ABRUPTO

7.6.06


PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER



Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.
(Museu de Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.)

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PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER



Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.
(Museu de Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OS CLÁSSICOS EM RISCO

Apreciei muito o que escreveu na última revista Sábado sobre a necessidade de dar atenção aos clássicos greco-latinos. Por isso tomo a liberdade de lhe enviar o endereço electrónico de uma petição que os Departamentos de Estudos Clássicos das Universidades de Coimbra e Lisboa puseram há pouco mais de uma semana na internet. O que pretendemos é reunir um número significativo de assinaturas que permitam abrir a discussão pública sobre o espaço residual que vem sendo atribuído às disciplinas das Humanidades nos curricula do ensino secundário, com especial gravidade no que respeita ao Latim e ao Grego, que praticamente desapareceram das escolas em todo o país. Acabada a geração que tanto se tem empenhado em divulgar os clássicos, como os que referiu no seu artigo, e outros, como as Confissões de Santo Agostinho, Propércio, a Eneida de Vergílio, o Satíricon de Petrónio, as comédias de Plauto..., ninguém mais ficará capaz de traduzir esses textos, nem de ensinar línguas clássicas e, mesmo na área da História de Portugal, de trabalhar todo o acervo de documentação em língua latina que vem, como sabe, até bem perto de nós... Serão, pois, os investigadores estrangeiros a virem trabalhar esses textos.

(Maria Cristina de Sousa Pimentel, Prof.ª Catedrática da Faculdade de Letras de Lisboa (Departamento de Estudos Clássicos)

*

Segundo me relatou uma professora da universidade, o ministério da educação prepara-se para fechar o curso de Línguas e Literaturas Clássicas em Lisboa e em Coimbra, as duas únicas Universidades que ainda leccionam este curso. O critério usado é de o curso ter menos de vinte alunos por ano. O que é, tristemente, um facto.

No entanto, penso que é importante não esquecer que sem este curso, não haverá daqui por uns anos, em Portugal, quem possa traduzir qualquer obra de Latim ou grego clássico. Pois, quando as poucas pessoas altamente qualificadas que hoje em dia fazem esse trabalho deixarem de o fazer, não haverá quem o possa fazer.

Terminar a ligação cultural directa com as matrizes do pensamento cultural europeu é um erro crasso. Portugal ficará a perder para Países como a Geórgia, a Turquia, a Espanha, a Itália, a Croácia, a Grécia, o Chipre, a Polónia etc.. e ficará ao nível dos países do terceiro mundo, onde as dificuldades económicas não permitem a evolução cultural.

Sei que Portugal atravessa dificuldades económicas, mas antes de terminarem com o curso de línguas e Literaturas Clássicas, podiam ir buscar dinheiro a muitos outros sítios?

Sem Línguas e Literaturas Clássicas, não haverá pessoas como Maria Helena da Rocha Pereira para nos ensinarem tanto sobre a cultura helénica, nem tradutores como Frederico Lourenço que levam para o Português as obras de Homero, Sófocles, Eurípides e muitos outros.
Não troco a minha cultura por dinheiro nenhum, e penso que há coisas que não têm preço, e o ensino do Latim, a língua mãe do Português e do Grego antigo é essencial num país com ambições não meramente económicas mas também culturais.

Está em curso uma petição on-line que tenta sensibilizar as pessoas para este problema.

Penso que todos os que trabalham com a língua Portuguesa e são minimamente sensíveis à ?Cultura? entenderão e subscreverão a petição.
Além da petição quaisquer formas de protesto sobre esta medida são bem-vindas, e sabendo a força dos meios de comunicação social, se ninguém souber o que se passa sobre este assunto, o encerramento do curso poderá mesmo acontecer.

(Manuel Fialho Silva, estudante do curso de Línguas e Literaturas Clássicas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. )

*
Tomei conhecimento via Abrupto da petição online em favor das línguas clássicas em Portugal. (Já agora: «em favor»? Não deveria ser «a favor»?) O assunto interessa-me por diversas razões, uma das quais ser o facto de lastimar nunca ter aprendido latim. Mas não posso assiná-la e passo a explicar porquê. Na argumentação a favor da petição, os seus autores citam (favoravelmente) a expressão de Manuel Damásio «a matemática e as ciências não formam cidadãos». E é aqui que reside o problema. É que só vejo duas maneiras de interpretar esta expressão:

- ou significa que a Matemática e as Ciências (porque é que na citação original estará escrito com minúscula?) não contribuem para a formação dos cidadãos;

- ou significa que uma formação em Matemática e em Ciências não constitui, só por si, uma formação de cidadãos.

Ora eu sou totalmente contra a primeira interpretação. Quanto à segunda, é uma completa trivialidade. Não, uma formação em Matemática e em Ciências não constitui, só por si, uma formação de cidadãos. Uma formação em clássicos também não.

Bem sei que assinar uma petição não significa necessariamente que se está de acordo com todos os pontos mas, neste caso, a barreira é demasiado elevada para que eu a consiga tranpor.

(José Carlos Santos)

*

Relativamente à petição para o renascimento do latim e do grego, lembro-me de ter lido, já há alguns anos, na revista Esprit, um longo artigo justificando a necessidade de os reanimar em virtude de haver ainda um largo acervo de textos clássicos greco-latinos por traduzir. Deduzo perante a petição que, ou se esgotaram as traduções, ou, se não é o caso, os outros países que as façam. Se estamos tão atrasados em tantas áreas, entre nós, parece não constituir vergonha banir o latim e o grego do ensino, e ficar à espera dos textos já vertidos. Enfim, somos o que somos, e temos o país que temos. Como diziam os liberais vintistas, não temos emenda.

João Boaventura

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VOZES VINDAS DAS ESCOLAS

Hoje, o meu grupo disciplinar reuniu-se para escolher o manual a adoptar pela escola para o 7.º ano de escolaridade. Todos, sem excepção, apresentam o preço de 17.42€ cêntimos. A única diferença, mas ao nível dos cêntimos, está nos cadernos de actividades. A autoridade para a concorrência não devia ver estas coisas?

Havia nove(!) manuais para escolha. Qual é o professor que consegue fazer um estudo exaustivo, correcto e honesto de tantos manuais, sabendo que os foi recebendo a partir do fim de Abril, tempo em que todo o trabalho de fim de ano se acumula?

(Maria Pereira Stocker)
*

Na (minha) qualidade de professor do ensino secundário (há 32 anos a ensinar Física) (...) permito-me enviar-lhe algumas achegas. (...)

1. Sobre a componente não lectiva e o local da sua concretização, há problemas ainda não equacionados. Um deles é o da exposição do professor a ambientes agressivos e ruidosos. De facto, se há uma parte da componente não lectiva que pode /deve ter lugar na Escola, para reuniões e outras coisas parecidas, tal parcela deve ser pequena —reduzida ao mínimo— pelas seguintes razões:

a) as escolas em geral não têm gabinetes para albergar um grande número de professores em simultâneo; foram concebidas partindo do pressuposto de que a componente não lectiva é passada fora da Escola (por exemplo em casa do professor); desse modo, poucos são os professores que num dado, momento estariam na escola ao mesmo tempo: quando uns saiam entravam outros.

b) mesmo nas escolas que possuem alguns gabinetes, quase todos esses gabinetes têm portas que dão para corredores onde passam alunos a falar aos berros, a gritar intencionalmente, a bater às portas, etc.; quem é que consegue (eu não consigo!) fazer trabalho útil no meio do barulho ?

c) também é de considerar o problema nas próprias salas de professores, onde alguns/algumas colegas não se coíbem de falar alto, mesmo quando estão a ver outro colega a corrigir testes, a preparar lições, etc.

d) as condições de b) e c) tornam o trabalho da componente não lectiva (quando prestado na Escola) penoso, triplamente cansativo, frustrante e de escasso rendimento;

As condições acima referidas propiciam um desgaste acrescido e inútil por exposição demorada ao ruído. Sabe-se quais são as consequências a médio/longo prazo de tal exposição excessiva e ao "stress" dela derivado (os psicólodos e os psiquiatras têm documentação). É certo que uma escola é, por definição, um local onde se reúne muita gente, professores, alunos, etc., mas essa exposição ao ruído deve ser reduzida ao fundamental. Por isso, a não ser que haja gabinetes acusticamente isolados, vidros duplos, etc., não será viável o prolongamente exagerado da componente não lectiva nos espaços das Escolas.

2. Continua a esperar-se do professor um verdadeiro milagre. No entender dos mais "iluminados" governantes, trata-se de um profissional "multifacetado e de largo espectro" que é, ao mesmo tempo, psicólogo, psiquiatra, assistente social, animador, bom encaminhador de jovens, divertido, sempre bem disposto e transbordante de energia, despistador de casos de uso de drogas, domador de delinquentes, perspicaz educador e ainda agente interactivo escola-família-comunidade. Também se pretende que seja de vez em quando palhaço quanto baste (com a respectiva bola vermelha no lugar do apêndice nasal) e pouco faltará para termos de equilibrar uma bola na ponta do nariz, como as focas do circo! Depois de tudo isto, e como pequeníssimo pormenor, o professor também **ensina** uma determinada disciplina (Matemática, Biologia, Português, Física, Inglês, História, etc.). Mas este último aspecto será (dizem os "iluminados") cada vez mais irrelevante, a bem das primeiras componentes da profissão, já referidas....
(...)

(Guilherme de Almeida)

*

"Dessas 60 mil pessoas que se candidataram e não foram contratadas, só cerca de um terço eram professores, outros eram pessoas que se candidataram ao lugar de professor" e "nunca foram professores na vida", afirmou aos jornalistas em Resende, Viseu. É urgente explicar ao Senhor Primeiro Ministro que o concurso em questão se destina ao preenchimento de vagas de Quadros de Escola ou de Quadros de Zona Pedagógica, o que implica ser profissionalizado, ser mesmo professor portanto.

Eles não estão a candidatar-se ao lugar de professores. Eles são professores.
Como é possível ficar tudo calado e não repor a verdade?
Estes não colocados irão passar para um concurso de professores contratados e a maioria dos contratados também tem habilitação profissional.
Sabia, não sabia, Senhor Primeiro Ministro?
Todos os dias são dias de dizer a verdade e só a verdade, sobretudo quando se trata de pessoas que prometeram exercer as suas funções "com lealdade".

(Madalena Santos, Professora do Ensino Básico, Montijo.)

(Continua)

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PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER



"Nonada", a primeira palavra do livro.

"Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente - depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucaia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde um criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte."

Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.
(Museu de Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.)

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PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER



Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.
(Museu de Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.)

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PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER



Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.
(Museu de Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.)

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PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER



Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.
(Museu de Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.)

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PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER


É mesmo assim enevoado.

Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.
(Museu de Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.)

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PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER



Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.

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PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER



Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.

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PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER



Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.
(Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.)

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MAIS UMA VEZ

o Blogger está a funcionar mal.

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RETORNO DO JUDEU ERRANTE


ao mesmo labirinto.

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6.6.06


UMA NOITE NO FASANO OUTRA NA FAVELA DE VILA PRUDENTE

(Em breve.)

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MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA DE SÃO PAULO

Vale a pena. Vale muito a pena. Vale absolutamente a pena. Toda a nossa língua está lá e, através do português, um dos melhores retratos do Brasil. A língua como som, mas também a língua como luz, como tempo, como imagem.

A exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa, esse texto homérico português, mostra como se "entra" fisicamente num livro, no emaranhado das suas palavras e se sai com ele "lido" ou com vontade de o ler.

"Agora é agora", está escrito num tijolo. Pois é, agora.

(Em breve, fotos das "palavras", por especial deferência do Museu, que as permitiu para os leitores do Abrupto.)

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3.6.06


JUDEU ERRANTE


Mais uma corrida, mais uma viagem.
Darei notícias pelo caminho.

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NEWSPEAK SOBRE TIMOR



"Houve uma reunião técnica com uma delegação das Forças Armadas australianas, onde ficou claro que o comando é da GNR. Ontem foi assinada uma adenda para clarificar que esse princípio se mantinha totalmente válido e que nada que tivesse sido acordado com terceiros estados podia diminuir o alcance desta posição fundamental quanto ao comando operacional próprio". (António Costa citado aqui.)

"Reunião técnica" - O problema é político e não "técnico". Que reunião foi esta? A descrição da reunião como "técnica" não é inocente, pretende dizer, sem dizer. Para além disso, a que propósito Portugal se reune bilateralmente com a Austrália para decidir o comando de forças num país estrangeiro soberano? Os timorenses estiveram presentes?

"Ficou claro que o comando é da GNR" -
"Comando" de quê? Das tropas da GNR? Qual é a exacta cadeia de comando no terreno? Fica por saber. O que se sabe é que num território numa situação de caos, a existência de vários "comandos" operacionais só pode dar confusão e risco. É perigoso: se houver um incidente e forem chamados ao mesmo tempo (pelos populares, por uma família portuguesa, seja por quem for) a GNR e os australianos, como é que se resolve? E sem comunicações claras a probabilidade de fogo "amigo" é grande, porque ninguém está a ver em plena acção as forças a discutirem competências e comandos.

"Esse princípio [do comando] se mantinha totalmente válido e que nada que tivesse sido acordado com terceiros estados podia diminuir o alcance desta posição fundamental" - Muito interessante, tanto mais que os "terceiros estados" só podem ser Timor, as autoridades de Timor e os acordos feitos com a Austrália. Isto significa que Portugal vai enviar a GNR para Timor, um estado soberano, sem aceitar a legitimidade desse estado para decidir sobre as forças militares e militarizadas que estão no seu território.

Convinha ser mais claro e convinha que se exigissem mais explicações. Assim não chega, assim parece que se está a esconder alguma coisa.

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INTENDÊNCIA

Em actualização os ESTUDOS SOBRE COMUNISMO.

Actualizadas as notas NUNCA É TARDE PARA APRENDER: TANQUES, EFFENDI, UMA OPORTUNIDADE PERDIDA: DISCUTIR TIMOR A SÉRIO.

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COISAS DA SÁBADO: “QUANTO VALEM OS VERDES”?

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perguntava, com imensa boa vontade, o Público, a propósito de algumas trapalhadas internas do “partido” “Os Verdes””. A resposta, para além de umas preciosidades académicas, é: do ponto de vista eleitoral, nada; para o aparelho parlamentar do PCP, bastante. Não é uma contradição: ao manter um partido artificial, que não existe fora do PCP, o PCP consegue na Assembleia da República aumentar, e muito, os recursos que lhe são facultados e pagos pelo erário público.

É por isso que nas suas listas é milimetricamente escolhido o número de deputados “Verdes” para garantir um Grupo parlamentar, ou seja instalações, funcionários, e tempo nos debates muito superiores ao que obteria se aqueles deputados estivessem nas suas listas como membros do PCP. Há alguma, escassa, vantagem marginal do disfarce, o que no PCP é genético, habituados a fazer partidos e movimentos “independentes” para tentar alargar o seu espaço político. Mas com os “Verdes”, um ano depois, percebeu-se que não viria dali nenhum voto, só sobraram as vantagens no parlamento. De graça para o PCP.

ANEXO: Com o mínimo de dois deputados (o PEV fez-se para ter esse mínimo), segundo a Lei n.º 28/2003 de 30 de Julho - Lei de Organização e Funcionamento dos Serviços da Assembleia da República (LOFAR), no Artigo 46.º (Gabinetes dos grupos parlamentares)

1 - Os grupos parlamentares dispõem de gabinetes constituídos por pessoal de sua livre escolha e nomeação nos seguintes termos:

a) Com dois Deputados, inclusive: pelo menos um adjunto, um secretário, um secretário auxiliar e ainda outros funcionários nos termos do disposto nos n.ºs 2 e 4;


para além de uma subvenção para

a) Grupo parlamentar de 2 Deputados - 24 x 14 SMN (salário mínimo nacional) + 6 x 14 SMN por Deputado.

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RETRATOS ESQUECIDOS DO TRABALHO EM PORTUGAL






















Desenho de Figueiredo Sobral no livro de Domingos Carvalho, Sementes do Terço. Contos, publicado pelo autor em 1956.

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EARLY MORNING BLOGS 787

In limine


Godi se il vento ch'entra nel pomario
vi rimena l'ondata della vita:
qui dove affonda un morto
viluppo di memorie,
orto non era, ma reliquiario.

Il frullo che tu senti non è un volo,
ma il commuoversi dell'eterno grembo;
vedi che si trasforma questo lembo
di terra solitario in un crogiuolo.

Un rovello è di qua dall'erto muro.
Se procedi t'imbatti
tu forse nel fantasma che ti salva:
si compongono qui le storie, gli atti
scancellati pel giuoco del futuro.

Cerca una maglia rotta nella rete
che ci stringe, tu balza fuori, fuggi!
Va, per te l'ho pregato,- ora la sete
mi sarà lieve, meno acre la ruggine…


(Eugenio Montale)

*

Bom dia!

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2.6.06


UMA OPORTUNIDADE PERDIDA: DISCUTIR TIMOR A SÉRIO



No artigo da Sábado, que seguiu segunda-feira à noite para a revista (que só se publica na quinta-feira), fazia as seguintes perguntas:
"Se criticamos os australianos de ingerência indevida, por dizerem que não há governo em Timor-Leste, com que lado alinha Portugal no conflito institucional timorense? A RTP e muita da comunicação social de “causas”, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa, alinham por Xanana contra o Primeiro-ministro, sem se saber muito bem porquê, mas a nossa política externa também “alinha”? Se os australianos se estão a ingerir nas questões de Timor-Leste, o que significa que estão a por em causa a soberania do país, quem manda em última instância nas ruas, o governo de Timor ou a Austrália? E se mandar a Austrália, e manda quem pode e tem a força, mandam também os comandos australianos na GNR? Se os australianos entenderem que a rua X está interdita, a GNR tem que negociar ou pedir licença para lá passar? Qual é a cadeia de comando em Dili?
Estas e mais mil e uma perguntas deviam estar a ser feitas e a ter respostas claras. Mas nem se pergunta, nem se responde."
Tentei discutir esta mesma questão na Quadratura do Círculo e a resposta foi que estava tudo já combinado e não havia qualquer problema com a cadeia de comando em Dili. Procurei na comunicação social alguma reflexão sobre esta questão, tão evidente era. Nada, até há vinte e quatro horas, quando subitamente se começou a perceber nas habituais declarações agrestes do Ministro dos Negócios Estrangeiros, que, ou havia precipitação, ou negligência (nossa) ou dolo (deles). Dolo de quem? De Xanana, do Governo legítimo de Timor, dos australianos?

Há explicações muito claras que têm que ser dadas, e não vejo a oposição e os parlamentares a fazerem aquilo que é a sua verdadeira função: vigiar o governo, controlar os seus actos, perguntar. Timor não pode continuar a ser um tabu "consensual". As decisões sobre Timor ou são puramente humanitárias, - ir lá buscar ou proteger os portugueses, já que para salvar os timorenses não temos capacidade, só os australianos -, ou são actos da nossa política externa, e como tal devem ser explicados. Ora o que diz o Ministro dos Negócios Estrangeiros pode ter duas interpretações contraditórias: ou é excessivo ou é bem pouco. Tudo está por explicar: o que é que se está a passar em Timor, e qual o nosso papel?

*
Ouvi na televisão o ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, afirmar, relativamente aos militares da GNR que se dirigem para Timor, que «Portugal tem mais de oito séculos e meio de independência nacional e não aceita que forças militares suas sejam comandadas por militares estrangeiros». Permito-me corrijo-lo. De facto, já por diversas vezes no passado Portugal aceitou «efectuar importantes transferências de soberania. A primeira foi em 1949, com Oliveira Salazar, quando Portugal foi membro fundador da NATO, aceitando que, em caso de guerra no teatro europeu, as suas tropas fossem comandadas por um Estado-Maior internacional, chefiado por um general americano (os nacionalistas não protestaram então». Talvez o Ministro dos Negócios Estrangeiros devesse informar-se junto do autor do livro do qual extraí esta passagem. Chama-se «Um voto a favor de Maastricht: Razões de uma atitude», escrito por um certo Diogo Freitas do Amaral.

(José Carlos Santos)

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INTENDÊNCIA

Actualizada a bibliografia dos ESTUDOS SOBRE COMUNISMO.

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ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O NOVO ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE (5ª série)




Porque é que ninguém considera os alunos como intervenientes activos e responsáveis pelo seu sucesso ou insucesso?

Atente-se no Plano de Acção para a Matemática, Ano Lectivo 2006-07: "(...) o sucesso de uma intervenção para a melhoria dos resultados em Matemática depende fundamentalmente do trabalho das escolas e do trabalho colectivo dos professores de matemática."
Os alunos nem sequer são considerados (isto para não falar já dos pais, dos quais, segundo parece, nada se espera).
O S. e a N. eram ambos meus alunos a Matemática no 9º ano. Tiveram 5 no final do ano e 5 no exame, quando bastava terem tido 3 para manterem o 5 final (e sabiam-no).
Porque é que trabalharam tanto para o exame? E porque é que outros, também meus alunos, a receberem as mesmas aulas, não o fizeram? E esta é que é a questão verdadeiramente crucial no problema do insucesso escolar!!! Os alunos. Andar à procura noutros sítios só me faz lembrar a história contada por Herberto Helder:
“Trata-se de uma mulher que perdeu uma agulha na cozinha e a procura na varanda de sua casa. Acorre então o jovem que pretende ajudá-la, e pergunta:
Que procura? – Uma agulha. Caiu-me na cozinha. Logo o inexperiente jovem se espanta muito e quer saber porque a procura ela na varanda. – Porque na cozinha está escuro – responde a mulher.
A parábola ajudará a desaprender alguma coisa, e depois será possível aprender outra coisa.”
Acho que isto diz tudo.

(Rui Monteiro, professor de Matemática)

*

Preocupação pertinente a da professora Madalena Santos no seu texto do Abrupto. As disciplinas de Área Projecto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica servem para tranquilizar as mentes pensantes do "eduquês" em primeiro lugar, servem para impedir uma maior exigência curricular a Português, Matemática, Inglês, etc. Servem para os professores falarem com "agenda", mas sem ensinar nada durante os 90 minutos que duram cada aula de cada uma dessas pseudo-disciplinas, servem também para que os alunos nunca mais na vida queiram fazer trabalhos de grupo tal a pressão para o fazerem, com qualquer pretexto, de qualquer modo e com qualquer tema, num difícil período de desenvolvimento pessoal, em que as aptidões necessárias ao sucesso de um trabalho de grupo tais como aceitação dos diferentes pontos de vista, capacidade negocial, objectividade em relação às competências de cada um, e gestão de recursos, estão muito pouco desenvolvidas ou mesmo ausentes. As repetidíssimas experiências de trabalho de grupo são sobretudo, nestas idades, momentos e motivos de acrescida tensão, conflito, luta por liderança, que pouco ajudam o bom relacionamento entre colegas e amigos e que tanto tempo tiram à aquisição de conhecimentos.

Também eu tenho dificuldade em perceber como ninguém nunca fala sobre este assunto. Os Pais não se importam?

(não sou professora)

(J.)

*

Reparo nos comentários que se continua a insistir em lugares comuns sobre os professores, típicos dum país em que todos desconfiamos que os outros não fazem nada. Não sou professor (nem o quero ser), mas conheço bem muitos professores. Para lá da experiência pessoal de que são sempre os meus amigos professores que têm menos disponibilidade e tempo livre, o facto é que quem se dá ao trabalho de investigar vê que um professor (pelo menos um professor normal, que em todas as profissões há quem não faça o que deve) trabalha tantos dias como os restantes trabalhadores (ao contrário do raciocínio simplista de muitos, quando os alunos estão de férias, os professores não estão de férias) e tem bastantes horas de trabalho por dia, a grande maioria das vezes muito mais do que oito horas. Claro que a maior parte das pessoas, completamente fora do mundo da educação, confundem "horas lectivas" com "horas de trabalho", quando uma grande parte da carga de trabalho docente consiste na preparação das aulas (ou assim devia ser...). Por isso, quando a maior parte dos meus amigos sai do trabalho, têm tempo para si; quando se trata dum professor, raramente tem tempo para deixar de pensar na profissão. Mas, claro, é mais cómodo deixar passar a imagem banal do "professor-preguiçoso". Talvez por traumas do tempo de escola...

(E ai de mim se insinuar que o ensino até melhorou um pouco nos últimos 30 anos, apesar de todos os entraves. Obviamente, é mais fácil dizer que está tudo mal, não tentar destrinçar nada e atirar para o ar uns lugares comuns à laia de soluções infalíveis.)

(Marco A. F. Neves)

*

Num conjunto de textos publicados n’As Farpas, sob o título “Os nossos filhos – instrução pública” ( e do qual aqui se transcreve alguns excertos), Ramalho Ortigão focava já alguns dos problemas que, neste momento, afectam o ensino e os que nele intervêm:

Em primeiro lugar os alunos habituam-se desde a infância, nos primeiros actos da sua vida civil, a descrerem do mérito, do trabalho, e do estudo, a contarem para todo o êxito com a falseação das provas, com a mercancia da justiça e com a omnipotência do compadrio – perfeita iniciação para uma inexistência de intriga, indolência e de desonra.

Os pais, quites para com as suas consciências dos encargos da educação que devem a seus filhos pelo facto de haverem delegado noutros esses encargos, contentam-se em participar aos parentes que o menino continua a ser aprovado nos seus exames, até que, aos dezasseis ou dezassete anos, o colégio devolve à família plenamente aprovado em todos os seus estudos o menino que a família lhe confiara, e o pai encontra-se então, frente a frente, no seu campo, na sua loja, na sua oficina, ou no seu lar doméstico, com um mancebo aproximadamente inútil para toda a espécie de emprego.

[…]

Na Escola Politécnica, na Universidade, num escritório comercial ou na casa paterna esse rapaz deixará correr descuidadamente a sua existência pelo declive fácil em que o puseram, sem estímulos afectuosos, sem vontade, sem energia, sem força, sem consciência e sem carácter”

(Ortigão, Ramalho – Os Nossos Filhos-Instrução Pública. In As Farpas, Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1944.Tomo VIII, p.15-17)
Ao ler estas palavras recordei-me de alguma situações passadas, como por exemplo, a da professora primária que numa aula do 3.º ano ensinou aos que um conjunto de dois versos era um dueto, tendo posteriormente, quando questionada sobre o facto por um dos pais, explicado que para eles era mais fácil fixar o termo dueto do que dístico; ou do professor cujas aulas se repetiam textualmente, ano após ano; do professor que corrigia os testes durante as aulas; ou ainda o caso do professor que, momentos antes de entrar na sala, confessava não saber que matéria iria dar naquela aula; mas também o caso dos cento e tal atestados médicos que foram entregues por alunos aquando dos exames do 12.º ano, entregues com a conivência de pais e médicos, há dois anos atrás; ou ainda o estudo divulgado na passada semana, segundo o qual 4 em cada 5 alunos do ensino superior, copiava, uma vez que a sociedade premeia as melhores classificações em detrimento do saber e outras capacidades…

O ensino em Portugal tem sido desde sempre um dos principais problemas a que nenhum governo (passe o exagero e a presunção), tem sabido dar resposta.

Certamente nos recordamos da possibilidade que existiu durante largos anos, de “professores” leccionarem, tendo como habilitações o 11.º ano, ou o curso da Alliance Française, British Council,…, sem a mínima preparação pedagógica (a este propósito, não consigo perceber a indignação de um dos leitores, docente no ensino superior politécnico, por o quererem “obrigar a fazer estágio pedagógico”).

Claro está que ao permitir-se atitudes destas, deu-se azo à máxima utilizada por um dos leitores: “Quem sabe faz, quem não sabe ensina, e quem não sabe ensinar é... agente educativo.”

Se a tudo isto juntarmos a massificação do ensino, (que levou a destruição do ensino técnico de que agora tanto se fala), o florescimento de escolas quer ao nível do ensino básico quer ao nível do ensino superior e a redução de alunos que se começou a verificar há alguns anos a esta parte, o resultado só poderia ser aquele a que chegámos.

E tudo isto era e tem sido do conhecimento dos governos, dos sindicatos, dos docentes e da sociedade em geral, sem que nada tenha sido feito para combater a situação, procurando-se agora empolar exageradamente a questão: um dos leitores chama a atenção para “a quantidade infindável de tarefas e funções a que vão obrigar os docentes [e para] a complexidade dos processos envolvidos em cada uma delas”.

Assim como as moedas têm sempre duas faces, também as situações podem ser sempre vistas de dois modos diferentes.

Ninguém, de bom senso, acredita que a cada professor será exigido o cumprimento simultâneo de todas as tarefas e funções enunciadas, tratando-se outrossim de um mero elencar das mesmas.

Por outro lado, é preciso não esquecer que muitos daqueles que tantos protestam são, provavelmente, os mesmos que usufruem de 6 a 8 horas de redução num horário de 22 horas, trabalhando 14 horas semanais (contrariamente ao funcionário público comum que é obrigado a fazer 35 horas até se reformar), e complementando o seu tempo de descanso, para que foram dispensados, com explicações noite dentro!

Em síntese, há boas e más políticas, há bons e maus bons profissionais, há melhores e piores condições de trabalho… (...)

(Jorge Amaral)

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Notas soltas sobre a Escola

Há 9 anos, era eu pouco mais que recém-licenciado, concorri para dar aulas no distrito de Beja – nos então designados "mini-concursos" – e fiquei colocado! Na altura tinha apenas uma licenciatura em Sociologia, obtida na Universidade Nova de Lisboa; tão mal forjada para as minhas necessidades de emprego como para as necessidades do mercado.

O facto de ter uma licenciatura em Sociologia tornava-me, na altura e creio que ainda hoje, legalmente habilitado para dar aulas de Português/História ao 2º ciclo do ensino básico; apesar da mesma legislação não me considerar capaz de leccionar… Sociologia!

Quando me apresentei na escola deram-me o horário com a anotação 318/91. Perguntei o que é que aquilo queria dizer e responderam-me que era o diploma legal que regulamentava o ensino especial e, no caso, o ensino que eu deveria leccionar às minhas turmas. Preocupei-me, li o diploma, preocupei-me ainda mais, falei com o conselho directivo que me tranquilizou e me encaminhou para o gabinete de psicologia da escola. No gabinete de psicologia tranquilizaram-me – outra vez! – e disseram-me que não me preocupasse, que não tivesse muitas expectativas em relação aqueles miúdos e que me limitasse a ir com eles ao centro de recursos, ver uns filmes, conversar um bocado… enfim, passar o ano.

Não sei se nesta altura do relato, para avaliar convenientemente a situação, interessa lembrar que eu não tinha experiência lectiva, não tinha qualificações para lidar com crianças com necessidades especiais, nunca tinha dado uma aula e que a única coisa que me habilitava a dar aulas de Português/História (ou passar o tempo com os alunos, como explicitamente o gabinete de psicologia da escola me sugeriu) era uma licenciatura em Sociologia. Por esta altura poder-se-á perguntar se o cenário era este, porque raio resolvi eu aceitar o desígnio. A explicação é simples. Estava desempregado, queria trabalhar (o que nem sempre são condições cumulativas), disponibilidade para sair de casa e ir arranjar emprego a 200 kms de casa (de Cascais a Beja), tinha um "perfil" de habilitações que o "mercado" reconhecia e validava, uma imensa vontade de aprender e, já nessa altura, uma grande apetência para os processos de ensino/aprendizagem.

Conheci finalmente os alunos. Eram 14. Distribuídos por 4 (!) turmas o que dá uma média de 3,5 alunos/turma. Uma turma tinha 6, a outra tinha 4 e ainda havia 2 turmas com 2 alunos cada. Nenhum deles tinhas necessidades especiais – sobretudo deficiências ou incapacidades como o discurso correcto lhes chama agora – como o diploma anunciava. Tinham de facto necessidades especiais, mas de outra ordem. Resultavam essas necessidades especiais de serem crianças provenientes de montes isolados e de lugarejos rurais, onde a sociabilidade era pouca, pobre, rude e, não poucas vezes, violenta.

Fosse lá como fosse, a escola tinha resolvido contratar um professor de português e um de matemática e outros de outras disciplinas para dar "acompanhamento" mais personalizado (um acompanhamento sobre o qual nem sequer tinham pensado muito…) a estas crianças.

Nem vou falar sobre o efeito que esta pedagogia, alegadamente inclusiva, e o seu efeito estigmatizante, consubstanciado no facto de se criarem turmas especiais para os "bichos do mato" ou, como lhes chamavam na altura, os "319", tinha sobre as crianças.

Vou falar de prioridades. E de custos. Que é coisa que a esquerda normalmente acha que faz parte da agenda suja da política.

Ora bem, eu tinha na altura um horário completo (deveriam rondar, não me recordo com exactidão, as 21 horas lectivas) tal como todos os meus colegas que tinham, também eles, aproximadamente 4 turmas "normais". Uma turma "normal" contava com uns 20 e tal alunos. Façamos a coisa pelos 22. Ora cada colega tinha (4 turmas x 22 alunos) 88 alunos. Eu tinha 14. Recebíamos todos aproximadamente o mesmo. Eu deveria receber, líquidos, qualquer coisa como 180 contos. Ora, isto fazia com que os meus alunos, para desenvolverem competências em Português/História, custassem, cada um deles, (180 cts/14 alunos) quase 13 contos por mês. Ao passo que os outros alunos custavam apenas (180 cts/88 alunos) 2 contos; para o mesmo objectivo.

A pergunta que eu faço, e faço-a a pensar nesta minha experiência particular, como a faço a pensar nos acontecimentos em discussão sobre a violência nas escolas urbanas e sub-urbanas é a seguinte: e os melhores? Quem se preocupa com os melhores? Aqueles que, em turmas "normais", aguardam pelo curso normal, na melhor da hipóteses, da mediania geral? Pior: quem se preocupa com aqueles que, não sendo ainda pré ou proto ou recém delinquentes, pelo convívio e sobretudo pela partilha do espaço escolar com todos aqueles que já são qualquercoisa-delinquentes acabam por não se desenvolverem como mereciam numa escola que estimulasse a excelência e que não andasse sempre a olhar para os mais violentos, e para os mais carentes de ajuda e para os mais atrasados.

É evidente que não julgo que se devam deixar cair, ainda mais, os mais fracos. O que não suporto é ver a Escola consumir-se até à exaustão com toda a problemática dos coitadinhos, nomeadamente por via dos efeitos que o meio exerce sobre eles, como se o facto de se nascer e viver na Cova da Moura tornasse o individuo, inexoravelmente, num marginal inimputável ou merecedor de maior atenuante que outro marginal qualquer nascido e criado na Quinta da Gandarinha.

O que não suporto é ver a Escola transformar-se numa arena em que aos alunos e aos pais dos alunos é permitido insultar, cuspir, agredir e incendiar os cabelos dos professores, com total impunidade. E um Estado que ao invés de proteger a Escola e de a centrar no essencial a desloca para tarefas que deveriam estar a ser, no limite, caso os pais sejam irremediavelmente casos perdidos, desempenhadas pelo Instituto de Reinserção Social, pela Polícia, pelos Tribunais e pela Segurança Social.

(Pedro Gomes Sanches)

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Sou professor do ensino secundário e estou, como muitos outros, "de rastos" com o actual estado da carreira docente. A proposta apresentada por este governo vai piorar ainda mais o nível do ensino em Porugal. É reconhecido pelos especialistas que a carreira docente é uma das profissões mais causadoras de stress e as alterações que têm sido introduzidas nos últimos anos só têm ajudado a piorar o estado das coisas, como referia um leitor deste blog, neste momento os professores vivem "afogados" em burocracia, reuniões e projectos, não lhes sobrando muito tempo para fazerem aquilo para que se propuseram e que é preparar aulas e ensinar. Como se não bastasse o actual estado das coisas e os ataques que já foram feitos vem agora este governo denegrir ainda mais a imagem dos professores perante a opinião pública, por que razão? Na minha opinião estas manobras mediaticas têm por objectivo legitimar junto da opinião pública este ataque à classe docente.

As razões que estão por detrás deste novo estatuto são as mesmas que estão por detrás da lei que pretendia obrigar os professores a permanecerem 35 horas por semana na escola e que são, nada mais nada menos que o corte no orçamento da educação. Inventam-se motivos, inflama-se a opinião pública contra os professores para que, no meio da confusão, os cortes salariais sejam introduzidos. Na minha situação em particular, com a aplicação desta lei no presente ano lectivo, com os mesmos cargos e com o mesmo ou mais trabalho na escola tive um corte salarial de cerca de 150 €. Multiplicado este valor por alguns milhares é facil encontrar a causa do surgimento desta lei.

O estatuto proposto vai provocar exactamente o mesmo efeito desejado. Com a introdução de bastantes entraves na subida da carreira docente (convenientemente disfarçados com motivações pedagógicas) vão haver bastantes professores a ficar retidos em escalões mais baixos e consequentemente com ordenados inferiores.

Relativamente à resposta por parte dos sindicatos a esta situação gostaria aqui de lamentar a desunião existente e a manipulação partidária dos mesmos.
Que lógica tem um sindicato ser apoiado por um partido? Como é obvio quando esse partido estiver no governo vão existir compadrios e o sindicato não vai fazer o papel que devia! Quem acredita no contrário?
Gostava ainda de referir que relativamente à greve anunciada pela FENPROF, prevista para uma ponte, sem estar sequer disposta a ouvir os demais sindicatos e a chegar a um acordo para uma iniciativa concertada, na minha opinião joga claramente a favor do governo pois desta forma a única coisa que vão conseguir é denegrir ainda mais a imagem dos professores junto da opinião pública. Todas as pessoas vão se levadas a pensar que a greve foi feita para que se tivesse um fim de semana prolongado, "malandros dos professores que só querem sopas e descanso".

(Francisco Lampreia)

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Antes de mais quero esclarecer que sou professor. Tenho uma licenciatura em Física cujos os primeiros dois anos e meio são comuns à preparação científica de outros cursos do ramo científico (Matemática e Física) nos semestres seguintes são “cadeiras” das áreas das didácticas específicas , psicologia, sociologia entre outras. A preparação de uma monografia temática no quarto ano com uma forte componente laboratorial associada é igualmente necessária. O quinto ano da licenciatura é um estágio com 3 supervisores, dois científicos (Física e Química) e um docente que acompanhou as minhas actividades numa escola, o estágio pedagógico integrado, que inclui a elaboração de dois seminários (trabalhos escrito em estreita colaboração com os supervisores científicos).

Tenho 10 anos de serviço nos quais ao longo dos primeiros cinco conheci várias escolas e portanto realidades diversas. Nos últimos seis anos tenho trabalhado na formação inicial de professores tendo exercido o cargo de supervisor pedagógico em colaboração com a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. A formação acrescida, fornecida pela instituição do ensino superior para o exercício do cargo tem sido realizada regularmente e de forma pertinente com vista à melhoria do processo. Para além disso adquiri um Mestrado na área da Educação Multimédia cuja interdisciplinaridade muito enriquece quem o frequenta. A minha tese assentou num desenvolvimento de um estudo nacional sobre a utilização das TIC na escola em particular pelos professores da minha área; na produção de recursos e estratégias para uma eficaz integração das novas tecnologias nas escolas e na compreensão das perspectivas pedagógica – didácticas com base no livro branco da Física e Química entre outros estudos com vista a uma mudança de paradigma educativo cuja a eficácia dê resposta às necessidades não só formativas da população para o século XXI como do desenvolvimento de competências transferíveis. Participei em simpósios internacionais apresentando comunicações. Formador de professores, actividade que suspendi por ter optado por continuar como supervisor apesar de penalizado do ponto de vista remuneratório.

Constato hoje que os meus alunos de 9º ano de à dez anos sabiam mais e melhor, que a maioria dos alunos que agora completam o 11º ano de escolaridade. Para que possa compreender que esta é uma comparação possível e não uma opinião cumpre-me explicar que o currículo está elaborado em espiral. De uma forma simples é o mesmo que dizer que os alunos andam sempre a falar do mesmo mas com graus de profundidade crescente. Voltam sempre, mais tarde, aos assuntos. É portanto comparável tendo em conta que hoje coloco nas minhas fichas de avaliação do 10º e 11º ano questões com um nível de exigência idêntico às que colocava aos meus alunos de 9º ano de à dez anos atrás. Os professores são os mesmos. O que mudou então? A resposta é simples: o sistema. Temos os mesmos programas e menos horas para os leccionar; o número de alunos por professor disparou. Quando comecei um professor tinha cerca de quatro turmas (cerca de 100 alunos); hoje um professor tem entre 7 a 11 turmas ( cerca de 180 alunos). Equacionando a implementação de novos programas e de um aumento significativo de trabalho burocrático nas escolas com a pressão da instituição e da sociedade para um sucesso a qualquer custo começa-se a compreender os resultados. Lembremo-nos do tempo em que era necessário o 9º ano para obter a carta de condução, forma de reconhecimento dos valores e conhecimentos aí adquiridos. Hoje esse é um aspecto irrelevante.

Antes de qualquer opinião que se possa ter sobre a proposta do governo no que respeita ao ECD é necessário perceber que esta é uma mudança de paradigma e que o actual estatuto não é comparável à proposta do governo.

Sobre este assunto seria interessante conhecer as opiniões de Roberto Carneiro, Marçal Grilo ou Ana Benavente.

A grande diferença está no estatuto dos professores. Afinal é essa a função do documento. As diferenças são enormes. De modo muito simplificado podemos afirmar que no actual ECD, ainda em vigor, os professores são vistos como responsáveis e parte integrante do sistema educativo. As suas funções no terreno são trabalhar com o ministério da educação no sentido de melhorar o sistema. Na actual proposta os professores não trabalham com, mas para o ministério da educação. São funcionários (servis) e não colaboradores activos para uma melhor educação.

Como supervisor estou habituado a ter aulas assistidas todos os anos por várias pessoas. Assisto e avalio o desempenho de outros à tempo suficiente para perceber que este sistema de avaliação serve sobretudo para avaliar um funcionário e não um professor.

Neste novo paradigma as responsabilidades do governo são enormes. Não há dúvida que face a maus resultados o governo não mais poderá atribuir a culpa aos docentes, pois possui todos os mecanismos de avaliação e correcção das irregularidades do sistema.

Resta saber se este é o modelo adequado às exigências dos tempos e do país. Este não é apenas um Estatuto da Carreira dos Docentes é um modelo de educação para o país que vamos conhecendo aos poucos. O país deve ter uma palavra a dizer e o assunto deve ser discutido abertamente sem a postura fossilizante dos sindicatos e a casmurrice da ministra.

É talvez a confusão entre formação profissional e educação que este governo não percebe.

Os sucessivos governos PS têm afundado sempre a educação pública. Esta é sem dúvida a última machadada. O PP não faria melhor.

Do ponto de vista social a situação é grave e tende a agravar-se. Ao contrário do que possa supor qualquer intelectual de esquerda esta democratização da ignorância que a escola pública promove (não os professores) levará, na minha opinião e a curto prazo a uma cisão entre classes sociais. Os acontecimentos recente em Paris com a incineração de automóveis na via pública é um aviso a que devemos estar atentos.

Um último pensamento: ainda não percebi se esta reforma em curso é fruto de uma convicção séria ou de uma posição demagógica com objectivos económico-financeiros mas que ainda não pesou as consequências a longo prazo.

“A coragem e a estupidez identificam-se pelos resultados obtidos” dizia um colega meu; o problema é que quem irá pagar será o país e não este governo pois é certo que nessa altura estarão na oposição.

Uma coisa é certo estas não são as funções para as quais me preparei.

(C. B.)
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Por que razão ninguém toca na ferida das àreas Projecto e Estudo Acompanhado que, juntamente com a Formação Cívica, têm uma carga horária igual a duas disciplinas, tal como História e Ciências ou CN e Inglês. A redução da carga de Inglês? Depois a Senhora Ministra diz que eles não sabem matemática.... E a indisciplina? Os programas?
Os noventa minutos, em que sobeja tempo útil de aula, ao contrário dos quarenta e cinco, em que falta? E as carências dos meninos mais pobres? E as pobrezas morais que por aí há que "animam" muito os telejornais? Na escola, nós temos de lidar com elas antes da "Alice no País das Maravilhas".

A culpa é sempre toda dos porfessores. Porquê?

(Madalena Santos, Professora do 2º ciclo, Ensino Básico)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: TANQUES, EFFENDI

Kursk History's Greatest Tank Battle Nik Cornish, Kursk History's Greatest Tank Battle

No que correu bem (algumas coisas correram bem aos alemães) e no que correu mal (muita coisa), a batalha de Kursk foi mais decisiva do que qualquer outra para o destino final da II Guerra Mundial. Não é líquido o que podia acontecer caso Hitler não tivesse mandado suspender a ofensiva, no momento em que, com muita dificuldade,as divisões alemãs tinham conseguido juntar-se numa frente contínua, para reforçar a frente italiana ameaçada pelos desembarques americanos.

Conheci um combatente de Kursk, um velho azeri com os dentes de ouro, que usava as suas medalhas sobre um fato puído. Chamava-me "effendi", palavra que nunca imaginei alguém chamar-me, tão longe vinha da história otomana e queria vender uma carpete que trazia aos ombros, a sua riqueza súbita num sítio onde não havia turistas. Mas o velho sabia muito mais do que eu e não esquecera a deferência do tratamento para com quem, naquele sítio, uma aldeia azeri com refugiados do Nagorno-Karabakh, estava com as autoridades, com o poder. Contava depois, com orgulho, como tinha iniciado a guerra nos momentos difíceis de 1941 e a tinha acabado em Praga vitorioso, combatendo sempre pelo caminho. Com passagem pelo matadouro de Kursk.

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Discordo, JPP, que a batalha de Kursk tenha sido mais decisiva "do que qualquer outra" para o destino final da II Guerra Mundial. A mais decisiva foi Estalinegrado, e Kursk, 5 meses depois da rendição do 6º Exército, foi apenas o seu remate.
Em Estalinegrado não foi apenas o 6º Exército, a fina flor da Wermatch que vencera a França um ano antes, que desapareceu; foi praticamente todo o exército romeno e boa parte do grupo de exércitos do Don! Mais: a ofensiva russa em tenaz que cercou o 6º exército alemão em Estalinegrado foi apenas parte de uma ofensiva muito mais geral que atacou depois todo o flanco esquerdo da ofensiva alemã, guarnecido por exércitos italianos, obrigando o grupo de exércitos do Don a retirar apressadamente para Karkhov, de onde partira a ofensiva de Verão desse ano de 1942.
Mas há mais: conforme foi narrado pelo grupo de reporteres do 6º exército, no Inverno de 1942-43 a Rússia já produzia mais tanques, morteiros e munições que o Reich. O T-34, embora fosse um tanque primitivo quando comparado com o Tigre que faria a sua "apresentação" meses depois, em Kursk, avariava muito menos que este precisamente devido à sua simplicidade, e tinha lagartas largas adaptadas à neve e à lama. Os Tigres tinham uma blindagem quase invulnerável e um canhão incomparável, o 88, mas enterrava-se com facilidade devido ao seu peso e avariava-se ainda mais facilmente. Em Kursk boa parte deles não passou dos campos de minas com que os russos se fortificaram.
E mais ainda: já em Estalinegrado a percentagem de feridos que sobrevivia era nos russos superior à dos alemães, atestando a superioridade dos seus serviços médicos de campanha! Mas, onde a superioridade se afirmaria ainda mais, seria na espionagem.
Em Kursk, apenas alguns meses depois da derrota da ofensiva para o Cáucaso, Hitler já estava derrotado à partida. Era claro que não conseguira destruir os exércitos russos nem a Norte, em 1941, nem a sul em 1942, e por isso foi uma ofensiva desesperada.
Em primeiro lugar por que, ao contrário das anteriores, este ataque já não se inseria num plano estratégico (a ofensiva de 41 visara Moscovo e a de 42 o petróleo do Cáucaso). Em segundo lugar porque Hitler piorou da sua paranóia racista e decidiu abdicar dos exércitos auxiliares estrangeiros (aliás já praticamente destruídos) e apostar em factores mágicos, nomeadamente nas divisões SS de maior pureza racial e dando-lhes nomes gloriosos. Em terceiro lugar por que os russos dominavam completamente o terreno e as informações: minutos antes do hora marcada secretamente para o início do ataque, o exército russo desencadeou uma barragem infernal de artilharia, mostrando que sabia tudo sobre os planos nazis, para já não falar nas fortificações preparadas arduamente durante semanas, incluindo vastos campos de minas que, apesar da eficácia nocturna dos sapadores alemães, foram um cemitério para os tigres. Em quarto lugar por que os russos tinham entretanto aprendido tácticas de combate tão boas como as dos alemães (e que por sua vez eram incomparavelmente melhores que as de ingleses e americanos).
A primeira importância de Kursk foi a de ser a primeira batalha frontal em que, em pleno Verão, quando os tanques se não enterravam e os aviões tinham boa visibilidade, os exércitos mecanizados nazis tiveram tantas baixas como o seu inimigo. Com uma diferença: enquanto os russos eram já capazes de substituir as máquinas e os homens perdidos em poucos meses, as perdas alemãs eram praticamente irrecuperáveis.
A segunda e maior importância de Kursk foi a de ter tornado claro para todo o mundo que a eficácia militar de choque nazi fora superada. Foi certamente por isso que foi a partir de Kursk, no Verão de 43, que a resistência clandestina nos territórios ocupados ganhou outro fôlego e alguns colaboracionistas começaram a mudar de campo, como Miterrand. Infelizmente foi também a partir de Kursk que a paranóia nazi descambou de todo, atribuindo aos judeus a culpa dos males sofridos e que eles próprios tinham provocado, e que a matança dos mesmos entrou no desenfreamenteo total.
Não creio que a ofensiva de Kursk tenha sido parada por Hitler por que os aliados ameaçavam a Itália. Creio que foi ao contrário: os aliados resolveram finalmente atacar a sério a Ocidente por que em Kursk ficou claro que Rússia ganhara a guerra. Até por que em Itália os aliados negociaram com os italianos a sua mudança de campo e estes não ofereceram resistência. Teriam de vir a ser os páraquedistas alemães a deter a ofensiva aliada em Monte Cassino, meses depois, já bastante perto de Roma...
Significa isto que a guerra aliada na frente ocidental não teve mérito? Teve, claro. Mas muito mais por ter impedido o comunismo de ocupar o Ocidente do que por ter derrotado os alemães!...

(Pinto de Sá)

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INTENDÊNCIA

Para que seja possível um ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O NOVO ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE (5ª série), textos mais curtos por favor.

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O CÃO, O DIA DO CÃO E O DIA DE TODOS OS ANIMAIS, INCLUINDO O TOURO



Há coisas que não se percebem. Por que razão o Grupo Parlamentar do PSD se expõe ao ridículo com esta história do "dia do cão"? É verdade que a maneira como tratamos os animais é um elemento de civilização, como os ingleses perceberam há muito. Mas é impossível falar de um tratamento "humano" dos animais em Portugal sem nos lembrarmos do touro e das touradas e, sobre isso, presumo que o Grupo Parlamentar do PSD não queira dizer nada, agora que o Campo Pequeno reabriu e o marialvismo toureiro tem foros de jet set e de tempo nobre na televisão. Não há coisas mais importantes para fazer?

*
Estava ainda sonolenta quando ouvi hoje de manhã, julgando estar a sonhar, o rádio despertador despejar que um qualquer senhor a quem pago para fazer estas coisas (!) propor que se celebrasse um dia do cão.
Incredulidade seria uma palavra demasiado forte para descrever o que fui sentindo. Acho que já nem tenho força para tanto - apenas um encolher de ombros e as palavras pensadas de que "andamos aqui a levantarmo-nos às 7 da manhã para trabalhar e um gajo armado ao engraçadinho vem insultar-nos com coisas destas".
É um insulto às pessoas, mesmo as que como eu gostam muito de cães, mas não têm espaço, nem tempo (apenas obtíveis por dinheiro) para ter um, que um deputado tenho gasto sequer uma hora do seu tempo (que muito me custou a ganhar, sim porque somos nós que lhes pagamos) a congeminar uma treta destas!

(Maria Baldinho)

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DOG, n.
A kind of additional or subsidiary Deity designed to catch the overflow and surplus of the world's worship. This Divine Being in some of his smaller and silkier incarnations takes, in the affection of Woman, the place to which there is no human male aspirant. The Dog is a survival -- an anachronism. He toils not, neither does he spin, yet Solomon in all his glory never lay upon a door-mat all day long, sun-soaked and fly-fed and fat, while his master worked for the means wherewith to purchase the idle wag of the Solomonic tail, seasoned with a look of tolerant recognition.

The Devil's Dictionary - Ambrose Bierce

(João Costa)


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EARLY MORNING BLOGS 786

Navigating in the Dark


Papua, Indonesia

In this mining town in Papua the electricity
Has a habit of giving up at night, and this

Is a miracle of modern stasis, a secular Shabbat,
Reminding us of what is expendable, of how so few

Of us ever truly experience the dark. We are amazed,
My wife and I, with the heavy darkness

Of the no moon jungle, insect sounds lacerating
All illusions of silent places. “It’s so absolute,”

My wife says, and I like to think she means
More than the darkness; the naked places

Of ourselves we dress in sunlight, lamps,
And recorded music like antithetical

Blanche DeBois’s fearing a different sort
Of scrutiny. “We could pretend it’s 1940,”

I say, “put a Jack Benny tape on the short wave
And drink coffee, light candles.” She suggests

A walk outside instead, where there are dozens
Of others already out on paths bounded by jungle,

Stepping small and laughing loudly through various
Uncertainties; flashlights as eyes, ears like animals’.

Soon we are trying only to remember not to disappear
Altogether; everything is so absolutely, so darkly possible.


(Erik Campbell)

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Bom dia!

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O NOVO ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE (4ª série)



E, no entanto, a Ministra tem razão! Concursos para quatro anos,avaliação dos professores, congelamento da progressão automática na carreira,substituição dos professores em falta, maior envolvimento dos pais e associações locais,só como exemplo, são medidas sensatas que os professores deveriam analisar com isenção, em vez de declararem guerra dia sim, dia não!

O nível,deplorável, do conhecimento dos nossos jovens, não é razão suficiente para que os nossos professores tenham um bocadinho mais de humildade?

Numa má educação,o culpado é sempre o educador! Somos todos? Seja! mas então juntemos esforços para vencer esta batalha, que é decisiva para o nosso futuro!

(Luis Moreira)

*

Aqui deixo a minha opinião sobre alguns dos pontos da proposta que considero mais pertinentes:

O artigo 22º da proposta enuncia os requisitos gerais e específicos para a docência, de entre os quais aparece como grande novidade a obrigação do candidato, depois de frequentar a instituição de ensino superior que lhe concede a qualificação profissional, realizar uma prova nacional de avaliação de conhecimentos e competências, assente numa prova escrita e numa entrevista, a determinar em futura portaria.

Ora, não tendo nada contra a realização pelo candidato a docente da referida prova nacional, uma vez que a mesma irá determinar, porventura, uma elevação do nível de exigência dos futuros professores, não é menos verdade que a mesma determina um acto de desresponsabilização ou, pelo menos, de desconfiança perante o papel das instituições de ensino superior na formação de docentes. De facto, se se quer que os futuros professores façam uma prova extra-licenciatura, então há que assumir que o problema poderá estar, sobretudo, na falta de confiança que o ME demonstra pelo desempenho e capacidade das universidades e das ESE`s em formar docentes. Assim, não seria melhor, para além da referida prova, assumir uma política séria e rigorosa de avaliação do desempenho das universidades e das ESE`s na formação dos seus alunos? É que, com o financiamento destas instituições a ser determinado pelo número de alunos que têm, o normal será que as mesmas queiram "fabricar" licenciados a todo e qualquer custo...

Em relação às duas categorias de docentes que a proposta veicula (professor e professor titular), como vem no artigo 34º, embora a intenção ministerial possa ser a de melhorar a organização e metodologias de trabalho a desenvolver por cada um dos departamentos da escola e outros órgãos da escola, não tenhamos dúvidas que a mesma poderá, infelizmente, aumentar as desigualdades e conflitos entre docentes, até porque falamos de "funções diferenciadas pela sua natureza, âmbito, grau de responsabilidade e nível remuneratório". Digo conflitos porque, na minha modesta opinião, a idade, nesta profissão, não constitui um factor exacto de maior empenho, capacidade ou responsabilidade. Bem sei que não fica nada bem, no politicamente correcto deste país, termos alguém de 30 anos com um cargo "superior" ao de um seu colega de trabalho de 50 anos de idade, mas, por exemplo, quem me diz que um professor com dez anos de serviço, mas com um curso de mestrado em organização escolar, não poderá desempenhar melhor o cargo de coordenador de departamento do que um docente com 25 anos de carreira, contrariado, sem vontade de ocupar o dito cargo e que não investiu nada na melhoria da sua formação académica?

A minha proposta seria a de fomentar a democracia na escola. Todos os docentes de cada departamento teriam uma palavra a dizer sobre a melhor pessoa a indicar para ocupar o cargo de coordenador de departamento, baseando-se tal escolha não na idade, mas sim na competência, tomando-se a mesma estratégia para todos os outros cargos da escola...

Outra questão pertinente que ressalta da proposta do ME é a do artigo 36º, no seu número 2. Quem se der ao trabalho de ler todas as competências que o ME remete para a profissão docente, certamente não estranhará que o que o ME quer é que o professor seja muito mais do que um formador: há que ser orientador, psicólogo, animador, confindente, organizador de papelada, gestor, e professor claro, enfim, temos que ser homens e mulheres dos sete instrumentos... São mais de vinte deveres que o ME nos impõe a cumprir!!!

Sobre a possibilidade dos pais intervirem na avaliação dos professores, apenas deixo duas questões: a concessão de direitos aos pais não impede que se descurem os deveres, pois não? Então porque só se fala dos direitos e se esquecem os deveres a que os pais estão obrigados em termos de responsabilização pelos actos dos seus filhos?

(Pedro Peixoto)

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Algumas questões sobre a revisão do Estatuto da Carreira Docente

Natureza e estrutura da carreira docente
Não se compreende a necessidade de hierarquizar em duas carreiras quando os professores, sejam desta ou daquela categoria, têm o mesmo tipo de alunos. O mérito pode ser reconhecido na mesma carreira através da avaliação e de incentivos.

Conteúdo funcional
É estranho que, de um momento para outro, professores que são há muitos anos coordenadores de departamento, orientadores pedagógicos etc., passem por via administrativa a serem professores de uma carreira considerada inferior e impedidos de continuarem a exercer essas funções e substituídos por outros que por razões diversas não o fizeram até agora. Vão sentir-se penalizados pelo trabalho que fizeram e discriminados por terem feito actividades que a lógica do mérito deveria promover. Em muitas escolas pode criar-se um vazio, sobretudo nas escolas mais afastadas dos centros urbanos, no interior sobretudo, agravando também a discriminação geográfica e social dos alunos desses meios.

Acesso à carreira de professor titular
Professor titular apenas com 18 anos de serviço? Afinal o mérito é fruto do trabalho, do conhecimento ou da idade?
Transição da carreira docente Na transição da carreira docente os professores dos actuais 9º e 10º escalão passam a ser equiparados a professores titulares para efeitos funcionais e remuneratórios, exceptuando a aplicação das correspondentes regras de progressão e o exercício dos cargos de coordenação científico-pedagógica que estejam especialmente cometidos àquela categoria. Significa isso que no dia 1 de Janeiro de 2007 não existem, por exemplo, coordenadores de departamento habilitados? Como funcionarão os Conselhos Pedagógicos?

A dimensão ética A dimensão ética necessita de ser definida sob o risco de se resvalar para a identificação simplista de comportamentos aprovados ou reprováveis, de acordo com um padrão médio eivado de preconceitos, pondo em causa a liberdade de ensinar. Aliás, a insistência nos processos em detrimento dos resultados pode pôr em causa a diversidade de métodos e levar a algum puritanismo e à arrogância da forma “única” de ensinar e aprender, o que pode ter como consequência a utilização de fórmulas e receitas que não suscitem críticas e, portanto, acríticas e estandardizadas.

Autonomia técnica e funcional
A autonomia técnica e funcional é posta em causa através da avaliação dos professores por pessoas que não têm conhecimentos científicos e técnicos. Pode correr-se o risco de haver professores que actuem apenas de acordo com a opinião pública ou da minoria de pais que intervêm nas escolas e nos meios de comunicação social e, por outro lado, promover a confusão entre os professores que mantêm boas práticas levando-os a “funcionalizar” a profissão de acordo com as modas, em detrimento do espírito crítico, do aprofundar de conhecimentos e da inovação

Avaliação por professores do Ensino Superior
Na avaliação dos docentes por outros docentes do ensino superior tem que ser assegurado que os avaliadores sejam da mesma área, que conheçam o ambiente das escolas e os programas e que tenham habilitações superiores na mesma área. Poder-se-à correr o risco de, e dada a autonomia destas instituições, por exemplo, um professor de Física ser avaliado por um docente de um departamento de Pedagogia com a formação de base em Sociologia ou de ter até menos habilitações. Sublinhe-se que na carreira docente das ESEs e Institutos Politécnicos não era exigido o doutoramento e continuam a existir assistentes licenciados. Por outro lado, uma crítica recorrente ao ensino superior é o facto de os professores não serem avaliados pela sua qualidade pedagógica. Corre-se também o risco de os avaliadores proporem um modelo de professor que tem uma linguagem científica correcta mas que menoriza a aprendizagem dos alunos (veja-se também as causas do abandono escolar no ensino superior). Será legítimo alguém avaliar aulas quando nunca passou pela experiência de ser avaliado nas aulas?

Avaliação pelo coordenador de Departamento e direcção executiva.

No processo de avaliação fica o ónus, na prática, essencialmente no coordenador de departamento. A avaliação seria mais independente se fossem também chamados outros professores (até de outras escolas).

Avaliação pela Inspecção
A avaliação dos docentes que exercem as funções de coordenador de departamento ou do conselho de docentes efectuada pelos inspectores terá que ter a garantia que os mesmos inspectores estejam familiarizados com os ambientes das aulas e a prática de assistência às aulas, o que não tem acontecido até agora. Infelizmente, por razões diversas, entre as quais a sempre referida falta de meios, a inspecção conhece melhor as escolas através de processos burocráticos do que pelo conhecimento da realidade das turmas concretas onde os professores trabalham. Além disso haveria que garantir que tivessem mais habilitações que os professores que vão avaliar.

Sistema de classificação e percentagens máximas As classificações nunca deveriam depender de percentagens. A Lei de Bases é clara quando refere o primado do pedagógico sobre o administrativo. Uma coisa é admitir não haver condições financeiras para todos os professores qualificáveis de muito bom ou excelente progredirem de determinada maneira, outra é o mérito da classificação. A consequência directa é a desigualdade de classificações para o mesmo tipo de trabalho em diferentes escolas. Pode também assim promover-se a mediania em detrimento da qualidade.

Itens de classificação: abandono escolar e resultados escolares

A questão do abandono escolar na ponderação da classificação dos professores tem que ser objecto de reflexão em diversas situações que não são controláveis pelas escolas. Por exemplo, verifica-se no 10º ano que muitos alunos se matriculam nos cursos que visam o ingresso no ensino superior e que pouco tempo depois “abandonam” para frequentarem cursos profissionais.
Os resultados escolares dependem do percurso anterior que, até por via administrativa, coarctou possibilidades de aprendizagens em determinadas disciplinas. Veja-se o caso de História, onde no 3º ciclo, de um programa previsto para três aulas semanais nos três anos, se passou em muitas escolas para uma aula de 90 minutos no sétimo e nono ano e uma aula de 90 minutos mais uma de 45 minutos no oitavo ano. A perda de cerca de 100 horas num ciclo não pôde permitir o desenvolvimento de competências e conhecimentos o que vai ter repercussões no ensino secundário. O que fará o professor? Recupera o tempo perdido e não cumpre a totalidade do programa prescrito ou descura a qualidade e é penalizado de uma maneira ou de outra?
Os curricula e as frequentes alterações a estes também não ajudam. Cite-se o caso do ensino secundário em que os alunos continuam com horários extensos e programas que pretendem abarcar tudo, como se fossem mini-licenciaturas. Nos programas privilegiam-se as competências e nos exames exigem-se todos os conteúdos. Uma das consequências tem sido, nas aulas, nas disciplinas sujeitas a exame, privilegiar-se o ensino magistral de muitos conteúdos, frequentemente ensinados superficialmente por falta de tempo, em detrimento dos conteúdos e competências essenciais que deveriam ser mais aprofundados. Veja-se aliás, exemplos de competências exigidas:

??Percepcionar no meio social, no seu sentido mais vasto, mediante a focagem globalizadora específica da História; ??Relacionar e integrar informações de origem diversa num corpo estruturado de conhecimentos, moldando a sua própria percepção da História, por via de uma aprendizagem significativa. (programa de História C do ensino secundário).

Acções de formação
As acções de formação com “estreita ligação à matéria curricular que lecciona” podem fazer perigar a abertura a outros conhecimentos. Será inútil um professor de Biologia ter uma acção de formação em inglês, o que lhe pode permitir participar no programa Sócrates? Não seria interessante um professor de História ter algumas noções de Física Quântica que poderia aproveitar para melhor levar os alunos a compreender as inovações da ciência no século XX?

Dispensas para formação

As dispensas para formação só podem ser concedidas na componente não lectiva do horário do docente. Como poderão os professores das escolas do interior fazer formação noutros locais que podem ficar a centenas de quilómetros: no Natal, na Páscoa, em Agosto?

(João Simas, Professor de História do Ensino Secundário na Escola Secundária de Severim de Faria em Évora)

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Portugal conta, actualmente, com um número elevadíssimo de maus professores, parece ninguém ter dúvidas a este respeito, graças a Deus que temos bons psicólogos, bons políticos, bons governantes, uma boa ministra da educação e bons teorizadores das ciências de Educação, que seria do país se assim não fosse!

E, claro está, aliás, de outra forma não poderia ser, assim foi sempre, cá estão os bons a resolver o problema dos maus. Para isso muito se têm esforçado os bons a ensinar os maus, vejamos: os políticos dão-nos exemplos brilhantes de virtudes, como, a humildade, a honestidade, a assiduidade, a pontualidade, enfim, o trabalho acima de tudo (mesmo que o tudo seja um jogo de futebol); os psicólogos resolvem-nos os problemas de indisciplina nas escolas, afinal tão simples, basta tirar as crianças aos pais biológicos, como é que nunca nenhum professor tinha pensado nisto!; os governantes são modelos de verdade, imparcialidade, defensores dos desfavorecidos, tudo fazem pela integração social e pela defesa dos direitos humanos, o combate à violência doméstica, que afecta, na maior parte dos casos, as mulheres, é um bom exemplo da preocupação do governo, mas, note-se, apenas a doméstica, porque a mesma mulher, pode estar sujeita a todos os tipos de violência, caso seja professora; quanto à ministra, inigualável, tem-nos ensinado o que é a dignidade, o respeito pela profissão, vai, até, ao ponto de nos dar exemplos, para que possamos compreender bem a lição, veja-se, a exemplo, a comparação entre a docência e a medicina, digno, muito digno! E as ciências da educação, o que elas nos têm ensinado, veja-se, uma vez mais, a exemplo, a questão da avaliação, andam os professores uma vida inteira a aprender a usar instrumentos e mecanismos de avaliação, tais como, grelhas de auto e hetero-avaliação, fichas de avaliação diagnóstica, de avaliação formativa, de avaliação sumativa, observação directa das aptidões a todos os níveis, das competências, do empenho, do interesse, da participação, do espírito crítico, da iniciativa, da responsabilidade, dos trabalhos realizados, das atitudes e valores…, e, tudo isto, para quê se agora se verifica que, afinal, uma simples ficha sem qualquer tipo de observação, directa ou indirecta, permite aos pais uma avaliação criteriosa, rigorosa, séria do trabalho desenvolvido por cada professor da escola.

Até hoje ainda não compreendi como foi possível que a profissão existisse antes da invenção das ciências da educação, mas também ainda não compreendi e, ao que parece os teorizadores, os políticos, os governantes, os psicólogos e a ministra da educação também não, como é que afinal, sendo as ditas ciências responsáveis pela formação daqueles que, actualmente, são professores, os acusa de serem tão maus e continua, insistentemente, a política seguidora dessas teorias, que talvez daqui a cem anos estejam comprovadas cientificamente, mas que actualmente estão na base do fosso em que todo o sistema educativo mergulhou.

(G. Maria Fonseca )

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Em primeiro lugar quero dizer que não sou professor. Frequentei um curso de ensino na Universidade (que abandonei a meio) e não me arrependo de não ter seguido esta profissão.

1º -É indiscutivel que este ministério trabalha contra os professores e não com os professores.

2º -Quando do ataque aos "previligiados" foram identificadas duas classes profissionais como os alvos a abater. Os Juízes e os Professores. Com os Juízes o Governo vem paulatinamente a "meter o rabo entre as pernas". Sobram os Professores.

3º -Concordo com a revisão da progressão da carreira. Um professor podia fazer uma acção de formação em Andorra e contar para a sua progressão na carreira!!!

4º -Não posso concordar que se afunile a progressão apenas com fins de poupança de dinheiro. Queremos avaliar os professores mas definimos cotas para o nº de excelentes ou muito bons!!!!

5º -Por muito que o Senhor Secretário de Estado defenda a bondade da medida, a avaliação dos professores por parte dos pais é a subversão do sistema. Eu também vou passar a avaliar os funcionários das finanças ou o meu médico de família. A maioria dos pais não vai à Escola. Quando vai é depois de ter sido intimado para tal através de carta, telefone e, por vezes, de visitas ao domicilio por parte do director de Turma. Como pode ser feita esta avaliação? Por quem?

6- A Sra. Ministra tem tido intervenções que no mínimo podemos qualificar de indelicadas e não se convence que não pode estar à frente de um ministério tendo por base da sua acção desconsiderar os seus funcionários. Se o Ministro das Finanças passar a dizer que os seus funcionários são incompetentes e preguiçosos, o Ministro da Saúde fizer o mesmo em relação aos médicos e por aí fora o que faria o nosso Primeiro Ministro?

7º- Para terminar estes actos só contribuem para minar ainda mais a autoridade do professor. Um país que trata assim a Educação e os seus Agentes não tem futuro.

(Rui Sá)

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"A enorme rarefacção de recursos escolares imperante nos quadros de socialização familiar da esmagadora maioria da população actual pesou fortemente no perfil de literacia observado. Poderá mesmo considerar-se que, apesar de todas as responsabilidades atribuíveis ao sistema de ensino, terá sido muito mais a escola do que a família a promover nas últimas décadas alguma melhoria dos níveis de literacia." (Benavente**, 1996: p.144)


** BENAVENTE, Ana (coord.), ROSA, Alexandre, COSTA, António F., ÁVILA, Patrícia, "A Literacia em Portugal: Resultados de uma Pesquisa Extensiva e Monográfica", Fundação Calouste Gulbenkian, 1996

(António Carvalho)

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Luxemburgo (minha morada permanente). Momentaneamente em Portugal

Mãe de três crianças a frequentar o “ensino” público português em Portugal (9º ano, 8º ano e 6º ano de escolaridade).

Sobre o estatuto da carreira docente, gostaria de deixar, à laia de exemplos (longe, muito longe de querer ser exaustiva), três ou quatro questões sobre o ensino público em Portugal.

1-Os meus três filhos frequentam todos a mesma escola de ensino (C+S). Todos eles, têm aulas de manhã e à tarde, na quase totalidade dos dias úteis, o que implica que durante quase toda a semana, não possam estudar as matérias leccionadas ( já que a noite, é para dormir e descansar);

Conclusão:

os meus miúdos ( agora, “eufemisticamente”, chamados por “meninos”) não podem adquirir hábitos de trabalho diário, porque não têm tempo para estudar e adquirir ou solidificar os conhecimentos fornecidos nas aulas;

De quem é a culpa?

O estatuto da carreira docente estabelece este tipo de prioridades básicas sem os quais não se pode falar sequer, na possibilidade ainda que remota de um ensino de qualidade?

A resposta é não!

2-O meu filho mais velho (9º ano) é um excelente aluno. Todavia, a turma que lhe saiu em “sorte” é péssima, tanto no que concerne ao comportamento e à boa educação dos seus colegas, como no que concerne ao aproveitamento escolar.

Qual a reacção dos professores à anomia reinante na sala de aulas? Completa demissão, invocando para o efeito, e sistematicamente, o argumento de que são professores e não educadores (e que a educação se recebe em casa) e é para dar aulas que são pagos.

Conclusão:

Os professores demitem-se da sua função supletiva de educadores e há muito que se estão pouco preocupando com a sua autoridade.

3-Um outro filho meu, com algumas culpas dele próprio, é perseguido por uma sua professora de desenho cujas habilitações são o antigo curso de formação feminina, como já foi e é perseguido pela professora de inglês.

Tenho meios para pôr termo a esta situação? Claro que não, pois ainda prejudicaria mais a criança.

Conclusão:

No próximo ano lectivo, o miúdo terá de transitar para uma escola privada, sob pena, de somadas às sua próprias deficiências, se sujeitar a ter de suportar a perseguição “ad hominem” de professores ignorantes e mal-formados.

4-A minha filha tem dificuldades a matemática, embora seja uma excelente aluna às restantes disciplinas.

Conclusão:

A miúda não é estúpida, a miúda é trabalhadora. Falha qualquer coisa, e é bom de ver o quê que falha.

5-Os meus filhos estudam música ( e têm particular talento) no ensino articulado. Apesar disso, pago cerca de 200 euros mensais na formação musical da garotada. O custo total das despesas com a formação dos meus filhos ronda os 500 euros mensais (já que têm de andar em lições particulares de inglês e matemática).

Para o próximo ano lectivo, na impossibilidade imediata de levá-los este ano comigo para um país civilizado, vou inscreve-los numa escola privada, onde nada disto acontece ( as aulas só ocupam um parte do dia, não há anomia nas salas de aula, o meu filho do meio não será perseguido por nenhum professor).

Tudo somado, vou ter de arranjar um orçamento mensal de 800 euros só para a educação formal dos garotos.

5-O Estado vai ressarcir os meus filhos pelos prejuízos brutais já sofridos e que o sistema público de ensino já lhes causou, simplesmente porque são filhos de metecos?

Solução que eu proporia:

-Privatização do ensino; entregar as escolas aos professores, que seriam delas proprietários;

-Publicação anual dos “rankings” das escolas, segundo critérios antecipada e publicamente conhecidos;

-Institucionalização do cheque “voucher”

Num país como Portugal, onde os hábitos são tão maus, não há outra solução séria.

(Maria Teresa Carvalho)

*

Estou espantado com estes professores que só se queixam. Porque motivo não contam toda a verdade:

- quantos dias leccionam por ano?

- quanto ganham por mês?

- as regalias principescas que possuem?

- as mordomias que possuem e que são bastantes???

- as férias que possuem ao longo do ano??

- o vencimento mais elevado da UE!!!!

Se está tão mau podem sempre mudar de carreira e fazer outra coisa.

(Rui Henriques)

*

Nesta questão do novo estatuto da carreira docente, onde não se coloca em causa todo o sistema de ensino que tem vindo a ser implementado ao longo das últimas décadas, penso que seria interessante analisar o paralelismo com a situação vivida em França, despoletada há já algum tempo e pela intervenção de um matemático mundialmente famoso, Laurent Lafforgue, quando foi convidado a fazer parte da Alta comissão para a Educação nacional. Na altura ele respondeu ao presidente da dita comissão por e-mail, que inadvertidamente, ou não, foi tornado público e que o levou a demitir-se (Laurent Lafforgue). O texto integral deste e-mail encontra-se aqui do qual se transcreve este pequeno texto:

Monsieur le Président du HCE,

Je vous remercie de votre message ci-dessous qui nous donne
l'ordre du jour de la prochaine réunion.
Je ne peux m'empêcher de réagir sur certains points
qui me plongent dans le désespoir.
Le principal est le suivant:

> - appel aux experts de l'Education nationale : Inspections
> générales et directions de l'administration centrale, en particulier
> direction de l'évaluation et de la
> prospective et direction de l'enseignement scolaire,

Pour moi, c'est exactement comme si nous étions un "Haut Conseil
des Droits de l'Homme" et si nous envisagions de faire appel
aux Khmers rouges pour constituer un groupe d'experts
pour la promotion des Droits Humains.

Penso que vale bem a pena ler e analisar este e outros textos deste senhor sobre educação.

(Vitor Augusto)

*

Tendo acompanhado aqui a discussão sobre o estatuto dos professores, venho dar uma achega a título de cidadão eleitor e contribuinte, ex-estudante, pai duma estudante do 8º ano, nunca tendo sido professor, nem ter perspectivas de alguma vez o ser:

Uma das medidas anunciadas foi a dos pais fazerem a avaliação dos professores dos respectivos filhos. Há quem compare a medida com o que já se passa em todos os sectores: o utente/consumidor manifesta-se sobre a qualidade dos serviços/produtos. Mas será assim? Bem, se eu fosse professor passaria a exigir uma avaliação prévia dos alunos no início do ano e negociar com os pais, escola, ministério, sei lá, os objectivos a atingir aluno a aluno. Por outro lado, quantos pais aceitarão que chumbar o filho possa ser a melhor coisa que o moço/a ganhou aquele ano (a hipótese de recomeçar e melhorar o seu desempenho, em vez da fuga em frente e depois se vê)? Ora, estas questões passam mais pelos responsáveis da gestão da escola, na verdade, pelo próprio ministério.

Na escola da minha filha, em reunião dos pais com o director de turma, já nos aconteceu pronunciar sobre o desempenho de determinados professores, de modo verbal e dando ao director a oportunidade de falar com o professor em causa, sempre com bons resultados. Já assisti a reacções exaltadas, mas o diálogo entre os pais e o director tem estabelecido consensos no sentido de tentar melhorar o que pode ser corrigido. A avaliação que não se fala, mas que nessas reuniões vem sempre à baila, são sobre os recursos da escola para fazer mais e melhor: instalações desportivas, salas de aula, segurança, apoio diverso, etc. Pessoalmente, entendo que há alunos a mais por turma, vejo que os professores têm pouco tempo, pouco estímulo e pouco apoio, para se prepararem, se empenharem a fazer algo de diferente (e melhor, claro).

Se calhar os pais podem fazer mais pela Escola (podem, certamente), e se calhar isso passaria por um envolvimento da autarquia (não tenho qualquer dúvida, na verdade). O que não aceito é ver as questões essenciais, que são políticas e da responsabilidade do ministério, serem embrulhadas numa estratégia em que os professores são postos no pelourinho (é tão fácil apontar o dedo ao funcionário).

(Pedro Freire de Almeida)

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