ABRUPTO

7.1.08


AGORA QUE VOLTOU O TEMPO DAS CONSPIRAÇÕES


só tenho uma coisa a sugerir: vale mais falar em público, dizer o que se pensa, deixar-se de fontes anónimas, deixar-se de recados, dar entrevistas com o rosto todo, assinar com o nome, fazer o esforço de discutir, escrever artigos, explicar alternativas políticas, criticar com C grande no espaço público, para todos verem tudo, saberem quem e porquê e assim estabelecer-se um contínuo entre os debates intra-partidários e o debate público sobre Portugal e os portugueses. Sempre é mais saudável do que andar a conspirar para depois colocar nos jornais, o que não é boa política e é péssima conspiração.

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A LIDERANÇA AMERICANA NA GUERRA DO IRAQUE (5)

Forças e fraquezas do livro:

- Woodward narra os acontecimentos com quase completa ausência do papel dos iraquianos no processo de decisão, quando se sabe que em determinados momentos, fosse por via dos seus protectores americanos, fosse pela sua força própria, a tiveram. É o caso do grupo de Chalabi, no qual se personificaram as divisões da administração americana, com altos responsáveis a querem entregar-lhe o controlo do Iraque e outros a oporem-se terminantemente, considerando-o uma fraude. É o caso também, noutro sentido, do ayatollah Sistani, figura crucial do xiismo iraquiano e cujas fatwa condicionaram o processo político. Esta omissão torna pouco credíveis alguns relatos de decisões que aparecem no livro como exclusivamente americanas.

- Woodward parece estabelecer a menorização da CIA e do Vice-Presidente em todo o processo, o que, para o caso deste último, é uma relativa novidade. Cheney parecia ter mais poder do que realmente transparece neste livro. Quanto à CIA, é sem dúvida uma das vítimas do processo iraquiano, pelas sucessivas hesitações na questão das armas de destruição massiva.

- No relato de Woodward mostra-se o esforço frenético para encontrar as armas químicas, biológicas e nucleares que era suposto Saddam ter, o que mostra como os principais responsáveis americanos (e não só) estavam plenamente convencidos da sua existência.

- Uma das mais interessantes descrições do livro é a noite eleitoral de 2004 em que Bush é reeleito, com o seu drama à partida (as sondagens à boca das urnas eram-lhe francamente desfavoráveis) e à chegada (a hesitação em proclamar a vitória com receio que Kerry suscitasse a questão dos votos do Ohio, abrindo uma polémica sobre as votações, embora neste caso a diferença não pudesse alterar os resultados finais como acontecera na Florida na eleição anterior).

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A LIDERANÇA AMERICANA NA GUERRA DO IRAQUE (4)

O mais devastador do retrato que Woodward faz da administração americana em tempos de guerra é o do contínuo conflito de competências e autoridade entre os principais responsáveis e as suas equipas. Aqui, pesem embora as claras simpatias e antipatias do autor (e das suas fontes), não há volta a dar: Rumsfeld, Condoleezza Rice e Colin Powell, nunca foram capazes de fornecer uma orientação consistente e coordenada à política externa americana, com graves implicações no terreno iraquiano e, por implicação, o Presidente Bush foi igualmente incapaz de se aperceber da situação e tomar medidas adequadas. Este é o cerne da crise de liderança que afectou os anos cruciais da guerra, em particular depois da vitória militar.

O secretário da Defesa Rumsfeld foi o principal responsável pela condução militar das operações que decorreram com grande eficácia e garantiram uma vitória rápida e sem grandes baixas. Mas as suas opções sobre a utilização dos militares no terreno, em particular quanto ao número de tropas e a recusa em participar em operações de manutenção de ordem quando começaram os saques, revelaram desde logo uma enorme insensibilidade política aos problemas resultantes da ocupação do Iraque. Era só uma questão de tempo até que os erros políticos começassem a ter efeitos militares, alimentando a insurreição sunita e impedindo operações tidas como fundamentais para combater os grupos terroristas e insurrectos, como foi o caso da "limpeza" de Faluja, bloqueada politicamente pelas pressões árabes que iam em crescendo com o agravamento da situação de segurança.

Rumsfeld comportou-se como não fazendo nem deixando fazer, bloqueando a participação do Departamento de Estado e mesmo do Conselho Nacional de Segurança, a quem incumbia a responsabilidade da condução política do processo. Colin Powell aparece como estando sempre marginalizado, à cabeça de uma diplomacia suspeita de não ter muito entusiasmo pelas teses democratizadoras dos think tanks neo-conservadores, e Rice como oscilando entre a sua fidelidade pessoal ao Presidente, que apoia Rumsfeld sem hesitação, e a consciência que claramente tem de que as coisas estão a correr mal. Este conflito no topo acaba por estender-se às equipas respectivas e inquinar a capacidade da administração para responder aos múltiplos avisos que faziam vários enviados especiais ao Iraque, em particular os que Rice mandava para uma apreciação independente do que estava a acontecer.

(Continua.)

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MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Hoje de manhã à noite.
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(Susan Sontag, On Photography)





Trabalhando na Avenida Nevsky, S. Petersburgo com -20º. Vendendo gelados. Dois pintores (retratistas?) jogam xadrez enquanto esperam por clientela.Anunciando as excursões pela cidade. (João Tiago Santos)



Metro em Budapeste. (Nuno Delgado)



Domingo no Chiado. Coral Vértice - Concerto de Música Sacra - Igreja da Encarnação. (MJ)



Domingo no Chiado. (MJ)





Arrábida



Comércio em Setúbal. (Ochoa)



Exposição de Arte Indígena, Belém do Pará. (Fernando Batista)

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EARLY MORNING BLOGS


1195- A Noiseless Patient Spider

A noiseless patient spider,
I mark'd where on a little promontory it stood isolated,
Mark'd how to explore the vacant vast surrounding,
It launch'd forth filament, filament, filament, out of itself.
Ever unreeling them, ever tirelessly speeding them.

And you O my soul where you stand,
Surrounded, detached, in measureless oceans of space,
Ceaselessly musing, venturing, throwing, seeking the spheres
to connect them.
Till the bridge you will need be form'd, till the ductile anchor hold,
Till the gossamer thread you fling catch somewhere, O my soul.

(Walt Whitman)

*

Bom dia!

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6.1.08


DOCUMENTOS PARA UMA DÉCADA TRISTE

Daqui a 20 anos, na verdade daqui a menos anos, porque tudo se acelera, é suposto haver estudos sobre os anos da década triste que vai do fim anunciado de Guterres ao princípio da erosão de Sócrates. Como todas as décadas tristes, não estou certo se não durará mais do que uma década, mas vamos pressupor, quase desejar, que se fique por dez anos. Que sobrará desta época que lhe dará o Zeitgeist, mais uma palavra daquelas que só o alemão é capaz de dar, o que retratará o "espírito do tempo", quando ele voa baixo, baixinho?

O que revelará melhor do que tudo esta década está em grande parte na Rede, não está em papel, mas em filmes que sobrevivem no YouTube, em blogues, em páginas pessoais, o que coloca a questão da preservação da Internet em português pela Biblioteca Nacional ou por qualquer outra instituição pública que é suposto assegurar o património da nossa memória colectiva. Há anos que levantei esta questão e tudo permanece na mesma, e o que não se perdeu, devido em grande parte às próprias características do espaço da Rede, que não gosta de esquecer e mantém quase tudo, nem sempre é fácil de encontrar. Este é hoje um dos grandes desleixos patrimoniais do Estado português.

O que acontece é que, mesmo quando os mesmos filmes, ou as mesmas gravações áudio, existem nos arquivos de qualquer televisão ou rádio, é a sua forma em linha, por exemplo, enquanto filmes do YouTube e não enquanto programas de televisão, que lhes deu o valor histórico, ou, para usar uma palavra mais cara, icónico. Foi assim que foi consumido, retrabalhado, remisturado e consumido num meio que pode ser distinto do inicial. Esta prova de sobrevivência em rede cria novos mecanismos de selecção e visibilidade, que não seguem necessariamente as regras da produção original. Talvez o melhor exemplo disso seja a história de sucesso do sketch do Gato Fedorento sobre Marcelo e o aborto, vindo da televisão para o YouTube, e o insucesso do filme de Marcelo feito de propósito para o YouTube, mas com as regras da televisão clássica.
Muito do que ficará serão imagens, porque este tempo é um tempo de imagens. Mesmo o som, dado o carácter fluido e efémero da rádio, só sobrevive muitas vezes quando sobreposto em imagens, uma técnica comum no YouTube. O parente pobre é a escrita, embora os blogues se tenham acrescentado ao património da memória, não só por serem escrita, mas pela sua forte ligação com o tempo presente, presos ao dia-a-dia.


Nesse arquivo da década triste ficarão certamente cenas da televisão do Pathos, como o contínuo de "masturbação da dor" ocorrido com a queda da Ponte de Entre-os-Rios e os casos de crianças, uma novidade da década. A entrada em cena da pedofilia como crime máximo, crime dos crimes, trouxe para uma ribalta iluminada por uma luz muito negra a criança como símbolo máximo da violência e da disfunção da sociedade, como alvo do Mal absoluto. O caso da Casa Pia, o caso Joana, o caso Maddie, o caso Esmeralda e, ainda que de uma forma perversa, a questão do aborto, trouxeram um mundo de sombras que parece mais um teatro do medo colectivo do que uma questão de crime e castigo. Se tivermos em conta que um dos traços que se acentuaram nesta década triste foi a infantilização cada vez maior do mundo dos adultos, temos montado um palco entre o filme de terror e a casa das bonecas ou variantes do Action Man.

Crianças e adolescentes, teenagers que se recusam a envelhecer, ficarão nos documentos da actualidade, porque este é o seu tempo. No YouTube mantém-se esse fabuloso documento para a história portuguesa que é o "Menino Guerreiro", a que se deve somar o "discurso da incubadora" e o blogue Pedro Santana Lopes, todos dominados por uma pulsão de crise, vitimização, afirmação, obsessão narcísica, verdadeiros mostruários psicológicos e humanos de uma década que conheceu o seu autor como primeiro-ministro de Portugal. Quer o karma, quer a repulsão se percebem muito bem nestes exemplos ingénuos do efeito da espectacularização da vida pública e da sua "patologia".

Nesta antologia de imagens de identidade ficarão igualmente os festivais de bandeirinhas nacionais made in China, com pagodes em vez dos castelos, que, de uma ponta a outra do país, celebraram a pátria através do futebol, que entrou para o espectáculo público como versão moderna do circo, como nunca se vira desde os tempos salazaristas. E entrou Salazar, revisto como estrela pop, também ele pelo mecanismo do espectáculo circense, ele que o percebera fora da época dizendo que "em política o que parece é"... E entrou o nosso jet set, com a sua estética própria personificada no "Conde", que mais cedo ou mais tarde chegará a um volume da Taschen, entre as quintas dos reality shows e as fotografias encenadas, sempre mais próximo de Paris Hilton do que dos comensais dos restaurantes finos de Nova Iorque de que falava Capote.

Ficarão algumas escutas colocadas em papel. A voz do telefone, ou melhor, a voz do telemóvel que fala diferente da do telefone fixo, transcrita para o papel, ganha uma imediaticidade violenta, brutal. Nos processos da década, Casa Pia, Apito Dourado e outros, a transcrição das escutas em papel, permitindo-nos ler a voz que nunca pretendia ser pública, o eco da nossa própria voz apanhada em falta, humilhada, envergonhada em público, exerce um efeito de revelação poderoso. Esse efeito é ampliado pelo contraste com uma comunicação que oscila entre o pomposo nos actos públicos e o "gerido" por assessores e agências de comunicação. O efeito de veracidade das escutas incomoda e assusta como pouca coisa que hoje se possa colocar no papel. Lembra-nos o 1984.

Antero Henriques (A) - Foda-se! Não dormi um caralho! Estou com uma enxaqueca, pá. Pinto da Costa (PC) - Filhos da puta.... [...] Tínhamos morto esta merda ontem [...] A - Embora eu ache que o Mourinho, no final, também se exaltou muito! PC - É, um bocado. A - É! Aquela história de dizer que o Rui Jorge morreu em campo e... PC - Ele disse aonde? A - Ele diz que disse cá em baixo, disse cá em baixo, junto a... quando estava a malta toda ali! Mas eu liguei para a 'Bola' e para o 'Jogo' a desmentir! A dizer que ele estava a dizer que era mentira! PC - Não, não! Não... não é desmentir! A gente tem é de processar o gajo que diz! [...] A - É... e em relação à camisola, também tem de se arranjar ali uma tanga, presidente! PC - Arranjar que ele foi provocar para a porta do balneário! A - É. E que o Mourinho disse que: "Esta camisola é indigna de ser trocada. Porque se a tivesse rasgado não a mandava outra vez para o balneário do Sporting." [...] É! Temos de arranjar aí uma tanga, senão saímos por baixo desta merda toda. PC - Mas já falou com o Mourinho, não? A - Não, não, não. Vou agora com ele ver o Rio Ave, agora, às quatro horas! PC - É... mas diga-lhe, é pá! Ele que não preste dec... diga-lhe só... A - Não, por isso é que vou com ele! Por isso é que vou com ele! PC - E amanhã é um processo-crime contra... A - É... PC - Esse Bettencourt e os jornais carago! A - É que esse gajo é mesmo um cobarde!

(transcritas no Correio da Manhã)
Ficarão blogues, eles também não isentos das doenças infantis do nosso tempo, do engraçadismo e do radicalismo posicional juvenil, mas "arquivando" muito do Zeitgeist. Para o debate político, os blogues trouxeram novidades que marcaram o tempo, como a discussão sobre a guerra do Iraque na Coluna Infame e no Blogue de Esquerda, a abertura para o pensamento liberal, ou a estreia de um debate presidencial pela primeira vez ocorrido na Rede com produtos genuínos e não encomendados, como foram os blogues Pulo do Lobo (pró-Cavaco) e Super Mário (pró Mário Soares).

Fora dos blogues, a decadência da relevância da palavra escrita continuou, o que é típico de tempos em que quem quer dizer alguma coisa vai à televisão ou dá uma entrevista. Tomar uma posição por escrito, seja um artigo, seja uma carta aberta, seja uma declaração, está em desuso. No entanto, alguns artigos ficarão na memória da década, em particular os de Cavaco Silva sobre o "monstro" e sobre a "boa e má moeda", e ficarão colunas de opinião que dão o "tom" ao nosso tempo, como é o caso da de Vasco Pulido Valente.

Olhada no seu conjunto, a década triste não é brilhante nos seus produtos, nos seus ícones, mas também seria impossível que o fosse. É uma década em que se andou para trás, se perdeu alguma coisa do adquirido, se esgotaram algumas das últimas esperanças. É uma década de escapismo do fim, de gozar os últimos tostões, de aceitar o remedeio, quase de desejar o remedeio para não se voltar à pobreza. Vistas bem as coisas, nesta década, que não segue o calendário formal mas o do Zeitgeist, o futuro parece correr depressa de mais para o presente e deixar-nos para trás. Podemos sempre ir meditar para um mosteiro, dedicarmo-nos ao budismo zen, fazer como os coelhos sem fazer muitos coelhinhos, ou enfiar uma qualquer felicidade química directamente no cérebro. Até podia ser pior.

(Versão do Público, 5 de Janeiro de 2008.)

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EARLY MORNING BLOGS


1194- The Persian Version

Truth-loving Persians do not dwell upon
The trivial skirmish fought near Marathon.
As for the Greek theatrical tradition
Which represents that summer's expedition
Not as a mere reconnaissance in force
By three brigades of foot and one of horse
(Their left flank covered by some obsolete
Light craft detached from the main Persian fleet)
But as a grandiose, ill-starred attempt
To conquer Greece--they treat it with contempt;
And only incidentally refute
Major Greek claims, by stressing what repute
The Persian monarch and Persian nation
Won by this salutary demonstration:
Despite a strong defence and adverse weather
All arms combined mangificently together.

(Robert Graves)

*

Bom dia!

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5.1.08


MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Hoje de manhã à noite.
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(Susan Sontag, On Photography)



Neve em Budapeste. (Nuno Delgado)



Lisboa ao fundo. (António Cabral)



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



Linha do Estoril. (António Cabral)



Artigo publicado hoje no El País sobre o centro de informação turística Colón, em Madrid, projectado por Siza Vieira. (António Marques)





Cenas de estrada no Quirguistão. (João Nabais Antunes)



Pista de gelo em Lisboa. (RM)



Fotógrafos no farol da Foz em dia de alerta laranja.. (Paulo Loureiro)



Manhã no Terreiro do Paço. (RM)



Nevoeiro. (susana)

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EARLY MORNING BLOGS


1193

I was chiefly disgusted with modern History. For having strictly examined all the Persons of greatest Name in the Courts of Princes for a hundred Years past, I found how the World had been misled by prostitute Writers, to ascribe the greatest Exploits in War to Cowards, the wisest Counsel to Fools, Sincerity to Flatterers, Roman Virtue to Betrayers of their Country, Piety to Atheists, Chastity to Sodomites, Truth to Informers. How many innocent and excellent Persons had been condemned to Death or Banishment, by the practising of great Ministers upon the Corruption of Judges, and the Malice of Faction. How many Villains had been exalted to the highest Places of Trust, Power, Dignity, and Profit: How great a Share in the Motions and Events of Courts, Councils, and Senates might be challenged by Bawds, Whores, Pimps, Parasites, and Buffoons: How low an Opinion I had of human Wisdom and Integrity, when I was truly informed of the Springs and Motives of great Enterprises and Revolutions in the World, and of the contemptible Accidents to which they owed their Success.

(Jonathan Swift)

*

Bom dia!

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4.1.08


MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Hoje na noite.
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(Susan Sontag, On Photography)



Museu de Arte Antiga.



Praça da República, Montijo. (António Cabral)

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BOAS / MÁS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2007
VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR 6



Segue-se a lista 1 , lista 2 , lista 3+lista 4 comentários.

Ao princípio julguei ser uma questão de mediatismo, mas pela forma como a comunicação social está a tratar a corrida (maratona?) eleitoral americana parece haver apenas dois candidatos: Obama e Clinton. Os restantes parecem ser mesmo isso, apenas o “resto”. Tudo seria natural se cada um dos candidatos “mais candidatos que os outros” fossem de dois partidos diferentes. Mas não é assim... para a nossa comunicação social parece que a decisão para o cargo de futuro presidente dos EUA reside entre um democrata e outro democrata. Se estivesse nos EUA se calhar até votaria Obama, mas seria interessante saber o que pensa Mike Huckabee, por exemplo, ou outros republicanos... Ainda ontem, um directo num canal de TV se limitava a entrevistar uma representante dos democratas. No fundo a comunicação social portuguesa – e a europeia também? – parece querer tentar “vender” a hipótese de que, a existir uma solução, esta será democrata e, dadas as características de Mike Huckabee já se percebe que este será menorizado pela sua opção religiosa. No fundo é a “democracia” bem pensante dos media a mostrar a sua face...

(Emanuel Ferreira)

*
Concordo, ainda que não seja de descurar a maior participação eleitoral dos democratas. É verdade que há um efeito sensacional na novidade de uma mulher e um negro se candidatarem e terem hipóteses de ganhar. Porém, é importante considerar a surpresa europeia nas eleições de 2004. Também aí houve múltiplos entusiasmos, de Dean a Kerry, para depois assistirmos a uma mobilização sem precedentes do lado republicano. A compreensão do fenómeno só foi possível com anos de distância, em documentários e reportagens fora do circuito "telejornalístico" que ilustravam, entre outros, a importância da espiritualidade na política americana, a complexidade da guerra para quem a vive, e a realidade das alternativas. Só mais tarde viemos a saber porque é que, nos Estados Unidos, não é "escandaloso" apoiar as tropas ou ir à missa, e porque é que um democrata "progressista" que faz "flip flop" tem muito menos credibilidade que um republicano que esteve sempre no mesmo sítio. Mais: a figura de Kerry, como a de Ségolène, apagou-se da noite para o dia, sem que chegássemos exactamente a saber em que é que as campanhas "grassroots" ou "de proximidade" afectam as formas de fazer política. Deixo ainda as minha maiores dúvidas da noite do Iowa: qual é a estratégia dos "big states" de Rudy Giuliani e como se explica a figura de John Edwards, além da superfície pretensamente vaidosa e do histórico de derrota perante Bush?

(João Machado)

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COISAS DA SÁBADO:
QUAL É O JORNAL QUE MENOS INTERESSE TEM MOSTRADO NOS PROBLEMAS DO CRIME NO PORTO?


Um jornal do Porto, o Jornal de Notícias. A razão, vamos fazer a interpretação benévola, é política. No Porto, tudo o que pareça dar razão a Rui Rio é anátema para o Jornal de Notícias e para a redacção do Porto do Público. Rio mostrou insatisfação com a actuação da PJ local e apoiou a decisão do PGR de mandar uma equipa de Lisboa para chefiar a investigação, logo soaram as trombetas do imbecil regionalismo “porto-portista”, que no fundo são a expressão política do stato quo ante, ante Rio. Havia “Super Dragões” a mais nos presos da “Noite Branca”, eliminam-se as referências a esse emblema exemplar da vida da cidade, e fala-se o menso possível de matéria tão delicada. Não é a coisa mais normal do mundo aí haver “polícias e ladrões”, como é suposto ser habitual em todo o lado? Um antropólogo membro da claque veio explicar as profundas raízes sociais que justificavam a sua existência repetindo o discurso que também se ouvia sobre os pobres hooligans, que desabafavam a sua ira social pelo desemprego partindo as cabeças alheias. Esta antropologia de justificação vem mesmo a calhar. Tudo está bem, tudo esteve bem, a violência é “nossa” nem se lhe pode tocar nem com um cabelo. Daí o silêncio que só os “tablóides lisboetas” que não são tão sérios e responsáveis como o Jornal de Notícias, ousam romper. Pobre Porto, que estás tão mal servido de falas e cheio de silêncios comprometedores!

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A LIDERANÇA AMERICANA NA GUERRA DO IRAQUE (3)

Onde desde há muito existe uma evidência sobre os erros americanos na ocupação do Iraque é na inexistência de um plano efectivo para a administração do país, a partir do momento em que a vitória militar estivesse adquirida. Os EUA tinham um precedente, o Japão governado pelo general MacArthur, mas não o queriam seguir. Nem a esse precedente, nem a precedente nenhum, porque, como Woodward mostra, uma consideração séria do destino a dar à administração iraquiana só começou a ser feita quando o caos já estava instalado. O destino nacional do Iraque nunca foi questão porque os americanos não o queriam ocupar, mas sim entregar rapidamente a soberania aos iraquianos. Só que não sabiam como e, com o passar do tempo, cada vez tinham menos condições para o fazer sem o risco de uma guerra civil ou de criar uma República Islâmica igual ao Irão.

No livro referem-se as discussões de autoridade e território, entre o Departamento de Estado, o Departamento da Defesa e o Conselho Nacional de Segurança, que bloquearam as decisões fundamentais e que permitiram outras que se vieram a revelar trágicas, como a da dissolução do exército iraquiano e a de impedir os antigos militantes do Baath de manter os lugares que possuíam em todo o aparelho de Estado iraquiano. Ambas as decisões foram tomadas com a maior das ingenuidades ideológicas, por pressão do grupo de exilados iraquianos, e revelaram-se o ponto de viragem ao alimentar a revolta sunita. Com base nos relatos de Woodward, a tentativa inicial do grupo à volta de Jay Garner surge a melhor luz do que a de Paul Bremer, um dos responsáveis pelas decisões sobre o exército e o partido de Saddam. Ambas falharam mas a aproximação de Garner parecia mais realista do que a de Brenner.

Caídos do nada, numa cidade que desconheciam, deslocando-se usando mapas turísticos, sem saber onde eram os ministérios que tinham que administrar, sem verdadeiro apoio quer dos militares, que não chegavam para as encomendas, quer dos diplomatas do Departamento de Estado, que incluiam arabistas com experiência do Médio Oriente, mas que Rumsfeld e outros como Wolfowitz, não queriam ver imiscuidos na gestão iraquiana, os homens de Garner tentaram repor alguma normalidade falando com os antigos responsáveis dos ministérios. Depois das decisões de Bremer todos estes homens desapareceram e o vazio, que já era gravíssimo, tornou-se insustentável.

Um livro que vale a pena ler em complemento do de Woodward é o de Rajiv Chandrasekaran, Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq's Green Zone, escrito também por um jornalista e que retrata a vida na "zona verde" de Bagdad, a área de máxima segurança, onde se concentra a administração americana, a Embaixada e um conjunto de serviços muito sensíveis ligados à ocupação. A história de como se formou a "zona verde" no meio das atribulações dos últimos quatro anos e a vida estranha que se vive dentro dessa espécie de bunker são um retrato dos erros, ilusões e ingenuidades, mas também da força, convicção, dedicação e coragem dos americanos . É uma zona de Bagdad que conheço, a partir do Hotel Al-Rasheed até aos antigos palácios presidenciais, e sobre a qual talvez venha a escrever a pretexto do livro de Chandrasekaran.


(Continua.)

*
Não tive a oportunidade de ler o Estado de Negação do Bob Woodward se bem que tivesse lido o Bush Em Guerra do mesmo jornalista, por sinal um fraco livro. Pelo que tenho lido nalguma imprensa estrangeira e nalguns blogs de iraquianos e militares, o ultimo ano constituiu um emendar de erros passados, pelos estrategas politico-militares que estão no Iraque, nomeadamente pela forte pressão exercida pelo Gen. Petraus sobre os terroristas e um maior apoio dos cidadãos iraquianos e milícias das diversas facções no combate à Alqaeda. O resultado parece ter sido a diminuição e desmantelamento dos principais grupos da Alqaeda ...coisa certamente desagradável para aquela imprensa que apenas noticia o Iraque quando se regista mais um atentado.Será que é desta que a situação se vai inverter ? não sei, mas a imprensa mundial não parece fazer muito para noticiar qualquer progresso, por mais pequeno que seja.Que contraste com a situação em Timor, que praticamente saiu do mapa, certamente porque os timorenses devem ter encontrado o paraiso.

(Jorge Bento)

*

Sinceramente o JPP parece-me um comunista do PCP, a tentar explicar o
falhanço da URSS, mas sem nunca por em causa o comunismo em si, no melhor
estilo "os ideais eram bons, mas os erros cometidos desvirtuaram-nos e o
resultado não foi lá muito bom".

Parece-me incrivel que alguem com a inteligência do JPP venha comentar
este livro agora e não se tenha interrogado na altura própria, isto é
antes da invasão, sobre quais as hipoteses de uma aventura deste tipo
correr bem.

No caso da invasão do Iraque os seus conhecimentos em história deveriam
ter-lhe lembrado que ocupar paises que estão "quietos" (mesmo apesar de
governados por facinoras como o Sadam H), nunca deu bom resultado. As
evidentes incapacidades intelectuais do presidente Bush e a inqualificavel
quadrilha que o apoiava liderada por Donald R não lhe fizeram acender
luzes vermelhas?

Um comunista pode ter sido iludido pela nobreza dos ideias, mas depois
depois do pacto germano soviético acreditou quem quis.

Admito que o JPP possa ter sido enganado numa primeira fase e ter
acreditado na opção do presidente Bush, mas partir das descoberta das
mentiras sobre armas de destruição em massa e o caos que se seguiu a
invasão, acreditou no que quis.

Agora vem com a analise de um livro que mais não faz do que contar o
obvio, o que o livro relata só teria sido diferente em caso de milagre e
eu não acredito em milagres.

Ha assuntos em que o JPP parece o MST a falar co FCP ou da lei antitabaco.

(nuno granja)

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MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Hoje.
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(Susan Sontag, On Photography)



Sol matinal. (Ochoa)



Nascer do Sol e a Lua. (C. Oliveira)



Milano, della nostra finestra, la neve... (Celia Regina Fulcher)

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© José Pacheco Pereira
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