ABRUPTO

25.8.08


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
COISAS DA SÁBADO: “COMO DIZIA RAMBEAU...”

Em sequência da série 1, 2, 3 e 4.

Quem controla as traduções de livros de instruções e rótulos em Portugal?
Acabo de comprar um Leitor de Mp-3, por exemplo, em que a tradução portuguesa é tão má (não é bem uma tradução, parece ser uma adaptação automática, provavelmente por meios informáticos, do original espanhol para a nossa ortografia - e que raramente respeita a nossa ortografia, mesmo assim!), mas tão má, que acabei por preferir ler o original em espanhol para não ter de recuperar o espanhol a partir do português. Mas eu tenho a sorte de falar várias línguas... o português comum, que arranha mal inglês "e prontos, já chega" não terá direito a ter instruções na língua oficial do país?

(Nuno Cardoso Dias)

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Sem querer passar por "picuinhas", gostaria apenas de deixar uma nota relativamente ao assunto da expressão "by default". Na maior parte dos casos, em contexto informático, "by default" refere-se a uma opção que está pré-configurada de determinada forma, como por exemplo, "Option A is set by default". No entanto, não se trata de qualquer referência à "omissão" ou falta de selecção de um qualquer parâmetro. Trata-se de uma "predefinição", na medida em que é algo seleccionado/activado de origem. Sendo assim, a tradução correcta e mais frequentemente utilizada é de "predefinição", especialmente nos meios informáticos. Obviamente que abundam as traduções "por defeito", mas trata-se de uma tradução literal e que não corresponde ao sentido dado pelo inglês.


Quanto aos muitos erros de tradução com que nos deparamos todos os dias, é um assunto com pano para mangas. Mas há algo que é preciso ter em conta. O trabalho de tradução é extremamente complexo, desgastante como há poucos, muitas vezes feito em condições que em nada ajudam à realização de um bom trabalho. Que não se pense que um tradutor está sentado em frente ao computador com longos dias pela frente para "pensar" uma tradução. No trabalho de legendagem, por exemplo, os prazos são "para ontem", é mal pago, utiliza-se software arcaico, trabalha-se frequentemente sem guião daquilo que é dito, sendo traduzido "de ouvido" e com limitações a nível linguístico de que poucos se apercebem. Condensar aquilo que é dito em língua inglesa num espaço de duas linhas, em português, é uma tarefa muito complicada. É fácil estar no sofá a ver um filme e a comer pipocas, e apontar, à boa maneira portuguesa, os erros feitos pelos outros, desconhecendo-se totalmente o trabalho que está por detrás, se calhar feito na véspera, pela noite dentro. Mas pergunto-me sempre, esse erro, tão habilmente detectado pelos tradutores de bancada, foi reflexo da má qualidade geral da tradução ou tratou-se de algo pontual? Novamente à boa maneira portuguesa, as críticas surgem à velocidade da luz, mas os elogios têm que ser arrancados.

(Bruno Teixeira)

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Tenho traduzido e, porventura por me acharem cuidadosa e gostar das palavras, já me calhou fazer o que dá muito trabalho e pouca gente aprecia: reescrever traduções. Às vezes tenho pena de não ficado com alguns registos do que lá estava, ou de no cinema ou na televisão não haver tempo ou luz para anotar.

Mas há duas de que nunca me esquecerei: uma foi há mil anos, talvez no Rádio Club, cujo locutor pressurosamente traduzia o romântico título «Come back to me» por «Salta para as minhas costas». A outra era um exemplo de ansiedade máxima «as someone in front of a firing squad», de que tive, ai de mim!, de discordar, perdida de riso, que alguém tivesse a experiência limite da ansiedade «ao passar em frente a um quartel de bombeiros».

Não se esqueça, da próxima vez que passar por um quartel de bombeiros!

(Fátima Andersen)

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Não quero deixar de contribuir com mais dois exemplos que atestam o estado do nosso sistema de traduções nas nossas televisões.

A tradução mais divertida que vi num filme que passou numa das nossas televisões foi a que passo agora a contar. Não me recordo do filme, mas era já relativamente antigo (creio que anos 50). Uma senhora lamentava a morte do marido e, falando dele com evidente carinho, referiu: "my husband was a very gay man." Pois é, já se está a ver qual foi a tradução: "o meu marido era homossexual."

Também curioso foi ter ouvido na dobragem de um documentário sobre música dos Anos 60 a referência ao "aparecimento do avião de Jefferson" que, presumo eu, seja uma ridícula tradução do nome da banda Jefferson Airplane.

(Paulo Agostinho)

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© José Pacheco Pereira
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