and calculators to solve problems. In fact, you will not be allowed to use calculators at all in some of the mathematics classes. In examinations, only quite basic calculators are allowed.” (João Henrique Fernandes) * Pergunta: os computadores são dados, i.e., podem ser levados para casa, para uso individual, fora do “local de trabalho” (no caso, a escola) e sem um eficaz e efectivo controlo pedagógico pelos “patrões” (neste caso, os professores)? Resposta: sim. Ouvi no outro dia um responsável governamental (não posso jurar que tenha sido o primeiro-ministro) afirmar que sim com a maior convicção, como se, no meio desta escuridão, essa fosse uma questão tão luminosa que nem questionada devia ser. Comentário: há tempos lia eu um livro técnico sobre muitos dos efeitos que as novas tecnologias (como consequência do “progresso” da nossa sociedade) têm sobre o indivíduo e a sua capacidade de concentração, análise, etc., e aprendi – o verbo é este – que a questão da info-inclusão das gerações mais novas (até por volta dos 10 anos) é uma falsa questão. Na verdade, o lugar-comum que todos utilizamos de que as crianças de hoje em dia mexem com tecnologia com uma sapiência fabulosa, como se “aquilo já tivesse nascido com eles”, é falso. O que é verdade é que existe um avanço tecnológico que não existia no passado e que isso, obviamente, contamina (não necessariamente no mau sentido) as crianças quase desde a nascença. O que não é verdade é que para que uma criança seja feliz, aprenda convenientemente e possa ser no futuro competente na sua profissão, etc., tenha que começar a utilizar um computador a partir dos 3, 4 ou 5 anos, porque isso potencia a criação de mecanismos que, na verdade, vão contra tudo isso, designadamente défices de concentração, atenção, incapacidade de permanência, de análise, etc.. Não tenho competência para discutir a questão em profundidade e com certeza que esta opinião, embora partilhada por muitos técnicos que se dedicam ao seu estudo, merece contraditório e não é (como nenhuma) absoluta. Agora o que me faz espécie é que, como afirma o Pacheco Pereira, se apresente este Magalhães como parte do “processo tecnológico” sem concomitantemente se apresentarem estudos, factos, sem previamente se discutirem questões e posições que a todos interessariam. A todos, menos possivelmente ao Governo e, porventura, ao que estará por detrás dos Magalhães desta vida. (Rui Esperança) (url) (url) (url) this is the garden:colours come and go, frail azures fluttering from night's outer wing strong silent greens serenely lingering, absolute lights like baths of golden snow. This is the garden:pursed lips do blow upon cool flutes within wide glooms,and sing (of harps celestial to the quivering string) invisible faces hauntingly and slow. This is the garden. Time shall surely reap and on Death's blade lie many a flower curled, in other lands where other songs be sung; yet stand They here enraptured,as among The slow deep trees perpetual of sleep some silver-fingered fountain steals the world. (e.e. cummings) (url) 29.9.08
(url) michinobe no mukuge wa uma ni kuwarekeri
A flor Da beira da estrada Foi comida pelo cavalo. (Bashô, tradução de Edson Kenji Iura) (url) 28.9.08
(url) AS PERGUNTAS QUE DEVEM SER FEITAS SOBRE O "MAGALHÃES" As entregas de computadores nas escolas pelo primeiro-ministro são uma peça essencial da propaganda governamental de sucesso garantido a abrir um ano eleitoral. Como é óbvio, ninguém deixa de gostar que lhe dêem coisas. Valentim Loureiro dava frigoríficos e outros electrodomésticos, coisas que ninguém pode achar serem inúteis e desvantajosas para quem as recebe, Sócrates "dá" computadores, um objecto cuja aura é hoje superior ao frigorífico, e que vem envolvido com toda uma retórica de modernidade, que ninguém se atreve a contestar. Uma das características deste Governo é um grande deslumbramento tecnológico que tem muito a ver com o primeiro-ministro, um típico tecnocrata, mais autodidacta do que com uma formação profissional sólida, e que por isso "gosta" de gadgets e não sabe viver sem eles. Mais: está convencido de que são os gadgets que mudam as pessoas, numa visão tecnocrática típica, sem perceber que o modo como as pessoas os usam pode ou não ser vantajoso conforme as literacias prévias que possuam. A operação é inevitavelmente popular, e por isso tem havido muito pouco escrutínio sobre ela, quer da comunicação social, quer da oposição. A oposição sente-se intimidada em criticar algo que sabe ser popular, e hesita. Passada a desmontagem das mentiras habituais na sua apresentação (o computador "português", etc., que só a RTP hoje repete), sobra quase tudo por analisar e questionar, mas isso incomoda muito pouca gente no ambiente de aceitação acrítica da governação e do embevecimento tecnológico que o povo recordista dos telemóveis inevitavelmente tem. O resultado é que toda esta história do computador Magalhães vai passar incólume mesmo que tudo, ou quase tudo, seja errado nesta operação. Quanto mais sei sobre todo este processo do Magalhães, mais objecções tenho ao que se está a passar. E acresce que não sei muita coisa, porque há demasiadas obscuridades sobre como este projecto apareceu, como foi decidido, quem foi consultado nas escolas (pedagogos, professores) e na indústria, como foi financiado, de quem são os computadores que o Governo "dá", visto que não os comprou e não houve concurso público, que engenharia criativa foi feita para não haver concurso público, como foi escolhida esta empresa, que compromissos existem com ela, e como vai ser dada continuidade à produção, dados os números mirabolantes que o Governo agita, e que seriam bons para a capacidade produtiva de Taiwan, e as maravilhas de design nacional que supostamente vão ser incorporadas (o que significa que os computadores que o Governo está a "dar" são inferiores aos que vai "dar" daqui a um ano). E por aí adiante. Tenho tanta convicção de que isto foi feito no joelho e à pressa que desafio o Governo a mostrar as consultas, os estudos, que fez previamente, sobre as vantagens pedagógicas do Magalhães, por especialistas da educação, e sobre cada uma das opções, pelo Classmate, pela empresa de Matosinhos, etc., etc., que sustentaram um programa calculado em 200 milhões de euros à cabeça. Há várias perguntas de fundo a fazer, que deveriam ter sido feitas e cuja resposta deveria ser prévia às sessões de propaganda para a televisão. A primeira e mais fundamental das perguntas é a de saber se a distribuição de computadores individuais para as crianças do ensino básico tem sentido pedagógico e utilidade no combate à info-exclusão. Sobre isto a maioria dos pedagogos responde não à primeira e a maioria dos estudos responde também não à segunda questão. Não é unânime a resposta, mas existem muitas dúvidas. Um relatório do Departamento de Educação americano é explícito: "A tecnologia parece ser completamente irrelevante quando se trata de ajudar estudantes a melhorarem os seus níveis de aproveitamento académico." É que nestas coisas nem tudo o que parece evidente para os deslumbrados dos gadgets é verdadeiro. Não é líquido que um computador individual na sala de aula do ensino básico (o problema é diferente para outros níveis de ensino) possa beneficiar a aquisição das competências básicas, em particular na leitura e na matemática. No caso da leitura é claramente contraproducente, afastando as crianças da leitura "plana", corrida, na fluência do texto, fundamental na ficção e na poesia, a favor de uma leitura em volume, com o uso do hipertexto, com outras virtualidades, mas que não substituem a leitura "literária". Ou seja, não é líquido que a aparente evidência de que quanto mais cedo for a exposição ao mundo dos computadores, através da opção pelo computador individual (um elemento básico desta escolha é a individualização da máquina), melhor será a aprendizagem e a info-inclusão. Não está em causa facilitar o contacto com os computadores, sem dúvida necessário, mas sim a posse de um computador individual e a sua utilização para aprender ao nível do ensino básico. Se for para jogos é outra coisa, se for como brinquedo tem certamente mais sentido, mas não é suposto o Estado distribuir consolas de jogos. Ou se é, na verdade as consolas de jogos são muito mais eficazes na idade do básico, não é suposto que essa seja uma prioridade pedagógica. A questão essencial é que todas as crianças tenham facilidade de contacto com os computadores, não é ter um computador individual nesta faixa etária. Desse ponto de vista, tem muito mais sentido facilitar a presença de computadores em casa para a família, baixar o preço das comunicações, em particular a banda larga, e generalizar competências nos adultos, de modo a que as crianças que com eles convivem possam conhecer um ambiente amigável com os computadores, sem deixarem de fazer os trabalhos de casa escrevendo e lendo, sem ser fazendo copy-paste ou serem atirados para procuras na Internet cuja relevância não têm, como muitos dos seus professores, as literacias para julgarem. A situação muda na pré-adolescência, onde a individualidade do computador é fundamental para o seu uso juvenil, que inclui uma utilização paraconfidencial face aos adultos como diário (nos blogues de adolescentes) ou nas actividades de turma ou grupos de amigos, como a partilha das fotos, chats, etc. É aliás na pré-adolescência que mais profícuo é o investimento na info-inclusão, cujo será tanto mais eficaz quanto as literacias básicas tenham sido adquiridas no básico. É que o combate contra a info-exclusão não depende em primeiro lugar das próprias tecnologias, mas sim de competências que lhe são prévias e que são, digamos assim, mais "clássicas". Se os computadores servem para procurar resultados de jogos de futebol ou pornografia, pouco mais acrescentam ao que se pode fazer com o teletexto da televisão e os canais por cabo e não "modernizam" nada. Esta primeira questão tem a ver com a segunda: é este computador, pensado para as "comunidades em desenvolvimento" (como diz a Intel), ou seja países como a Índia, a Indonésia, países africanos, mesmo Venezuela e Angola, onde já está comercializado ou vai ser, a melhor opção para a Europa, adequado a Portugal? Existe nalgum país europeu um programa semelhante ao do Governo português, mesmo quando neles se comercializa o Classmate? Não. E a razão percebe-se muito bem: o tipo de contactos necessário e vantajoso das crianças daquela idade com o computador na Europa não passa pela propriedade de um computador na idade do brinquedo, mas sim pela possibilidade de as crianças jogarem jogos em consolas ou "pintarem" ou desenharem no computador das famílias ou da escola. Diferentemente da Indonésia ou do Burkina Faso, já existe em Portugal um parque de computadores nas casas e nas escolas, suficiente para esse acesso, o que não acontece nos países "em desenvolvimento", em que a opção pelo computador individual deste tipo tem outro sentido. A não ser que o computador esteja a ser dado aos pais e não às crianças e, nesse caso, rapidamente se verificará que na maioria dos casos o Magalhães pouca utilidade tem para os adultos, dadas as suas limitações e pelo preço do acesso à Internet. Aí é que as desigualdades sociais se vão verificar. O caso do Magalhães é mais um exemplo de como pouco se escrutina a actividade governamental. Acenam-nos com as bandeirinhas do progresso tecnológico e nós concedemos tudo. Mas a verdade é que vários programas destes de "progresso" estão aí em ruínas, alguns com dois anos e milhões de euros deitados ao lixo, sem ninguém se dar ao trabalho de pedir contas. O caso da Via CTT é talvez o mais evidente, mas o das Cidades Digitais também exigia avaliação. E na altura, ai dos "velhos do Restelo" que se opusessem a essa magnífica ideia democrática e moderna de dar nas estações de CTT um e-mail a cada português! (Versão do Público de 27 de Setembro de 2008.) (url) "Go, my boy; perhaps I shall follow you." Dallas gave him a long look through the twilight. "But what on earth shall I say?" "My dear fellow, don't you always know what to say?" his father rejoined with a smile. "Very well. I shall say you're old-fashioned, and prefer walking up the five flights because you don't like lifts." His father smiled again. "Say I'm old-fashioned: that's enough." Dallas looked at him again, and then, with an incredulous gesture, passed out of sight under the vaulted doorway. Archer sat down on the bench and continued to gaze at the awninged balcony. He calculated the time it would take his son to be carried up in the lift to the fifth floor, to ring the bell, and be admitted to the hall, and then ushered into the drawing-room. He pictured Dallas entering that room with his quick assured step and his delightful smile, and wondered if the people were right who said that his boy "took after him." Then he tried to see the persons already in the room—for probably at that sociable hour there would be more than one—and among them a dark lady, pale and dark, who would look up quickly, half rise, and hold out a long thin hand with three rings on it.... He thought she would be sitting in a sofa-corner near the fire, with azaleas banked behind her on a table. "It's more real to me here than if I went up," he suddenly heard himself say; and the fear lest that last shadow of reality should lose its edge kept him rooted to his seat as the minutes succeeded each other. He sat for a long time on the bench in the thickening dusk, his eyes never turning from the balcony. At length a light shone through the windows, and a moment later a man-servant came out on the balcony, drew up the awnings, and closed the shutters. At that, as if it had been the signal he waited for, Newland Archer got up slowly and walked back alone to his hotel. (Edith Wharton, The Age of Innocence) (url)
© José Pacheco Pereira
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