ABRUPTO

26.8.08


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
COISAS DA SÁBADO: “COMO DIZIA RAMBEAU...”

Em sequência da série 1, 2, 3, 4, 5, 6. e 7.

Não estava à espera do interesse suscitado pelo tema, mas a discussão em torno do tema revelou-se enriquecedora, ainda mais recentemente com o contributo da área jurídica. No entanto, convém talvez não esquecer o que a despoletou, que foi a afirmação de que o uso de tal termo seria absurdo. A minha primeira intervenção foi no sentido de procurar mostrar porque não era absurdo esse uso, porque era fundado na etimologia e no uso da palavra defeito, independentemente de outras palavras poderem usar-se com idêntica adequação.

Estimulado pelo contributo dos leitores da área jurídica, fui consultar algumas obras que constam do Corpus Lexicográfico do Português (www.clp.dlc.ua.pt) . Encontram-se nalgumas dessas obras do corpus dicionarístico do português moderno, referências à palavra defeito. Dessas destaco:

Na Prosodia, de Bento Pereira, 7ª. Edição de 1697, um dicionário bilingue latim-português, surgem as definições:

Defectus, us, m.g., O defeito, a falta, fraquesa, desmaio, mancha, eclipse.

Siphia, ae, f.g., O defeito, falata, privaçaõ, circulo arithmetico, nota de números.

Imperfeiam. Falta. Defeito

No Vocabulario de Rafael Bluteau, 1721-28, surge uma referência ao “defeito, ou falta que se exproba a alguém”.

Podia, ainda, referir outros usos semelhantes, que demonstram a associação entre defeito e falta, sustentando assim na etimologia e no uso de ambos os termos, desde há vários séculos, a fundamentação para a tradução “polémica”. Assim sendo, não é de modo algum absurda a tradução feita na área das TI, independentemente de outros termos poderem ser usados com idêntica legitimidade e adequação.

(Rui Ribeiro)

*


Espero não ter passado, no meu último e-mail, a ideia de que os erros crassos que muitas vezes assistimos devem ser "perdoados". Muitos são mesmo de bradar aos céus. Mas considero ainda mais grave os erros que cada vez mais verifico nos meios de comunicação em geral. Existe algum
grau de justificação quando falamos das traduções, em que é necessário dominar duas línguas, uma delas estrangeira, obviamente. Existirá sempre uma maior probabilidade de ocorrência de erros. Mas, quando falamos de jornalistas "qualificados", que unicamente escrevem na sua língua materna, aí a crítica tem de ser muito mais severa.

Também há que separar o trigo do joio. Não confundir tradutores profissionais, com provas dadas e de extrema competência, com o filho da vizinha, que "até percebe de línguas", e que faz umas traduções nas horas vagas. É preciso distinguir entre tradutores profissionais e alguém que calhou de fazer uma tradução.

Deixo-lhe também um exemplo de uma tradução recente que, na minha opinião, não é das mais correctas. O título do filme (e do livro) "No country for old men" foi traduzido como "Este país não é para velhos". No entanto, olhando para o tema geral do filme e do próprio significado de "country" em inglês, poderíamos concluir que não se refere ao país, os EUA, como a tradução dá a entender, mas sim à região do Texas, onde toda a acção se desenrola. Penso que "country" tem muitas vezes o sentido de "região" ou "terra", tal como "pays" em francês. Embora em português os dicionários apontem os sinónimos de "região" e "território" para "país", não creio que se utilize o termo nesse sentido. Nunca nos referimos ao "país do Alentejo", embora haja quem diga que o Porto é uma nação! ;)

(Bruno Teixeira)

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