ABRUPTO

18.2.08


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A GUERRA DO IRAQUE COMO OPERAÇÃO MILITAR (3)

Ver 1 e 2.

Um dos aspectos a que a planificação operacional americana deu muita atenção foi a possibilidade de utilização pelos iraquianos de armas químicas ou biológicas na guerra. Os militares consideravam essa possibilidade muito a sério e, contrariamente às teses dos que afirmam que a administração Bush estava de forma deliberada a mentir sobre a sua existência, tudo aponta para que acreditavam de boa fé que os iraquianos as tinham. Em várias ocasiões, os recursos escassos do exército e das forças especiais tinham sido atribuídos a missões de controlo de locais que se considerava terem armamento químico e biológico, houve vários falsos alarmes, e os soldados tiveram que transportar, usar e às vezes combater, debaixo de condições muito difíceis, os seus fatos protectores.

Aliás, conforme revela o livro, também os comandantes iraquianos estavam convencidos de que essas armas existiam e quando, em vésperas do conflito, Saddam os informou da sua inexistência, uns ficaram surpreendidos, outros continuaram a achar que ele as tinha escondidas, provavelmente sob comando de um pequeno grupo de fiéis dirigido pelos seus filhos, Uday e Qusay. No "Cobra II" não só o próprio desenvolvimento das operações tinha em conta a possibilidade de um ataque com armamento não convencional, como havia o convencimento que, à medida que as tropas dos EUA se aproximassem da linha "vermelha", inscrita no plano de defesa iraquiano, à volta de Bagdad, Saddam utilizaria esse armamento como último recurso. Os americanos tinham obtido, através de uma fonte iraquiana da CIA, esse plano de círculos concêntricos de linhas defensivas, uma das quais estava a vermelho. A interpretação do plano era errada, mas, em nenhum momento antes do conflito fora posta em causa a existência de tais armas pelos militares dos EUA, que se prepararam com cuidado para a hipótese de serem atacados com esse armamento pelos iraquianos.
(Uma discussão sobre a interpretação da "linha vermelha" encontra-se no Anexo G (Chemical Warfare and the Defense of Baghdad) em DCI Special Advisor Report on Iraq's WMD, o relatório da CIA que analisa os erros cometidos na avaliação das armas de destruição massiva iraquianas.)
(Continua)

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© José Pacheco Pereira
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