COISAS DA SÁBADO: A SITUAÇÃO DE REVOLTA NAS ESCOLAS
No caso do Ministro da Saúde a contestação era maior na rua do que no interior do “sistema”, no caso da Ministra da Educação é o contrário. A situação nos dois ministérios “reformistas” do governo Sócrates tinha por isso uma diferença fundamental e levou ao despedimento do Ministro da Saúde e à manutenção da Ministra da Educação. No entanto, com a deterioração acelerada da situação no interior das escolas já estive mais seguro de que ninguém tocaria na Ministra do que estou hoje.
Não é que o Ministério da Educação não tenha simpatias do seu lado e poderosas: muitas pessoas estão com a Ministra, pais, autarcas, “povo”, porque se revoltavam com a situação das escolas, por muitas e diferentes razões, mas unidos num único alvo, os professores. Os professores no seu conjunto eram tidos como os grandes responsáveis pelo que se passava nas escolas e embora houvesse outros alvos, o Ministério, o laxismo, o “eduquês”, os sindicatos, acabava sempre por sobrar para os professores. Os professores tinham uma óbvia responsabilidade por esta situação e tinham-se posto a jeito. Embora houvesse professores que individualmente expressassem o seu descontentamento com o “eduquês”, o facilitismo, a falta de hierarquia de mérito entre os próprios professores, o absentismo, o desleixo e a má preparação de muitos profissionais, a ausência de avaliação digna desse nome, a sindicalização do Ministério, não havia um sólido movimento de opinião entre os professores que exigisse reformas e isso permitiu a demonização dos professores enquanto classe profissional. Mas havia professores com estas preocupações e estes deveriam ser os aliados naturais de uma política de reformas como a que a Ministra quis realizar. Só que não há, não há ninguém, é difícil encontrar alguém, em qualquer escola do país, que apoie a Ministra, que é universalmente odiada pelos professores. Uso a palavra forte, “odiar”, porque é raro encontrar algum responsável ministerial mais sozinho que a Ministra da Educação e isso, por si só, mostra que alguma coisa falhou nas suas reformas, porque, por escassos que fossem, alguns aliados deveriam existir, 10%, 5% dos professores, 3 ou 2% para se conseguir ter sucesso.
Onde estão os erros? Um, de primeira responsabilidade de Sócrates, foi fazer reformas “contra”, usar, para obter apoio popular fácil, o mecanismo de pôr juízes contra professores, professores contra médicos, pais contra os professores, cada classe ou grupo contra os “privilégios” dos outros, e o “povo” contra todos. É bom para as sondagens, é péssimo para fazer reformas. Esta linguagem agressiva das reformas “contra” os grupos profissionais também penetrou no Ministério e, feito o mal, a seguir não é possível controlar os estragos. Depois, o Ministério, que é uma burocracia que se comporta como burocracia, quis fazer tudo ao mesmo tempo, dispersou-se e desconcentrou-se, misturou coisas importantes com irrelevâncias, atirou para todo o lado, e, sem dar espaço às escolas e aos professores para se adaptarem a uma nova ecologia, logo surgia outra alteração e outra e outra. Muita coisa foi feita de forma incompetente, gerando injustiças flagrantes em processos muito delicados, criando divisões e hostilidade entre professores, despromovendo carreiras profissionais altamente qualificadas a favor de critérios apenas centrados no dar aulas, actuando de uma forma sentida como punitiva contra os professores. O Ministério alienou os apoios dos melhores e mais dedicados professores e não conquistou o apoio de nenhuns outros.
A Ministra bem pode mandar, como Jeová, os Anjos a Sodoma e Gomorra à procura de um justo, que não encontra ninguém. Pode-se dizer que isto acontece porque são mesmo verdadeiras reformas e atingem o cerne do corporativismo dos professores, o que é em parte verdade, mas escapa à questão de fundo: muitas reformas foram mal conduzidas, mesmo quando tinham mérito de per si e o resultado pode apenas ser mais caos e esvanecer-se junto com a Ministra.
A janela de oportunidade está quase fechada, o tempo é escassíssimo, mas só uma pessoa pode ainda tentar salvar o que se pode salvar: a Ministra da Educação. Não é “ceder” que se lhe pede, é que distinga o que é essencial do que é secundário e se concentre, concentre, concentre, no que é essencial e deite o resto pela borda fora. Já.
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(...) concordo em grande parte com o seu texto sobre a "A SITUAÇÃO DE REVOLTA NAS ESCOLAS". Permita-me, porém, como professor do ensino secundário, dizer-lhe que também existem na escola professores do lado das politicas educativas deste Ministério da Educação. Mas, confesso, não somos muitos.
De facto, ao que parece, a classe docente anda revoltada. A julgar pelas conversas nas salas de professores, e pelas manifestações “espontâneas” que por aí se preparam, nunca, como hoje, a contestação a este governo e à Ministra da Educação foi tão unânime e incisiva por parte dos professores.
Nos últimos tempos muito se tem dito e ouvido sobre a Avaliação do Desempenho dos Professores. Há ano e meio atrás, a maior parte dos professores dizia-se contra qualquer avaliação de desempenho que fugisse dos termos da que era feita na época, ou seja, que interferisse com a progressão automática nas carreiras que, como alguns sabem, assegurava a todos, sem distinção, ao fim de uns anos o topo da carreira, isto é, um ordenado de € 2900 (ilíquidos) por 12 horas semanais de trabalho lectivo. Agora, percebendo que não têm argumentos que sustentem o facto de não quererem ser avaliados, dizem que, afinal, querem ser avaliados mas não nos moldes que a regulamentação do Ministério da Educação definiu.
Todos sabemos que a avaliação dos professores, tal como a dos alunos, é de elementar justiça e fundamental para valorizar o empenhamento e premiar o mérito, visando, dessa forma, a melhoria das aprendizagens e resultados. Contudo, isso não é suficiente para que os professores a desejem e aceitem. Muito menos para os sindicatos, através dos seus milhares de agentes impregnados nas escolas, deixarem fugir esta oportunidade de fazerem figura perante os seus líderes partidários. Afinal, qual seria o professor que aceitaria de bom grado, de um dia para outro, o incómodo e a preocupação de prestar contas pelo trabalho realizado ao longo do ano lectivo, ainda por cima com implicações na progressão na carreira? Certamente muito poucos.
Por agora, o objectivo de alguns professores e sindicatos é, tal como ouvi ontem na voz de um colega, "dar cabo da ministra antes que ela dê cabo de nós". Por isso que os argumentos contra a regulamentação da Avaliação de Desempenho dos Professores, assim como as providências cautelares interpostas pelos sindicatos e as mega manifestações previstas, são apenas fogo de artificio para nos entreter em discussões demagógicas e vãs que visam apenas e só adiar a implementação da avaliação e deixar tudo como está.
Sejamos claros, a reforma em curso na educação é difícil, com óbvios custos políticos, e envolve mudanças profundas na cultura das nossas escolas que, sem margem de dúvida, afectam os interesses e expectativas dos professores. Contudo, são reformas imperativas a bem do país, que só não foram feitas há muitos anos por falta de coragem política dos governos anteriores.
João Filipe Marques Narciso (Prof. de Matemática do 3º Ciclo e Ens. Secundário)
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A questão da avaliação dos professores está na ordem do dia, em várias partes do mundo, não apenas por cá. As politicas que por cá se estão a aplicar são já prática em vários lados e com resultados duvidosos. Um dos aspectos é a utilização dos resultados dos alunos na avaliação dos docentes, que apesar de polémica poderá sob controlo ser um aspecto a considerar. No entanto não me queria perder em aspectos técnicos numa questão que é meramente politica.
É curioso que nenhum partido ou politico venha a terreno explicar claramente o que está em causa, ou por ventura ficar ao lado dos que entendem que avaliação docente não pode ser feita nos moldes da que é realizada numa empresa. Para começar uma escola não é uma empresa e em segundo lugar o que está em causa é a concepção da verdadeira escola pública. Hoje (ainda) último reduto da liberdade. A escola que pretendem asfixiar e domar colocando-a ao serviço do governo (este ou outro) é algo muito desejado e claramente rejeitado por qualquer sistema que respire livre da coacção. Não será por acaso que as politicas reformistas da educação em países como os EUA falharam toda ao longo do sec.XX.
Os professores ao contrário do que por aí se vai dizendo não são corporativistas, muito pelo contrário. Estão desunidos por vários (imensos) sindicatos; uma diversidade imensa quanto à sua proveniência (Engenheiros, advogados, farmacêuticos, médicos e mais recentemente professores) e dispersos por niveis de ensino com especificidades próprias (ensino artístico, educação infantil, primeiro ciclo, ensino profissional, etc). O problema é que não há politico, por mais impoluto que seja, que não deseje domar esta força de influencia junto das massas. Talvez por isso nunca tenha sido concedido aos professores uma ordem, que regulasse a profissão a nível deontológico. A questão fulcral do insucesso reside em aspectos até simples de solucionar, houvesse verdadeira vontade em os resolver. Mas acredite não é necessário hierarquias para manter uma escola, pelo contrário. Quanto a carreira deixe-me dar-lhe um esclarecimento - até agora um professor determinava a carreira que tinha e era remunerado por isso. Se supervisionava estágios , presidia a um executivo era por que era capaz e se empenhava, caso contrário abandonava as suas funções e regressava a soldado.
Na verdade a escola que hoje está moribunda é libertária e não opressiva e em breve teremos uma escola opressiva, regulada pelos poderes politico-partidários. Existiam obviamente entorses que deveriam ter sido resolvidas à muito tempo. Nem tudo estava bem, mas acreditem que vai ficar pior. acredito porém que nem tudo será mau a classe passará realmente a existir - este é o ano do nascimento de uma nova classe em Portugal a da classe docente.
(...) de um docente consciente da sua primeira função,
(Carlos Brás)
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Efectivamente, a Ministra perdeu os professores e é pena.Porque, estando em causa o ensino e a educação, está em causa o futuro do país. A actividade docente, porque é uma actividade que implica relações humanas, precisa de um clima de serenidade e confiança entre os vários intervenientes. Ora, as injustiças e o desassossego, entretanto criados com os atropelos à lei, com o aumento da burocracia, com a overdose legislativa (e mal escrita) e com um comportamento de desconfiança e frequentemente acintoso relativamente aos docentes não se apagam, da mente, com um simples delete. Mais, mesmo que nos queiramos abstrair, tudo isso emerge quando menos esperamos e contamina, como um veneno, as melhores boas intenções. Os professores não são todos bons profissionais, é evidente, mas a maioria é-o. E as actuais políticas educativas não estão a separar o trigo do joio. Pelo contrário, está-se a deitar fora a criança com a água do banho. Má estreia, diria o Eça pela voz do Afonso da Maia.
(Nelsa Neves, professora.)
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Hesitei em comentar o artigo porque efectivamente não sinto a obrigação de convencer ninguém. Quem trabalha diariamente nas escolas são todos aqueles que lá estão; todos os outros não podem opinar sobre aquilo que não sentem, não sofrem e não sabem como funciona. A tentação é sempre usar o chavão do corporativismo mas isso aplica-se transversalmente a toda a sociedade: desde os políticos que governam até a todas as profissões. Quem tem de defender as condições dignas de trabalho são os agentes aos quais é aplicado esse trabalho. Na docência estas condições pioraram (perdeu-se o direito à maternidade, paternidade, luto de familiares, casamento) com mais horas lectivas semanais (horas extra não remuneradas), mais turmas em escolas com a mesma dimensão e equipamentos (os cursos profissionais, Novas Oportunidades), etc.
Treinadores de bancada hà muitos mas só um é que comanda a equipa; como é possível opinar sem conhecer os elementos técnicos da avaliação de desempenho? Quando os conhecerem, concluirão que é humanamente impossível aplicá-los nos moldes em que estão propostos. Os parâmetros criados são a porta aberta à arbitrariedade, discricionariedade e perseguição, que em nada estão relacionados com qualidade do desempenho. O exemplo da escola de Leiria (com parâmetros em que avaliavam a verbalização da opinião dos professores), aliado ao novo modelo autocrático de gestão das escolas, é paradigmático do que irá acontecer a médio prazo em termos de avaliação; se o oito é mau, o oitenta é pior.
Como é possível aceitar tacitamente a divisão dos professores em 2 categorias quando executam exactamente as mesmas funções e muitas vezes em conjunto? Nunca houve progressão automática porque os professores só progrediam se cumprissem uma série de requisitos; se era eficaz, é um assunto que teria de ser discutido na mesa técnica. O que é garantido, é que com esta avaliação NINGUÉM progride, nem maus e nem bons, por imposição de quotas cegas. Agora não “são sempre os mesmos”, parafraseando o primeiro-ministro; são muitos que nunca na sua vida profissional se manifestaram (eu incluído), mas que atingiram o limite da humilhação a que têm sido sujeitos. Toda a revolta espontânea que surgiu, ao arrepio dos sindicatos, apenas teve como causa as muitas injustiças e ilegalidades descaradas do ME em relação a milhares de professores; e a injustiça é a mãe de todas as revoltas.
(Mário Silva)
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Sou um professor titular do ensino básico. Tenho 30 anos de serviço docente. Não sou nem nunca fui militante de nenhum partido político. Tenho cumprido regularmente a minha obrigação cívica e democrática de exercício do voto, tanto na escolha dos deputados nacionais, como na dos deputados europeus e municipais, de acordo com as minhas opções políticas e ideológicas e as minhas preferências partidárias. Tenho-me sentido incomodado e ofendido pela forma superficial e pouco séria como a generalidade dos meios de comunicação social e em particular alguns jornalistas e opinion makers vêm abordando o conflito entre professores e o governo, reduzindo tudo a querelas partidárias e sindicais.
(Francisco José Santana Nunes dos Santos)
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Sobre a questão da Avaliação de Desempenho dos professores, gostaria de lhe pedir para se debruçar um pouco sobre a ficha de avaliação imposta aos Conselhos Executivos (CE) para poderem avaliar todos os docentes. A partir desses itens os CE têm de estabelecer os padrões de referência/perfis de desempenho que acabam por ser impossíveis de quantificar.como por exemplo este:
Indicadores de medida:
. nº de projectos e actividades desenvolvidas no âmbito do PEE, PAA e PCT
. nº de projectos e actividades que coordenou
. nº de actividades em que o docente não participou sem qualquer justificação relevante
. cumprimento dos objectivos previstos na actividade/projecto
. natureza da actividade/projecto
. relevância dos projectos e actividades desenvolvidas
. qualidade na supervisão das AEC (1º ciclo)/componente de apoio à família (Pré-Escolar)
Padrões de referência/perfis de desempenho (para os indicadores acima mencionados):
C.1.1.1.1 – O docente empenhou-se em muitas (mais de 10/ano) e relevantes actividades/projectos, coordenando pelo menos uma delas/ano introduzindo aspectos inovadores no desenvolvimento das mesmas
C.1.1.1.2 – O docente empenhou-se em bastantes (mais de 5/ano) e relevantes actividades/projectos, coordenando pelo menos uma delas/dois anos e, quando não participou, justificou tal facto de forma plausível
C.1.1.1.3 – O docente empenhou-se em algumas (mais de 3/ano) actividades/projectos
C.1.1.1.4 – O docente não se empenhou grandemente nas actividades/projectos
Se reparar, é pedido a cada docente, para obter a pontuação máxima, que se envolva em 10 actividades relevantes, coordenando pelo menos uma delas. Se pensar numa escola com 60 professores, poderá acontecer de num ano lectivo, a escola desenvolver 600 projectos ou actividades. Como poderá o CE medir o empenhamento e a relevância dessas mesmas actividades? Como se dimensiona o empenhamento e a relevância se à partida todos os docentes promoveram a actividade para resolver um problema? Estas actividades têm sempre como um fim levar os alunos a empenhar-se num determinado problema constatado por eles. Vamos supor que o problema para um determinado grupo de alunos era o lixo acumulado no recreio. O docente implementou com os seus alunos um projecto de sensibilização para o problema e desenvolveu-o durante o ano conseguindo que esse problema desaparecesse. Um outro professor, desenvolveu um projecto de expressão dramática e levou os seus alunos a dramatizar uma obra. Essa obra foi depois levada para o exterior, envolvendo os pais na confecção de roupas etc... Esta actividade foi muito mais visível, mas será que promoveu nos alunos mais competências? Como será que o CE vai decidir qual a mais relevante? Para mim a 1ª é muito mais relevante, mas menos visível. Será que a relevância se vai confundir com visibilidade?
Outro problema nesta avaliação está na contradição entre os normativos e depois os itens. Por ex: na educação especial o normativo 3/2008 refere que cabe ao docente titular de turma a coordenação e implementação do Plano Educativo Individual (PEI), mas é o professor de Ed. Esp. que é avaliado pelo resultado do mesmo. Ainda no que refere à Ed. Esp, no meu agrupamento de escolas, cada professor tem em média 12 alunos, tendo apenas uma carga horária de 2 horas semanais com cada aluno. Como pode um professor implementar um PEI com esta carga horária?
(H)
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(...) no que diz respeito à Educação, permita-me que discorde em parte consigo. 20 anos de ensino, algumas leituras e reflexões dar-me-ão alguma autoridade para opinar sobre o assunto, o que lamento não ser o caso de toda a gente neste país. Somos um povo de "palpitadeiros", perdoe-me o neologismo.
A Educação estava de facto mal, toda a literatura científica sobre o assunto apontava nesse sentido. Os problemas estavam bem identificados nos extensos estudos que foram publicados sobre a Educação do "antes". Porque não duvidemos, haverá uma educação do "antes" e do "pós" era Socrática...
O que mais me tem confundido, e me leva a partilhar a opinião de um trio ministerial autista aos reais problemas da educação é esse mesmo: a incapacidade (ou recusa?) em reconhecer os bloqueios de um sistema de educação dos mais adiantados em termos teóricos e dos mais ineficientes em termos de aplicação.
O problema podia também estar ao nível dos professores, mas não estava só. Posso apontar vários aspectos que funcionavam mal, mas que não irão melhorar. Este ministério ignorou-se, ou subverteu-os atribuindo a responsabilidade da sua inoperância aos professores. O objectivo é claro, tal como no sector da saúde: privatizar, privatizar, privatizar. A política não é o meu forte, e nem irei por aí, mas essa não é a minha concepção de escola. A escola é de todos e para todos.
A avaliação dos alunos não estava adequadamente implementada. O reforço da importância dos exames para o rigor (rigor de quê?!), não a veio melhorar de forma alguma. A avaliação dos professores, que sempre existiu, nunca foi devidamente aplicada. A formação que permitia aos professores progredirem na carreira era aprovada e frequentemente paga pelo estado. Os formadores eram acreditados pelas estruturas do estado. Os professores não melhoravam as suas práticas, a formação estava frequentemente desfasada das necessidades do sistema, sabiam-no? Porque não respeitar as regras do jogo, nomeadamente incumbindo as Escolas Superiores de Educação da formação contínua, finalidade para que foram criadas e não para formação de professores 2 em 1?
A Educação Especial não funcionava ou funcionava mal pontualmente? Porque não aplicar a lei e recorrer às estruturas existentes (Coordenações das Áreas Educativas, Equipas de Coordenação da Educação Especial) para pôr ordem no sector. É claro que tal implicaria que prevalecessem critérios de competência e não políticos para a escolha dos coordenadores. Do tempo do governo PSD / CDS-PP, foi caricato, em certas Coordenações e Direcções Regionais, o baile de cadeiras para a divisão dos lugares entre estes dois partidos. Mudámos para um governo PS, recomeçou o bailinho das estruturas...
Seria exaustivo enumerar todos os problemas, que foram pura e simplesmente postos de lado, é mais fácil culpar os professores: a fixação geográfica dos professores, a falta de equipas multidisciplinares para quebrar o isolamento da escola face aos desafios da era moderna (indisciplina/ violência, drogas, famílias destruturadas, instabilidade económica, que se foi aliás agravando com este governo. Se a escola já não lhe respondia antes, imagina-se agora...)
A situação está à imagem do debate dos prós e contras: a Ministra bate no ceguinho, alguns professores emitem barbaridades sem se aperceberem sequer disso, e o professor Formosinho procura defender que se calhar o que está mal é a própria estrutura da escola. Dizia ele : porquê haver turmas? A escola está em mudança é urgente adaptarmo-nos às necessidades criadas. A escola tem de mudar.
A minha opinião é: mimem os professores, dêem-lhes formação adequada, acompanhem-nos, dêem-lhes condições físicas, materiais e psicológicas, ajudem as famílias. E depois exijam. Exijam. Eu agradecia. Sentir-me ia mais amparada, e talvez reconhecessem finalmente o valor dos bons.
(Conceição Faustino)
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Em 2006, relendo o “Estado de Sítio” de Albert Camus, senti como proféticas estas palavras relativamente:
a) aos professores:
"Nada: (...) imaginam que tudo está na ordem. Não, vocês não estão na ordem, vocês estão na fila. Bem alinhados, de ar tranquilo, vocês estão maduros para a calamidade. (...) Quanto ao resto não se incomodem , há quem se ocupe de vocês lá em cima. E vocês sabem o que isso dá: os que se ocupam de nós não são complacentes!”
b) à Ministra da Educação:
“A Peste: Eu reino, é um facto, é por consequência um direito. Mas é um direito que não se discute: vós deveis adaptar-vos.”
“A Secretária: A nossa convicção é que vocês são culpados.
(«Temos professores a mais e com fracas competências», dizia a Ministra em Maio de 2006)
(...) É preciso ainda que vocês próprios se sintam culpados. E não se sentirão culpados enquanto não se sentirem fatigados. Estamos a fatigá-los, eis tudo. Quando estiverem derreados de fadiga, o resto irá por si.”
Para terminar, e também sobre a avaliação:
"(...) e as avaliações e os exames diminuem as poucas forças internas capazes de mobilizar os indivíduos, (...) Longe de lhe [à sociedade portuguesa] insuflar força anímica, retiram-lhe energia, envergonham-na sem a estimular."
(Portugal Hoje, O Medo de Existir, José Gil, Relógio D'Água, p. 82)
Rui Monteiro (professor de Educação Tecnológica na EB 2,3 Luís de Sttau Monteiro, Loures)
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Há quase vinte anos que estou na educação, nunca fiz uma greve, não sou militante de nenhum partido e nunca fui a uma "manif ". A minha carreira profissional teve início no ensino privado, onde permaneci cerca de dez anos. O que oferecia eram baixos salários, pouco investimento na formação dos docentes. A situação económia estava sempre à frente do investimento ao nível pedagógico. Considerei que tinha chegado a hora de sair.
Ao optar por passar para o ensino público, verifiquei melhorias a nível salarial, mas um sistema pouco receptivo a mudanças, burocrático e instalado. Os colegas que estavam ligados aos sindicatos tinham ainda mais regalias, as avaliações de desempenho, pouco assertivas, em suma a escola existia mais para os professores e menos para os alunos.
Era importante mudar, ajustar, fazer alterações. Surgiram os agrupamentos de escolas e as alterações pouco a pouco tornaram-se visiveis. No entanto era necessário continuar com as mudanças, fazer reformas, mexer em interesses instalados.
Quando este governo começou a fazer alterações, considerei que as mudanças seriam graduais, apesar de não sentir grande empatia pelo PM. Começam as revogações das leis, alterações nos concursos, surgem as extras currículares, as aulas de substituição e ninguém esclarecia ninguém, tudo era imposto,
Instalou-se a incerteza, o medo, o sentimento de injustiça e por fim a revolta. O autoritarismo, a falta de diálogo, leis atrás de leis, sem qualquer espaço nem termpo, para as aplicar.
Estatísticas sem veracidade ao nível do conteúdo, combate ao insucesso e abandono escolar, com conteúdos programáticos sem qualquer exigência, desordem total!
Retirei, como mãe, a minha filha das extra currículares, por não existirem condições, nem ao nível das estruturas fisícas, nem técnicos qualificados, estes, arranjados à pressa pelas Associações de Pais e Câmaras Municipais, enfim um verdadeiro depósito. Por fim a cereja no bolo, acabar com ATLs porque os pais saiem todos do trabalho às 17h30, foi genial!
Vou para a rua, vou pela 1ª vez a uma "manif" porque considero que "não é com vinagre que se apanham moscas", farta de mentiras, de injustiças, de pagar cada vez mais impostos e ter de reduzir cada vez mais, em quase tudo. Ver reduzir o IVA nos ginásios, quando o leite, o pão, as papas e os bens essenciais das crianças a subir.
Familías cada vez mais necessitadas e medidas sociais, que apenas contribuem para a maior produção de crianças nas classes mais desfavorecidas com o objectivo de irem buscar subsídios. O resultado são o aumento das crianças em centros de acolhimento, para adopção. Aumento do número de contribuiçóes do já pouco dinheiro dos contribuintes.
Trabalhar! Sempre o tenho feito e farei enquanto conseguir e for útil, porque a reforma está longe e provavelmente inexistente, mas desta forma, para chegar onde?
Vou em protesto, vou! Contra todos os políticos, que estão instalados na carreira e nada mais fazem do que proteger os seus interesses, marionetas dos grandes grupos económicos. Para onde nos vão levar, onde fica a nossa cultura? O nosso contexto social? Para onde foi parar o referendo, para passarmos a ser uma federação da Europa, o sonho de Robert Schuman e Jean Monnet.
A comunicação social sem qualquer independência, com reportagens só aceites pela censura "socrátrica". As maiorias são perigosas, porque eles vêm disfarçados de D. Sebastião, que nunca mais voltou, porque não chegou a partir, está em cada um de nós, nas nossas consciências, nos nossos valores éticos, no altruismo e sentido de justiça.
Clicando na fotografia fica na boa dimensão. Para se ver
Segurança em torno do Teatro Mariinsky (S. Petersburgo) onde Vladimir Putin assiste a um concerto privado.
(..) no St. Petersburg Times pode-se ler uma noticia sobre o concerto a que Vladimir Putin assistiu na passada quarta-feira. (ao qual se referem as fotografias que lhe enviei com a segurança em torno do teatro). Não e' de todo coincidência que em véspera de eleições, Putin decida homenagear cantores tão queridos do publico russo, como a nova "diva" Anna Netrebko, e anuncie aumentos dos subsídios para um teatro que esta' tão no coração dos russos como o Mariinsky. Seria normal que nesta altura escrevesse algumas linhas sobre as eleições na Rússia mas para ser sincero nao me apetece, porque na realidade, uma vez mais não havera por aqui verdadeiramente qualquer eleição. Esta tudo mais do que determinado, e o suposto acto eleitoral e uma encenação que nem se esforça muito por disfarçar a fraude.
Mas gostaria de partilhar um pequeno comentário que me fez um destes dias o concertino da Orquestra Filarmónica de St.Petersburgo. Contava-me ele, em conversa de café, no intervalo de um ensaio, como foi a sua passagem por Lisboa há cerca 2 semanas, quando se houve pela televisão a voz de Putin. Ele faz uma pequena careta (como quem diz "nao gosto deste tipo"), e depois diz: "mas pela música e pelos músicos, so' fez coisas boas!" E' por estas e por outras que, independentemente de alguns métodos menos ortodoxos usados, e perante a incompreensão de muitos ocidentais, Putin goza de tanta popularidade entre os russos!
LENDO VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 29 de Fevereiro de 2008
A quantidade de correspondência que está a chegar ao Abrupto sobre os serviços dos CTT, de que se publicam aqui alguns exemplos, mostra que a exibição malcriada e arrogante ontem na SICN do seu responsável nomeado pelo governo, esconde muita incompetência e maus serviços de uma empresa pública que despreza os seus utentes como o seu administrador despreza as regras de civilidade e a obrigação de prestar contas.
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Poucas vezes tive mais pena de não poder escrever de imediato, com bastante fúria aliás, do que quando ouvi ontem na SICN o gestor destacado pelo PS para os CTT, Luís Nazaré, responder com uma grosseria e má educação sem limites, às críticas da DECO aos serviços dos correios. Espero que a SICN coloque em linha esses longos minutos de insultos, de arrogância, de recusa liminar de qualquer crítica, no fundo para disfarçar uma desresponsabilização fundamental: a administração dos CTT não assume a responsabilidade pelo correio normal, não registado, o correio dos cidadãos comuns que não podem esperar que comprar um selo, ou seja pagar um serviço ao estado, lhes dê a garantia que a carta chega ao destino. Não ficou aqui o protesto em directo, fica em diferido.
Em relação aos serviços que os CTT prestam, gostava de referir alguns aspectos que, por serem factos (e não opiniões), têm algum interesse:
Lembram-se das etiquetas amarelas de «Publicidade não endereçada - aqui não, obrigado» que os CTT davam? Pois já não dão.
Lembram-se dos envelopes selados, de correio normal? Pois já não se fazem.
Lembram-se de um serviço que permitia, mediante pré-pagamento, que se enviasse uma carta escrita no computador - e que era enviada por www.ctt.pt? Pois deixou de funcionar.
Lembram-se dos quiosques que permitiam aceder à Internet em muitas estações? Pois foram retirados.
Lembram-se de os quiosques de venda de selos aceitarem cartões (nomeadamente os NetPost, que os próprios CTT vendiam por €5,49)? Pois deixaram de os aceitar.
Conhecem alguma estação onde se possa pagar com cartão multibanco? Pois eu não conheço.
E deixo a melhor para o fim:
Quase todos os dias tenho de ir a uma estação dos CTT comprar selos para envio de livros e, naturalmente, esperar na fila. No entanto, existe lá uma máquina de venda de selos que, depois de alguns "cliques", me pede para colocar o envelope na balança. Pois em seguida informa-me que o meu pedido não pode ser satisfeito porque a encomenda "pesa mais do que 0 (sim, ZERO!) gramas"!
De vez em quando, a propósito de um caso ou outro, reclamo. Mas as cartas de resposta (que, reconheço, sempre vêm) são "chapa-três" - limitam-se a agradecer a minha informação... e tudo fica na mesma.
(C. Medina Ribeiro)
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Telegraficamente, aconteceu-me hoje nos CTT (estação da Av. Igreja):
Quero fazer reexpedição de correspondência.
Preencheu os papéis?
Sim, minha senhora aqui os tem (dou impressos obtidos via Net).
Esta gente toda?
Sim, porque está aí para além de mim e da minha mulher, a minha Mãe, já falecida, e o meu filho mais velho.
Tem tudo que assinar.
E eu com ar de espanto: desculpe? Ó minha senhora, eu e a minha mulher, está bem, mas repare que nos outros casos não é possível: a minha Mãe porque já faleceu e o meu filho porque só tem 5 anos.
Não, não. Tem tudo que assinar. ( e continua) Olhe, para já não é possível reexpedir correspondência dos mortos (sic), depois, quanto ao seu filho, diz para ele pôr a impressão digital.
(aí, perdi a paciência e alguma compostura) Desculpe-me, minha senhora? A senhora tem a mínima noção do que está a dizer? Tem a noção ou não tem? Primeiro é possível sim senhora a reexpedição de correspondência de pessoas falecidas, porque eu próprio utilizei esse serviço durante cerca de um ano, depois, acha que vou dizer ao meu filho mais velho para pôr o dedo aqui neste papel?!? É que não tenha dúvidas que não vou!
(diz-me ela, sem perder o perfil de incompetente) Só um momento que vou falar com a chefe da estação.
(passados 2 mn) Olhe, ainda é pior do que lhe disse da primeira vez: não só não pode reexpedir correios dos mortos (sic), como do seu filho também não.
(eu) Chame a chefe da estação.
(ela) Só um momento.
Chega a dita com ar empertigado: Diga, sff.
(eu) Ó minha senhora, pode dizer-me como é que esta senhora funcionária me está a dar uma informação comprovadamente errada quanto à reexpedição de correspondência de pessoas falecidas?
(ataca ela logo) Sim senhor! Isso é impossível! As pessoas não percebem que os Correios fazem isto para protecção dos interesses das pessoas!
(eu) Ai é? Então a defesa desses interesses significa, de acordo com o que me estão a dizer, que as pessoas que falecem não podem deixar ninguém… (hesitei) vivo, porque esses não podem receber directamente qualquer correspondência, é isso? Então isso também significa que o que os mesmos Correios me fizeram há um ano e tal está errado, é isso?
(ela) É isso mesmo. (!!!!)
(eu) Olhe, minha senhora, não vou entrar nesse plano de discussão, porque é demasiado ridículo. Apenas lhe digo que se se enganaram, enganaram-se bem! Bom dia.
(cerca de uma hora depois, na Loja do Cidadão). Tratam-me com competência e simpatia (decidi entretanto eliminar o nome de minha Mãe) No fim, pergunto: Olhe minha senhora, só por curiosidade: é possível a reexpedição de correio de pessoas falecidas?
Resposta pronta: claro que sim, desde que junte cópia simples da habilitação de herdeiros.
(eu) Muito obrigado pela informação.
(ela) Com muito gosto.
Veja as diferenças. Sinceramente, não há comentários possíveis.
(Rui Esperança)
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(..)os CTT tornaram-se para mim, já há uns anos, um ódio de estimação:
Em 1990 paguei para, durante 3 meses (se a memória não me falha), ter o correio reencaminhado entre duas moradas em Lisboa: nem uma única carta foi reencaminhada.
Depois fui viver para a zona velha de Almada: vivo numa Travessa que tem os números de porta (muito bem indicados) como: 3, 3ª, 3B e 3C.
E há uns anos que acontecem coisas estranhas: o correio normal chega, por norma, uma vez por semana (ou quinzenalmente) por atacado: como se os meus fornecedores de serviços e os simpáticos da publicidade combinassem colocar as cartas no correio num determinado dia (embora com datas de envio diferentes, claro).
O correio registado já apresenta mais alternativas: por vezes alguém recebe o correio registado e coloca a carta respectiva por baixo da minha porta (sendo que a minha porta só dá para 2 casas, e não é essa vizinha a assinar os avisos, não sei quem o faça), esta é sem dúvida a melhor opção.
Noutras alturas, aparece o aviso para ir levantar o correio vários dias depois da data aposta nele.
Já aconteceu estar de férias, sair de casa às duas da tarde, e encontrar um aviso dizendo que ninguém tinha atendido às 11.00 da manhã (a minha campainha até um morto acorda….).
Há poucos meses, concorri a um concurso interno na CML e recebi, no meu local de trabalho, a carta de notificação para apresentar reclamação à lista de candidatos aceites, que me tinha sido enviada para casa e devolvida à CML com a indicação “não reclamado”. Escusado será dizer que nesse não me ausentei e nunca recebi nenhum aviso.
Quanto a reclamações: os CTT da Praça do MFA recusam-se a receber reclamações, dizendo que as mesmas têm que ser feitas na estação do Pragal. Uma vez até me dei ao trabalho de ir reclamar por escrito. E funcionou: recebi um telefonema a saber se os problemas já estavam ultrapassados e, de facto, durante umas semanas recebi tudo com regularidade, mas depois voltou à confusão do costume. E Eu, preguiçosa como sou, não voltei a reclamar.
(Brígida Carvalho)
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Cópia de carta enviada ao Presidente dos CTT (por mail), a 29 de Dezembro de 2006, ainda sem resposta.
Exmo. Senhor
Dr. Luis Nazaré
Presidente do Conselho de Administração dos CTT
A 27 de Setembro, precisei de enviar uma carta para o estrangeiro. Como não sabia qual era o selo e se a carta precisava de ser pesada, fui a uma estação dos CTT. Aliás, mesmo que soubesse, teria que ir na mesma porque a máquina de venda de selos mais próxima (na 5 de Outubro) esteve avariada durante meses e não estive para perder tempo a verificar.
Na estação dos CTT da Avenida 5 de Outubro, havia 4 ou 5 clientes quando cheguei, às 14h38. Enquanto esperava vi que a estação parece um supermercado brinquedos, livros duvidosos, canetas, ursos de peluche, pulseiras, copos, uma parafernália de brindes. Mas comprar UM SIMPLES SELO é que foi o diabo!
A senha estava no 232 quando cheguei. A minha era o 243. Havia poucas pessoas à espera, o que significa que outros clientes desistiram e tinham ido embora. O 232 esteve parado até às 15h00!
Havia 4 empregados a atender o público:
- Um deles só mexia em papéis (se é para mexer em papéis, escusava de estar ao balcão, a presentear-nos com o seu ar burocrata);
- Uma senhora só atendia para assuntos financeiros, com ar despachado;
- O 3º passava a vida a “ir lá atrás” buscar não se sabe bem o quê, uns papéis...
- A 4º, mal terminava de atender um cliente, descansava longamente, olhando para cima, para baixo e para os lados, antes de chamar a senha seguinte.
Como barulho de fundo, meia dúzia de vozes femininas, atrás do balcão, rindo regaladamente com uma criancinha que foi de visita à estação, mostrar as suas graças infantis. Perante a minha indignação, a que se juntou a dos outros clientes, a 4ª funcionária disse que era hora de almoço!
Fui atendida às 15h12, um atendimento que demorou menos de 1 minuto. 34 minutos à espera de ser atendida, para comprar um simples selo, parece-me um poucochinho exagerado, em dia de ponte, com a estação/supermercado praticamente vazia. O selo custou-me cerca de 2 euros, mais 34 minutos de espera.
São estas as maravilhas que tem para nos oferecer a gestão moderna e eficiente dos CTT? Eu quero lá saber dos Action Man ou dos restaurantes que têm nas estações! Eu quero é entrar numa estação e comprar um selo, em poucos minutos.
Será que alguém pode, pf., pensar um bocadinho sobre o que levará uma pessoa a entrar numa estação dos CTT?
Muito obrigada
(espero que esta carta chegue bem)
INFELIZMENTE, a história não acaba aqui.
Hoje, 29 de Dezembro, fui à mesma estação comprar um envelope azul nacional para lhe enviar esta carta. Fui à máquina para poupar tempo. Carreguei no único botão que tinha este tipo de envelope (azul, sem janela). Saiu-me um envelope internacional, por 1.8 euros (mas esta indicação só estava no envelope em letras minúsculas, não na prateleira, e só com ele na mão pude verificar).
Os envelopes azuis normais, correio nacional estavam ESGOTADOS. Em compensação, havia imensos Tartarugas Ninja na prateleira do lado. Que pena não servirem para levar cartas!
Tirei uma senha e repetiu-se a experiência – 45 minutos à espera de um grande momento:
Os seus funcionários não queriam trocar o envelope! Diziam que a máquina não faz trocas. Eu perguntei de quem era a máquina e eles responderam: CTT.
Mandei chamar a chefe. Depois de um bate-papo, por especial favor (isto é, para evitar um escândalo maior) lá me devolveu os 1.8 euros.
Conclusão: vou enviar esta carta não por correio, mas por mail.
Se eu fosse presidente de uma empresa que funciona assim, pintava a cara de preto.
Não estou à espera de resposta, mas gostava de a receber.
Com os meus cumprimentos,
Dalila Carvalho
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Não tenho memória em tv, ou qualquer outro meio de comunicação social, de assistir a uma demonstração tão grande de profunda má criação, arrogância e falta de nível. Em nota de rodapé a SIC Noticias identificava o senhor como presidente do Conselho de Administração dos CTT, o qual, aliás, se mostrou logo incomodado de não ter, por parte da DECO, um parceiro ao seu nível hierárquico. Penso que a minha estupefacção não era menor do que a da jornalista e do próprio representante da DECO, esse sim que como pessoa educada que demonstrou ser, conseguiu não baixar o nível do debate, que devia ser o que queria o seu oponente.
Disse ainda, o tal senhor que os CTT estavam entre os 10 primeiros serviços de correio do mundo. Estiveram, será correcto e justo afirmar.
Não utilizo os CTT com regularidade. Recebo, no entanto, correspondência, aqui em Lisboa. Mas de há uns anos a esta parte é ver a correspondência que me é destinada e aos meus vizinhos, trocada com outros prédios da rua, sem qualquer justificação plausível, tamanho é o disparate. O que se observa é um corrupio de carteiros, ou seja mudam com muita frequência. Assim sendo o nível de confiança é, naturalmente, muito baixo.
O senhor acabou por prestar, junto de quem assistiu ao jornal da noite, um serviço à DECO.
(Rosa Barreto)
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Resido no Porto, na Rua X, no 5.º andar esquerdo do n.º 848. Na minha caixa do correio, foi hoje depositada uma carta dirigida ao senhor Yunjie Zhu, residente na Rua X, n.º 856.
Por outro lado, este mês não paguei a conta da luz, porque a determinada altura tive a peregrina ideia de aderir à VIA CTT (lembram-se?). As facturas da luz chegam-me agora ao site da VIA CTT em formato PDF e eu recebo um mail a avisar-me da respectiva entrada. Este mês, recebi o mail de aviso, mas sempre que me dirigi ao site para abrir a factura em PDF, saiu-me uma janela pop-up a advertir-me da impossibilidade de executar a operação. Resultado: não pude recolher os números de referência e o montante, para, como é costume, proceder ao pagamento no multibanco. Por causa dos CTT, estou em mora com a EDP.
(António Cardoso da Conceição)
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Nesta polémica sobre os serviços prestados pelos CTT, que ria chamar a atanção para uma questão, que se cinge normalmente ao meio filatélico, sobre a política de emissões filatélicas dos CTT e, particularmente, para a política deliberada de apagamento da memória. Os CTT têm um rpograma filatélico com a emissão anual de muitos selos. Nem tudo pode caber neste plano de emissões e nem sempre se pode agradar a todas as sugestões que são feitas. Porém, como confessa o director da Filatelia nos CTT no seu blog, estes têm uma política deliberada de apagamento da memória cultural do país, esquecendo-se de lembrar os centenários de nomes tão importantes da nossa cultura como António José da Silva, Francisco Manuel de Melo, Adolfo Casais Monteiro. Dizem os CTT que isso não interessa aos potenciais clientes que compram selos por impulso. Assim se desreponsabiliza uma empresa pública do seu importante papel institucional de divulgação, embora mitigada, da nossa cultura. Aproveito para lembrar que os CTT são de alguma forma sensíveis à crítica: deixaram de emitir selos sobre as máscaras populares por pressão da Igreja Católica, porque alegadamente reproduziam o Diabo...
(António Carvalho )
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Hoje cheguei a casa depois de 5 dias fora. Na minha caixa do correio tinha meia duzia de cartas que eram para vizinhos. Os endereços dessas cartas estavam correctos. Fiz a função do carteiro e distribuí-as pelas caixas certas. Nunca tal aconteceu antes.
(Eduardo Tomé)
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Desculpem lá estragar a festa, mas tenho uma história verídica para contar sobre os CTT. É contra a corrente, mas enfim...aqui vai. Tenho uma tia no Porto, chamada Margarida, mas conhecida por Nena, que um dia recebeu uma carta de uma amiga que vive na Venezuela, com o seguinte endereço: NENA -Porto. A minha tia não é figura pública,o Porto é uma cidade um pouco maior do que a Marmeleira, mas a verdade é que a carta lhe foi entregue pelo carteiro. Demorou cinco meses a chegar ao destino, mas a verdade é que chegou. Como? Não sei! ATENÇÃO! Isto é verdade, não é PUBLICIDADE!
DECLARAÇÃO DE INTERESSES: Não sou do PS, não conheço o Dr Luís Nazaré e não tenho acções dos CTT
(Carlos B.Oliveira)
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Enviou-lhe mais um exemplo, passado comigo, de como andam os serviços dos CTT:
Informação obtida através do serviço dos CTT (nem tudo é mau nos CTT) que indica os passos porque passou uma encomenda minha, vinda do estrangeiro, desde a chegada à Central de Cabo Ruivo até me ser entregue:
Cabo Ruivo ao Paço do Lumiar convenhamos que é um bocadinho demais.
(Pedro Bandeira)
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Eu sou professor e irei à manif do dia 8. Lendo os relatos absurdos acerca dos serviços dos ctt, não pude deixar de pensar em como isso tudo vem já no seguimento de um ensino deficiente. Um dia recebi uma encomenda onde vinha manuscrito a indicação "A quebrar: 5$00". Faz lembrar aquela citação: "Se acham o ensino dispendioso, experimentem a ignorância"
A instrumentalização do ensino público para fins puramente eleitorais, com o combate ao insucesso e ao abandono escolar por quaisquer meios para obter resultados estatísticos fraudulentos, está a levar os professores a situações limite. Cada vez mais ouço casos de professores que pura e simplesmente deixam de transmitir conhecimentos a turmas inteiras, ou a alguns alunos dentro de uma turma, porque é simplesmente impossível.
(Jaime Braz)
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Com o presidente dos CTT a falar assim na televisão, como poderemos esperar um atendimento respeitoso por parte dos seus funcionários nas estações? Que eu saiba ninguém se queixou do estravio de cartas( e aí devemos felicitar o senhor pelos escassos 3%,). Os problemas surgem quando entramos numa estação dos Correios.
Un homme qui s'aimait sans avoir de rivaux Passait dans son esprit pour le plus beau du monde: Il accusait toujours les miroirs d'être faux, Vivant plus que content dans une erreur profonde. Afin de le guérir, le sort officieux Présentait partout à ses yeux Les conseillers muets dont se servent nos dames: Miroirs dans les logis, miroirs chez les marchands, Miroirs aux poches des galands, Miroirs aux ceintures des femmes. Que fait notre Narcisse? Il se va confiner Aux lieux les plus cachés qu'il peut s'imaginer, N'osant plus des miroirs éprouver l'aventure. Mais un canal, formé par une source pure, Se trouve en ces lieux écartés: Il s'y voit, il se fâche, et ses yeux irrités Pensent apercevoir une chimère vaine. Il fait tout ce qu'il peut pour éviter cette eau; Mais quoi? Le canal est si beau Qu'il ne le quitte qu'avec peine.
On voit bien où je veux venir. Je parle à tous; et cette erreur extrême Est un mal que chacun se plaît d'entretenir. Notre âme, c'est cet homme amoureux de lui-même; Tant de miroirs, ce sont les sottises d'autrui, Miroirs, de nos défauts les peintres légitimes; Et quant au canal, c'est celui Que chacun sait, le livre des Maximes.
Sempre caro mi fu quest'ermo colle, E questa siepe, che da tanta parte Dell'ultimo orizzonte il guardo esclude. Ma sedendo e mirando, interminati Spazi di là da quella, e sovrumani Silenzi, e profondissima quiete Io nel pensier mi fingo; ove per poco Il cor non si spaura. E come il vento Odo stormir tra queste piante, io quello Infinito silenzio a questa voce Vo comparando: e mi sovvien l'eterno, E le morte stagioni, e la presente E viva, e il suon di lei. Così tra questa Immensità s'annega il pensier mio: E il naufragar m'è dolce in questo mare.
LENDO VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 25 de Fevereiro de 2008 (2)
O debate Zapatero - Rajoy transmite a dureza da vida política espanhola, mais radicalizada do que a portuguesa. Mas, no seu conjunto, mostra em ambos o esgotamento deste tipo de retórica política, deste teatro estudado ao milímetro, feito de acusações mútuas, que resulta cansativo e estéril. O que é que acontecia se aparecesse alguém a falar normalmente com dúvidas, reconhecendo erros, hesitações, com convicções mas sem tanta certeza, discutindo mais do que proclamando? Cada vez me parece mais que talvez, talvez, tivesse uma oportunidade. Não sei. talvez.
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Estou absolutamente de acordo consigo quanto ao debate Zapatero - Rajoy e ao cansaço causado pelas certezas absolutas. Mas não estará você a cair em contradição com a sua própria atitude frequentemente pouco nuancée - veja por exemplo o que escreveu sobre Obama, a última entrada sobre o Insurgente ou a fobia do futebol. Não me entenda mal: eu acho muito bem que pense nas coisas e que escreva sobre elas e infelizmente há poucos por aí a fazê-lo com liberdade; acho é que também sofre dessa tendência de pintar a preto ou branco.
(Pedro Barbosa)
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Há anos que me faço essa pergunta, convicto que estou que seria bem diferente e aceite (ainda que ao princípio com alguma resistência) quem tivesse um comportamento “humano” em cenário político. Penso, muito sucintamente, que um dos problemas reside nas máquinas partidárias, nas agências de comunicação e afins que, pura e simplesmente, trituram quem possa vir com novas ideias acerca de uma abordagem diferente e mais honesta aos temas de debate. Para que tal não acontecesse, seria necessário um líder forte e com personalidade, que não se submetesse à lógica político-partidária. Ora, é visível que esses – a existirem – estão longe destas coisas, porque não estão para isso.
(Rui Esperança)
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Não se estará a referir a António Guterres? Ele era justamente assim, com dúvidas, humanista, hesitante por vezes. Mas não foi precisamente por aí que se iniciou o "ataque" ao então primeiro-ministro? Depois veio a presidência da UE (distanciamento da política interna, disse-se então, como se a política comunitária não fosse, também ela, interna, ou de interesse nacional) e os jornais, seleccionando as piores fotografias para publicar (a partir de 2001) fizeram o resto. A António Guterres não foi feita ainda, na minha opinião (claro), justiça ao seu trabalho enquanto PM, nem mesmo depois de Durão-Santana-Sócrates. Tenho muita pena que se tenha demitido, desde então, não temos tido homens a governar sem ser pela arrogância e pela mentira.
(Samuel Freire)
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Queria chamar-lhe a atenção para o adensar do clima de tensão social e política que se vive em Espanha com o aproximar das eleições de 9 de Março. O PSOE apresentou o guia do candidato para a campanha e o assunto promete dar que falar por aqui. No documento define-se a estratégia que deve seguir o discurso dos políticos socialistas durante a campanha. Cumprindo com a linha retórica da esquerda no que toca a períodos pré - eleitorais, sugere-se explicitamente o recurso à caricatura da direita, a exploração do estereótipo habitual que a cola à extrema-direita, que insiste no seu carácter autoritário, retrógrado, anti-social e agressivo por contraponto à esquerda socialista: moderna, progressista, justa, afligida pelos problemas sociais, moderada, defensora dos pobres e oprimidos. O guia é de tal forma descarado no convite que faz à exploração política de uma imagem preconceituosa e enviesada que mais parece um manual de demagogia ou de manipulação de massas. E o pior é mesmo o despudor com que o assume e as consequências que está a ter.
Enquanto o guia do PSOE alerta os espanhóis para o autoritarismo da direita, vem da esquerda a selvajaria que nos últimos dias tem impedido a liberdade de expressão sob aquela aura romântica do “intelectualismo inconformado” que a contracultura de 68 criou. Nos últimos 15 dias houve tentativas organizadas de agressão a dirigentes do PP como Maria San Gil em Santiago de Compostela, Dolors Nadal, impedida de falar em Barcelona, Franscisco Granados e Juan Guermes também do PP e Rosa Diez, do novo partido UPyD em Madrid. Aqui na Faculdade de Ciência Política da Complutense, a cartilha neomarxista não deixa espaço ao “outro”. Quem não partilhe a perspectiva da “dominação simbólica” que nos define a todos como cúmplices do capitalismo opressor e é a preferida de quem opta pelo modo de vida do “perro y porro” ou quem apresente o menor sinal de “aburguesamento” está automaticamente sujeito ao clima insuportável de intolerância, denúncia e acosso. Esse mesmo que dissuade qualquer visita académica que ouse problematizar ou reflectir criticamente sobre os adquiridos e o “dogmatismo preguiçoso” da esquerda, que era justamente o que se propunha fazer a presidente do novo partido surgido em Espanha e que junta personalidades reconhecidas como por exemplo o filósofo Fernando Sabater.
A estes episódios somam-se ainda os vídeos da “Izquierda Unida” colocados no youtube em que se pode ver o avatar do próprio líder (Llamazares) a queimar uma fotografia da família real numa daquelas acções de fanfarra tão típicas na estética de acção da extrema esquerda europeia. Sem deixar de ser contraditório é de facto notável o modo como a Revolução se aproveita tão bem dos veículos de informação e da lógica sensacionalista que critica no capitalismo para ganhar a atenção e o protagonismo que o sufrágio popular lhe nega sistematicamente.
Faltam duas semanas para as eleições e tenho a impressão de que todo o ambiente de profunda crispação social e política que desencadeou um governo acidental, “repescado” entre os dias 11 e 14 de Março de 2004, se vai condensar nestes 15 dias à volta de temas tão actuais na vida política de Espanha como os separatismos vasco e catalão, o estatuto da Igreja Católica, a nova disciplina de “Educación para la Ciudadania”, que é pouco menos do que uma tentativa de “alinhar” os adolescentes espanhóis no politicamente correcto do socialismo “moderno”, a lei de memoria histórica, um capricho de Zapatero que reabre a ferida que a Transición tentou fechar com tanto custo para evitar um processo revolucionário como aquele que deixou marcas entre nós, etc.
Acrescento apenas a propósito das agressões que os movimentos feministas, particularmente fortes em Espanha e normalmente lestos a denunciar a violência de género não tiveram uma única palavra de condenação e censura para a cobardia daquela rapaziada tão CHE que abana as bandeiras da tolerância e da diferença mas não deixa falar quem tenha outra opinião a dar. A palavra que se ouviu, essa sim, foi a de Felipe Gonzalez que ironizou sobre o facto de uma das senhoras ter aparentado chorar por ser ver no meio daquele espectáculo. Tendo em conta que se trata do “sábio” mor da UE, às tantas ainda nos vão proibir o choro ou então admiti-lo só para quando soe a Nona…
(Diogo Xavier Madureira)
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Discordo da sua nota sobre o debate. Não creio que seja a retórica política em Espanha mais radicalizada que por cá, o que há sim é uma sociedade mais radicalizada, e sobretudo uma direita perfeitamente canhestra e caceteira. Espanha tem cinco vezes o tamanho de Portugal, e quatro vezes e meia a população, com vários problemas de nacionalidades- País Basco, Catalunha, Galiza( basta ver a posição que está a ter sobre o Kosovo para se perceber que a balcanização não é um fantasma, mas sim uma ameça). Convém não esquecer que Espanha tem uma longa história de guerras civis( não apenas a deste século), de intentonas repúblicanas e de sucessões dinásticas falhadas. E convém recordar que o próprio avô de Zapatero morreu na guerra civil espanhola. Numa manifestação recente um manifestante do PP tinha um cartaz alusivo a esse facto histórico: "Zapatero, bete com tu abuelo", ou seja Zapatero vai ter com o teu avô. Espanha tem a direita mais "caceteira" da europa. O PP não é, de modo algum, parecido com o nosso PSD. É muito mais parecido com o nosso PP que com o nosso PSD, sobretudo na demagogia e no discurso hiperbólico. A atitude de encobrimento que Rajoy teve no 11 de Março faria com que, em qualquer país europeu, nunca mais voltasse a fazer política. Se fosse em Portugal não estou a imaginar nenhum líder do PSD a sobreviver a um tal evento. Porém em Espanha a direita optou sempre por defender quem a esquerda ataca. Não importa quem, nem o quê- se for atacado pela esquerda é porque é bom!... É deste primarismo populista que este PP vive. E esse primarismo populista, gostem eles ou não disso, tem um nome na sua génese: Franco. O discurso da direita espanhola é, sem tirar nem por, o mesmo que o velho ditador tinha. Ao contrário do que sucedeu por cá, muito graças à acção de Francisco Sá Carneiro, um político de excepção, a direita espanhola não mudou com a abertura democrática e continua tão franquista como o era antes da Constituição. O PP é o seu mais que perfeito herdeiro político.
(Pedro Pita Soares)
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O debate Zapatero-Rajoy, na parte em que vi, incluindo os dez minutos iniciais de enumeração de todos os órgãos de comunicação que o transmitiam e a descrição detalhada das regras a que obedecia, fez-me lembrar as óperas chinesas em que até os passos de cada um no palco estão contados e a existência e cumprimento dessas regras são um valor em si mesmo. Confesso que além de pouco interessante me parece quase ridículo. Os temas estão preparados, cada um leva decoradas as suas declarações e há pouca discussão verdadeira. O importante é “fazer passar uma mensagem”, mesmo que não seja em diálogo efectivo com o interlocutor. Há que parecer sereno, parecer seguro, parecer confiante, parecer respeitar as regras, parecer sério, parecer agressivo sem ser violento, parecer dominar os assuntos, especialmente números, parecer que já ganhou. De alguma forma, fez-me lembrar a entrevista de Sócrates à SIC. Ou seja, um tédio.
Também os blogues portugueses que li entram nos sítios certos, com a voz, a nota, a veste e os passos certos: os que pensam que são de direita acham que ganhou Rajoy, os que acham que são de esquerda acham que ganhou Zapatero. E depois, papagueiam exactamente os mesmos argumentos. Ou seja, a mensagem passou. Sem fífias ou gaffes. E vazia.
A operação militar no Iraque foi uma forma moderna de blitzkrieg, executada por um número de forças bastante reduzido, mas dotado de enormes vantagens tácticas e estratégicas, a começar pelo controlo absoluto do ar e pela superior qualidade do armamento. A capacidade e determinação dos militares americanos debaixo de fogo, marines, forças especiais, soldados e oficiais, revelou-se em múltiplas ocasiões. Apesar de existir um plano estudado até ao mais pequeno pormenor, houve um grau considerável de iniciativa e de adaptação às circunstâncias imprevistas. Entre as páginas mais interessantes deste livro está a descrição do raid final até ao centro de Bagdade comandado pelo coronel David Perkins. A incursão era suposta ser exploratória, mas Perkins, actuando por sua iniciativa, transformou-a no momento da derrota iraquiana, quando resolveu ficar a noite num dos palácios de Saddam. Nessa altura, os americanos pensavam que ainda iriam ter a sua prova de fogo mais dura contra a Divisão Medina, que tinha sido ultrapassada na corrida a Bagdade, mas isso nunca aconteceu.
A "velocidade" da máquina de guerra americana foi no entanto atrasada por formas pouco convencionais de guerra, entre a guerrilha e acções de guerra convencional, que se revelaram a seu modo eficazes e mostraram que havia grupos determinados e organizados para continuar a resistência, mesmo que o "centro" caísse. Não é no entanto líquido que, se a transição fosse melhor gerida, a "insurreição" do Baas e de alguns grupos sunitas não tivesse o sucesso que posteriormente veio a ter. O caos que se instalou quase de imediato com os saques generalizados mostrou as debilidades enormes da ocupação. Resultou de erros de julgamento sobre a possibilidade de manter a máquina do estado iraquiano a funcionar, associados à impossibilidade prática de controlar as cidades devido ao número muito pequeno de tropas, conforme a "economia de forças" defendida por Rumsfeld. Este estava convencido que as tropas americanas chegavam, viam e venciam e depois vinham-se embora. Nunca houve planos sérios para uma estadia muito superior aos seis meses, o que se veio a mostrar completamente irrealista.
Alguns dos erros que hoje são evidentes, têm estado a ser, pouco a pouco, corrigidos, mas já num contexto muito mais hostil e com enormes dificuldades que podiam ter sido evitadas ou minimizadas. A melhoria das condições de segurança, ainda que ténue, parece consolidada, mas há ainda muito que fazer para "remendar" um país que Saddam quase destruiu, com colaboração dos erros e ilusões americanas. Mas a situação ainda é precária, pelo que não parecem ser outra coisa que demagogia as propostas de retirada de candidatos presidenciais como Hillary Clinton e Obama. Se o fizerem, os EUA sofrerão uma enorme derrota política no Iraque muito para além da vitória militar que obtiveram, com consequências gravosas para todo o mundo. Bush tem as suas responsabilidades, mas uma retirada unilateral imediata é do domínio do pesadelo para a segurança do mundo.
Quando escrevi esta nota sobre o livro de Chandrasekaran não sabia que existia uma edição portuguesa das edições 70. Aqui fica a referência.
LENDO VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 25 de Fevereiro de 2008
O Insurgente "ocupado" parece os Avantes falsos que a PIDE fazia. Parecia propaganda comunista e era propaganda anti-comunista. Este parece a mesma coisa: parece esquerdista mas é para ser anti-esquerdista. Só que é tão rudimentar, tão rudimentar, que é tão ineficaz como eram os Avantes, e mostra o mesmo primarismo de aproximação (não me venham dizer que tem graça, porque isto é tão óbvio que não tem graça nenhuma).
Um exemplo da pseudo-linguagem revolucionária do "Insurgente (okupado)":
A tentativa de expor o campo de concentração dos falcões de Washington e de, simultaneamente, apoiar as culturas indígenas e de comércio justo e biológico do camarada Morales, bem como de combater a política opressiva dos bófias estado-unidenses e do lobby farmacêutico sobre a recreação e a cultura, foi deste modo tragicamente interrompida, sem poder dar os seus plenos frutos e avançar a agenda revolucionária.
O Colectivo lamenta somente a falta de arrojo dos nossos camaradas infiltrados na CIA que militam na Europa. Enquanto na frente de combate se sabe conjugar com equilíbrio as causas, e se sabe também transportar ao povo os benefícios da luta, por aqui temos que nos contentar com umas meras escalas técnicas e com a camarada Ana Gomes.
Um exemplo semelhante num Avante falso, onde um pseudo-general Delgado explica como se converteu ao comunismo:
Para isto não valia a pena terem dado cabo do Insurgente.
Quando se escreve sobre história, mesmo muito recente, mapas, guias, roteiros, mapas de estradas, são muito úteis e evitam muita asneira na narrativa. Somo para a minha colecção este Guide et Plan de Lisbonne de dois jornalistas ilustres, Norberto de Araújo e António Soares, que não está datado, mas deve ser do final dos anos trinta, ou anos quarenta. Para se ver como era a zona das Amoreiras antes da ligação à autoestrada e das torres, fica aqui um fragmento do mapa.
Depois vários livros "raros e curiosos", como se diz nos catálogos dos alfarrabistas. Dois vindos dos regimes ditatoriais, um sobre a ofensiva que a URSS e outros países conduziram contra a Espanha franquista (e também o Portugal de Salazar) na muito jovem ONU em 1946; outro, um conjunto de documentação da Itália fascista, destinada entre outras coisas a justificar a entrada da Itália em guerra contra a França em 1940.
Vários para os meus trabalhos sobre a extrema-esquerda:
O de Glucksman, anterior ao Maio de 1968, é um exercício filosófico sobre a "guerra revolucionária", que tenta enquadrar a revolução cubana e o "pensamento de Mao Zedong". Muito do tempo, como a Partisans, a revista fundamental para estes anos e estas situações. Tenho uma colecção incompleta, em grande parte porque era muito difícil obtê-la antes do 25 de Abril, e lá vou comprando número a número, quase sempre nos alfarrabistas estrangeiros. Este número 12 é muito interessante por ter um dos primeiros artigos maoístas europeus de autoria do belga Jacques Grippa. Ao lado está um livro-panfleto de Hill, ele também um dos primeiros maoístas, advogado de Victoria na Austrália, e fundador do PC da Austrália Marxista-Leninista. O PC Belga de Grippa e o PCA - ML de Hill foram casos de sucesso do muito jovem maoísmo, logo nos anos de 1963 e 1964. Por fim, Eldridge Cleaver, o Pantera Negra, candidato presidencial, revolucionário internacionalista que viveu na Argélia, violador de brancas, prisioneiro de delito comum, autor de Soul on Ice, um best-seller, consumidor de crack, desenhador de roupas, cristão born again, tudo o que se podia, devia e não devia ser. O livro Panthére Noir da Seuil é só sobre o revolucionário, mas já se percebe o tumulto interior do personagem.