ABRUPTO

3.9.08


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES


Em sequência da série 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, e 9.

Das traduções, a minha preferida vai para aquela do cinema produzido no país ao lado, em que uma moça se apresenta cabisbaixa perante a família e diz estar grávida. Tradução: “estou embaraçada”. Outro caso muito interessante, tipo ratoeira, é o “pourtant” do francês, que passa directamente a “portanto”, está-se mesmo a ver! Por infelicidade, poder significar “contudo”, “no entanto”, etc. Em obras na área do direito ou da medicina, por exemplo, isto pode ter efeitos devastadores, imagino eu, cá do alto da minha ignorância. Possivelmente o problema não está na tradução, sim no modo como o trabalho é executado, como se escolhe quem o faz, por que se escolhe assim, e onde estão as pessoas que o sabem fazer bem feito.

(Paulo Loureiro)

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Ainda no capítulo das traduções inteligentes, há uma que jamais esquecerei e que permitiu a um serial killer deixar notas escritas com uma caneta fonte! Tenho, como coleccionador, tentado encontrar uma destas canetas em Portugal, mas insistem comigo que tal não existe. Será conspiração orquestrada dos papeleiros?

(Raul Almeida)

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Na continuação deste tema (daria pano para mangas), não posso deixar de mencionar um caso de uma tradução errada de uma palavra "falsa amiga" mas o erro é tão clamoroso que passa a ridículo. Passava o filme "Miss Congenility" (Miss Detective) no canal Hollywood, e num diálogo a protagonista respondia ao facto de o desfile de biquíni valer 30% da pontuação:

"What's the other 70 percent, cleavage?". A tradução correcta seria algo como "Quais são os outros 70 por cento, o decote?". Na legenda apareceu "clivagem" como tradução de "cleavage"...

(Romeu)

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(...) esqueci-me de um daqueles exemplos flagrantes na tradução de títulos de filmes. Traduzir "collateral" por "colateral" é tão rídículo que acho que ninguém teve coragem na altura de apontar o erro porque ninguém acreditava que seria possível cometer um erro desses. "Colateral" sem mais nem menos em Português não quer dizer nada, é um adjectivo que faz sentido aposto a algo como "danos colaterais". Mas "collateral" em Inglês, e no contexto do filme, quer dizer "garantia", tal como a garantia de um empréstimo (um fiador).
Para além das traduções há o problema do próprio português que se anda a escrever por aí. É preciso não esquecer que as revistas cor-de-rosa, (essa chiclete do espírito tão apetecível no Verão), têm tiragens fabulosas. A minha mãe adora lê-las nesta altura em que é preciso fingir que nada pode ser assim tão sério que nos possa estragar as férias. E numa delas viu uma frase qualquer, de um viP qualquer, no título da reportagem (!), mais ou menos assim "Queria uma casa onde me SINTI-SE bem". Com esta forma, tal e qual.

(Paulo Lourenço)


VARIA


Qualquer pessoa com dois dedos de testa consegue concluir que o chip nas matrículas nunca será útil para evitar o CARJACKING, nem tão pouco descobrir as viaturas roubadas deste modo.

Hoje em dia os criminosos destroem os sistemas de navegação por GPS das viaturas roubadas, apesar de estes sistemas não possibilitarem a localização da viatura. Ou seja, quando as matrículas tiverem chip, a primeira coisa que os assaltantes fazem é destruir o chip.

Mas há NOVOS perigos que os chips nas matrículas vão trazer, tal como as novas tecnologias de protecção das viaturas trouxeram o CARJACKING. O CARJACKING existe porque a tecnologia tornou impossível roubar o carro sem a chave.

Aproveito para indicar uma discussão sobre o assunto, onde é possível perceber porque razão a maioria dos Portugueses engolem todas as mentiras que lhes queiram contar.

(Nuno Ferreira)
Gostei muito de ver a ideia do leitor Nuno Ferreira sobre o problema da "cada vez melhor segurança". De facto, a melhor segurança apenas transfere o problema para as pessoas das vítimas. Quando se tornar moda a biometria, os scans de retina, impressões digitais, etc., quanto tempo levará até que os ladrões comecem a decepar mãos ou a literalmente "arrancar olhos", para conseguir dar à ignição do carrito? (Sinto cada vez mais necessidade de voltar a ler ficcção científica, nós já vivemos lá de qualquer maneira...)
(PL)
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Por razões de saúde graves não me foi possivel ir gozar uns dias de praia como habitualmente faço. Passei o mês de Agosto entre HUC e casa, com pouca disposição para ler. Assim pensei que poderia ter alguma companhia com a TV. Engano e horror!

É inescritível o que as TV's 1,3 e 4 apresentam durante todo o dia. Estórias de "faca e alguidar"; apelo ao que melhor para uns e pior para outros se possa imaginar. Comentadores que se dão ao luxo de falar nas "mamocas" de silicone de...nem sei nomes. De tragédias que o não são e de convidados que pretendem demonstrar "qualidades" há muito anquilosadas: caso de Zézé
Camarinha e quejandos.

O Engº Socrates pode distribuir computadores, apelar à modernidade. Saberá ele que para tudo isso terá que começar por apelar à educação? Será que temos que distrair as nossas "donas de casa", reformados, doentes, e isolados em aldeias longe de tudo, com este lixo nauseabundo?
Se a TV3 e 4, são privadas, já a RTP 1 é paga com o dinheirinho dos meus impostos, de trabalho que tanto me custa. Se soubesse como, impediria de canalizar um centimo que fosse, para aquela Empresa. É um desabafo, mas creia que se tiver só por companhia um aparelho de televisão o meu conselho é mantê-lo desligado. Poupamos energia e não embrutecemos ou enfurecemos.

(Fortunata de Sá)

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Se bem me lembro, o Sr. Primeiro-Ministro anunciava, em plena crise energética e económica, uma das suas medidas "sociais": o congelamento dos passes socias nas regiões da Grande Lisboa e Porto. Que eu saiba, ninguém perguntou quais seriam os efeitos dessa medida nos serviços prestados em empresas públicas com prejuízos crónicos (que eu até estou disposto a deixar passar, porque reconheço que a cobrança do preço real dos transportes seria incomportável para muitas das pessoas que pagam para os utilizar). Mas não notei grande diferença; até comecei a pensar, na minha ingenuidade, que, desta vez, havia alguma realidade por trás da medida.

O despertador tocou na semana passada; ainda não parou. Comecei a ouvir a campainha quando precisei, na semana passada, de me deslocar ao Campus da Universidade Nova, no Pragal. No meu caso, a opção mais cómoda para esta pequena viajem é apanhar o comboio da Fertagus para o Pragal e, como não sou passageiro frequente do dito comboio, tentei fazer o que costumo e que penso ser uma opção em qualquer país civilizado: comprar um bilhete de ida-e-volta; ou seja, para que fique bem explícito, comprar o direito de fazer duas viagens curtas.

Fui cilindrado pelo progresso segundo Sócrates. Já não é possível comprar um bilhete para uma viagem isolada: os transportes de Lisboa (e suponho que os do Porto também) aderiram à "Bilhética Sem Contacto", daqui em diante referida como BSC (que é parecido com BSE); o Grande Passo em Frente da BSC obriga toda a gente que queira viajar (mesmo uma pequena viagem ocasional) a comprar um cartão "Lisboa Viva", "Sete Colinas" ou "Viva Viagem" e carregá-lo com o valor da dita. Tive então que pagar o cartão mais a viajem: quase dez vezes mais do que pagava anteriormente. Não vale a pena dizerem-me que agora sou portador de um cartão "Sete Colinas", que é uma porcaria impressa em cartão e que não durará mais do que umas semanas (também sou obrigado a ser portador do "Lisboa Viva", que tem um "chip" que já se avariou três vezes, e que fui obrigado a pagar cada uma das vezes).

Mas a história continua: o passe que costumo comprar deixou de existir em papel, novamente graças à BSC, de modo que agora tenho que andar com o cartão e com o recibo da compra, pois se a electrónica falha e o leitor do revisor afirma que eu não comprei o passe, já não tenho a salvaguarda física do selo para provar a minha legitimidade como passageiro. Não vou falar das incompatibilidades várias entre os sistemas da CP e do ML, dos atrasos na implementação (o passe só vai estar à venda amanhâ, dia 1 de Setembro, no ML; até os trabalhadores das bilheteiras estão com medo do caos que vem aí).

Mas a verdadeira questão é esta: se estamos em plena crise económica e energética, e se estas empresas têm prejuízos crónicos, como é que foi pago um sistema tão caro (e pior que o anterior, passado o fascínio com tecnologias mal compreendidas)? Quem é que ganhou com este negócio? Quem é que vai fazer a manutenção de um sistema tão frágil? Ou vamos ter um episódio semelhante à invasão de Lisboa pelos radares, na maior parte das vezes que passo por um, está fora de serviço?

(João Soares)

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