ABRUPTO

7.1.08


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A LIDERANÇA AMERICANA NA GUERRA DO IRAQUE (4)

O mais devastador do retrato que Woodward faz da administração americana em tempos de guerra é o do contínuo conflito de competências e autoridade entre os principais responsáveis e as suas equipas. Aqui, pesem embora as claras simpatias e antipatias do autor (e das suas fontes), não há volta a dar: Rumsfeld, Condoleezza Rice e Colin Powell, nunca foram capazes de fornecer uma orientação consistente e coordenada à política externa americana, com graves implicações no terreno iraquiano e, por implicação, o Presidente Bush foi igualmente incapaz de se aperceber da situação e tomar medidas adequadas. Este é o cerne da crise de liderança que afectou os anos cruciais da guerra, em particular depois da vitória militar.

O secretário da Defesa Rumsfeld foi o principal responsável pela condução militar das operações que decorreram com grande eficácia e garantiram uma vitória rápida e sem grandes baixas. Mas as suas opções sobre a utilização dos militares no terreno, em particular quanto ao número de tropas e a recusa em participar em operações de manutenção de ordem quando começaram os saques, revelaram desde logo uma enorme insensibilidade política aos problemas resultantes da ocupação do Iraque. Era só uma questão de tempo até que os erros políticos começassem a ter efeitos militares, alimentando a insurreição sunita e impedindo operações tidas como fundamentais para combater os grupos terroristas e insurrectos, como foi o caso da "limpeza" de Faluja, bloqueada politicamente pelas pressões árabes que iam em crescendo com o agravamento da situação de segurança.

Rumsfeld comportou-se como não fazendo nem deixando fazer, bloqueando a participação do Departamento de Estado e mesmo do Conselho Nacional de Segurança, a quem incumbia a responsabilidade da condução política do processo. Colin Powell aparece como estando sempre marginalizado, à cabeça de uma diplomacia suspeita de não ter muito entusiasmo pelas teses democratizadoras dos think tanks neo-conservadores, e Rice como oscilando entre a sua fidelidade pessoal ao Presidente, que apoia Rumsfeld sem hesitação, e a consciência que claramente tem de que as coisas estão a correr mal. Este conflito no topo acaba por estender-se às equipas respectivas e inquinar a capacidade da administração para responder aos múltiplos avisos que faziam vários enviados especiais ao Iraque, em particular os que Rice mandava para uma apreciação independente do que estava a acontecer.

(Continua.)

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© José Pacheco Pereira
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