ABRUPTO

10.11.07


MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Hoje. Usando o Abrupto como janela.



Neva sobre Rimsky-Korsakov, S. Petersburgo. (João Tiago Santos)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 10 de Novembro de 2007


O acontecimento mais importante dos últimos tempos envolvendo o Portugal profundo ocorreu hoje: o Papa Bento XVI repreendeu a Igreja portuguesa de uma forma unívoca e intencionalmente pública. Disse aos bispos sentados à sua frente que

é preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde quando fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus, e todos somos corresponsáveis pelo crescimento da Igreja

Não me lembro de qualquer precedente deste tipo de repreensão pública para a Igreja portuguesa e estou certo que é bastante incomum em geral. Embora o Papa tenha valorizado a "escola de fé" de Fátima é impossível não ver nestas palavras uma distanciação do Papa de um modelo de "reprodução" do "povo católico" assente essencialmente na religiosidade popular.

Vale a pena seguir com muita atenção esta questão.

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MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Hoje. Usando o Abrupto como janela.



Hoje de tarde. Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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COISAS DA SÁBADO: TOMAR A SÉRIO O CASO EM VOLTA DO CASO CASA PIA?



Catalina Pestana foi escolhida para ficar à frente da Casa Pia num momento difícil da instituição. Dois governos validaram essa escolha, o que significa que, de algum modo, passou o teste de ter o lugar apenas por compadrio político. É verdade que o critério para se estar à frente da Casa Pia, como da Santa Casa da Misericórdia, é um pouco bizarro e mal esclarecido, pois corresponde a um perfil muito sui generis de pessoas, que inclui sempre alguma relação privilegiada com a Igreja e com redes de influência entre o trabalho social, o militantismo católico, mesmo heterodoxo, e algumas maçonarias sem nome, como a que existia à volta de Maria de Lurdes Pintasilgo. São também, nos últimos anos, “lugares de mulheres”, na ideia que estas serão mais sensíveis aos problemas sociais que essas instituições defrontam. É uma mescla estranha, de que Catalina Pestana faz parte, mas isso neste caso funciona mais como território de independência.

O que Catalina Pestana tem vindo a dizer preto no branco em entrevistas públicas, a que se soma a informação que acrescentou em privado e confidencialmente aos responsáveis do MP e da Casa Pia, é que existe uma acção concertada, para proteger um grupo de poderosos envolvidos em crimes de pedofilia. Aponta o dedo a círculos do PS e da maçonaria. Concretiza as suas acusações reafirmando a sua convicção da culpabilidade de Paulo Pedroso e acusando os socialistas de terem alterado os Códigos para proteger os acusados no processo Casa Pia. Catalina Pestana não faz meias acusações, coloca nomes, circunstâncias e factos suspeitos na sua voz, na primeira pessoa.

A resposta a Catalina por parte dos visados é, para não ir mais longe, frouxa e incomodada. Por um lado, há uma clara tentativa de a desacreditar, por outro, uma ausência de acção que só dá força às suspeitas lançadas. Por exemplo, nomeia directamente Paulo Pedroso, que no passado processou muitos dos seus acusadores e jornalistas que trataram o caso, mas que agora diz ter intenção de não o fazer à sua acusadora actual. Do mesmo modo, continua sem ser esclarecida a história das alterações aos Códigos nos seus artigos mais sensíveis para o caso Casa Pia, sem se perceber o que aconteceu às actas da Comissão e quem introduziu essas alterações. Sabe-se quem diz que não foi responsável, não se sabe quem foi o responsável e parece cada vez mais que há um encobrimento sobre essa alterações.

Não me parece haver loucura especial nas palavras de Catalina Pestana e os que agora a tentam desacreditar foram alguns dos que a escolheram ou a aceitaram para as funções que exerceu. É verdade que essas palavras são diminuídas pelo clima de perseguição contra os políticos em geral para que o MP deixou descambar o processo Casa Pia cujas fragilidades são evidentes. Tanto se quis pescar de arrasto que se perdeu o foco nos primeiros peixes da rede, e há deficiências que Catalina aponta que não precisam de ser explicadas por qualquer conspiração, basta a negligência e a politização justicialista da investigação para as explicar. Mas, descontando tudo isto, alguma coisa sobra e é suficientemente grave para não ser coberta por qualquer manto de silêncio. O que Catalina Pestana diz, caso seja verdade, conduziria, em qualquer país civilizado, à queda do governo e à incriminação de todos os envolvidos naquilo que é, na verdade, o retrato de uma conspiração.

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EARLY MORNING BLOGS
1152 - Tu sei come una terra

Tu sei come una terra
che nessuno ha mai detto.
Tu non attendi nulla
se non la parola
che sgorgherà dal fondo
come un frutto tra i rami.
C'è un vento che ti giunge.
Cose secche e rimorte
t'ingombrano e vanno nel vento.
Membra e parole antiche.
Tu tremi nell'estate.

(Cesare Pavese)

*

Bom dia!

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9.11.07


MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Estes dias. Usando o Abrupto como janela.





Arte Lisboa.

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UMA CARTA DE ANTÓNIO CUNHA VAZ


A carta, que recebi, no endereço do Abrupto, de António Cunha Vaz (para quem não saiba responsável pela agência de comunicação ligada à campanha de Luis Filipe Menezes) poderia ser perfeitamente devolvida ao remetente, em particular num blogue que tenta seguir critérios de direito de resposta ainda mais rigorosos do que os habituais nos órgãos de comunicação social e que evita uma linguagem e um tom de má educação e baixo nível. Não se percebe a que responde ou a quem Cunha Vaz responde (ou melhor percebe-se bem demais), e tem um tom pessoalmente insultuoso e ad hominem que por si só a levaria a seguir para o lixo.

Mas, mesmo assim, vou publicá-la integralmente porque me parece muito significativa e, pelo seu estilo, se percebe a autoria de uma das campanhas eleitorais mais degradadas, agressivas, insultuosas, que jamais se viu em Portugal: a campanha eleitoral interna no PSD. Se há coisa em que houve unanimidade na comunicação social foi em caracterizar essa campanha e ninguém duvida que o principal responsável pelo tom utilizado foi Menezes, cliente da Cunha Vaz & Associados .

Se tivesse mantido um dever de reserva e não falasse demais, atribuindo-se na primeira pessoa atitudes do seu cliente (e tudo a que me referi vem na imprensa sem qualquer desmentido até agora), talvez Cunha Vaz não se tivesse exposto às notícias sobre a sua agência que, não é difícil presumir, lhe criam dificuldades quer com o cliente, quer com a opinião pública, quer com o mercado. Mesmo a minha "imensa ignorância" não me impede de perceber a razão porque escreveu esta carta.

De uma coisa pode estar certo António Cunha Vaz, não terei "tento na língua, na pena e no teclado". Em mim não colhem quaisquer ameaças de donos de agências de comunicação por muitas malfeitorias que eles possam fazer. Continuo a achar que não se deve substituir a política por técnicas de comunicação, nem as Comissões Políticas por agências de comunicação. Mas esta crítica é aos políticos e não às agências. Ele pode não perceber as diferenças, mas percebe que lhe afecta o mercado.

Percebo bem as suas dores, porque tendo exprimido várias vezes a sua admiração política pelo cliente que ajudou a ganhar, presumo que o deve ter apoiado graciosamente. Espero para ver as contas da campanha, visto que Luiz Filipe Menezes ainda não cumpriu a promessa que fez numa conferência de imprensa de divulgar as suas contas, nem cumpriu até hoje aquilo a que se comprometeu numa carta ao PGR em que se
"comprometia «a adequar-se ao escrupuloso cumprimento da lei, no que tange à recolha e conservação dos fundos recebidos e sua afectação ao fim da campanha eleitoral em curso no PSD». Desta forma, (...) a sua candidatura irá nomear uma comissão especial, constituída por três membros, e que será responsável pela recolha dos fundos e sua afectação ao fim anunciado. Além disso, será especificamente constituída para o efeito uma conta bancária, «onde são depositadas as respectivas receitas e movimentadas todas as despesas relativas à campanha». Será ainda designada «uma entidade especialmente responsável pela elaboração das contas de campanha, de acordo com os princípios do Plano Oficial de Contas, que deverá ser um revisor oficial de contas ou uma sociedade de revisores oficiais de contas». (Diário Digital)
Espero pois para ver. Antes disso, antes de saber quanto custou tanta dedicação, não voltarei ao assunto.

*

Aqui vai a carta de António Cunha Vaz na íntegra:
Senhor Dr. José Pacheco Pereira,

Percebo o incómodo de V. Exa. perante a vergonha que deve sentir de si próprio. percebo, também, que o incómodo que lhe deve causar o facto de já ter participado em campanhas políticas – pagas por alguém – o leve, nos dias de hoje, a lamentar tê-lo feito da forma que o fez. Percebo, ainda, que o facto de se sentir confortável com o vasto palco que a comunicação social lhe dá – e em que os por si visados não têm direito ao contraditório – lhe permita tecer sobre o comportamento de terceiros considerações que se lhe aplicariam directamente. É próprio dos portugueses. Por isso é que isto é o que é.

Julgo saber que é honesto. Dizem-me amigos comuns. Também julgo saber que não suporta enganar-se. Problema seu. Mas a ignorância é sempre má conselheira. Aquela de que usa e abusa na televisão e nas suas crónicas perante tantos telespectadores, ouvintes e leitores que, desconhecendo o mesmo que o senhor desconhece, se deixam embevecer pela verborreia pseudo-intelectual que ostenta só ofende quem se deixa ofender. Mas o que é demais, no caso em apreço, é nocivo.

Em nome da honestidade que alguns amigos dizem que tem – não a qualifico porque, ao contrário de si não falo do que não sei – peço que tenha tento na língua e na pena – ou no teclado. O Dr. Luís Filipe Menezes não tem agência. O Dr. Luís Filipe Menezes teve a colaboração da minha agência durante a campanha eleitoral interna para a liderança do PSD. Neste momento, ou melhor, desde que o congresso do seu partido terminou a Cunha Vaz & Associados não trabalha com o PSD, com o seu líder ou com qualquer outra estrutura político partidária.

Nunca o fez. Nunca trabalhou com qualquer Governo ou instituto público, nunca serviu qualquer partido, antes tendo trabalhado pontualmente com Carmona Rodrigues (PSD2005 autárquicas e como independente em 2007) – e não foi esta agência que espalhou calúnias sobre nada nem ninguém durante as duas campanhas – Mário Soares – em que não deixámos a campanha a meio por respeito pelo candidato, embora estivéssemos em total discordância com a direcção de campanha – e, mais recentemente, esta campanha interna.

Gostaria, com certeza, V. Exa. que outros liderassem o PSD porque, como é próprio de quem nada faz a não ser criticar o que outros fazem, teria mais matéria para comentar numa outra próxima derrota estrondosa do Partido – que é o seu. A Cunha Vaz & Associados entendeu dar o seu contributo a um desafio. Que se afigurava difícil – nas suas e nas palavras de outros era mesmo impossível – mas que, por essa mesma razão, nos apeteceu abraçar.

Cada um, nesta vida, é para o que nasce. Eu nasci para trabalhar. Honestamente, pagando impostos – todos, criando postos de trabalho reais – sustentados – dando formação a quadros jovens, em Portugal e no estrangeiro, e não posso aceitar que, sem o mínimo cuidado de preencher a imensa ignorância que lhe vai no cérebro sobre a matéria em que tantas vezes é sábio, teça considerações sobre a minha empresa ou a minha pessoa.

Porque o meu tempo é precioso e em abono do espaço que ocupa nos ecrãs, rádios e jornais deste país, peço apenas que fale do que sabe. Sei que pouco terá a dizer, mas esse já não é problema meu.

Por último posso dizer que já vi obra do Sr. Dr. Luís Filipe Menezes. Quanto à sua, só escrita e, por vezes, mal.

Como não sou hipócrita não me vou despedir com estima e consideração, nem mesmo com respeito pessoal. Todos eles se conquistam. Não se aproveite da ignorância que tanto critica para "armar ao pingarelho".


António Cunha Vaz

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EARLY MORNING BLOGS
1151 - Es una forma juvenil que un día

Es una forma juvenil que un día
a nuestra casa llega.
Nosotros le decimos: —¿Por qué tornas
a la morada vieja?
Ella abre la ventana, y todo el campo
en luz y aroma entra.
En el blanco sendero,
los troncos de los árboles negrean;
las hojas de sus copas
son humo verde que a lo lejos sueña.
Parece una laguna
el ancho río entre la blanca niebla
de la mañana. Por los montes cárdenos,
camina otra quimera.

(Antonio Machado)

*

Bom dia!

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8.11.07


MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Estes dias. Usando o Abrupto como janela.



Pôr-do-Sol visto do ferry que faz a ligação Caminha (Portugal) a Goian (Espanha). (Rui Gabriel Rodrigues)



Primeira neve do ano em S. Petersburgo. Vista do Conservatório para a Praça dos Teatros, com o monumento a Mikhail Glinka em frente. (João Tiago Santos)



Céu de Bruxelas. (FR)






Abóboras, hoje. (António Cabral)



Manhã de hoje junto ao Tejo. (RM)

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6.11.07


MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Hoje. Usando o Abrupto como janela.



Esta noite na Figueira da Foz. (José Manuel)



Linha férrea no Alentejo. (Telmo Martins)

MOMENTOS EM TEMPO REAL: INTERIORES

Hoje. Usando o Abrupto como janela.



Parede de um restaurante na Serra de Monchique. (Ochoa)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 6 de Novembro de 2007


O país político está muito estranho, ou então está como sempre esteve, nós é que desejaríamos que fosse diferente. No telejornal das 13 horas, a RTP resumiu o Prós e Contras à intervenção do Ministro das Finanças, traduzindo a realidade de um programa que não teve Contras. Ou melhor teve, mas foi deixada aos sindicatos e ao PCP essa função. Oposição do PSD ou do PP não existiu, e Mira Amaral no fundamental esteve lá para concordar com o Ministro. Bizarro um programa destes em que está o governo e não há oposição. Não é só não estar a oposição do centro e da direita, é não haver oposição. Deixar a oposição aos sindicatos é o mais cómodo que há para o governo. Mas, na verdade, o Prós e Contras revela involuntariamente uma verdade maior: há hoje menos oposição em Portugal do que há uns meses, no que verdadeiramente conta, no que dói ao PS e ao governo.

Distraídos com a coreografia do debate desta tarde, excelente pasto comunicacional pelo seu aspecto de duelo ao sol, esquecemo-nos de que os problemas políticos estão longe de se reduzirem ao espectáculo teatral da Assembleia. O que Menezes disse na conferência de imprensa de ontem é muito mais importante e explica o Prós e Contras e os múltiplos silêncios do PSD dos dias de hoje. Ele anunciou a vontade de "entendimentos alargados" com o PS, numa série de sectores fundamentais da vida pública, indo mais longe do que Marques Mendes alguma vez foi com o seu modesto Pacto de Justiça.

Pode ser um exercício comunicacional proposto pela sua agência para "lavar" a imagem populista e dar ar de responsável? Duvido que resulte, porque Menezes anunciou uma dupla política: por um lado, colaboração com o PS em todas as áreas fundamentais da vida pública; por outro. oposição casuística tipificada na "Educação, os episódios de criminalidade no grande Porto, a crise no Hospital de Faro". Esta redução da oposição à casuística comunicacional (uma das coisas que criticava em Mendes) reduz o PSD a um papel tribunício, e minimiza-o como partido de alternativa de governo.

Repito: pode ser um exercício comunicacional proposto pela sua agência para "lavar" a imagem populista e dar ar de responsável? Pode, tudo é possível. Mas há razões para se tomar a sério a sua proposta porque ela acrescenta um "entendimento alargado" sobre as Obras Públicas e isto percebe-se que é a valer. Ora esta é a única proposta que o PSD não pode de todo fazer num país como Portugal, onde esse é o terreno do verdadeiro "bloco central de interesses" que mina o estado, corrompe os partidos e a política, e que exige o maior escrutínio de uma oposição que se toma a sério. Esta é a mais preocupante proposta do PSD, numa área em que nada justifica "consensos", por muito que estes sejam pedidos pelos empreiteiros por razões que se percebem muito bem. As grandes obras públicas são política pura, nenhum partido que tenha um projecto para Portugal alternativo ao dos socialistas pode achar que esta é uma zona de "consenso", nem deixar de perceber a perigosidade da proposta.

*

As palavras "realistas" de Silva Lopes foram o momento mais interessante do Prós e Contras e um verdadeiro retrato do que não é dito na política socialista, mas está lá. Silva Lopes disse, preto no branco, duas coisas: uma, que os orçamentos do PS não diminuem as disparidades sociais que se agravam em Portugal; outra, que é a classe média que deve pagar a crise, são os seus rendimentos que devem ser diminuídos para garantir maior equilíbrio social. Ou seja, traduzido em não-socialistês, o estado deve agravar a política de agressividade fiscal sobre a "classe média", os "remediados", para redistribuir aos "verdadeiramente pobres". Nesta equação, que corresponde ao modo como o PS pretende salvar o "modelo social", embora dito com mais crueza, não há qualquer consideração para o papel que a "classe média" possa ter na criação de riqueza, ou dito de outro modo, qualquer papel para o crescimento económico que, com uma "classe média" a caminhar para o remediamento mais absoluto, será impossível. É um programa de empobrecimento colectivo, lento mas seguro.

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SOBRE OS OBJECTOS EM EXTINÇÃO: CDs

Sobre esta nota do Abrupto.

É bem provável que o CD de música seja um objeto em vias de extinção. Poderíamos discutir se isso é bom ou mau, considerando que a qualidade sonora de um iPod é inferior, sobretudo à de um SACD, ou que a relação táctil com o objeto, à semelhança do livro, fica prejudicada. Para quem gosta de música clássica, é particularmente irritante procurar músicas num iPod com 500 CD’s. Nunca sei se devo procurar Haydn ou Franz J Haydn ou até o nome do intérprete, que por vezes aparece na secção “artista”. Sei que tudo isto vai melhorar e que a substituição do CD é inevitável. Afinal, este tipo de opção industrial sempre foi guiada pela praticidade. O LP de 33 rotações substituiu o de 78 porque era mais prático, apesar de oferecer qualidade inferior. O CD também substituiu o LP pela praticidade, mais do que pela qualidade sonora. Só que nestes casos não mudou a forma de gravar e divulgar música. A indústria evoluiu, mas sem mudar muito. Agora, o modelo iTunes/iPod não representa apenas uma nova forma de comprar e ouvir música. É antes a face visível da emergência de uma nova “indústria” musical, mais livre, mais diversa, mas também menos perene e mais ajustada ao produto descartável. Boa parte das pessoas instruídas que têm hoje mais de 40 anos guardam bibliotecas de música, em muitos casos em LP e CD. Não foi sempre assim. Como será daqui a 20 anos? A análise econômica e as tendências deste novo mundo merecem reflexão. Vale a pena ler o blog de 20 de Setembro “What’s the Future of the Music Industry? A Freakonomics Quorum; By Stephen J. Dubner” .

Quanto ao DVD me parece inevitável a extinção, apesar do formato de alta definição. A qualidade do arquivo tipo iTunes vai melhorar e não muda nada na indústria. É só esperar pela integração plena do computador com a TV digital, o que não deve demorar muito para acontecer em grande escala.

(Vitor Salvador Picão Gonçalves)

*

Apenas um comentário relativamente ao que diz dos CD’s. Tenho um enorme fascínio por livros e por CD’s. Bastante menos por DVD’s. Tal como a si, aconteceu-me nos últimos anos deixar de comprar CD’s em decorrência directa da obtenção de um iPod, tendo começado a comprar música na Internet, nomeadamente através do iTunes (tanto álbuns inteiros como músicas avulso, que, de resto, constitui uma das grandes vantagens deste tipo de compra).
Não é, no entanto, sem algum desgosto que me vejo nesta situação, empurrado que fui (como tantos e tantos milhões de pessoas) por uma indústria musical que na verdade nunca compreendeu que vender CD’s a € 20,00 em média é atentatório da inteligência dos consumidores, especialmente quando os mesmos podem canalizar as suas preferências da forma que se vê. Por isso – e perante a incapacidade dessa indústria musical em adaptar-se (a agonia na venda de CD’s é evidente) – considero, apesar de tudo, que existirão nichos de mercado em relação aos quais não haverá perdas. É o caso da música clássica, jazz, alguma étnica, e pouco mais. Quanto ao resto, ao mainstream mais ou menos comercial, estou de acordo consigo: acabará em devido tempo. Mas é pena. Até porque o iPod e outras formas de “mp3” não estão ainda, em termos de qualidade sonora, ao nível do digital mais perfeito, o que coloca questões muitas vezes complicadas a quem gosta de ouvir música e vai – hélas! – seguindo as tendências (veja-se a este propósito que o iTunes comercializa música com qualidade superior mais cara que os habituais € 0,99 a peça). Mas mais: ninguém nem iTunes nenhum vão conseguir destruir o prazer que a materialidade dos CD’s tem, um pouco, de resto, à semelhança do que sucede nos livros.

(Rui Esperança)

*

O seu texto sobre o CD como objecto em extinção levanta uma questão que, não sendo nova, é talvez mais pertinente nos dias de hoje, em que o valor da tecnologia se exprime tão facilmente em números: até que ponto se dispõem os utilizadores a trocar qualidade por conveniência
de utilização? A resposta parece-me ser, "sem hesitar". É engraçado notar como o típico utilizador transporta música no seu leitor portátil em formato MP3 com qualidade de 128Mbps, sobretudo por isso permitir armazenar cada álbum inteiro nuns meros 50MB de memória
permanente (este valor naturalmente muito aproximado, como outros adiante). Porém, por exemplo num iPod, é perfeitamente possível utilizar um formato comprimido sem perdas, que permite em média armazenar cada álbum nuns 300MB com toda a qualidade do CD. Ou seja, o
típico utilizador prefere a conveniência de ter 6 vezes mais música disponível no seu leitor (mesmo que com uma qualidade pouco superior à duma emissão de rádio) à possibilidade de usufruir da qualidade sonora com que a música foi efectivamente editada. Esta preferência é
confirmada pelo modo como se vende música por descarga através da Internet: a maioria dos sítios de venda disponibiliza apenas o formato de 128Kbps, dado ser esse o que satisfaz a grande maioria da procura. Dir-se-á que esta questão é um preciosismo, mas um teste com uma dúzia
de faixas bem editadas e um bom par de auscultadores rapidamente evidencia a diferença em termos de prazer de audição entre os ubíquos 128Mbps e uma reprodução cristalina, sem perdas. Torna-se então interessante notar como um álbum adquirido por descarga na Internet
custa tipicamente uma fracção muito significativa (metade ou mais) do preço do CD equivalente (que normalmente inclui ainda algum material impresso). Presumo que a preferência dos utilizadores só mudará quando a capacidade de armazenamento dos leitores e a velocidade de descarga forem tais que se torne irrelevante o tamanho dos ficheiros envolvidos. Até lá, seria bom que o CD em vias de extinção permanecesse uma espécie protegida...

(Pedro Gomes)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OPOSIÇÕES VÁRIAS

Poucos minutos antes do primeiro intervalo do Prós&Contras a apresentadora entendeu que era necessário o Ministro das Finanças falar sobre a concessão das estradas por quase um século a troco de mais um aumento do ISP que não é pequeno, segundo consta. Não é um assunto qualquer. O Ministro ripostou que queria falar, mas não por essa ordem. A apresentadora insistiu muito para que explicasse aquilo de imediato, antes do intervalo, e o resto depois. O Ministro simplesmente insistiu novamente, calando-a, e ela remeteu-se a um silêncio absoluto e submisso, tomando ele conta das rédeas do programa e do seu alinhamento, deixando esse ponto para depois, nas suas palavras. Depois foi nunca, seguindo as técnicas de condensação e evaporação usadas pelo chefe supremo, conforme as notícias sejam boas ou más. Acresce que seria uma resposta a uma questão colocada por outro convidado. Chegados do intervalo, o programa já era outro. E pago eu este “serviço” público, esta vergonha e a falta dela, este lixo.

(Paulo Loureiro)

*

A senhora Ministra da Educação quando em 2005 justificou a necessidade de aulas de substituição, fê-lo alegando e cito de cor,que:"a Escola deve ocupar sempre os alunos do básico e do secundário para que não vão para o café,para o tabaco e pior".Ora acontece que agora em 2007, ao pretender justificar um novo Estatuto do Aluno em que se acaba com a distinção entre faltas justificadas e injustificadas , afirmou em entrevista televisiva e volto a citar de cor:"o que é relevante não são as faltas,mas sim se o aluno sabe ou não sabe".
Desta feita parece ter deixado de se preocupar se o aluno que falta vai "para o café, para o tabaco ou pior". Então em que ficamos?!

(António José Ferreira)

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EARLY MORNING BLOGS
1150 - Romance de Fernán d'Arias

Por aquel postigo viejo que nunca fuera cerrado,
vi venir pendón bermejo con trescientos de caballo;
en medio de los trescientos viene un monumento armado,
y dentro del monumento viene un ataúd de palo,
y dentro del ataúd venía un cuerpo finado.
Fernán d'Arias ha por nombre, hijo de Arias Gonzalo.
Llorábanle cien doncellas, todas ciento hijasdalgo;
todas eran sus parientas en tercero y cuarto grado;
las unas le dicen primo, otras lo llaman hermano,
las otras decían tío, otras lo llaman cuñado.
Sobre todas lo lloraba aquesa Urraca Hernando,
¡y cuán bien que la consuela ese viejo Arias Gonzalo!
-¿Por qué lloráis, mis doncellas? ¿por qué hacéis tan grande llanto?
No lloréis así, señoras, que no es para llorarlo,
que si un hijo me han muerto, ahí me quedaban cuatro.
No murió por las tabernas, ni a las tablas jugando,
mas murió sobre Zamora, vuestra honra resguardando;
murió como un caballero con sus armas peleando.

(Anónimo)

*

Bom dia!

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5.11.07


MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Hoje. Usando o Abrupto como janela.



Sol poente no Alentejo. (Telmo Martins)





Henry Dunant e o texto precursor da Convenção de Genebra - Museu da Cruz Vermelha, Genebra. (MJ)





Nova igreja de Fátima. (Ochoa)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 5 de Novembro de 2007


Se ler alguns destes romances de sucesso, aplicar-lhes-ei as oito regras de Kurt Vonnegut que me parecem adequadas a este tipo de ficção:

"1. Use the time of a total stranger in such a way that he or she will not feel the time was wasted.

2. Give the reader at least one character he or she can root for.

3. Every character should want something, even if it is only a glass of water.

4. Every sentence must do one of two things -- reveal character or advance the action.

5. Start as close to the end as possible.

6. Be a sadist. No matter how sweet and innocent your leading characters, make awful things happen to them -- in order that the reader may see what they are made of.

7. Write to please just one person. If you open a window and make love to the world, so to speak, your story will get pneumonia.

8. Give your readers as much information as possible as soon as possible. To heck with suspense. Readers should have such complete understanding of what is going on, where and why, that they could finish the story themselves, should cockroaches eat the last few pages."
A regra em que serei mais intransigente é a quarta.

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EARLY MORNING BLOGS
1149 - Anything Goes

In olden days a glimpse of stocking
Was looked on as something shocking
Now heaven knows, anything goes

Good authors too who once knew better words
Now only use four letter words writing prose
Anything goes

The world has gone mad today
And good’s bad today
And black’s white today
And day’s night today
When most guys today that women prize today
Are just silly gigolos

So though I’m not a great romancer
I know that you’re bound to answer
When I propose, anything goes

(Letra e música de Cole Porte cantada, entre outros, por Frank Sinatra)

*

Bom dia!

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4.11.07


NUM BLOGUE PERTO DE SI, NUMA GALÁXIA MUITO LONGE




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MOMENTOS EM TEMPO REAL: INTERIORES

Hoje. Usando o Abrupto como janela.



Nemesio na televisão. (RM)



Computador com fotografia. (Ochoa)


MOMENTOS EM TEMPO REAL: EXTERIORES

Hoje. Usando o Abrupto como janela.



Ponte Dona Maria no dia dos seus 130 anos. (Tiago Azevedo Fernandes)



Oliveiras perto de Santo António na Serra Aire. (E. Diniz)








Feira de S. Martinho na Golegã. (RM)





Árvores e campos da Golegã. (RM)

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A PRIVACIDADE E O USO DOS SENTIMENTOS NA PROPAGANDA POLÍTICA



A rápida erosão da privacidade é uma das consequências mais evidentes do ascenso da demagogia, da massificação das sociedades contemporâneas no consumo de bens culturais, da utilização perversa de novas tecnologias para disseminar boatos e calúnias, controlar, espiar e "revelar", culminando tudo isto numa vida pública dominada pelo espectáculo e pelo sentimento, corroendo a democracia por dentro.

É verdade que, nesta matéria, como em muitas outras, há uma história social que nem sempre vemos com clareza. De facto, os mais pobres nunca valorizaram a privacidade porque nunca a tiveram. Vivendo em condições de promiscuidade num mundo da "aldeia", ou atirados para as "ilhas", para as "vilas" e depois para as várias versões dos HLM franceses, dos bairros sociais, dos subúrbios, a parte de "baixo" da sociedade não tinha "espaço" para essas delícias da riqueza que era ter quartos individuais. O luxo e o dinheiro protegiam, como ainda protegem, a privacidade limitando o "acesso", mas nem por isso se pode considerar a privacidade como um privilégio dos de "cima". A privacidade é, no seu melhor sentido, um dos adquiridos do mundo burguês, da casa, do espaço familiar ou reservado, da liberdade de mostrar ou esconder o que nos parece ser a última propriedade: o mundo próprio do ser. Nasceu, como muito do que consideramos adquirido nos nossos direitos, liberdades e garantias, do mundo dos quadros de Vermeer, da revolução vinda do capitalismo mercantil da Holanda da Idade do Ouro. Como não estou disposto a abdicar desse espírito humanista no melhor sentido da palavra, não abdico do ter nem do ser privado, em favor de uma nova forma demagógica do colectivismo voyeurista das multidões.

Não é fácil, pelo modo como as coisas caminham em Portugal, seguindo, aliás, as passadas de outros países, a que se soma a habitual mediocridade do nosso meio. Hoje temos uma vida pública que se alimenta a si própria com uma "comida" sentimental e emotiva banalizada, com um discurso superficial sobre tudo, com um ataque à razão a favor da pieguice televisiva, excitada em telejornais de crimes, doenças, acidentes e "casos", caso da "pequena Maddie", caso Esmeralda, caso Casa Pia, casos de pedofilia, importantes e irrelevantes, misturados num mesmo tipo de narrativa excitada nos directos. Neste mundo, o mais pequeno pretexto serve para deixar de haver esfera íntima e privada, seja para um antigo inspector da PJ vir falar da vida sexual dos McCann, seja para uma multidão dos novos interpretadores dos sentimentos, psiquiatras, psicólogos, pedopsiquiatras e pedopsicólogos, a nova fauna comunicacional, nos explicarem as almas perdidas nos seus estados perturbados, seja do "pai do coração" versus o "pai biológico", seja na mãe matadora de um qualquer "bebé", arrastada para gaúdio de outras mulheres ululantes a gritar "assassina!", nuns pobres jeans coçados e numas algemas, seja na súbita aparição pública do novo fantasma do susto colectivo, o pedófilo que, vindo da Rede negra e obscura dos chats ou da escola e da sacristia, se prepara para assaltar o único símbolo que resta da inocência do mundo, as crianças.

Este caminho é cada vez mais trilhado, está-se a tornar normal este assalto à intimidade e à privacidade. Já disse isto várias vezes, repito-me certamente, convicto de que é um protesto ineficaz nos seus resultados. E o pior ainda está para vir, porque, no plano mais vasto da educação cívica, estamos a gerar uma juventude que cada vez menos preza a privacidade e a intimidade. Os milhares de jovens que se expõem na Rede, nos blogues, nos sítios "sociais", que usam o telemóvel como instrumento de controlo, que aceitam com absoluta normalidade que este tenha uma câmara de vídeo, ou um localizador de GPS que permita a outrem saber sempre onde se está, crescem sem prezar o seu espaço íntimo e privado. O mundo em que vão viver é povoado por câmaras de vigilância, escutas, controlos electrónicos de identidade, redes de informação que vão do cartão de crédito à Via Verde, e isso parece-lhes absolutamente normal. Juntam-se assim ao povo que espreita a saída dos presos nos tribunais e que acha que só se preocupa com a privacidade quem tem coisas para esconder.

A ideologia deste voyeurismo tem nas revistas cor-de-rosa a sua melhor expressão, embora na Rede também já haja sinais muito preocupantes das mesmas tendências. "Assumir" é uma das palavras-chave da nova promiscuidade pública. Nos seus raros textos editoriais, as revistas cor-de-rosa e os seus cronistas apelam a "assumir" namoros, traições, noivados, fugas, gravidezes, apetites, orientações sexuais, parceiros e outras "assunções" que servem de alimento a essas publicações. Verdade seja dita que, mais do que a "assunção" pública de qualquer destas coisas, com a consequente perda de mistério e segredo, logo de valor cor-de-rosa, o que essas revistas desejam é "assumir" o papel castigador de serem elas, em fotos indiscretas tiradas às escondidas ou em colunas "sociais" escritas numa linguagem só aparentemente críptica, a "revelar" aquilo que ou não se revela porque se deseja privado, ou porque não se deseja público. A privacidade e a sua defesa tornam-se assim uma fraqueza moral, um vício secreto que se esconde, que não se "assume".

Cada vez mais essas revistas, alguns programas televisivos e locais na Rede começam a receber uma atenção já mais profissionalizada, que usa o voyeurismo público e a erosão da privacidade para intervir no mercado demagógico dos sentimentos, com objectivos quer de manipulação da opinião pública, quer de promoção social e política de personalidades, de contenção de danos, ou, menos visivelmente, para conduzir campanhas hostis contra adversários. Uma das características deste novo espaço demagógico e sentimental é a sua fácil utilização e manipulação por profissionais que o conhecem bem, com as suas regras e tendências, como é o caso da nova geração de agências de comunicação.

Onde antes havia uma "assunção" pública forçada ou meio forçada pelos paparazzi que habitam o aeroporto de Lisboa ou o espaço entre o Camões e a Rua do Carmo, ou alguns locais mais in da cidade, agora existe uma "assunção" desejada, estimulada e controlada por agências de comunicação. O caso mais recente é a utilização da vida privada por Luís Filipe Menezes, de que resultou capas em todas as revistas do "coração", entrevistas, declarações e fotos, não só consentidas como encenadas, com a curiosidade de se perceber a mão da agência de comunicação, aliás admitida publicamente, na similitude da encenação e das "mensagens" do produto final. Já não é a exposição pública desejada e consentida por quem gosta de viver no mundo cor-de-rosa da Caras, da Nova Gente, da Flash, etc., etc., e a quem essa exposição é agradável e socialmente desejada, mas de quem hoje utiliza a vida privada como instrumento de acção política, como mecanismo de envio de mensagens e imagens que se destinam a obter dividendos políticos no crucial mercado do sentimento demagógico. É sempre um caminho arriscado a prazo, como Santana Lopes ou Manuel Maria Carrilho perceberam à sua custa, porque costuma dar para o torto, pela própria natureza da exposição pública e da sua procura de transgressão como valorizador da notícia. Mas, entretanto, vai dando frutos.

Existe outro problema, que transcende a vontade de cada um jogar este jogo arriscado, e que é que, por cada político ou "figura pública" que se expõe, diminui o espaço de privacidade dos que não o desejam fazer, abrindo-se caminho para a impunidade voyeurista cor-de-rosa. A erosão da esfera íntima que deveria ser intocável mesmo nas chamadas "figuras públicas", e da esfera privada, mesmo com alguma perda de "espaço" nas "figuras públicas", é um mau caminho para uma sociedade que preze liberdades e direitos.

(No Público de 3 de Novembro de 2007)

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Acabei de ler no seu blog "A PRIVACIDADE E O USO DOS SENTIMENTOS NA PROPAGANDA POLÍTICA", concordo totalmente com o que escreveu.

Também eu me questiono e me perturbo com o que se passa com a privacidade, ou melhor, com a ausência dela um pouco por todo o lado. O que mais me perturba e me deixa realmente preocupado são as pessoas e especialmente os mais jovens, não se preocuparem minimamente com a sua privacidade.

Existem duas formas de pensamento que se distinguem até pela idade das pessoas a quem se lhes pede que dêem opinião sobre este assunto.

A primeira, é o argumento de que "quem não deve não teme", esta forma de pensar encontro-a geralmente associada a pessoas com mais de 35 anos.
Como é óbvio este argumento não colhe, se assim fosse porquê por exemplo enviar uma carta e não um postal pelos correios, se nada tenho a temer porque não enviar postais sobre qualquer assunto que tenha a tratar, se assim fosse não haveria necessidade de haver leis sobre a inviolabilidade da correspondência.

A segunda forma de pensamento que associo na maioria dos casos a jovens, é algo ainda pior, é o total desconhecimento da sua privacidade estar em causa ou algo que considero ainda mais grave, a total aceitação da perda dessa privacidade.

Os ditadores deste mundo, os potenciais "big brothers" Orwellianos devem estar a aplaudir e até a fomentar esta cada vez maior perda de privacidade, que no limite acabará por ter graves implicações nas sociedades que se querem democráticas e livres.

Para mim é extremamente difícil por vezes explicar que não me inscrevo em determinados sites como hi5's, que uso encriptação nos meus mails etc etc. e depois tentar mostrar o porquê dessa situação, infelizmente geralmente as pessoas a quem explico estas coisas básicas ou dizem que sou maluquinho ou acham que não há problema nenhum em destruirem a sua privacidade/liberdade.

(RJNunes)

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Ainda a propósito do post que colocou sobre privacidade, encontrei esta notícia sobre os EUA e o que pretendem fazer com o mail.

é por estas e por outras que mesmo não tendo nada a temer o meu mail usualmente vai encripatado. : No email privacy rights under Constitution, US gov claims.

(RJNunes)

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