ABRUPTO

25.2.08


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A GUERRA DO IRAQUE COMO OPERAÇÃO MILITAR (4)

Ver 1 , 2.e 3.

A operação militar no Iraque foi uma forma moderna de blitzkrieg, executada por um número de forças bastante reduzido, mas dotado de enormes vantagens tácticas e estratégicas, a começar pelo controlo absoluto do ar e pela superior qualidade do armamento. A capacidade e determinação dos militares americanos debaixo de fogo, marines, forças especiais, soldados e oficiais, revelou-se em múltiplas ocasiões. Apesar de existir um plano estudado até ao mais pequeno pormenor, houve um grau considerável de iniciativa e de adaptação às circunstâncias imprevistas. Entre as páginas mais interessantes deste livro está a descrição do raid final até ao centro de Bagdade comandado pelo coronel David Perkins. A incursão era suposta ser exploratória, mas Perkins, actuando por sua iniciativa, transformou-a no momento da derrota iraquiana, quando resolveu ficar a noite num dos palácios de Saddam. Nessa altura, os americanos pensavam que ainda iriam ter a sua prova de fogo mais dura contra a Divisão Medina, que tinha sido ultrapassada na corrida a Bagdade, mas isso nunca aconteceu.

A "velocidade" da máquina de guerra americana foi no entanto atrasada por formas pouco convencionais de guerra, entre a guerrilha e acções de guerra convencional, que se revelaram a seu modo eficazes e mostraram que havia grupos determinados e organizados para continuar a resistência, mesmo que o "centro" caísse. Não é no entanto líquido que, se a transição fosse melhor gerida, a "insurreição" do Baas e de alguns grupos sunitas não tivesse o sucesso que posteriormente veio a ter. O caos que se instalou quase de imediato com os saques generalizados mostrou as debilidades enormes da ocupação. Resultou de erros de julgamento sobre a possibilidade de manter a máquina do estado iraquiano a funcionar, associados à impossibilidade prática de controlar as cidades devido ao número muito pequeno de tropas, conforme a "economia de forças" defendida por Rumsfeld. Este estava convencido que as tropas americanas chegavam, viam e venciam e depois vinham-se embora. Nunca houve planos sérios para uma estadia muito superior aos seis meses, o que se veio a mostrar completamente irrealista.

Alguns dos erros que hoje são evidentes, têm estado a ser, pouco a pouco, corrigidos, mas já num contexto muito mais hostil e com enormes dificuldades que podiam ter sido evitadas ou minimizadas. A melhoria das condições de segurança, ainda que ténue, parece consolidada, mas há ainda muito que fazer para "remendar" um país que Saddam quase destruiu, com colaboração dos erros e ilusões americanas. Mas a situação ainda é precária, pelo que não parecem ser outra coisa que demagogia as propostas de retirada de candidatos presidenciais como Hillary Clinton e Obama. Se o fizerem, os EUA sofrerão uma enorme derrota política no Iraque muito para além da vitória militar que obtiveram, com consequências gravosas para todo o mundo. Bush tem as suas responsabilidades, mas uma retirada unilateral imediata é do domínio do pesadelo para a segurança do mundo.








Quando escrevi esta nota sobre o livro de Chandrasekaran não sabia que existia uma edição portuguesa das edições 70. Aqui fica a referência.

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