ABRUPTO

18.2.08


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A GUERRA DO IRAQUE COMO OPERAÇÃO MILITAR (2)

O plano de operações para a guerra do Iraque foi resultado de opções políticas essencialmente tomadas por Rumsfeld, aplicadas pelo general Tommy Franks, e que implicavam uma nova concepção da aplicação do poder militar, a que o Secretário da Defesa gostava de chamar de "economia de forças". Rumsfeld era muito crítico da forma como os EUA tinham actuado na Guerra do Golfo e no conflito nos Balcãs. Essa crítica atingia todos os que tinham estado envolvidos nessas operações, a começar pela administração Clinton e a acabar nos diplomatas chefiados por Colin Powell. Rumsfeld discordava da lentidão no acumular de forças, tornada inevitável pelo número de militares e meios envolvidos, que entendia excessivos e dos processos de "nation bulding" nos quais se entrava e depois não se conseguia sair, como nos Balcãs. Opunha aquilo que achava ser uma "revolução" no Pentágono: em vez de uma enorme concentração militar, que demorava meses a juntar, queria forças pequenas, rápidas, móveis, com utilização predominante de tropas especiais, apoiadas em armamento tecnologicamente avançado. Inteligente, muito capaz, meticuloso, persistente, autoritário, querendo controlar tudo ao mais ínfimo detalhe, afastando liminarmente quem se lhe opunha, Rumsfeld queria aplicar os seus novos conceitos à guerra no Iraque contra tudo e contra todos. Muitos chefes militares se opuseram e muitos mais fizeram avisos sobre as consequências das opções da "economia de forças", em particular, a exiguidade dessas forças não só para as operações da guerra, como para a ocupação posterior do Iraque, para a paz. Uns foram afastados, como representantes de uma corporação conservadora, que estava habituada a apenas contar com a força bruta do poder bélico massivo e não entendia as novas condições da guerra, outros não foram ouvidos ou só foram ouvidos quando a realidade não admitia escapatória.

O resultado da "economia de forças" foi inconclusivo no plano militar, - nem tudo funcionou mal e muitos aspectos do plano militar, em particular a fluidez muito rápida das forças terrestres, apanhou Saddam de surpresa porque estava à espera de um lento acumular de unidades e logística nas suas fronteiras, o que não sucedeu - , mas foi desastroso no plano político e depois também no militar, quando houve que defrontar a deterioração da situação de segurança posterior à vitória.

(Continua)

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