A maior atenção e destaque às necrologias e biografias. No Diário de Notícias algumas biografias nacionais acrescentam ao que se conhece e cumprem a função das necrologias, outras são cópias da imprensa internacional e aparecem muitas vezes como bizarras nos seus critérios de escolha. No Expresso escreve o melhor"necrologista" português sobre figuras internacionais, José Cutileiro. O Público é o único jornal que ocasionalmente publica artigos de fundo nos seus suplementos sobre figuras esquecidas do antes-25 de Abril (Julieta Gandra, Ferreira Soares, autores de banda desenhada, etc.).
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COISAS MÁS
- A preponderância da "pró-anómica" televisão sobre os restantes OCS, sempre que se fala sobre este tema. Apesar do seu peso mediático e da frequente encenação do espectáculo noticioso, não deixa de ser verdade que as televisões são quase sempre os últimos OCS a darem as notícias e os que mais se alimentam do trabalho dos outros, incluindo dos bloggers.
- O uso da língua portuguesa cada vez mais de rastos, em todos os OCS. Mais grave do que as deficiências de sintaxe é este sentimento geral de que o Português é uma língua de segunda, de pobres e de saloios. Logo, incompatível com a inexorável marcha do progresso que consagra o Inglês como língua franca. Não tardará que as novas gerações de portugueses tenham mais competências linguísticas no Inglês do que na sua língua pátria. Ainda não se inventou disco rígido com capacidade para armazenar os atropelos públicos à língua portuguesa feitos pela Comunicação Social e até por muitos reposnsáveis políticos, mas uma visita ao Pelourinho das Ciberdúvidas pode dar uma ideia do massacre.
- O mimetismo entre os OCS. Há muito que a investigação deixou de ser praticada na maioria dos OCS. O mais parecido com isso é a obsessão com as grandes "cachas" de escândalos, quase sempre reveladas através de episódios de "zangas de comadres" e denúncias subsequentes. As notícias são copiadas de uns OCS para outros, que assim impõem a ditadura informativa sempre em torno dos mesmos temas. Os jornalistas deixam de escrever a pensar no leitor mas apenas pensando no seu concorrente, numa espécie de competição intestina onde todos ficam a perder, em especial os leitores. O fastígio deste mecanismo de circuito fechado sucede quando nos apercebemos que seria possível juntar à volta da mesma mesa de consoada quase todos os jornalistas, comentadores e articulistas dos OCS portugueses. Eles são realmente poucos, mas convidam-se uns aos outros para assumirem lugares em simultâneo - hoje tu comentas no meu jornal, amanhã eu vou ao teu programa de TV, etc. numa espécie de solipsismo metodológico aterrador.
- As Redacções deixaram de ser oficinas de notícias para passarem a ser lojas (hipermercados) de notícias. Os fornecedores da mercadoria preferidos são os que já apresentam o produto "pronto a consumir", com o tempero adequado: 90% de Pathos, 9% de Ethos e 1% de Logos. A mercadorização chegou às notícias, que agora se chamam “conteúdos”, e os OCS funcionam como entrepostos comerciais desses produtos ao serviço de interesses particulares.
- A institucionalização da comunicação social como palco de propaganda governamental e dos grandes financiadores do partido do poder. É preocupante quando não vemos diferenças entre os discursos do poder político estabelecido, do poder económico e da Imprensa.
- A informação desportiva (quase exclusivamente futebolística) na emissora estatal e taxada Antena 1, que ocupa ocupa mais do dobro do tempo de emissão das restantes notícias.
- A obsessão de, por tudo e por nada, ilustrar as notícias com a "opinião dos portugueses", que não são mais do que 3 ou 4 passantes, arrebanhados à porta da redacção.
- Cada vez mais o escopo da informação é o jornalista e não a notícia. Até para o assunto mais absurdo tem de vir um "apontamento de reportagem" onde 99% do tempo é dedicado a ver e/ou ouvir o jornalista-estrela, sem qualquer justificação.
- O Canal Parlamento, que poderia ter um papel determinante na elevação da consideração por aquela instituição tão depreciada pelos portugueses, confirma-se a mais completa desilusão. De entre todas os órgãos de soberania, o Parlamento deveria ser o mais acarinhado pela sociedade democrática, mas dir-se-ia que são os próprios parlamentares os menos preocupados com o prestígio daquela nobilíssima instituição. De que têm medo os nossos deputados?
COISAS BOAS
- O incremento do uso da Internet como fonte de informação noticiosa e como sério concorrente à passividade frente à televisão. (Onde estão os estudos de audiências em que também surja a Internet?)
- As dezenas de blogs regionalistas e de pequenos projectos de ciberjornalismo regional que conseguem romper com a versão institucional, partidarizada e subserviente da Imprensa local (jornais e rádios).
- O Abrupto, o Do Portugal Profundo e um pequeno punhado de blogs que ainda provocam turbulência mesmo entre aqueles que se esforçam por demonstrar que a blogosfera (e a Internet) é um meio de comunicação desprezível. Será medo da liberdade e da democracia? Ou saudade das ditaduras?
- As crónicas de António Barreto, no Público. Fazem-me lembrar uma afirmação célebre do dramaturgo Friedrich Dürrenmatt: "Mas que tempo este em que é preciso lutar pelo que é evidente!"
- O crescimento e a emergência de jornais de distribuição gratuita, num país avesso à leitura e onde o preço de um jornal já pesa no orçamento de muitas famílias. E ainda porque estes jornais, cujo conteúdo não é muito mais do que um repositório de "telex" de agências, revelaram a mesma displicência profissional que se instituiu nos "órgãos de referência". Para quê ler o DN, o JN, o Público, etc. se as mesmas notícias, redigidas praticamente da mesma forma, estão ali à mão, num dos gratuitos?
COISA EXCEPCIONAL (no sentido de excepção; de circunstância notável a que se deve dar especial atenção; de fenómeno kantiano, suspenso nas teias da percepção contemporânea)
- O Blog de Pedro Santana Lopes: uma espécie de imperativo categórico dos tempos que correm, em que se revela como a forma, mais do que se impor à substância, configura-se, ela mesmo, como a verdadeira e única substância – esta é a "maravilha fatal da nossa idade". Aqueles textos, aquelas imagens, aqueles comentários, tudo aquilo são documentos históricos que consubstanciam a realidade antroposociológica portuguesa actual com uma densidade ímpar. Uma preciosa epítome que deve ser preservada para memória futura e júbilo dos historiadores vindouros.