ABRUPTO

25.8.08


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
COISAS DA SÁBADO: “COMO DIZIA RAMBEAU...”

Em sequência da série 1, 2, 3 , 4. e 5.


Tenho acompanhado este conjunto de posts com muito interesse, pois também me indigno com uma tradução mal amanhada... Ora hoje mesmo vim do Porto no Alfa, e fui brindada com um promissor documentário sobre a Ilha de Malta, legendado em português - até que foi sublinhada a importância dos Cavaleiros de ST JOHN na história da Ilha.

Como dizia alguém: - É garantido que "meu caro amigo" aparece sempre como MY EXPENSIVE FRIEND...

(Maria S.)

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Em relação à discussão relativa a traduções, legendas e afins, gostava só de chamar a atenção para um fenómeno muito curioso: a legendagem "não oficial" de filmes e séries que aparecem nas redes de P2P (peer-to-peer).

É fascinante observar como passa pouquíssimo tempo entre o surgir de um novo episódio de uma qualquer série, e as respectivas legendas nas mais diversas linguas (entre as quais, o português de Portugal, claro). É fascinante porque se trata de um exemplo perfeito da forma como a "rede" funciona: cada legenda que é criada é analisada, corrigida, rectificada, pelos restantes interessados, o que permite na maioria dos casos um trabalho de bastante qualidade, fruto do
contributo de uma série de pessoas com diferentes experiências e conhecimentos técnicos. Se, por exemplo, no CSI ou no House existem expressões complicadas, pode ser que exista um médico ou um biólogo que dê uma ajuda com este ou aquele termo.

Vê-se uma espécie de "selecção natural" das diversas versões de legendas, sendo que as de maior qualidade tendem a espalhar-se mais, tornando-se rapidamente na versão "obrigatória" para o media em questão.

Para quem se ache mais avançado na arte da tradução, pode sempre aventurar-se a criar a legenda "original" em inglês (os episódios quando são transmitidos, na esmagadora maioria, não têm legendas "formais" em inglês, seria como os programas falados em português fossem legendados... em português). Essa "matrix" com o inglês original pode depois servir para outros "tradutores", inclusivamente de outros países, o que sublinha ainda mais o carácter comunitário de toda esta "operação".

O trabalho é relativamente simples e os requisitos "técnicos" são mínimos: um editor de texto "puro e simples" (o mísero "Bloco de Notas" do Windows serve perfeitamente). É preciso também, claro, vontade e alguma paciência.

E o que é mais incrível? Existem mesmo pessoas a fazer isto, sem receber um cêntimo que seja, e o resultado geral é bastante aceitável, muitas vezes até superior aos trabalhos "profissionais".

Deixo as questões legais e "laborais" de tudo isto para os entendidos, mas assim à primeira vista, parece-me que o resultado final da traduções feitas pela "rede" tem potencial para ser bastante mais "robusto" e "fiável" do que uma tradução feita apenas uma única pessoa.

Com as ferramentas e potencialidades que a "rede" nos oferece hoje em dia, parece-me um bocado "arcaico" a imagem de "monge escriba", a traduzir sozinho, fechado na sua cave, sem ter possibilidade de "googlar" ou trocar ideias com outros seres humanos.

Ah, e o meu contributo para as "gralhas": num qualquer filme de tarde de fim de semana (já não me recordo exactamente qual), de cada vez que um actor falava em "L.A." (as iniciais de Los Angeles, a famosa cidade americana), o tradutor insistia em legendar como "Elay"...

(Helder Nascimento)

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O leitor Bruno Teixeira tem razão em referir que “predefinição” pode corresponder, com bastante fidelidade, à expressão “by default”. Poder-se-ia mesmo, dizer, com alguma piada, espero, eu, que a expressão pode significar que, na ausência de outros valores definidos explicitamente, o sistema está pré-configurado para assumir determinados valores. Ou seja, se quisermos dar ênfase ao facto de haver valores predefinidos, podemos usar “predefinição”. Por outro lado, se quisermos dar ênfase ao facto de podermos definir os valores que entendermos, mas que, se não o fizermos o sistema, utilizará valores previamente especificados, podemos usar “por defeito”. Tenho de admitir que na minha experiência mais recente, em que tenho de ensinar sintaxe de instruções que admitem vários parâmetros como opcionais, a terminologia “por defeito” ilustra melhor o que pretendo transmitir, do que usar “predefinição”, mas, como diz a expressão, “your mileage may vary” que eu arrisco traduzir, na expectativa de proporcionar a continuação da discussão, por “não é preto, nem branco, mas talvez cinzento”.


Quero expressar a concordância com dois aspectos já referidos por outros leitores. Independentemente de admitir como verdadeiro aquilo que foi escrito sobre prazos apertados e difíceis condições de trabalho, penso que muitos erros resultam da falta de conhecimento de quem traduz. O “Rambeau” é disso um excelente exemplo! Não há desculpa para um erro desses, tal como não há para tantos outros relatados por outros leitores, tal é o desfasamento entre o resultado da tradução e o original. Por outro lado, é claro que muitas traduções requerem um conhecimento específico da área subjacente ao que se está a traduzir. Esse conhecimento nem sempre existe (mais uma vez é o carácter grosseiro dos erros que o demonstra), até porque tenho a ideia que quem faz traduções tem, em boa parte dos casos, uma formação na área das humanidades. Quando há que traduzir conteúdos de áreas mais especializadas, sem formação ou conhecimento dessas áreas, aumenta-se a possibilidade de erro como, infelizmente, tantas vezes podemos constatar. O que parece ausente de todo, são mecanismos de controlo de qualidade nas traduções. Dá ideia que se entrega o trabalho e se espera que o resultado seja o melhor. Será que isto é garantia suficiente? Será que nalguma outra área se funciona assim (se calhar não devia ter perguntado isto, veio-me imediatamente à ideia o “nosso” processo legislativo e a conclusão não é favorável ao que eu pretendia!)?

(Rui Ribeiro)

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