ABRUPTO

30.9.08



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Boi-cavalo e girafa. (A.)

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RIOS DE ÁFRICA (2)


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Rio e crocodilos. (A.)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "MAGALHÃES" (3)

(Primeira; segunda parte.)


Depois do programa "Quadratura do Círculo", no dia 26/09/2008 o Governo apressou-se a emitir um comunicado:

«(...) Em declarações à agência Lusa, fonte oficial do Ministério tutelado por Mário Lino disse que o "Governo não mantém qualquer relação contratual com a JP Sá Couto" (...) A mesma fonte explicou que não houve concurso público porque a distribuição dos computadores é financiada pelos operadores móveis (...)»
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/97d04a1480a4717e8c1d4c.html

Isto é FALSO!

No programa "Quadratura do Círculo", Lobo Xavier levantou a ponta do véu que permite chegar à verdade dos factos.

Na realidade, em 2003 as operadoras ficaram efectivamente obrigadas a contribuir para os projectos necessários ao desenvolvimento da sociedade da informação e como tal definidos pelo Governo.

Mas esta obrigação extinguiu-se em 2007 mediante protocolo celebrado em 5 de Junho desse ano.

Documentos do ICP (ANACOM): 1 e 2.

Nas notícias: 1, e 2.

Assim, criou-se um FUNDO: «Fundo para a Sociedade da Informação (FSI)»


Este FSI depende do MOPTC. Os dirigentes são nomeados por Despacho. O FSI recebeu em 2007 quase 25 milhões de Euros (24 939 894,85) das 3 operadoras para que fosse extinta a obrigação acordada em 2003 pela atribuição das licenças para frequências UMTS.

Portanto, as operadoras não estão a comprar os computadores para o programa e.Escola. Muito menos fizeram qualquer contrato para o Magalhães, ao contrário do que quer fazer crer o Governo.

Até é possível que os contratos estejam a ser pagos com os 25M de Euros do FSI, mas isso não invalida a realização de um Concurso Público. ATÉ PORQUE O FUNDO PODE ESTAR/VIR A GERIR DINHEIROS PÚBLICOS!!!

«(...) A entidade gestora tem por missão praticar todos os actos e operações necessários ou convenientes à boa administração do Fundo para a Sociedade de Informação (FSI), de acordo com as prioridades definidas pelo Governo, bem como preparar o necessário enquadramento jurídico e financeiro à transformação do FSI num fundo SUSCEPTÍVEL DE SER FINANCIADO TAMBÉM POR CAPITAIS PÚBLICOS. (...)»

Senão, qual será a diferença entre:

1. O Governo diz: Quem ganhar o Concurso Público para as licenças de UMTS terá de comprar computadores a uma empresa a designar pelo Governo (sem Concurso Público).

e:

2. O Governo diz: Quem ganhar o Concurso Público para as licenças de UMTS terá de colocar X milhões de Euros num fundo gerido pelo Governo. O Governo aplica a verba na compra de computadores a uma empresa que escolherá sem Concurso Público.

Mais valia irem directos ao assunto:

3. O Governo diz: Quem ganhar o CP para UMTS coloca X milhões de Euros repartidos equitativamente nas contas bancárias a designar.

FACTOS:

As operadoras não fizeram qualquer contrato de aquisição de computadores, para os programas e.Escolas e similares, desde meados de 2007, porque a sua obrigação extinguiu-se.

O Governo, através do FSI que depende do MOPTC, tem escolhido SEM QUALQUER CONCURSO PÚBLICO desde 2007 as compras dos computadores para os programas3e.Escola, e.Escolinha e similares.

(Nuno Ferreira)

*

A Microsoft tem uma página com a abordagem das visitas de Steve Ballmer aos 5 países na Europa, com descrição do conteúdo programático por país. Imagine-se que o único a que se refere a palavra “government”, várias vezes utilizada, chama-se… Em todos os outros países a abordagem é comercial e técnica, mas a nós calhou-nos “business owners, government leaders and policy makers”. Poderá ser interessante descobrir quem serão os “policy makers”, certamente acima do PM. Mas acima de tudo, há que apreciar o teatro, porque na sexta-feira vai haver teatro e, quem sabe, um boa ópera às 20h. Isto é o que diria uma má-língua, porque muito provavelmente, nada disto vai acontecer. Mas uma coisa não deverá faltar: “um dos homens mais ricos do mundo está em Portugal”.

(Paulo Loureiro)

*

Há, na realidade, um enorme equívoco na forma como o governo e o PM se afadigam a insinuar as tecnologias de informação na pequena (porque insinuar que a máquina de propaganda do PS e do governo é grande, equivaleria a emprestar-lhes uma autoridade e capacidade que não possuem) propaganda política.

Para ilustrar o que escreveu a propósito, passo um excerto do texto introdutório enviado aos novos alunos, por uma das mais reputadas universidades mundiais:

You will need to use Mathematics widely in your professional career once you leave university. We want to make sure that you have a good 'feel' for the subject so you do not always have to rely on computers and calculators to solve problems. In fact, you will not be allowed to use calculators at all in some of the mathematics classes. In examinations, only quite basic calculators are allowed.

(João Henrique Fernandes)

*

Pergunta: os computadores são dados, i.e., podem ser levados para casa, para uso individual, fora do “local de trabalho” (no caso, a escola) e sem um eficaz e efectivo controlo pedagógico pelos “patrões” (neste caso, os professores)? Resposta: sim. Ouvi no outro dia um responsável governamental (não posso jurar que tenha sido o primeiro-ministro) afirmar que sim com a maior convicção, como se, no meio desta escuridão, essa fosse uma questão tão luminosa que nem questionada devia ser.

Comentário: há tempos lia eu um livro técnico sobre muitos dos efeitos que as novas tecnologias (como consequência do “progresso” da nossa sociedade) têm sobre o indivíduo e a sua capacidade de concentração, análise, etc., e aprendi – o verbo é este – que a questão da info-inclusão das gerações mais novas (até por volta dos 10 anos) é uma falsa questão. Na verdade, o lugar-comum que todos utilizamos de que as crianças de hoje em dia mexem com tecnologia com uma sapiência fabulosa, como se “aquilo já tivesse nascido com eles”, é falso. O que é verdade é que existe um avanço tecnológico que não existia no passado e que isso, obviamente, contamina (não necessariamente no mau sentido) as crianças quase desde a nascença. O que não é verdade é que para que uma criança seja feliz, aprenda convenientemente e possa ser no futuro competente na sua profissão, etc., tenha que começar a utilizar um computador a partir dos 3, 4 ou 5 anos, porque isso potencia a criação de mecanismos que, na verdade, vão contra tudo isso, designadamente défices de concentração, atenção, incapacidade de permanência, de análise, etc..

Não tenho competência para discutir a questão em profundidade e com certeza que esta opinião, embora partilhada por muitos técnicos que se dedicam ao seu estudo, merece contraditório e não é (como nenhuma) absoluta. Agora o que me faz espécie é que, como afirma o Pacheco Pereira, se apresente este Magalhães como parte do “processo tecnológico” sem concomitantemente se apresentarem estudos, factos, sem previamente se discutirem questões e posições que a todos interessariam. A todos, menos possivelmente ao Governo e, porventura, ao que estará por detrás dos Magalhães desta vida.

(Rui Esperança)

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Chitas. (A.)

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RIOS DE ÁFRICA


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Um grupo de abutres espera para comer a carcaça de um hipopótamo.

(A.)

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EARLY MORNING BLOGS


1403 - this is the garden: colours come and go,... (IX)

this is the garden:colours come and go,
frail azures fluttering from night's outer wing
strong silent greens serenely lingering,
absolute lights like baths of golden snow.
This is the garden:pursed lips do blow
upon cool flutes within wide glooms,and sing
(of harps celestial to the quivering string)
invisible faces hauntingly and slow.

This is the garden. Time shall surely reap
and on Death's blade lie many a flower curled,
in other lands where other songs be sung;
yet stand They here enraptured,as among
The slow deep trees perpetual of sleep
some silver-fingered fountain steals the world.

(e.e. cummings)

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29.9.08



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Elefante avançando. (A.)

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EARLY MORNING BLOGS


1402

michinobe no mukuge wa uma ni kuwarekeri

A flor
Da beira da estrada
Foi comida pelo cavalo.

(Bashô, tradução de Edson Kenji Iura)

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28.9.08




Há 3 horas, a um metro, ao anoitecer, no bushveld.

(A.)

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AS PERGUNTAS QUE DEVEM SER FEITAS SOBRE O "MAGALHÃES"



As entregas de computadores nas escolas pelo primeiro-ministro são uma peça essencial da propaganda governamental de sucesso garantido a abrir um ano eleitoral. Como é óbvio, ninguém deixa de gostar que lhe dêem coisas. Valentim Loureiro dava frigoríficos e outros electrodomésticos, coisas que ninguém pode achar serem inúteis e desvantajosas para quem as recebe, Sócrates "dá" computadores, um objecto cuja aura é hoje superior ao frigorífico, e que vem envolvido com toda uma retórica de modernidade, que ninguém se atreve a contestar. Uma das características deste Governo é um grande deslumbramento tecnológico que tem muito a ver com o primeiro-ministro, um típico tecnocrata, mais autodidacta do que com uma formação profissional sólida, e que por isso "gosta" de gadgets e não sabe viver sem eles. Mais: está convencido de que são os gadgets que mudam as pessoas, numa visão tecnocrática típica, sem perceber que o modo como as pessoas os usam pode ou não ser vantajoso conforme as literacias prévias que possuam.

A operação é inevitavelmente popular, e por isso tem havido muito pouco escrutínio sobre ela, quer da comunicação social, quer da oposição. A oposição sente-se intimidada em criticar algo que sabe ser popular, e hesita. Passada a desmontagem das mentiras habituais na sua apresentação (o computador "português", etc., que só a RTP hoje repete), sobra quase tudo por analisar e questionar, mas isso incomoda muito pouca gente no ambiente de aceitação acrítica da governação e do embevecimento tecnológico que o povo recordista dos telemóveis inevitavelmente tem. O resultado é que toda esta história do computador Magalhães vai passar incólume mesmo que tudo, ou quase tudo, seja errado nesta operação.

Quanto mais sei sobre todo este processo do Magalhães, mais objecções tenho ao que se está a passar. E acresce que não sei muita coisa, porque há demasiadas obscuridades sobre como este projecto apareceu, como foi decidido, quem foi consultado nas escolas (pedagogos, professores) e na indústria, como foi financiado, de quem são os computadores que o Governo "dá", visto que não os comprou e não houve concurso público, que engenharia criativa foi feita para não haver concurso público, como foi escolhida esta empresa, que compromissos existem com ela, e como vai ser dada continuidade à produção, dados os números mirabolantes que o Governo agita, e que seriam bons para a capacidade produtiva de Taiwan, e as maravilhas de design nacional que supostamente vão ser incorporadas (o que significa que os computadores que o Governo está a "dar" são inferiores aos que vai "dar" daqui a um ano). E por aí adiante. Tenho tanta convicção de que isto foi feito no joelho e à pressa que desafio o Governo a mostrar as consultas, os estudos, que fez previamente, sobre as vantagens pedagógicas do Magalhães, por especialistas da educação, e sobre cada uma das opções, pelo Classmate, pela empresa de Matosinhos, etc., etc., que sustentaram um programa calculado em 200 milhões de euros à cabeça.

Há várias perguntas de fundo a fazer, que deveriam ter sido feitas e cuja resposta deveria ser prévia às sessões de propaganda para a televisão. A primeira e mais fundamental das perguntas é a de saber se a distribuição de computadores individuais para as crianças do ensino básico tem sentido pedagógico e utilidade no combate à info-exclusão. Sobre isto a maioria dos pedagogos responde não à primeira e a maioria dos estudos responde também não à segunda questão. Não é unânime a resposta, mas existem muitas dúvidas. Um relatório do Departamento de Educação americano é explícito: "A tecnologia parece ser completamente irrelevante quando se trata de ajudar estudantes a melhorarem os seus níveis de aproveitamento académico." É que nestas coisas nem tudo o que parece evidente para os deslumbrados dos gadgets é verdadeiro.

Não é líquido que um computador individual na sala de aula do ensino básico (o problema é diferente para outros níveis de ensino) possa beneficiar a aquisição das competências básicas, em particular na leitura e na matemática. No caso da leitura é claramente contraproducente, afastando as crianças da leitura "plana", corrida, na fluência do texto, fundamental na ficção e na poesia, a favor de uma leitura em volume, com o uso do hipertexto, com outras virtualidades, mas que não substituem a leitura "literária".

Ou seja, não é líquido que a aparente evidência de que quanto mais cedo for a exposição ao mundo dos computadores, através da opção pelo computador individual (um elemento básico desta escolha é a individualização da máquina), melhor será a aprendizagem e a info-inclusão. Não está em causa facilitar o contacto com os computadores, sem dúvida necessário, mas sim a posse de um computador individual e a sua utilização para aprender ao nível do ensino básico. Se for para jogos é outra coisa, se for como brinquedo tem certamente mais sentido, mas não é suposto o Estado distribuir consolas de jogos. Ou se é, na verdade as consolas de jogos são muito mais eficazes na idade do básico, não é suposto que essa seja uma prioridade pedagógica.

A questão essencial é que todas as crianças tenham facilidade de contacto com os computadores, não é ter um computador individual nesta faixa etária. Desse ponto de vista, tem muito mais sentido facilitar a presença de computadores em casa para a família, baixar o preço das comunicações, em particular a banda larga, e generalizar competências nos adultos, de modo a que as crianças que com eles convivem possam conhecer um ambiente amigável com os computadores, sem deixarem de fazer os trabalhos de casa escrevendo e lendo, sem ser fazendo copy-paste ou serem atirados para procuras na Internet cuja relevância não têm, como muitos dos seus professores, as literacias para julgarem.

A situação muda na pré-adolescência, onde a individualidade do computador é fundamental para o seu uso juvenil, que inclui uma utilização paraconfidencial face aos adultos como diário (nos blogues de adolescentes) ou nas actividades de turma ou grupos de amigos, como a partilha das fotos, chats, etc. É aliás na pré-adolescência que mais profícuo é o investimento na info-inclusão, cujo será tanto mais eficaz quanto as literacias básicas tenham sido adquiridas no básico. É que o combate contra a info-exclusão não depende em primeiro lugar das próprias tecnologias, mas sim de competências que lhe são prévias e que são, digamos assim, mais "clássicas". Se os computadores servem para procurar resultados de jogos de futebol ou pornografia, pouco mais acrescentam ao que se pode fazer com o teletexto da televisão e os canais por cabo e não "modernizam" nada.

Esta primeira questão tem a ver com a segunda: é este computador, pensado para as "comunidades em desenvolvimento" (como diz a Intel), ou seja países como a Índia, a Indonésia, países africanos, mesmo Venezuela e Angola, onde já está comercializado ou vai ser, a melhor opção para a Europa, adequado a Portugal? Existe nalgum país europeu um programa semelhante ao do Governo português, mesmo quando neles se comercializa o Classmate? Não. E a razão percebe-se muito bem: o tipo de contactos necessário e vantajoso das crianças daquela idade com o computador na Europa não passa pela propriedade de um computador na idade do brinquedo, mas sim pela possibilidade de as crianças jogarem jogos em consolas ou "pintarem" ou desenharem no computador das famílias ou da escola. Diferentemente da Indonésia ou do Burkina Faso, já existe em Portugal um parque de computadores nas casas e nas escolas, suficiente para esse acesso, o que não acontece nos países "em desenvolvimento", em que a opção pelo computador individual deste tipo tem outro sentido. A não ser que o computador esteja a ser dado aos pais e não às crianças e, nesse caso, rapidamente se verificará que na maioria dos casos o Magalhães pouca utilidade tem para os adultos, dadas as suas limitações e pelo preço do acesso à Internet. Aí é que as desigualdades sociais se vão verificar.

O caso do Magalhães é mais um exemplo de como pouco se escrutina a actividade governamental. Acenam-nos com as bandeirinhas do progresso tecnológico e nós concedemos tudo. Mas a verdade é que vários programas destes de "progresso" estão aí em ruínas, alguns com dois anos e milhões de euros deitados ao lixo, sem ninguém se dar ao trabalho de pedir contas. O caso da Via CTT é talvez o mais evidente, mas o das Cidades Digitais também exigia avaliação. E na altura, ai dos "velhos do Restelo" que se opusessem a essa magnífica ideia democrática e moderna de dar nas estações de CTT um e-mail a cada português!

(Versão do Público de 27 de Setembro de 2008.)

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EARLY MORNING BLOGS


1401

"Go, my boy; perhaps I shall follow you."

Dallas gave him a long look through the twilight.

"But what on earth shall I say?"

"My dear fellow, don't you always know what to say?" his father rejoined with a smile.

"Very well. I shall say you're old-fashioned, and prefer walking up the five flights because you don't like lifts."

His father smiled again. "Say I'm old-fashioned: that's enough."

Dallas looked at him again, and then, with an incredulous gesture, passed out of sight under the vaulted doorway.

Archer sat down on the bench and continued to gaze at the awninged balcony. He calculated the time it would take his son to be carried up in the lift to the fifth floor, to ring the bell, and be admitted to the hall, and then ushered into the drawing-room. He pictured Dallas entering that room with his quick assured step and his delightful smile, and wondered if the people were right who said that his boy "took after him."

Then he tried to see the persons already in the room—for probably at that sociable hour there would be more than one—and among them a dark lady, pale and dark, who would look up quickly, half rise, and hold out a long thin hand with three rings on it.... He thought she would be sitting in a sofa-corner near the fire, with azaleas banked behind her on a table.

"It's more real to me here than if I went up," he suddenly heard himself say; and the fear lest that last shadow of reality should lose its edge kept him rooted to his seat as the minutes succeeded each other.

He sat for a long time on the bench in the thickening dusk, his eyes never turning from the balcony. At length a light shone through the windows, and a moment later a man-servant came out on the balcony, drew up the awnings, and closed the shutters.

At that, as if it had been the signal he waited for, Newland Archer got up slowly and walked back alone to his hotel.

(Edith Wharton, The Age of Innocence)

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27.9.08




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JUDEU ERRANTE






Mais uma corrida, mais uma viagem.

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EARLY MORNING BLOGS


1400

The air of the room chilled his shoulders. He stretched himself cautiously along under the sheets and lay down beside his wife. One by one they were all becoming shades. Better pass boldly into that other world, in the full glory of some passion, than fade and wither dismally with age. He thought of how she who lay beside him had locked in her heart for so many years that image of her lover's eyes when he had told her that he did not wish to live.

Generous tears filled Gabriel's eyes. He had never felt like that himself towards any woman but he knew that such a feeling must be love. The tears gathered more thickly in his eyes and in the partial darkness he imagined he saw the form of a young man standing under a dripping tree. Other forms were near. His soul had approached that region where dwell the vast hosts of the dead. He was conscious of, but could not apprehend, their wayward and flickering existence. His own identity was fading out into a grey impalpable world: the solid world itself which these dead had one time reared and lived in was dissolving and dwindling.

A few light taps upon the pane made him turn to the window. It had begun to snow again. He watched sleepily the flakes, silver and dark, falling obliquely against the lamplight. The time had come for him to set out on his journey westward. Yes, the newspapers were right: snow was general all over Ireland. It was falling on every part of the dark central plain, on the treeless hills, falling softly upon the Bog of Allen and, farther westward, softly falling into the dark mutinous Shannon waves. It was falling, too, upon every part of the lonely churchyard on the hill where Michael Furey lay buried. It lay thickly drifted on the crooked crosses and headstones, on the spears of the little gate, on the barren thorns. His soul swooned slowly as he heard the snow falling faintly through the universe and faintly falling, like the descent of their last end, upon all the living and the dead.

(James Joyce, The Dubliners)

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26.9.08




(António Cabral)

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COISAS DA SÁBADO: PORQUE NÃO DEVEMOS SER INDIFERENTES AO DIREITO DOS EMIGRANTES VOTAREM



Se em Portugal se desse importância às coisas importantes, ou porque são mesmo decisivas para a vida da maioria das pessoas, ou porque são decisivas para o “ar” democrático que queremos respirar, a decisão da maioria socialista de acabar com o voto por correspondência dos emigrantes tinha tido certamente mais títulos nos jornais do que as irrelevâncias com que nos entretemos. O PS deu um péssimo exemplo de manipulação dos resultados eleitorais, dificultando o voto de comunidades de portugueses de que desconfia (têm a tendência absurda de votarem mais no PSD), dando assim uma machadada na participação eleitoral dos emigrantes por razões de pura contabilidade eleitoral. Levou uma reprimenda da Comissão Nacional de Eleições, que também se fez o possível por não ouvir, e o clamor que vai pela emigração contra esta medida do PS foi cuidadosamente ocultado pela RTP, que preferiu fazer uma entrevista a meia dúzia de emigrantes num café que diziam estar mais interessados na bola do que na política.

Os emigrantes tinham sempre votado ou directamente ou por correspondência, e nunca desde o 25 de Abril isso tinha suscitado qualquer controvérsia, nem em Portugal, nem nas comunidades de emigração. O voto por correspondência, prática habitual em muitos países democráticos, para casos em que os seus nacionais não podiam votar presencialmente, sempre foi uma não-questão quer na emigração, quer em Portugal. A controvérsia tinha sido o voto dos emigrantes nas presidenciais, reivindicação das comunidades a que o PS também se opôs durante muitos anos.

Porquê agora este surto de “transparência”? É fácil de explicar: o PS está preocupado com a sua maioria veio agora agitar uma necessidade de “transparência” e quer dificultar tudo o que lhe tire votos. Por isso, o PS em vez de melhorar o controlo do voto por correspondência, veio acabar com ele. Numa altura em que se assiste ao encerramento de muitos dos consulados esta medida deixa aos emigrantes a obrigação de, se quiserem votar, de fazer centenas de quilómetros até às urnas mais próximas, o que, como é óbvio, quase ninguém fará. Lindo serviço para associar ás palavras retóricas sobre a emigração.

Como é óbvio vai sobrar para o Presidente da República, que não deixará de acautelar o facto de alterações em leis eleitorais com esta gravidade deverem exigir o maior consenso possível, assim como para os efeitos da lei no aumento da abstenção numa comunidade em que tudo o que favoreça a participação política é positivo e exigível.

*

Completamente de acordo com o seu "post" sobre a votação dos emigrantes.
Porque uma mentira muitas vezes repetida corre o risco de tornar-se uma
verdade, é urgente denunciar a "chapelada" do PS relativamente a esta
questão.

Vivi (e votei durante vinte anos) na Holanda e sempre o fiz por
correspondência. Nunca houve qualquer problema. O boletim de voto chegava a
minha casa, sensivelmente um mês antes da data das eleições, acompanhado de
um carta com instruções e um envelope verde, já franqueado e dirigido à
Comissão Eleitoral em Lisboa.

Depois de assinalar com uma cruz o partido da minha preferência, dobrava-o
em quatro e metia-o no tal envelope verde, que era fechado, naturalmente.
Após esta operação, tornava a meter este envelope dentro de outro branco
(também endereçado à Comissão). Ia aos correios do meu bairro em Amsterdão e
registava a carta. A única condição para o voto poder ser validado era ser
enviado até à véspera do escrutínio eleitoral (o que era fácil de comprovar
pelo selo dos correios holandeses).
Simples, prático e eficiente.

Vem agora o Partido Socialista, pelas vozes de Vasco Franco, José Lello e
Vital Moreira, alegar que este método pode favorecer sindicatos de voto e
chapeladas. Extraordinário! Se é verdade o que dizem, devem apresentar provas, pois se houve chapeladas
elas foram cometidas em Lisboa!

Se não é verdade e é apenas uma suposição que serve para lançar atordoadas e
modificar uma lei que provou resultar na prática, então é grave. Estamos na
presença da verdadeira chapelada. Nem o Mugabe se lembrava desta!!!

(Rui Mota)

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COISAS DA SÁBADO: JOSÉ FRANCISCO SÓCRATES LOUÇÃ


Que o Primeiro-ministro e dirigente do PS José Sócrates não têm qualquer espécie de ideologia e é um puro pragmático, já nós sabemos. Que ele é tanto de “esquerda” como de “direita” conforme as conveniências, já nós sabemos. Que o único fio condutor do seu discurso é o auto-elogio mais ou menos arrogante, suportado por muita propaganda, também já nós sabemos. Que o outro fio condutor é o ataque sistemático e também arrogante a tudo o que mexe e lhe parece oposição, também nós sabemos. O que sabemos menos, porque estamos muito adormecidos para saltar do sofá quando devemos num tumulto de indignação, são os estragos que este homem e o seu governo estão a fazer ao país e de que um bom exemplo é o discurso anti-capitalista de Guimarães.

No dia em que acordou na versão José Francisco Sócrates Louça, já que a versão José Paulo Sócrates Portas, que assumirá num ápice se for preciso, é um pouco incómoda face à flacidez dos resultados em matéria de segurança, este híbrido veio à rua em Guimarães e fez estragos. Ele, como agora só pensa nos votos e nas eleições, resolveu atirar-se contra a bolsa e o mercado financeiro e instigar o povo ao levantamento contra os ricos e poderosos. Não se atirou contra os “excessos” daquilo que os socialistas chamam a “economia de casino”, mas sim contra a coisa em si, a bolsa e o mercado de capitais, esse sinistro local onde multidões de capitalistas de casaca, barriga e chapéu alto andam a provocar a miséria dos portugueses por conta de Bush e dos EUA. Se ele não conseguir cumprir nenhuma das promessas que fez (que não estavam centradas no controlo das finanças públicas, convém lembrar), já tem um culpado a quem apontar o dedo, o capitalismo “desenfreado”, representado em Portugal pelo PSD, que anda a provocar uma “crise” mundial.

O que é irónico é que José Francisco Sócrates Louça não compreende que ao actuar assim dá votos ao genuíno Louça, ao genuíno Jerónimo e à genuína Manuela, e que pelo caminho acicatará ódios que depois não voltam com facilidade à lâmpada do génio, e ajudando a destruir alguns mecanismos, como a bolsa, fundamentais para a saúde da nossa economia.

*
Por estes dias, a esquerda radical, tem andado especialmente entusiasmada em denunciar os horrores do capitalismo e o “monstro” a que chamam neoliberalismo. Para muitos, a profecia marxista, de que o capitalismo entregue a si próprio, se devoraria, está a confirmar-se com a recente crise no sistema financeiro. O momento é portanto, de regozijo e inquietude. Imagino mesmo que na cabeça de muitos o fim do capitalismo esteja próximo.

Perante os inúmeros artigos e posts que se vão lendo, e intervenções públicas que se vão ouvindo, parece que mundo é cada vez mais um lugar horrível, onde nunca se viveu tão mal. E se antes era a miséria de África, que fazia disparar os seus corações numa denúncia feroz aos males do capitalismo, hoje chega até mesmo a “Velha Europa”, agora vendida ao neoliberalismo, para denunciar ferozmente essa fonte de todos os males.

Por estes dias, de tanta denúncia (leia-se, propaganda), de indescritíveis horrores levados a cabo pelos Senhores do Capitalismo, recordo Orwel, citando um pequeno excerto de uma das suas obras mais célebres, “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”:

“(...) Outrora (dizia o livro), antes da Gloriosa Revolução, Londres não era a bela cidade que hoje conhecemos. Era um povoado cinzento, sujo, miserável, onde quase ninguém tinha comida que chegasse e onde centenas, milhares de pobres, não tinham que calçar, nem telhado para se abrigarem. Crianças da tua idade eram obrigadas a trabalhar para patrões cruéis que as chicoteavam se trabalhassem demasiado devagar e as alimentavam a côdeas de pão duro e água. Mas no meio de toda esta terrível pobreza subsistiam umas quantas casas enormes, belíssimas, onde viviam homens ricos que chegavam a ter trinta criados para cuidarem deles. Estes homens ricos chamavam-se capitalistas. Costumavam ser gordos e feios, com cara de maus, como o da foto na página ao lado. Como vês, traz um casaco preto e comprido, a que chamavam casaca, e um chapéu esquisito, brilhante, em forma de chaminé, a que chamava cartola. Era este o uniforme dos capitalistas, mais ninguém podia usá-lo senão eles. Os capitalistas eram donos de tudo quanto há no mundo, os demais indivíduos apenas seus escravos. Donos da terra toda, de todas as casas, todas as fábricas, todo o dinheiro. Se alguém lhes desobedecesse podiam mandá-lo para a prisão, ou tirar-lhe o emprego, deixando-o morrer à fome. (...)

(MBC)

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NUM BLOGUE PERTO DE SI, NUMA GALÁXIA MUITO LONGE



NESTES DIAS, COISAS RARAS E VARIADAS

Resposta de Azeredo Lopes, Presidente da ERC, às críticas que lhe fiz,

Mais novos comentários.

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(Susana)

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EARLY MORNING BLOGS


1399

sabishisa ni meshi o kû nari aki no kaze

Em solidão,
Como minha comida —
Vento de outono.

(Issa, tradução de Edson Kenji Iura)

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25.9.08




(ana)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "MAGALHÃES" (2)

(Primeira parte.)

Aparentemente o Sr. João Silva refere-se ao conteúdo da minha mensagem do passado dia 23. Fica a resposta (...) Infelizmente parece que terei de traduzir as questões que levantei.

Realmente existe propaganda. Pura e simples. Não só pelo modo como a notícia foi apresentada na RTP, mas também pela própria medida. E é a DESMONTAGEM da própria medida, que foi adiantada através de questões, que o Sr. João Silva não entendeu.

Segue a tradução:

As questões que coloquei na mensagem de dia 23 servem unicamente para mostrar que a medida "inovadora" do Governo não só não é inovadora como tão pouco terá sido pensada.

NÃO É INOVADORA:

Repare-se que este tipo de ideia surgiu para os países sub-desenvolvidos, pelo que, é a sua aplicação em Portugal que se torna a PROVA do nosso real estado de desenvolvimento e de mentalidade. Não é, pois, o nível da crítica a fazer prova. Esta ideia não é, portanto, inovadora. É descabida.

NÃO FOI PENSADA:

Se fosse uma medida realmente pensada, e não pura manobra de propaganda, teria sido equacionada a alternativa muito mais RACIONAL, e esta sim «AVANÇADA», de fazer o INVESTIMENTO nas próprias ESCOLAS!!!

Ou seja, qual é a vantagem de ter miúdos de 6 a 10 anos com portáteis em casa, por oposição a ter esses mesmos computadores nas escolas? Ou será que em 2009/10 vão distribuir mais Magalhães aos novos alunos do 1º ano? E em 2010/11? 2011/12?...

Não teria feito mais sentido investir em MENOS, mas MELHORES sistemas de informação nas ESCOLAS?

Não seria até um INCENTIVO para que as crianças GOSTEM de ir à ESCOLA, em lugar de um incentivo a que fiquem em casa a jogar no computador?

Não faria da ESCOLA um lugar mais ATRAENTE, até para os TEMPOS LIVRES?

Não evitaria o USO INDEVIDO dos computadores pelos "manos e papás dos meninos"? Não evitaria roubos? Riscos de contactos com pedófilos? Nem tão pouco se colocaria a questão de ser disco rígido ou SolidState. Ou seja, de os computadores ainda existirem / funcionarem quando chegar o final do ano lectivo.

Resumindo: Ter crianças de 6 anos com Magalhães, e escolas sem equipamentos de informática, é vencer o atraso? Para mim, é prova de mentalidade do país pequeno, retrógrado, eleitoralista e CORRUPTO que temos.


O Sr. João Silva sabe como funciona um SOFTWARE DE CONTROLO PARENTAL? Tenho dúvidas que saiba. Porque se soubesse estaria CIENTE da NECESSIDADE de acompanhamento. O software de controlo parental é uma mera ferramenta, e para ser eficaz necessita de parametrização e monitorização constante. Tem de haver alguém que decida o que pode ser acedido e o que não pode.

http://en.wikipedia.org/wiki/Parental_controls
http://www.miudossegurosna.net/
http://planetasoares.com/2008/09/23/o-magalhaes-e-o-controlo-parental/

Quantos pais destes alunos têm conhecimentos suficientes para garantir esta correcta parametrização? 1%? Menos?

O Sr. Carlos Pinto da INTEL que foi ao noticiário da RTP, disse qualquer coisa como «(...) o Ministério da Educação também sabe a password (...)». Ou seja, parece que existe uma ÚNICA (!!!) password, leia-se IDÊNTICA, que permite o acesso privilegiado ao Magalhães. Fica outra questão: Quanto tempo demorará um dos miúdos a saber essa password? E quanto tempo
demorará o miúdo a contar aos outros todos?

TELEJORNAL - RTP - 23/9/2008 (aos 7 minutos)
http://ww1.rtp.pt/multimedia/index.php?tvprog=1103&idpod=17590&formato=flv&pag=recentes&escolha=

Já agora:
JORNAL DA TARDE - RTP - 23/9/2008 (aos 12 minutos)
http://ww1.rtp.pt/multimedia/index.php?tvprog=1098&idpod=17553&formato=flv&pag=recentes&escolha=

O Magalhães com acesso a conteúdos para adultos:
JORNAL DA NOITE - SIC - 23/9/2008 (aos 14 minutos da 2ª parte)
http://sic.aeiou.pt/online/scripts/2007/videopopup2008.aspx?videoId={4A2761D6-A100-485E-9DBB-21505089D62B}

Eu tive o meu primeiro computador em 1982, quando tinha 14 anos. Durante mais de uma década não tive acesso à Internet. Ainda assim... O meu rendimento escolar diminuiu. Cheguei a ficar TODAS as férias de Verão (3 meses?) sem sair de casa, sempre agarrado aos computadores.
Nem foi por falta de informação, que hoje é acessível pela Internet, que deixei de conseguir fazer cópias dos jogos, que deixei de crackar software que adultos não conseguiram, nem que me impediu de usar exploits no sistema UNIX da universidade. Tudo isto antes de haver Internet.

Não menosprezem as capacidades dos miúdos. Quanto mais novo maior a capacidade de aprendizagem. Como se não bastasse, as crianças têm duas vantagens adicionais: CURIOSIDADE e TEMPO!

É realmente da MAIOR IMPORTÂNCIA dar às crianças o ACESSO a este tipo de ferramentas. Mas dar o acesso não é o mesmo que lhes dar a POSSE das mesmas ferramentas.

Eu até posso deixar uma criança brincar com uma chave-de-fendas. Mas com supervisão. Oferecer uma chave-de-fendas a uma criança, e deixá-la sem sozinha, é meio caminho para um acidente com uma tomada eléctrica.

Dar um computador a uma criança é o mesmo que lhe dar um isqueiro.

A propósito de computadores e fogo... as baterias explosivas:

«Intel's Dream: One Exploding Classmate PC Per Child»
http://www.olpcnews.com/sales_talk/intel/exploding_classmate_pc_laptop.html


Para concluir, o atraso que temos em Portugal não é por falta de medidas inovadoras, é por falta de PLANEAMENTO, dessas ideias. Levar computadores até às crianças é boa ideia. Não se PENSOU foi em COMO fazer do MELHOR modo (para as crianças, entenda-se). Um exemplo que salta à vista? CARJACKING! Existe porque adoptaram-se soluções tecnológicas para impedir que o carro funcione sem chave. Não se pensou nas consequências...

Quem diz Magalhães, diz Aeroporto da Ota, diz chips nas matrículas, diz... todas as outras coisas "muito bem pensadas"...

Lamento que a tradução tenha sido necessária. Espero não ter de traduzir as novas questões levantadas. Sim, porque eu acredito em discutir os assuntos com o levantamento de questões. Não me arrogo a dar respostas. Essas serão dadas por cada um, perante os factos e argumentos que forem avançados no debate dessas mesmas questões.

(Nuno Ferreira)

*

Aprovo, como o leitor João Silva, "a disponibilização, generalizada e a preços simbólicos, de uma ferramenta efectivamente útil e importante como apoio a uma qualquer tentativa de vencer o atraso", e trata-se apenas isso, de uma ferramenta, que pode ser usada ou não, bem usada ou não. Ora, a propaganda governamental apresenta-a como se por si mesma levasse a boas obras. Teria o governo tal lata se em vez de um computador o Magalhães fosse um kit de bricolagem? Suponho que não pois provocaria o ridículo e não a discussão generalizada, mais uma prova de como o computador ainda não está, entre nós, no plano dos objectos banais, dando razão a João Silva quanto ao que eu não diria repugnância mas antes temor "pelo conhecimento, pela cultura e pela inovação".

Esta mística do computador como instrumento não banal, mas sim especializado e como tal apenas devendo ser acessível a gente interessada e preparada, está aliás patente na afirmação do leitor José Rui Fernandes de que é "atribuído sem representar qualquer tipo de esforço quer por parte dos alunos, quer por parte das famílias (....) ainda não percebi para que serve, de que forma se insere no programa escolar". Para quê tanta apreensão? A grande maioria dos Magalhães servirá para entretenimento ou ganhar pó numa prateleira e uma pequena minoria será veículo de aprendizagem, cultura e obra. Simplesmente. Como um kit de bricolagem.

(Mário J. Heleno)

*

Há muitos, muitos anos, quando apareceram os PC, houve um grande entusiasmo com a sua possível aplicação na melhoria do ensino. Criou-se até uma linguagem de inteligência artificial, o Logo, que utilizava amplamente os grafismos e que se esperava que viesse a permitir a estruturação do pensamento informático em crianças a partir dos 8 anos.

Pouco tempo depois surgiram os primeiros resultados globais de avaliação do acesso geral das crianças aos computadores, que foram publicados nas melhores revistas da especialidade (norte-americanas, claro). E quais foram esses resultados?

Que, efectivamente, os alunos que já eram bons e interessados aproveitavam muito com os computadores. Os outros, a maioria desinteressada, continuava desinteressada mesmo com os computadores, que não tinham neles qualquer efeito em termos de melhoria de rendimento escolar.

Um outro equívoco frequente é pensar que a familiarização com o uso de uma tecnologia propicia o progresso tecnológico de toda uma população no sentido do domínio e produção dessa tecnologia. Nesta linha de pensamento, dar automóveis a toda a gente criaria o caldo de cultura necessário para o país vir a ter uma grande indústria de automóveis…

(José Luís Pinto de Sá)

*

Realcei algumas coisas. Daqui: http://www.openeducation.net/2007/07/19/the-impact-of-computers-in-the-classroom/

Embora seja especificamente sobre matemática e leitura, fundamenta-se na relação tecnologia/aprendizagem.

__________

The Impact of Computers in the Classroom

The U.S. Department of Education recently released a study regarding some of the most popular school software programs designed to teach math and reading. According to the report, the result is that many programs appear to fall far short of what would be categorized as having an impact on students.

The study focused on 15 reading and math software programs that are often used in first-, fourth- and sixth-grade classes. The gauge used to measure student impact was simple, did students using the programs raise their academic performance?

Phoebe Cottingham, the Department of Education’s commissioner of evaluation, indicated that despite all the time students were spending in front of their computers the results did not yield the slightest indication of increased learning. Therefore, strictly speaking, the study would indicate that increased learning was not commensurate with access to technology.

But the age old question should once again be asked - is it the computers and software at issue or is it the implementation of these tools in the classroom that is the problem.

Though the report results were surprising on the surface to this writer, Carole Beal, a former professor of child development and education at the University of Massachusetts in Amherst, indicated she wasn’t surprised that the programs in place didn’t produce results.

Beal noted that most of the programs being used focused on the rote “drill and kill” philosophy of education, indicating that most technology used in schools seldom encourages high-level interactivity. It is for this reason, notes Beal, that little is gained in the way of achievement when students use such software.

Though technology clearly has the potential to upgrade any classroom and stimulate students to seek learning options on their own, it also can be used to further the drill concept that takes initiative away from the students. According to Beal, don’t fault technology, fault the people implementing technology in the classroom.

Unfortunately, reading the report summary gives one the impression that technology appears to be totally irrelevent when it comes to helping students increase their academic achievement levels.

*

Gostaria de abordar um aspecto que ainda não foi referido no seu blog, e é pouco abordado na comunicação social.

Concordo com muitas opiniões expressas no seu blog, sobre a campanha eleitoral por detrás desta acção - numa escola em Telheiras nem sequer se preocupara de receber o valor respectivo (20 ou 50€), tal era a pressa de entregar no dia D - sobre a qualidade dos computadores, sobre oportunidade real de ser inovador e não de clonar um produto obsoleto, etc, etc.

Agora, o que está por dizer, é que todos os anos é pedido aos pais que levem material escolar básico, papel higiénico, que os funcionários chegam a levar produtos de limpeza de casa para limparem a escola, que os pais se organizam para comprarem sistemas de aquecimento para a sala dos seus filhos para terem condições mínimas na sala, para não falar da existência de escolas sem condições mínimas estruturais e de equipamentos.

No ensino pré-escolar os professores fazem milagres para as actividades regulares, pedem tampas e embalagens para fazerem esculturas, etc, etc. Até terra já pediram na escola da minha filha!! Conclusão: é um brinquedo eleitoralista, não é grande espingarda como querem fazer crer, não é nenhuma inovação, e há muita coisa onde gastar dinheiro no ensino básico e pré-escolar... First things first!

A experiência relatada foi vivida em 1ª pessoa e não resulta do "diz que disse", e estamos a falar de ("boas") escolas de Telheiras, relativamente recentes e não de escolas antigas de subúrbios...

(C)

*

Impõe-se um esclarecimento: O leitor Mário J. Heleno está a confundir acesso e banalidade da tecnologia, com esforço e mérito para a ter. Também tenho computador desde 1982 (ZX Spectrum), wi-fi em casa desde que existe e filhos de 4 e 6 anos, que já andam na internet. Mas qual apreensão?
Uma coisa é garantida e o leitor Nuno Ferreira de certa forma confirma: O computador não é uma televisão, nem é um carro onde basta rodar a chave. Pode-se querer que seja banal na mochila de cada aluno, mas está longe de ser um objecto banal -- já se foi à Lua com bem menos.
A minha apreensão é que isto seja dinheiro deitado ao lixo, como tanto outro. Meio milhão de "Magalhães", para mim, é assustador. São todos alunos carenciados? Ou o "Magalhães" é para arrumar ao lado da "playstation" e da televisão de plasma lá de casa? Pedagogicamente, quais são as vantagens? Com o rumo que este país tomou, quem vai pagar o "Magalhães" daqui a 20 anos, vão ser os alunos que o receberam. Ficam com a tecnologia facilitista hoje, o choque virá depois.

(José Rui Fernandes)

*

Como saberá, o projecto Magalhães envolve a Intel, a Jp Sá Couto e o Estado Portugês, mas há mais.

O parceiro da Jp Sá Couto é a Prológica (tratam da logistica).

Aliás elas já são parceiros no projecto e-escolas. o YOUTSU juntamente com os fabricantes e fornecedores de internet.

Estas empresas são sócias em duas empresas, a Neo Corporation Lda. e a Neo Computers Lda. (ambas criadas recentemente).

Os computadores são "oferecidos" mas a internet não vem incluída na oferta, segundo consegui apurar, há contratos de fidelização de 24 a 36 meses em causa com os opereadores, TMN, Vodafone e Optimus, a ser pago por alguêm, talvez seja daqui que vêem os 200 milhões.

(J. Carreta)

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EARLY MORNING BLOGS


1398

It was after nine o'clock when he left the shop. The night was cold and gloomy. He entered the Park by the first gate and walked along under the gaunt trees. He walked through the bleak alleys where they had walked four years before. She seemed to be near him in the darkness. At moments he seemed to feel her voice touch his ear, her hand touch his. He stood still to listen. Why had he withheld life from her? Why had he sentenced her to death? He felt his moral nature falling to pieces.
When he gained the crest of the Magazine Hill he halted and looked along the river towards Dublin, the lights of which burned redly and hospitably in the cold night. He looked down the slope and, at the base, in the shadow of the wall of the Park, he saw some human figures lying. Those venal and furtive loves filled him with despair. He gnawed the rectitude of his life; he felt that he had been outcast from life's feast. One human being had seemed to love him and he had denied her life and happiness: he had sentenced her to ignominy, a death of shame. He knew that the prostrate creatures down by the wall were watching him and wished him gone. No one wanted him; he was outcast from life's feast. He turned his eyes to the grey gleaming river, winding along towards Dublin. Beyond the river he saw a goods train winding out of Kingsbridge Station, like a worm with a fiery head winding through the darkness, obstinately and laboriously. It passed slowly out of sight; but still he heard in his ears the laborious drone of the engine reiterating the syllables of her name.
He turned back the way he had come, the rhythm of the engine pounding in his ears. He began to doubt the reality of what memory told him. He halted under a tree and allowed the rhythm to die away. He could not feel her near him in the darkness nor her voice touch his ear. He waited for some minutes listening. He could hear nothing: the night was perfectly silent. He listened again: perfectly silent. He felt that he was alone.

(James Joyce, The Dubliners)


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24.9.08




(António Cabral)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "MAGALHÃES"

Bem após frequentar a acção de formação sobre o Magalhães cheguei à seguinte conclusão:

O lançamento do projecto é claramente o começo da campanha eleitora, enquanto que uns partidos mais pobres distribuem canetas o Governo distribui portáteis às pessoas mais desfavorecidas !!!

Depois da acção de formação e do que li cheguei à seguinte conclusão !!
- Os portáteis começaram a ser distribuídos sem que os professores e os pais tivessem qualquer formação.
- O controlo parental e os filtros têm que ser colocados por alguém, supostamente em casa os pais e na escola os professores!! Como estes ainda não tiveram formação acontece situações como aquela que mostrou na televisão !!
- Esta iniciativa pressupõe que as escolas do primeiro ciclo todas tenham rede sem fios, o que não é verdade.
- As Instalações e equipamentos de informática são da responsabilidade das câmaras municipais e os primeiros a ser chamados são os cordenador TIC.
- O que os coordenadores TIC vão fazer ainda não entendi muito bem, mas pelo que percebi querem que nós dinamizemos a iniciativa e que demos assistência em termos de software aos alunos e professores que têm o Magalhães, pois é a escola que têm a Pen Drive de substituição !!
- A direcção Geral disse que iria dar mais formação aos professores do primeiro ciclo e as pais e recomendou que se falasse com os pais antes de entregar o portátil !! É IMPRESSÃO MINHA OU A ENTREGA JÁ COMEÇOU !!

- Em relação aos parceiros, bem a Intel ainda não têm uma versão para a caixa mágica do programa de gestão da caixa mágica, Tanto a Intel como a caixa máxica reconheceram que ainda vão fazer actualizações do programa !!

- Uma coisa que não percebi é se o Magalhães vai ser ou não obrigatório, é que apesar de barato sempre são mais 50 euros no Orçamento

Eu concordo com a iniciativa pois permite a classes desfavorecidas obter um computador, assim como permite ás pessoas da classe média comprar um computador "brinquedo" em conta para os seus filhos com todas as funcionalidades de um computador normal!

Agora a distribuição como foi feita fiquei com esta sensação que estavam a dizer o seguinte: AQUI ESTÁ O MAGALHÃES E DESENRASQUEM-SE !!! pois primeiro dão o computador aos alunos e só depois a formação aos elementos envolvidos, mais tarde monta-se a infraestrutura e No fim logo se define quem faz o quê!! Entretanto os alunos vã brincando com o computador e eventualmente ver sites que não deviam !!

(Carlos Afonso)

*

Que profundamente triste é este país, que povo miserável somos. São muito poucas (ou nenhumas) as coisas que se fazem ou se passam em Portugal cujo aspecto positivo, mesmo quando é significativo, seja valorizado. O caso do Magalhães é paradigmático desta atitude que nos condena ao atraso e à mediocridade. Entendo o comentário do Pacheco Pereira, que aponta um outro aspecto igualmente relevante do nosso americo-latinismo, isto é, o uso da televisão como veículo de propaganda governamental, muito embora neste particular este governo em nada se distingue de todos os anteriores. Já os comentários entretanto produzidos por alguns leitores do Abrupto dão conta de uma outra postura bem mais mesquinha, pequenina e profundamente boçal. É inacreditável a repugnância portuguesa pelo conhecimento, pela cultura e pela inovação. Comenta-se o disco rígido, a robustez da máquina, o abuso dos manos e dos papás dos meninos, a possibilidade de roubos(!), a instalação ou não de um banal programa de controlo parental, o local de montagem do computador, a percentagem de "portugalidade" e até, imagine-se, o próprio perfil e dotes de navegador de Fernão de Magalhães. Tudo, como é bom de ver, um conjunto de questões infinitamente mais importantes para o país do que a disponibilização, generalizada e a preços simbólicos, de uma ferramenta efectivamente útil e importante como apoio a uma qualquer tentativa de vençer o atraso. Ouvimos o mesmo a propósito do Inglês, das energias renováveis, de qualquer empresa que aposte na inovação, enfim de qualquer espectro de mudança e evolução que ameaçe a nossa confortável apatia e imobilismo. O que se ouve e se lê por aqui é mais uma vez a lateralização do importante e a entronização esmiuçada do secundário (e neste particular JPP escolhe também esta via). É esta atitude que nos condena, como se dizia a propósito do Joaquim Agostinho, a passar ao lado de uma grande carreira. Que triste, que pena.

(João Silva )

*

Não concordo nada com o leitor João Silva. Não querendo lateralizar o importante, basta lembrar o anúncio do "Magalhães" como "Primeiro computador portátil português" (sic), se além de mentiroso o aspecto não era importante, não se percebe o seu exacerbado destaque; quanto ao rapidamente a ficar famoso "controlo parental", se é tão banal programa, menos se entende que não venha previamente instalado num computador destinado a crianças de tão tenra idade.

Até podia juntar mais um aspecto seguramente lateral, que é a existência de redes wi-fi nas salas de aula, cujos efeitos das suas ondas nas crianças se desconhecem, ou pelo menos desconhecem o suficiente para que a Cisco e outros fabricantes não assumam qualquer responsabilidade presente ou futura (nas letrinhas pequenas que acompanham os equipamentos). Noutras paragens, até se exige o desmantelamento dessas redes nas escolas (http://www.timesonline.co.uk/tol/life_and_style/education/article642575.ece). Os pais, tão atentos à radiação das antenas de telemóveis (que não querem perto de escolas), parecem não saber que a radiação das redes wi-fi é muito parecida e aparentemente pode chegar a ser três vezes mais forte que a de uma antena das operadoras de telemóveis (http://news.bbc.co.uk/2/hi/technology/6676129.stm). De uma forma ou de outra, o debate existe.

Mas o principal, que me parece transparecer do que tenho lido no Abrupto, é que estando os níveis de literacia pelas ruas da amargura, os exames reduzidos a meros instrumentos estatísticos e os professores totalmente deprimidos, é se esta distribuição informática e os seus custos vão de encontro do que a escola e os alunos necessitam, ou se é meramente mais um exercício dispendioso de propaganda.

A minha opinião é que se insere numa linha de facilitismo que se desgraçadamente se instalou. É um computador atribuído sem representar qualquer tipo de esforço quer por parte dos alunos, quer por parte das famílias. De tudo o que li, ainda não percebi para que serve, de que forma se insere no programa escolar. Se é que se insere. Não percebi se será para uma disciplina específica, ou para apoio a outras disciplinas por exemplo.

(José Rui Fernandes )

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VÍRUS

A vida normalizada.

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LIVROS DE QUATRO GERAÇÕES (46)



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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 24 de Setembro de 2008

Discute-se o costume sobre isto: em primeiro lugar, o mensageiro, eu próprio, as minhas intenções maléficas, o ódio à RTP, que o PSD também fazia o mesmo (o que como devem imaginar é uma surpresa para mim), que o computador é bom ou mau, que os pobres também têm direito a "Magalhães", que é "normal" que os noticiários sejam partidários e "depois os outros fazem o mesmo", mil e uma distracções menos a discussão do que motiva tudo isto - o noticiário da RTP de ontem às 13 horas. Era esse noticiário que deveria ser discutido, defendido pelos que o fizeram (e a RTP mudando significativamente o registo no noticiário da noite demarcou-se dos excessos das 13 horas) e criticado ou não pelos que o viram. O efeito desta nuvem, sempre centrada na coreografia e não na substância, é gerar tantas distracções que se acaba por beneficiar o infractor.

Quanto à resposta do Presidente da ERC, também descontada a consideração pessoal e a estima pelo seu estilo combativo, tão raro neste tipo de funções, ela só confirma a efectiva desprotecção dos cidadãos face à manipulação governamental. A ERC diz que "tem tempos de decisão que não flutuam ao sabor da opinião pública" e que não pode decidir ao meu "ritmo imediatista". Faz mal, porque muita da propaganda e manipulação mais eficaz faz-se a um "ritmo imediatista" e só é eficaz porque se faz a esse "ritmo", como o noticiário de ontem. O que se passa com vários noticiários da RTP, acompanhando realizações do governo escolhidas a dedo, é que nenhum método estatístico, nem estudo académico que não seja um case study, "pontual" e "imediatista" a seu modo, revela aquela manipulação em particular, que depois se dilui em estatísticas de mais longo prazo. E, no longo prazo não "imediatista", já estamos todos mortos, ou seja, já a propaganda teve efeito. Também aqui este método da ERC beneficia o infractor.

Por último, dizer ao Presidente da ERC que não tenho a mínima intenção de ir ao sítio da ERC preencher um formulário para fazer "queixa"; segundo, que acho que a ERC como "reguladora" da comunicação social tem mesmo que ter em conta a "opinião pública", e, por fim, que não tem muito sentido dizer que não aceita ser "regulada" de fora, ou seja, julgada nos seus procedimentos. É que como a RTP, a ERC é paga com os meus dinheiros de contribuinte, com os dinheiros dos contribuintes" da "opinião pública" e que, se presta mau serviço, ou não cumpre as suas funções, merece ser criticada.

*
Li, com o interesse do costume relativamente ao que escreve, a sua “resposta” à minha “resposta” ao que tinha escrito no seu blogue sobre o que considerava mais um exemplo de manipulação e propaganda pró-Governo no Jornal da Tarde do serviço público de televisão.

Em sua opinião, o sentido das minhas declarações só confirma a “efectiva desprotecção dos cidadãos face à manipulação governamental”. Confesso que tenho alguma dificuldade em compreender como consegue, de uma penada, extrair tanta coisa, e conclusão tão categórica, de declarações tão banais, mas, de todo o modo, aqui estou a procurar esclarecer o que disse.

Realmente, quando afirmei, e aqui mantenho, que a ERC não pode decidir ao seu ritmo imediatista, do que se trata é de diferenciar a forma e o espaço de intervenção de um cidadão, por um lado, e de uma entidade pública com competências de regulação, por outro. O Pacheco Pereira, como é natural, pode estar em frente à televisão à hora do Telejornal, ficar chocado e indignado com o que muito bem entender, puxar a si o computador ou instrumento equivalente e lançar um post no seu blogue onde nos dá conta das conclusões a que chegou. Cada um de nós, aliás, enquanto cidadão, é, neste aspecto que criticou, como noutros, um regulador de sofá, com “competência” para avaliar e proferir sentença com força de caso julgado.

Esse é o sentido que atribuí ao “ritmo imediatista”, e creio, realmente, que estaremos de acordo quanto a este ponto – que realça, no fundo, a própria liberdade de expressão e pensamento.

Pelo efeito, até jurídico, de cada uma das suas pronúncias, a ERC não funciona, e não pode num Estado de Direito, funcionar assim.

Dou de barato que não imagina sequer que, enquanto Presidente da ERC, estou sempre em frente ao televisor à uma da tarde (ou algum dos colaboradores da Entidade por mim), pronto a saltar sobre as “infracções” ou alegada propaganda que detecte. E tenho a certeza que não espera de mim que pegue num telefone, indignado, e faça uma chamada ao Director da Informação da RTP, a desancá-lo por uma qualquer patifaria.

Não é, por outro lado, verdade que a ERC recuse fazer avaliação regulatória de casos concretos, mesmo em matéria de independência ou pluralismo político. Bem sei que, por si, nunca existiria um regulador da comunicação social (e, em concreto ou, ainda mais em particular, a ERC). Mas, olhe, já que a ERC existe, penso que seria importante consultar a nossa “jurisprudência” e os casos que analisámos, em concreto, neste domínio, para confirmar o que digo.

E a sua afirmação tanto mais errada é quanto, a propósito de um caso recente em que até apelou, se não me falha a memória, aos homens e mulheres de boa vontade da ERC (!), a dita ERC decidiu que se justificava, pelo menos, uma análise, iniciou um procedimento, que está adiantado, e, entretanto, notificou a RTP para se pronunciar. Tem, por isso, alguma ironia a sua crítica ao regulador neste aspecto!

No entanto, e como se comprova, mesmo num caso concreto a intervenção da ERC está, e muito bem, limitada pelo respeito por vários princípios fundamentais: a presunção de inocência, e o princípio do contraditório.

Ora, se há coisa de dois anos o Pacheco Pereira pediu a minha cabeça pelo facto de a ERC, como instituição pública, ter recorrido à ironia numa nota à Imprensa, como reagiria se, porventura, passasse por cima de tudo isto?

Quanto a não apresentar uma queixa na ERC, faz mal, mas não serei eu a querer convencê-lo. Porém, como já lhe disse pessoalmente, este acto de “castidade” não tem especial mérito, embora confirme a coerência das suas posições contra a própria existência de uma estrutura de regulação. Realmente, se o Pacheco Pereira é, em meu entender, o homem comunicacional multimeios por excelência deste país (no seu blogue; num jornal diário; numa publicação semanal; na televisão; na rádio) a sua influência – e poder, pondo nome às coisas – bem dispensam a necessidade de uma queixa.

Finalmente, sobre a circunstância de eu não aceitar que a ERC seja regulada de fora.

O Pacheco Pereira decidiu, num salto retórico interessante, esclarecer quem o lê, dizendo: “ou seja, [a ERC] não aceita ser julgada nos seus procedimentos”. É fácil de ver que não foi isso que eu disse ou quis dizer, mas, antes, que – reiterada a consideração pessoal que tenho por si – não é o Pacheco Pereira, independentemente de toda a influência e “poder” que conquistou com grande mérito no espaço público, a decretar à ERC o que ela vai ou não fazer. São coisas tão diferentes que nem creio ser necessário incomodá-lo com mais justificações.

(Azeredo Lopes)

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LIVROS DE QUATRO GERAÇÕES (45)



Artes, ensinamentos, métodos.

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EARLY MORNING BLOGS


1397

She asked him why did he not write out his thoughts. For what, he asked her, with careful scorn. To compete with phrasemongers, incapable of thinking consecutively for sixty seconds? To submit himself to the criticisms of an obtuse middle class which entrusted its morality to policemen and its fine arts to impresarios?

He went often to her little cottage outside Dublin; often they spent their evenings alone. Little by little, as their thoughts entangled, they spoke of subjects less remote. Her companionship was like a warm soil about an exotic. Many times she allowed the dark to fall upon them, refraining from lighting the lamp. The dark discreet room, their isolation, the music that still vibrated in their ears united them. This union exalted him, wore away the rough edges of his character, emotionalised his mental life. Sometimes he caught himself listening to the sound of his own voice. He thought that in her eyes he would ascend to an angelical stature; and, as he attached the fervent nature of his companion more and more closely to him, he heard the strange impersonal voice which he recognised as his own, insisting on the soul's incurable loneliness. We cannot give ourselves, it said: we are our own. The end of these discourses was that one night during which she had shown every sign of unusual excitement, Mrs. Sinico caught up his hand passionately and pressed it to her cheek.

Mr. Duffy was very much surprised. Her interpretation of his words disillusioned him. He did not visit her for a week, then he wrote to her asking her to meet him. As he did not wish their last interview to be troubled by the influence of their ruined confessional they meet in a little cakeshop near the Parkgate. It was cold autumn weather but in spite of the cold they wandered up and down the roads of the Park for nearly three hours. They agreed to break off their intercourse: every bond, he said, is a bond to sorrow. When they came out of the Park they walked in silence towards the tram; but here she began to tremble so violently that, fearing another collapse on her part, he bade her good-bye quickly and left her. A few days later he received a parcel containing his books and music.

Four years passed. Mr. Duffy returned to his even way of life. His room still bore witness of the orderliness of his mind. Some new pieces of music encumbered the music-stand in the lower room and on his shelves stood two volumes by Nietzsche: Thus Spake Zarathustra and The Gay Science. He wrote seldom in the sheaf of papers which lay in his desk. One of his sentences, written two months after his last interview with Mrs. Sinico, read: Love between man and man is impossible because there must not be sexual intercourse and friendship between man and woman is impossible because there must be sexual intercourse. He kept away from concerts lest he should meet her. His father died; the junior partner of the bank retired. And still every morning he went into the city by tram and every evening walked home from the city after having dined moderately in George's Street and read the evening paper for dessert.

(James Joyce, The Dubliners)

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INTERIORES / EXTERIORES: CORES DESTES DIAS

Clicando na fotografia fica na boa dimensão. Para se ver









Efémero em Lisboa. (Cristina Baptista)



Barragem da Caniçada. (António Pedro)







Vindimas. (António Cabral)



Canela , Rio Grande do Sul. (João Almeida)



Dublim. (nelson silva)




Fim de tarde em Queimada, Douro.



Queimada, Douro Capela da Sra. das Aveleiras. (Medina Ribeiro)

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© José Pacheco Pereira
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