ABRUPTO

9.11.07


UMA CARTA DE ANTÓNIO CUNHA VAZ


A carta, que recebi, no endereço do Abrupto, de António Cunha Vaz (para quem não saiba responsável pela agência de comunicação ligada à campanha de Luis Filipe Menezes) poderia ser perfeitamente devolvida ao remetente, em particular num blogue que tenta seguir critérios de direito de resposta ainda mais rigorosos do que os habituais nos órgãos de comunicação social e que evita uma linguagem e um tom de má educação e baixo nível. Não se percebe a que responde ou a quem Cunha Vaz responde (ou melhor percebe-se bem demais), e tem um tom pessoalmente insultuoso e ad hominem que por si só a levaria a seguir para o lixo.

Mas, mesmo assim, vou publicá-la integralmente porque me parece muito significativa e, pelo seu estilo, se percebe a autoria de uma das campanhas eleitorais mais degradadas, agressivas, insultuosas, que jamais se viu em Portugal: a campanha eleitoral interna no PSD. Se há coisa em que houve unanimidade na comunicação social foi em caracterizar essa campanha e ninguém duvida que o principal responsável pelo tom utilizado foi Menezes, cliente da Cunha Vaz & Associados .

Se tivesse mantido um dever de reserva e não falasse demais, atribuindo-se na primeira pessoa atitudes do seu cliente (e tudo a que me referi vem na imprensa sem qualquer desmentido até agora), talvez Cunha Vaz não se tivesse exposto às notícias sobre a sua agência que, não é difícil presumir, lhe criam dificuldades quer com o cliente, quer com a opinião pública, quer com o mercado. Mesmo a minha "imensa ignorância" não me impede de perceber a razão porque escreveu esta carta.

De uma coisa pode estar certo António Cunha Vaz, não terei "tento na língua, na pena e no teclado". Em mim não colhem quaisquer ameaças de donos de agências de comunicação por muitas malfeitorias que eles possam fazer. Continuo a achar que não se deve substituir a política por técnicas de comunicação, nem as Comissões Políticas por agências de comunicação. Mas esta crítica é aos políticos e não às agências. Ele pode não perceber as diferenças, mas percebe que lhe afecta o mercado.

Percebo bem as suas dores, porque tendo exprimido várias vezes a sua admiração política pelo cliente que ajudou a ganhar, presumo que o deve ter apoiado graciosamente. Espero para ver as contas da campanha, visto que Luiz Filipe Menezes ainda não cumpriu a promessa que fez numa conferência de imprensa de divulgar as suas contas, nem cumpriu até hoje aquilo a que se comprometeu numa carta ao PGR em que se
"comprometia «a adequar-se ao escrupuloso cumprimento da lei, no que tange à recolha e conservação dos fundos recebidos e sua afectação ao fim da campanha eleitoral em curso no PSD». Desta forma, (...) a sua candidatura irá nomear uma comissão especial, constituída por três membros, e que será responsável pela recolha dos fundos e sua afectação ao fim anunciado. Além disso, será especificamente constituída para o efeito uma conta bancária, «onde são depositadas as respectivas receitas e movimentadas todas as despesas relativas à campanha». Será ainda designada «uma entidade especialmente responsável pela elaboração das contas de campanha, de acordo com os princípios do Plano Oficial de Contas, que deverá ser um revisor oficial de contas ou uma sociedade de revisores oficiais de contas». (Diário Digital)
Espero pois para ver. Antes disso, antes de saber quanto custou tanta dedicação, não voltarei ao assunto.

*

Aqui vai a carta de António Cunha Vaz na íntegra:
Senhor Dr. José Pacheco Pereira,

Percebo o incómodo de V. Exa. perante a vergonha que deve sentir de si próprio. percebo, também, que o incómodo que lhe deve causar o facto de já ter participado em campanhas políticas – pagas por alguém – o leve, nos dias de hoje, a lamentar tê-lo feito da forma que o fez. Percebo, ainda, que o facto de se sentir confortável com o vasto palco que a comunicação social lhe dá – e em que os por si visados não têm direito ao contraditório – lhe permita tecer sobre o comportamento de terceiros considerações que se lhe aplicariam directamente. É próprio dos portugueses. Por isso é que isto é o que é.

Julgo saber que é honesto. Dizem-me amigos comuns. Também julgo saber que não suporta enganar-se. Problema seu. Mas a ignorância é sempre má conselheira. Aquela de que usa e abusa na televisão e nas suas crónicas perante tantos telespectadores, ouvintes e leitores que, desconhecendo o mesmo que o senhor desconhece, se deixam embevecer pela verborreia pseudo-intelectual que ostenta só ofende quem se deixa ofender. Mas o que é demais, no caso em apreço, é nocivo.

Em nome da honestidade que alguns amigos dizem que tem – não a qualifico porque, ao contrário de si não falo do que não sei – peço que tenha tento na língua e na pena – ou no teclado. O Dr. Luís Filipe Menezes não tem agência. O Dr. Luís Filipe Menezes teve a colaboração da minha agência durante a campanha eleitoral interna para a liderança do PSD. Neste momento, ou melhor, desde que o congresso do seu partido terminou a Cunha Vaz & Associados não trabalha com o PSD, com o seu líder ou com qualquer outra estrutura político partidária.

Nunca o fez. Nunca trabalhou com qualquer Governo ou instituto público, nunca serviu qualquer partido, antes tendo trabalhado pontualmente com Carmona Rodrigues (PSD2005 autárquicas e como independente em 2007) – e não foi esta agência que espalhou calúnias sobre nada nem ninguém durante as duas campanhas – Mário Soares – em que não deixámos a campanha a meio por respeito pelo candidato, embora estivéssemos em total discordância com a direcção de campanha – e, mais recentemente, esta campanha interna.

Gostaria, com certeza, V. Exa. que outros liderassem o PSD porque, como é próprio de quem nada faz a não ser criticar o que outros fazem, teria mais matéria para comentar numa outra próxima derrota estrondosa do Partido – que é o seu. A Cunha Vaz & Associados entendeu dar o seu contributo a um desafio. Que se afigurava difícil – nas suas e nas palavras de outros era mesmo impossível – mas que, por essa mesma razão, nos apeteceu abraçar.

Cada um, nesta vida, é para o que nasce. Eu nasci para trabalhar. Honestamente, pagando impostos – todos, criando postos de trabalho reais – sustentados – dando formação a quadros jovens, em Portugal e no estrangeiro, e não posso aceitar que, sem o mínimo cuidado de preencher a imensa ignorância que lhe vai no cérebro sobre a matéria em que tantas vezes é sábio, teça considerações sobre a minha empresa ou a minha pessoa.

Porque o meu tempo é precioso e em abono do espaço que ocupa nos ecrãs, rádios e jornais deste país, peço apenas que fale do que sabe. Sei que pouco terá a dizer, mas esse já não é problema meu.

Por último posso dizer que já vi obra do Sr. Dr. Luís Filipe Menezes. Quanto à sua, só escrita e, por vezes, mal.

Como não sou hipócrita não me vou despedir com estima e consideração, nem mesmo com respeito pessoal. Todos eles se conquistam. Não se aproveite da ignorância que tanto critica para "armar ao pingarelho".


António Cunha Vaz

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