ABRUPTO

11.8.08


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COMENTÁRIOS




Além dos conhecimentos de vocabulário e gramática dos tradutores, é preciso ter em conta o contexto e a cultura. Lembro-me de ver um 'Smashing Pumpkins' (o grupo musical) traduzido por 'gente interessante'. O contexto era uma entrevista a uma jovem tenista (ficcional), em que lhe perguntavam quais eram os seus interesses. O tradutor provavelmente pertencia a outra geração, ou não gostava desse tipo de música, ou estava distraído...

Também há situações inacreditáveis. Li uma anedota nas Selecções do Reader's Digest em que um caixão perseguia um homem, até que ele tomou um comprimido para a tosse e o caixão desapareceu. "Finalmente livrei-me do caixão", disse o homem. Passei um bom minuto a ler a anedota para a frente e para trás, até me aperceber que em inglês ele teria dito "Finally I got rid of that coffin", que tanto serve para tosse como para caixão.

(Paulo Almeida)


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(...) começando pelo fim: também vi a reportagem sobre Cuba e também tive um sobressalto com o Rambeau. Não obstante, gostei muito da reportagem e da ideia de "construir ruínas". Se calhar, em Havana existe uma correlação positiva entre o grau de ruínas "em construção" e as receitas do turismo.

Penso que lançar uma guerra sobre a falta de qualidade das traduções assestando baterias sobre os tradutores é atingir a arraia-miúda da infantaria enquanto a artilharia de longo alcance permanece intacta: nas produtoras audiovisuais, nos tribunais e em muitos outros casos, as pessoas que fazem traduções não são necessariamente tradutores "encartados", recebem à peça e tanto traduzem o manual de operações de um triturador de citrinos como uma reportagem sobre o rinoceronte de Java ou as condições de exploração do trabalho dos imigrantes clandestinos algures em Portugal. Penso que nenhuma das pessoas que os criticou conseguiria atingir um bom nível de qualidade de tradução num leque tão vasto de temas, mas cada um de nós consegue criticá-lo em áreas específicas do conhecimento.

(João Gomes Mota)

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Em matéria de traduções hilariantes, guardo uma estória que merece, no mínimo, entrada directa para o Top 3. No Brasil, num programa televisivo de culinária extremamente popular naquele país, a tradução de "petit gâteau" (espécie de muffin de chocolate) foi: (rufar de tambores) "gatinho" ou gatchinho conforme a fonética local.
Genial!

(GLeal)

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Mais uma contribuição para o elenco das traduções idiotas: há muitos anos, era eu ainda adolescente, fui ao cimenma ver o "Kiling Fields", em português penso que era "Terra sangrenta", e recordo-me de ter ficado perplexa quando, numa das últimas cenas, penso que durante uma fuga em que alguém ficava para trás (nunca revi o filme), alguém, aflito, dizia: -"they are going to miss them!"- traduzido e legendado para - "eles vão ter saudades deles...".

E a propósito da entrevista de ontem ao Prof. Carlos Fiolhais (um raro momento de elevação televisiva, de facto), só há que lamentar o erro de Mário Crespo mas, às vezes, "no melhor pano cai a nódoa".

(Helena Mota)

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Por vezes parece-me que a qualidade das traduções é particularmente má quando se destina a jovens. Recordo-me de dois exemplos tirados da revista Tintim e em ambos os casos as traduções parecem ter sido feitas por uma máquina. Numa história (por acaso do próprio Tintim) a banalíssima saudação francesa «Alors, ça va?» foi traduzida por «Então, a coisa vai?». Noutra, a expressão «bien entendu» (que corresponde ao nosso «é claro») foi traduzida por «bem entendido».

Voltando ao seu texto original que desencadeou estas respostas todas por parte dos leitores, podemos dizer que já vamos com sorte por não ter saído «Rambo» em vez de «Rambeau». Não é piada. David Morrell, o escritor que criou Rambo, declarou certa vez que «Rambo» e «Rambeau» se pronunciavam de maneiras muito semelhantes, o que era apropriado, pois John Rambo era um ex-prisioneiro de guerra e o título do único livro publicado em vida por Rimbaud, Une saison en Enfer, era boa metáfora para as experiências de um tal prisioneiro...

(José Carlos Santos)

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Não só nas traduções legendadas se encontram erros e, muitas vezes, cometidos por grandes profissionais da comunicação social como é o Sr. Mário Crespo (Jornalista que muito admiro pela elevação dos programas em que participa). Mas, admirei-me aquando a meio da entrevista (muito interessante e tratando de temas diferentes do que estamos habituados) ao Prof. Carlos Fiolhais refere que leu com atenção o abstracto (tradução de "resumo" para inglês - "abstract"). Vemos por este exemplo que até os melhores podem errar.

Por último não poderei deixar de me esquecer o que o grande jornalista desportivo Gabriel Alves (grande, porque também tem muito protagonismo enquanto jornalista, mas nem sempre pelas melhores razões) quando na narração de um documentário se refere a Bobby Charlton como uma "legenda do futebol" (pseudo-tradução de football legend").

Todos temos direito a errar, mas a incompetência daqueles que trabalham nos audiovisuais e com formação (assume-se que a formação está a ser bem dada) para tal não deveria acontecer por acontecer muitas vezes.

(João Quintela)

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Vi hoje que o JPP publicou parte da minha mensagem sobre as traduções, perto de outras sobre o mesmo assunto. Parece-me que o problema é real e reconhecido por muita gente, mas não se faz nada acerca disto porque não é "grande" o suficiente, ou porque ninguém sabe exactamente o que se pode fazer. Seria preciso, como em outros assuntos em Portugal, uma "grande bronca", algo capaz de fazer algum director de programas fazer o impensável - pedir desculpas. Enquanto isso não acontece, lembrei-me de perguntar-lhe se sabe se existe algum tipo de legislação sobre a actividade da tradução aplicada a "objectos" de comunicação social, e se não seria admissível chamar a atenção da ERC, eles que gostam tanto de se mostrar úteis à sociedade (quanto não andam às turras com o Eduardo Cintra Torres). A questão pode ser um incómodo para quem sabe outras línguas, mas é preciso lembrar que será um incómodo muito maior para quem não sabe outras línguas e que tem de traduzir a tradução, tentando criar sentido entre as coisas que vê/ouve/lê e o resto. Sem falar nas crianças, pronto, que o aspecto didático também é importante. Começamos também a ver erros "chatos" em documentários - a minha mulher lembrou-me de um documentário que passou na RTP2 aqui há uns meses sobre uma dinastia imperial da Índia - os Mughals. Durante todo o documentário os locutor referiu-se a eles como "Mongóis", o que em questões de História "é chato". Ainda para mais, parece que de facto os Mughals não são exactamente um "imperiozito" mas os grandes governadores da Índia durante séculos. E pelo que pesquisei não se poderia admitir a hipótese de haver alguma relação com os Mongóis da Mongólia. Só um exemplo.

(Paulo L.)

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A propósito do "Rambeau", deve assinalar-se que, ontem ou anteontem, no noticiário da SIC, a jornalista, por duas vezes, disse "penhôra", a propósito do sucedido com o Estádio do Boavista. Isto deve ter sido para a disputa de audiências, uma vez que, dias antes, na RTP 1, também no telejornal das 20h00, o apresentador tinha dito "remôrso"...

(Vasco Graça Moura)

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Uma pequena contribuição para a questão das traduções, assunto que sigo com interesse pois na minha actividade profissional tenho por vezes de traduzir para português textos e apresentações em "powerpoint" originalmente em inglês ou castelhano. Em tempos, não sei precisar há quantos anos mas talvez uns dez ou quinze (talvez mais), numa série de TV ou filme que "passava" na televisão (já não me lembro), traduziram "Hôtel de Ville" por "Hotel da Cidade". Parece anedota, mas não é. De tal modo que nunca mais me esqueci!

(JC)

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A proposito das "asneiras" dos tradutores recomendo a leitura de um livro editado tanto quanto me lembro por uma editora universitaria: trata-se das "Memorias de Marbot, da 3ª invasão francesa" (peço desculpa mas não tenho aqui tal "prenda", logo os dados são da minha memoria), onde a Armada Francesa "navega" varias veses pela nossa Beira Interior, goatava de saber como,?

Quanto a tradução de legendas de filmes é bom lembrar que a maior parte das vezes o tradutor apenas contacta com a chamada lista de dialogos (folhas dactilografadas com texto, e nunca vê o local e o filme onde tal texto vai ser sobreposto... .há que continuar a "bater" neste assunto, e noutros tambem.

(Abel Roldão Santos)

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Ouvido ontem num programa do National Geographic Channel, na TV: Dizia o comentador inglês a propósito de Jericó:
the oldest continuously inhabited city in the world

Dizia a comentadora em português: a mais velha cidade inabitada do mundo.

(Teixeira Alves)

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Mais um clássico que nos foi oferecido pelos tradutores portugueses de cinema: no filme (também ele clássico) "To Be or Not To Be", de Ernst Lubitsch, que se passa em Varsóvia durante a II Guerra Mundial, rebentam bombas, ardem carros na rua e uma personagem diz: "Óptimo, a resistência ainda está activa" ("Good, the underground is still working" - cito de memória), o que foi legendado da seguinte maneira: "Óptimo, o metropolitano ainda está a funcionar".

(Joaquim Vieira)

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Quanto às traduções, uma velha "guerra" minha e da minha mulher; quando bem dispostos rimo-nos, nos outros dias só temos vontade de chorar. Esquecendo as asneiras de filmes (acabar com elas será seguramente mais difícil do que acabar com o tráfico de droga em Portugal), preocupa-me as "asneiras institucionais": o facto de cada vez mais pessoas responsáveis por qualquer coisa dizerem que "temos novas facilidades" (facilities); a institucionalização do "não estás a realizar.." (realize); a "oferecemos a nossa simpatia..." (simpathy). Mas pior que isso, é que sempre que eu tento obrigar-me a ler mais livros em Português (porque desde novo comecei a ler livros em Inglês e o meu Português sofre com isso), encontro pérolas de tradução como a palavra "crucifixão", que traduz "crucifixion" num livro do DAN BROWN, traduzido pela BERTRAND(!) Seria de esperar que uma editora destas tivesse mais cuidado a traduzir um autor de best-sellers, mas parece que não. Ou então a fabulosa tradução "A desilusão de Deus" para o título "The God delusion" de Richard Dawkins. Desculpe este desabafo, mas 'só ao estalo'.

Não é de entender: há cada vez mais cursos de tradução, e esta é uma técnica cada vez mais aperfeiçoada e profissionalizada. Será assim tão difícil? Ou será que, tal como no Jornalismo, existe uma correlação inversa entre a quantidade de cursos de tradução que abre e a qualidade dos tradutores que temos?

(Paulo Lourenço)




PORTAL DAS COMUNIDADES

Julgo que o Portal das Comunidades terá outro dos sites anunciados pelo Governo com grande pompa e circunstância. Realmente existe um mapa do mundo interactivo e funcionalidades que "enchem a vista". Contudo, uma simples consulta para saber o número de telefone dum consulado de Portugal chega a demorar vários minutos. Este é o tempo que demora a carregar o "site". Isto quando o mesmo "site" se digna a aparecer de todo. Mais um exemplo duma tecnologia topo de gama lançada pelo Estado / Governo português mas que não é mantida por ninguém.

Frequentemente já dou para mim a procurar o número de telefone em sites escritos em inglês.
Já agora, tenho estado a tentar contactar o consulado de Nova Iorque há 3 dias úteis sem qualquer sucesso ...

(Vasco Ribeiro)


CTT


Os CTT, que neste país se tornaram um sofisticado quiosque que vende tudo quanto há, desde livros, CD’s, telemóveis,romances policiais ou não, e até selos do correio e envelopes ou embalagens, têm contudo um pequenino defeito: contrariamente a qualquer negócio deste país, desde tabacaria, a restaurante rasca, de FNAC’s a retrosarias, não aceita para pagamento com cartões de nenhuma espécie. Nem Multibanco, cartão de crédito, nada!

Aqui há dias, e vivo na periferia da cidade do Porto, recebi uma encomenda pelos CTT, a qual fora despachada, de Hong-Kong com pagamento no destino. Valor: €12,03. Por coincidência estava a chegar a casa no mesmo momento em que o funcionário contratado pelos CTT para fazer a entrega do Correio (agora os carteiros não são funcionários dos CTT mas meros contratados a prazo) fez-me assinar o impresso de recebimento da encomenda. O problema surgiu depois, já que o referido funcionário não tinha troco de uma nota de €20 e insistia que era eu que teria de arranjar o dinheiro trocado já que não era obrigado a fazer trocos (!). Resultado: a encomenda foi para trás, tive de riscar o meu nome como a tinha recebido e depois tive de me deslocar á estação dos CTT, uma boa meia hora a pé do sítio em que vivo, outra meia hora na fila ,já que a estação só tem dois funcionários e um estava ao telefone, e por fim carregar a dita encomenda nova meia hora a pé até ao meu domicílio. Não há dúvida que este pais está cada vez mais SIMPLEX !

Devo dizer que tenho perto de 67 anos e que já me vai custando um pouco andar, mas os CTT estão-se a marimbar para isso. Já agora eu pergunto: se paguei um serviço “porta-a-porta” porque só o recebi “porta-estação dos CTT”?

(António M. Graça)



O leitor António M. Graça estranha que os CTT não aceitem pagamentos com cartão. Talvez goste de saber que, em tempos, os mesmos CTT emitiram um (baptizado de Netpost) que, além de permitir navegar na Internet nuns quiosques que havia (mas que sumiram...), servia para comprar selos nas máquinas apropriadas. Essa maravilha, que era recarregável, custava €5,49.

Pois bem... Informo, a quem tal possa interessar, que ofereço um prémio de €50 à primeira pessoa que seja capaz de me indicar uma maquineta (uma única!) que funcione - nomeadamente aceitando esses cartões que os próprios CTT emitiram. De brinde, ofereço o meu, que ainda tem algum saldo...
-
C. Medina Ribeiro

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A propósito dos cartões NETPOST, junto uma fotografia que mostra como os CTT têm vindo a "resolver o problema": as fendas para os inserir continuam lá, mas as serigrafias que os referem têm sido tapadas com autocolantes!

(Florêncio Cardoso)
CP



Fila, na Estação da CP de Entrecampos, na bilheteira para longo-curso, junto a uma máquina automática de venda de bilhetes... que nem sempre vende bilhetes.

(C. Medina Ribeiro)

(url)

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