ABRUPTO

1.11.07


ICONOGRAFIA ESQUERDISTA PORTUGUESA 1

Em Março de 1971, uma "editorial Acção" publica em Lisboa o Manual de Guerrilha Urbana de Carlos Marighela. Como era habitual numa edição clandestina, a editorial não existia e era apenas uma sigla destinada a assinar a publicação de um texto proibido. O Manual foi muito influente nos anos setenta, na sequência das experiências de guerrilha e acção armada na América Latina. Marighela escrevera-o em 1969, o mesmo ano em que veio a morrer numa emboscada que, mais tarde, foi considerada pelo estado brasileiro uma execução extra-judicial.

Carlos Marighela e Carlos Lamarca tornaram-se símbolos da luta armada contra a ditadura brasileira e as suas obras e acções tiveram um impacto nos grupos portugueses que surgiram na segunda metade dos anos sessenta sob a influência do guerrilheirismo latino-americano, em particular a LUAR e mais tarde os sectores da FPLN que deram origem às Brigadas Revolucionárias. O livro de Marighela era um manual prático, ao estilo dos manuais do Comintern nos seus primeiros anos, com recomendações e instruções concretas para a realização de acções armadas. O seu carácter muito prático tornou-o um material de estudo para a própria contra-guerrilha sendo editado e analisado pela CIA e pelos militares e polícias envolvidos em conflitos não convencionais. Este carácter prático do Manual leva ainda hoje à sua retirada de vários sites na Internet onde é colocado, banido como um documento que divulga técnicas consideradas perigosas.

A iconografia nos documentos clandestinos era muito condicionada pelas tecnologias de reprodução, muito rudimentares nos anos sessenta e início dos anos setenta. A utilização do copiógrafo e a ciclostilagem dos documentos implicava limitações para os desenhos, dado que os stencis se rasgavam facilmente. Mesmo o stencil electrónico tinha sérias limitações, para além de que a PIDE controlava os fornecedores deste tipo de material de impressão. A edição portuguesa de Marighela é ciclostilada e tem uma capa peculiar, provavelmente copiada de uma edição clandestina brasileira. Estes prédios são muito mais próximos de S. Paulo do que de Lisboa



e estas cartucheiras parecem demasiado latino-americanas, até porque a maioria dos esquerdistas portugueses que poderia ter feito esta edição deveria desconhecer este tipo de suporte para as balas com os pormenores que se observam.


(Continua)

*
Lembro-me perfeitamente desse "manual" e da cultura geral que aprendi nele! :-)))
Refiro-me à sensata regra de nunca se ir para um combate com o estômago cheio, por causa da possibilidade de se levar um tiro no aparelho digestivo, e da técnica de fabrico dos "cocktails Molotov", uma arma inventada na guerra civil de Espanha. Em boa verdade, entretanto, acho que já não me recordo do 3º elemento que se deveria misturar à gasolina e à areia do "cocktail"... Mas, no início dos anos 70, que me lembre os guerrilheiros urbanos na moda eram os tupamaros, que ainda há poucos anos deram nas vistas no Peru de Fugimoro.

(Zé Luís Sá)

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