ABRUPTO

12.12.07


BOAS / MÁS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2007
VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR



NOTAS DE ABERTURA

Escrevo no Público e na Sábado e participo em programas da SICN e do RCP. Se esses são conflitos de interesse, aqui ficam registados. Este balanço depende muito do que li, ouvi e vi directamente, logo pode ser desigual e injusto com muito de bom ou mau na comunicação social. Ouço pouca rádio, e vejo poucas vezes a TVI com excepção dos noticiários, mas leio quase toda a imprensa.

Estas primeiras notas são ainda uma aproximação incompleta, em muitos casos enunciando apenas a questão para posterior desenvolvimento. Como sempre, espero dos leitores do Abrupto opiniões, sugestões, correcções e debate, antes de fazer um texto definitivo.


*


A grande falha no debate público e a grande ausência de pluralismo e contraditório na comunicação social: a questão europeia, a Presidência portuguesa e o Tratado.


Os "momentos-Chávez " de Sócrates na RTP são melhor retrato da governamentalização do "serviço público". O modo como se dá acolhimento embevecido às sessões de propaganda do governo (nalguns casos com casting profissional) distinguem os telejornais da RTP dos demais noticiários.

O tempo que mediou entre as primeiras publicações de documentos levantando problemas sobre a carreira e os títulos académicos do Primeiro-ministro (no blogue Do Portugal Profundo) e a sua notícia num jornal de referência, o Público. E o tempo do silêncio, muito mais grave, entre a primeira notícia do Público e as primeiras referências noticiosas noutros jornais e na televisão.


Como nos anos anteriores, continua a futebolite crónica, o circo a que temos direito e de que os governos gostam porque ocupa espaço no ecrã e acima de tudo, na cabeça.



A obsessão pública, doentia e perversa com os "casos de crianças": Esmeralda, Maddie, Iara, e a Joana.




A ERC.



Na blogosfera desapareceu o Bloguítica que faz falta.


A forma do Público em linha não me convence. Ao assentar a apresentação do jornal na reprodução da página em papel ela mostra uma opção pela fixidez estática do papel desvalorizando a grande vantagem da Rede que é o hipertexto. Os artigos ficam assim presos ao papel e a edição em linha não ganha a funcionalidade própria do meio. Não é mais do que o papel, é menos porque não tem sequer o espaço visual do papel.



A edição do Diário de Notícias em linha continua muito má.

Vantagens únicas da blogosfera. A facilidade de fazer blogues permite excelentes oportunidades para se entenderem melhor personalidades, estilos e opiniões que nunca se perceberiam tão bem e tão publicamente se estes "diários" não existissem. Três exemplos:
1. Os blogues de jornalistas que são excelentes retratos do que está por trás das notícias, simpatias, antipatias, adesões, ideias, gostos, amizades electivas, ódios de estimação. Eu se tivesse um conselho de prudência a dar a muitos jornalistas portugueses seria o de que nunca, jamais , em tempo algum, escrevessem blogues tão reveladores como, por exemplo, o Glória Fácil ou o Corta-Fitas. Percebe-se tudo bem demais.

2. Blogues como o Lugares Comuns de Luís Paixão Martins interessam-me para perceber o craft, a arte, a técnica, a especialidade.

3. Na categoria de blogues -retrato único, imprescindível, insubstituível, absolutamente espelhar, absolutamente revelador, o mais significativo é o de um político: Pedro Santana Lopes. Espero que os seus textos nunca sejam apagados.
O blogue que eu mais leio enquanto blogue, uma categoria especial que só existe para este media, é o Portugal dos Pequeninos. Na meio da pasmaceira nacional, nas suas idiossincrasias entre o zangado e o ingénuo, o João Gonçalves faz o seu blogue com força, pathos e bathos.

De forma sistemática, leio o Blasfémias, o Cinco Dias, o Causa Nossa, o Da Literatura, entre outros. De forma especial leio A Terceira Noite, a Natureza do Mal e o fworld. O blogue com informações "técnicas" que leio em português é o Planet Geek.

O José Medeiros Ferreira apreendeu bem a forma-blogue de escrever embora eu o leia mais vezes transcrito por outros do que no Bicho Carpinteiro onde o resto me interessa pouco.


Blogues que acrescentam. (Em breve.)

O aparecimento e a sobrevivência de revistas políticas como a Atlântico é tão raro em Portugal que merece ser saudado, independentemente de se concordar ou não com a sua linha editorial.


O reaparecimento da revista Artes e Leilões.

(Continua.)

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Más coisas nas comunicação Social Portuguesa :

1. A monotonia do Jornalismo económico .Sempre as mesmas caras , os mesmos protagonistas , as mesmas declarações ...No fundo , o espelho de uma economia pouco dinâmica que não consegue produzir novas empresas , nem novos empresários ...

2. A crispação do jornalismo desportivo .

3. A pobreza franciscana dos sites dos órgãos de comunicação social portuguesa ( excepcção ao Público e ao Expresso ). Particularmente grave o site do DN.

4. A existência de Jornais moribundos, que ninguém lê , em completo estado vegetativo : Diabo , Semanário e provavelmente outros .


Boas coisas nas comunicação Social Portuguesa :

1. A saída da Informática e das Novas tecnologias da esfera dos especialistas e freaks para o público generalista com a edição de suplementos bem editados como o e o contributo de Lourenço Medeiros ( um bom comunicador ) com os seus apontamentos no telejornal da SIC.

(João Melo)

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Péssimas
O Caso Maddie
Más
Relações entre jornalistas de economia e grandes empresas
(Martim Avillez Figueiredo na Sonae e Sérgio Figueiredo? na EDP)
Cobertura acrítica e laudatória dos eventos da presidência Portuguesa da UE
Boas
O documentário sobre a guerra do ultramar por Joaquim Furtado

(Luís Bonifácio)

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A sua principal omissão já foi assinalada pelo seu leitor Luís Bonifácio, mas quero realçá-la: o documentário de Joaquim Furtado sobre a guerra do Ultramar.

Uma sugestão para a categoria «Péssimas»: a perseguição movida pela direcção da RTP a José Rodrigues dos Santos.

(José Carlos Santos)

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Coisas boas na Comunicação Social em 2007:

Os espaços de intervenção pública:
Antena 3 - Prova Oral
SicNotícias - Opinião Pública

O programa de comédia/entretenimento Vai Tudo Abaixo apresentado
na SicRadical e disponível no YouTube

A qualidade informativa do Jornal2

As notas semanais de António Vitorino na RTP1 - clareza e síntese

Coisas más:

A falta de informação sobre os processos políticos europeus & o excesso de informação e mediatização dos feitos políticos do governo nacional (e do primeiro-ministro), nomeadamente a apresentação dos pequenos ajustes administrativos como grandes reformas e restruturações.

A propaganda do "grande sucesso da presidência portuguesa da UE" engolida por grande parte dos agentes da Comunicação Social.

O brilharete de José Sócrates na RTP em Abril de 2007 com a ajuda de Maria Flor Pedroso e sobretudo de um muito dócil José Alberto Carvalho.

O excesso de protagonismo do comendador/comentador Joe Berardo. A forma como surge na cena económico-futebolística-social é no mínimo intrigante.

Coisas péssimas:

O destaque dado durante semanas a fio às dúvidas sobre o currículo de José Sócrates.

A crescente pobreza de conteúdos dos principais blocos informativos dos 3 canais generalistas: RTP1, SIC, TVI e a crescente falta de impudor em dramatizar nas peças jornalísticas a vida privada dos cidadãos bem como em explorar a "tragédia pessoal".

O "aparecimento" de Maddie na TV nacional e a espiral de informação, contra-informação, comentários e calhandrice-de-toda-a-espécie que sucedeu em torno do caso.

(Ricardo Moreira)

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Coisas boas na comunicação social em 2007:

- Portugal um retrato social - da autoria de António Barreto

- A RTP2 passou uma serie de documentários durante a "silly season"
que contrastaram com a mediocridade do resto (gostei especialmente de
um sobre David Mourão Ferreira que passou a 15 de Agosto).

- Prós-e-contras, nem sempre é bom mas é dos poucos debates não
"filtrados" a que podemos assistir.

- Na sicnotícias: o jornal das 9 com Mário Crespo, 60 minutos, Toda a
verdade, Eixo do Mal.

- Na TVI: comentários de Miguel Sousa Tavares e Peres Metelo.
[Refira-se, no entanto, que à excepção da RTP que tantas vezes é merecidamente criticada no "abrupto" nenhuma dos canais ditos "generalistas" tem um programa de debate político ou cultural... Quem não tem TV cabo vê novelas]

Coisas más:

- O regresso dos concursos: em família, com noivo(a), sozinhos, com crianças que sabem mais do que os adultos... os concursos proliferam; não têm o menor.

- A duração dos telejornais: os telejornais são muito longos, o que não seria mau se passassem notícias, o que não acontece na grande maioria do tempo.

- a febre dos directos, sempre que há uma notícia, um pequeno acontecimento temos que assistir ao filme deprimente do jornalista a tropeçar nos cabos, a engasgar-se sem saber o que há-de dizer, a fazer perguntas completamente despropositadas aos "populares" e claro, no final, a explicar-nos tudo aquilo que acabámos de ouvir [às vezes de forma deturpada o que permite imaginar a qualidade de alguns
jornalistas].

- O processo disciplinar a José Rodrigues dos Santos, clara retaliação pelas suas declarações numa entrevista onde confirmava aquilo que já todos podiamos adivinhar.

- O professor Marcelo, começa a dar a sensação que o programa é já
uma rubrica do gato fedorento.

Coisas que vale a pena recordar

- A saída de Santana Lopes a meio da entrevista quando foi interrompido por causa da chegada de Mourinho. Pode ser que a partir de agora os senhores jornalistas tenham mais consideração por quem entrevistam e usem critérios editoriais mais qualificados (aliás, gostava que me explicassem os critérios editoriais dos telejornais no que toca a futebol. Será que o público de "classe C e D" querem mesmo tanto tempo do telejornal dedicado ao futebol ou esta é uma boa maneira de se evitar fazer jornalismo a sério que sai mais caro?)

- A "encomenda" do Público a Vasco Pulido Valente para comentar o livro de Sousa Tavares. Não ficou bem.

(Paulo Rocha)

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Coisa boa: Edições de qualidade do Público: Àrvores e Florestas de Portugal e colecção Arquitectos

Coisa boa: a cobertura mediática dos "Verdeufémios" feita pelo Abrupto, aliás na senda da cobertura do sismo de Fevereiro.

Coisa boa: O regresso tímido, e ainda à procura do tom certo, do MEC à imprensa escrita. Uma sugestão: deixar o registo piadético e escrever a sério. Já tem idade e "bagagem" para isso. Apesar das saudades dos bons velhos tempos que todos temos.

Coisa boa: O You Tube no referendo sobre o aborto. Não tanto pelo resultado (embora também importe) mas mais pela utilização generalizada de uma nova ferramenta-media no espaço público.

Coisa "assim assim": O Rádio Clube Português, que ainda não se sabe onde fica.

Coisa "coisa": O blogue do Ministério da Administração Interna, que ainda lá está, activo..

Coisa má: A forma como as agências de comunicação ganharam notoriedade.

Coisa má: O "caso" José Rodrigues dos Santos

Coisa má: A perda de pluralismo e notoriedade do Prós e Contras.

Coisa muito má: a cada vez maior escassez de opinião de qualidade nos nossos jornais e televisões e a não renovação de "stocks". A disseminação da ideia de que a opinião e o comentário de qualidade se podem fazer a partir de meia dúzia de sound bites e por "curiosos" bem (ou mal) avontadados. Nesse aspecto, acho que houve uma migração da forma de estar na blogosfera para a imprensa escrita que diminuiu a qualidade desta. A novas gerações de comentadores e analistas, com raríssimas excepções, pecam pela ligeireza da análise, normalmente epidérmica e pela ausência de back ground intelectual ou de conhecimentos para sustentação das suas opiniões. O que interessa é ter uma opinião e, de preferência, contrária à de outrem, para alimentar uma polémica que, muitas vezes, acaba em insultos e zangas juvenis. Acresce que, em regra, se escreve muito mal.

E mais uma nota: há pouca opinião (e mesmo informação) especializada e de qualidade.

Coisa péssima: o Eixo do Mal na Sic, que só tem a vantagem de ninguém ver nem saber o que é.

(RM)

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1. Algo que não foi mencionado por si e, até agora, pelos outros leitores, é (pelo menos é a minha impressão) de que a situação não sempre foi esta. Por exemplo, no caso dos debates, parece-me recordar tempos onde existiram muitos mais programas de debate de ideias. Alguns tinham muitas falhas e, em muitos casos, os temas escolhidos não eram os melhores mas, em vez de se ter progredido para melhores programas e temas e para uma maior concorrência entre estes, o que poderia gerar melhor qualidade, o caminho parece ter sido o do declínio. Na minha opinião, após o saudoso "Terça à noite", pouco se fez; já agora, menciono este programa não só pela sua participação nele, mas também para dizer que outro sinal de que as coisas foram (intencionalmente?) degradadas foi o afastamento de pessoas como o Miguel Sousa Tavares (de quem eu adorava discordar), Vasco Pulido Valente, António Barreto, etc. (Continuam a escrever e a publicar as suas opiniões, mas com muito menos acesso ao Espaço público, que está cada vez mais pobre. Por mim, já só quase leio a imprensa Anglo-Saxónica e sou um viciado nas selecções do Arts & Letters Daily).

2. Relativamente aos blogues, acho que reflectem algumas das fragilidades intelectuais dos portugueses: quase não hà, que eu conheça, blogues científicos ou filosóficos (excepção feita a Porfírio Silva, que faz o trabalho de cem homens), ou escritos por cientistas portugueses, enquanto que (opinião puramente pessoal) hà uma Babel de blogues políticos que falam entre si. Novamente aqui a aversão portuguesa ao pensamento rigoroso...

(João Carlos Soares)

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