ABRUPTO

2.6.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O NOVO ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE (4ª série)



E, no entanto, a Ministra tem razão! Concursos para quatro anos,avaliação dos professores, congelamento da progressão automática na carreira,substituição dos professores em falta, maior envolvimento dos pais e associações locais,só como exemplo, são medidas sensatas que os professores deveriam analisar com isenção, em vez de declararem guerra dia sim, dia não!

O nível,deplorável, do conhecimento dos nossos jovens, não é razão suficiente para que os nossos professores tenham um bocadinho mais de humildade?

Numa má educação,o culpado é sempre o educador! Somos todos? Seja! mas então juntemos esforços para vencer esta batalha, que é decisiva para o nosso futuro!

(Luis Moreira)

*

Aqui deixo a minha opinião sobre alguns dos pontos da proposta que considero mais pertinentes:

O artigo 22º da proposta enuncia os requisitos gerais e específicos para a docência, de entre os quais aparece como grande novidade a obrigação do candidato, depois de frequentar a instituição de ensino superior que lhe concede a qualificação profissional, realizar uma prova nacional de avaliação de conhecimentos e competências, assente numa prova escrita e numa entrevista, a determinar em futura portaria.

Ora, não tendo nada contra a realização pelo candidato a docente da referida prova nacional, uma vez que a mesma irá determinar, porventura, uma elevação do nível de exigência dos futuros professores, não é menos verdade que a mesma determina um acto de desresponsabilização ou, pelo menos, de desconfiança perante o papel das instituições de ensino superior na formação de docentes. De facto, se se quer que os futuros professores façam uma prova extra-licenciatura, então há que assumir que o problema poderá estar, sobretudo, na falta de confiança que o ME demonstra pelo desempenho e capacidade das universidades e das ESE`s em formar docentes. Assim, não seria melhor, para além da referida prova, assumir uma política séria e rigorosa de avaliação do desempenho das universidades e das ESE`s na formação dos seus alunos? É que, com o financiamento destas instituições a ser determinado pelo número de alunos que têm, o normal será que as mesmas queiram "fabricar" licenciados a todo e qualquer custo...

Em relação às duas categorias de docentes que a proposta veicula (professor e professor titular), como vem no artigo 34º, embora a intenção ministerial possa ser a de melhorar a organização e metodologias de trabalho a desenvolver por cada um dos departamentos da escola e outros órgãos da escola, não tenhamos dúvidas que a mesma poderá, infelizmente, aumentar as desigualdades e conflitos entre docentes, até porque falamos de "funções diferenciadas pela sua natureza, âmbito, grau de responsabilidade e nível remuneratório". Digo conflitos porque, na minha modesta opinião, a idade, nesta profissão, não constitui um factor exacto de maior empenho, capacidade ou responsabilidade. Bem sei que não fica nada bem, no politicamente correcto deste país, termos alguém de 30 anos com um cargo "superior" ao de um seu colega de trabalho de 50 anos de idade, mas, por exemplo, quem me diz que um professor com dez anos de serviço, mas com um curso de mestrado em organização escolar, não poderá desempenhar melhor o cargo de coordenador de departamento do que um docente com 25 anos de carreira, contrariado, sem vontade de ocupar o dito cargo e que não investiu nada na melhoria da sua formação académica?

A minha proposta seria a de fomentar a democracia na escola. Todos os docentes de cada departamento teriam uma palavra a dizer sobre a melhor pessoa a indicar para ocupar o cargo de coordenador de departamento, baseando-se tal escolha não na idade, mas sim na competência, tomando-se a mesma estratégia para todos os outros cargos da escola...

Outra questão pertinente que ressalta da proposta do ME é a do artigo 36º, no seu número 2. Quem se der ao trabalho de ler todas as competências que o ME remete para a profissão docente, certamente não estranhará que o que o ME quer é que o professor seja muito mais do que um formador: há que ser orientador, psicólogo, animador, confindente, organizador de papelada, gestor, e professor claro, enfim, temos que ser homens e mulheres dos sete instrumentos... São mais de vinte deveres que o ME nos impõe a cumprir!!!

Sobre a possibilidade dos pais intervirem na avaliação dos professores, apenas deixo duas questões: a concessão de direitos aos pais não impede que se descurem os deveres, pois não? Então porque só se fala dos direitos e se esquecem os deveres a que os pais estão obrigados em termos de responsabilização pelos actos dos seus filhos?

(Pedro Peixoto)

*

Algumas questões sobre a revisão do Estatuto da Carreira Docente

Natureza e estrutura da carreira docente
Não se compreende a necessidade de hierarquizar em duas carreiras quando os professores, sejam desta ou daquela categoria, têm o mesmo tipo de alunos. O mérito pode ser reconhecido na mesma carreira através da avaliação e de incentivos.

Conteúdo funcional
É estranho que, de um momento para outro, professores que são há muitos anos coordenadores de departamento, orientadores pedagógicos etc., passem por via administrativa a serem professores de uma carreira considerada inferior e impedidos de continuarem a exercer essas funções e substituídos por outros que por razões diversas não o fizeram até agora. Vão sentir-se penalizados pelo trabalho que fizeram e discriminados por terem feito actividades que a lógica do mérito deveria promover. Em muitas escolas pode criar-se um vazio, sobretudo nas escolas mais afastadas dos centros urbanos, no interior sobretudo, agravando também a discriminação geográfica e social dos alunos desses meios.

Acesso à carreira de professor titular
Professor titular apenas com 18 anos de serviço? Afinal o mérito é fruto do trabalho, do conhecimento ou da idade?
Transição da carreira docente Na transição da carreira docente os professores dos actuais 9º e 10º escalão passam a ser equiparados a professores titulares para efeitos funcionais e remuneratórios, exceptuando a aplicação das correspondentes regras de progressão e o exercício dos cargos de coordenação científico-pedagógica que estejam especialmente cometidos àquela categoria. Significa isso que no dia 1 de Janeiro de 2007 não existem, por exemplo, coordenadores de departamento habilitados? Como funcionarão os Conselhos Pedagógicos?

A dimensão ética A dimensão ética necessita de ser definida sob o risco de se resvalar para a identificação simplista de comportamentos aprovados ou reprováveis, de acordo com um padrão médio eivado de preconceitos, pondo em causa a liberdade de ensinar. Aliás, a insistência nos processos em detrimento dos resultados pode pôr em causa a diversidade de métodos e levar a algum puritanismo e à arrogância da forma “única” de ensinar e aprender, o que pode ter como consequência a utilização de fórmulas e receitas que não suscitem críticas e, portanto, acríticas e estandardizadas.

Autonomia técnica e funcional
A autonomia técnica e funcional é posta em causa através da avaliação dos professores por pessoas que não têm conhecimentos científicos e técnicos. Pode correr-se o risco de haver professores que actuem apenas de acordo com a opinião pública ou da minoria de pais que intervêm nas escolas e nos meios de comunicação social e, por outro lado, promover a confusão entre os professores que mantêm boas práticas levando-os a “funcionalizar” a profissão de acordo com as modas, em detrimento do espírito crítico, do aprofundar de conhecimentos e da inovação

Avaliação por professores do Ensino Superior
Na avaliação dos docentes por outros docentes do ensino superior tem que ser assegurado que os avaliadores sejam da mesma área, que conheçam o ambiente das escolas e os programas e que tenham habilitações superiores na mesma área. Poder-se-à correr o risco de, e dada a autonomia destas instituições, por exemplo, um professor de Física ser avaliado por um docente de um departamento de Pedagogia com a formação de base em Sociologia ou de ter até menos habilitações. Sublinhe-se que na carreira docente das ESEs e Institutos Politécnicos não era exigido o doutoramento e continuam a existir assistentes licenciados. Por outro lado, uma crítica recorrente ao ensino superior é o facto de os professores não serem avaliados pela sua qualidade pedagógica. Corre-se também o risco de os avaliadores proporem um modelo de professor que tem uma linguagem científica correcta mas que menoriza a aprendizagem dos alunos (veja-se também as causas do abandono escolar no ensino superior). Será legítimo alguém avaliar aulas quando nunca passou pela experiência de ser avaliado nas aulas?

Avaliação pelo coordenador de Departamento e direcção executiva.

No processo de avaliação fica o ónus, na prática, essencialmente no coordenador de departamento. A avaliação seria mais independente se fossem também chamados outros professores (até de outras escolas).

Avaliação pela Inspecção
A avaliação dos docentes que exercem as funções de coordenador de departamento ou do conselho de docentes efectuada pelos inspectores terá que ter a garantia que os mesmos inspectores estejam familiarizados com os ambientes das aulas e a prática de assistência às aulas, o que não tem acontecido até agora. Infelizmente, por razões diversas, entre as quais a sempre referida falta de meios, a inspecção conhece melhor as escolas através de processos burocráticos do que pelo conhecimento da realidade das turmas concretas onde os professores trabalham. Além disso haveria que garantir que tivessem mais habilitações que os professores que vão avaliar.

Sistema de classificação e percentagens máximas As classificações nunca deveriam depender de percentagens. A Lei de Bases é clara quando refere o primado do pedagógico sobre o administrativo. Uma coisa é admitir não haver condições financeiras para todos os professores qualificáveis de muito bom ou excelente progredirem de determinada maneira, outra é o mérito da classificação. A consequência directa é a desigualdade de classificações para o mesmo tipo de trabalho em diferentes escolas. Pode também assim promover-se a mediania em detrimento da qualidade.

Itens de classificação: abandono escolar e resultados escolares

A questão do abandono escolar na ponderação da classificação dos professores tem que ser objecto de reflexão em diversas situações que não são controláveis pelas escolas. Por exemplo, verifica-se no 10º ano que muitos alunos se matriculam nos cursos que visam o ingresso no ensino superior e que pouco tempo depois “abandonam” para frequentarem cursos profissionais.
Os resultados escolares dependem do percurso anterior que, até por via administrativa, coarctou possibilidades de aprendizagens em determinadas disciplinas. Veja-se o caso de História, onde no 3º ciclo, de um programa previsto para três aulas semanais nos três anos, se passou em muitas escolas para uma aula de 90 minutos no sétimo e nono ano e uma aula de 90 minutos mais uma de 45 minutos no oitavo ano. A perda de cerca de 100 horas num ciclo não pôde permitir o desenvolvimento de competências e conhecimentos o que vai ter repercussões no ensino secundário. O que fará o professor? Recupera o tempo perdido e não cumpre a totalidade do programa prescrito ou descura a qualidade e é penalizado de uma maneira ou de outra?
Os curricula e as frequentes alterações a estes também não ajudam. Cite-se o caso do ensino secundário em que os alunos continuam com horários extensos e programas que pretendem abarcar tudo, como se fossem mini-licenciaturas. Nos programas privilegiam-se as competências e nos exames exigem-se todos os conteúdos. Uma das consequências tem sido, nas aulas, nas disciplinas sujeitas a exame, privilegiar-se o ensino magistral de muitos conteúdos, frequentemente ensinados superficialmente por falta de tempo, em detrimento dos conteúdos e competências essenciais que deveriam ser mais aprofundados. Veja-se aliás, exemplos de competências exigidas:

??Percepcionar no meio social, no seu sentido mais vasto, mediante a focagem globalizadora específica da História; ??Relacionar e integrar informações de origem diversa num corpo estruturado de conhecimentos, moldando a sua própria percepção da História, por via de uma aprendizagem significativa. (programa de História C do ensino secundário).

Acções de formação
As acções de formação com “estreita ligação à matéria curricular que lecciona” podem fazer perigar a abertura a outros conhecimentos. Será inútil um professor de Biologia ter uma acção de formação em inglês, o que lhe pode permitir participar no programa Sócrates? Não seria interessante um professor de História ter algumas noções de Física Quântica que poderia aproveitar para melhor levar os alunos a compreender as inovações da ciência no século XX?

Dispensas para formação

As dispensas para formação só podem ser concedidas na componente não lectiva do horário do docente. Como poderão os professores das escolas do interior fazer formação noutros locais que podem ficar a centenas de quilómetros: no Natal, na Páscoa, em Agosto?

(João Simas, Professor de História do Ensino Secundário na Escola Secundária de Severim de Faria em Évora)

*

Portugal conta, actualmente, com um número elevadíssimo de maus professores, parece ninguém ter dúvidas a este respeito, graças a Deus que temos bons psicólogos, bons políticos, bons governantes, uma boa ministra da educação e bons teorizadores das ciências de Educação, que seria do país se assim não fosse!

E, claro está, aliás, de outra forma não poderia ser, assim foi sempre, cá estão os bons a resolver o problema dos maus. Para isso muito se têm esforçado os bons a ensinar os maus, vejamos: os políticos dão-nos exemplos brilhantes de virtudes, como, a humildade, a honestidade, a assiduidade, a pontualidade, enfim, o trabalho acima de tudo (mesmo que o tudo seja um jogo de futebol); os psicólogos resolvem-nos os problemas de indisciplina nas escolas, afinal tão simples, basta tirar as crianças aos pais biológicos, como é que nunca nenhum professor tinha pensado nisto!; os governantes são modelos de verdade, imparcialidade, defensores dos desfavorecidos, tudo fazem pela integração social e pela defesa dos direitos humanos, o combate à violência doméstica, que afecta, na maior parte dos casos, as mulheres, é um bom exemplo da preocupação do governo, mas, note-se, apenas a doméstica, porque a mesma mulher, pode estar sujeita a todos os tipos de violência, caso seja professora; quanto à ministra, inigualável, tem-nos ensinado o que é a dignidade, o respeito pela profissão, vai, até, ao ponto de nos dar exemplos, para que possamos compreender bem a lição, veja-se, a exemplo, a comparação entre a docência e a medicina, digno, muito digno! E as ciências da educação, o que elas nos têm ensinado, veja-se, uma vez mais, a exemplo, a questão da avaliação, andam os professores uma vida inteira a aprender a usar instrumentos e mecanismos de avaliação, tais como, grelhas de auto e hetero-avaliação, fichas de avaliação diagnóstica, de avaliação formativa, de avaliação sumativa, observação directa das aptidões a todos os níveis, das competências, do empenho, do interesse, da participação, do espírito crítico, da iniciativa, da responsabilidade, dos trabalhos realizados, das atitudes e valores…, e, tudo isto, para quê se agora se verifica que, afinal, uma simples ficha sem qualquer tipo de observação, directa ou indirecta, permite aos pais uma avaliação criteriosa, rigorosa, séria do trabalho desenvolvido por cada professor da escola.

Até hoje ainda não compreendi como foi possível que a profissão existisse antes da invenção das ciências da educação, mas também ainda não compreendi e, ao que parece os teorizadores, os políticos, os governantes, os psicólogos e a ministra da educação também não, como é que afinal, sendo as ditas ciências responsáveis pela formação daqueles que, actualmente, são professores, os acusa de serem tão maus e continua, insistentemente, a política seguidora dessas teorias, que talvez daqui a cem anos estejam comprovadas cientificamente, mas que actualmente estão na base do fosso em que todo o sistema educativo mergulhou.

(G. Maria Fonseca )

*

Em primeiro lugar quero dizer que não sou professor. Frequentei um curso de ensino na Universidade (que abandonei a meio) e não me arrependo de não ter seguido esta profissão.

1º -É indiscutivel que este ministério trabalha contra os professores e não com os professores.

2º -Quando do ataque aos "previligiados" foram identificadas duas classes profissionais como os alvos a abater. Os Juízes e os Professores. Com os Juízes o Governo vem paulatinamente a "meter o rabo entre as pernas". Sobram os Professores.

3º -Concordo com a revisão da progressão da carreira. Um professor podia fazer uma acção de formação em Andorra e contar para a sua progressão na carreira!!!

4º -Não posso concordar que se afunile a progressão apenas com fins de poupança de dinheiro. Queremos avaliar os professores mas definimos cotas para o nº de excelentes ou muito bons!!!!

5º -Por muito que o Senhor Secretário de Estado defenda a bondade da medida, a avaliação dos professores por parte dos pais é a subversão do sistema. Eu também vou passar a avaliar os funcionários das finanças ou o meu médico de família. A maioria dos pais não vai à Escola. Quando vai é depois de ter sido intimado para tal através de carta, telefone e, por vezes, de visitas ao domicilio por parte do director de Turma. Como pode ser feita esta avaliação? Por quem?

6- A Sra. Ministra tem tido intervenções que no mínimo podemos qualificar de indelicadas e não se convence que não pode estar à frente de um ministério tendo por base da sua acção desconsiderar os seus funcionários. Se o Ministro das Finanças passar a dizer que os seus funcionários são incompetentes e preguiçosos, o Ministro da Saúde fizer o mesmo em relação aos médicos e por aí fora o que faria o nosso Primeiro Ministro?

7º- Para terminar estes actos só contribuem para minar ainda mais a autoridade do professor. Um país que trata assim a Educação e os seus Agentes não tem futuro.

(Rui Sá)

*

"A enorme rarefacção de recursos escolares imperante nos quadros de socialização familiar da esmagadora maioria da população actual pesou fortemente no perfil de literacia observado. Poderá mesmo considerar-se que, apesar de todas as responsabilidades atribuíveis ao sistema de ensino, terá sido muito mais a escola do que a família a promover nas últimas décadas alguma melhoria dos níveis de literacia." (Benavente**, 1996: p.144)


** BENAVENTE, Ana (coord.), ROSA, Alexandre, COSTA, António F., ÁVILA, Patrícia, "A Literacia em Portugal: Resultados de uma Pesquisa Extensiva e Monográfica", Fundação Calouste Gulbenkian, 1996

(António Carvalho)

*

Luxemburgo (minha morada permanente). Momentaneamente em Portugal

Mãe de três crianças a frequentar o “ensino” público português em Portugal (9º ano, 8º ano e 6º ano de escolaridade).

Sobre o estatuto da carreira docente, gostaria de deixar, à laia de exemplos (longe, muito longe de querer ser exaustiva), três ou quatro questões sobre o ensino público em Portugal.

1-Os meus três filhos frequentam todos a mesma escola de ensino (C+S). Todos eles, têm aulas de manhã e à tarde, na quase totalidade dos dias úteis, o que implica que durante quase toda a semana, não possam estudar as matérias leccionadas ( já que a noite, é para dormir e descansar);

Conclusão:

os meus miúdos ( agora, “eufemisticamente”, chamados por “meninos”) não podem adquirir hábitos de trabalho diário, porque não têm tempo para estudar e adquirir ou solidificar os conhecimentos fornecidos nas aulas;

De quem é a culpa?

O estatuto da carreira docente estabelece este tipo de prioridades básicas sem os quais não se pode falar sequer, na possibilidade ainda que remota de um ensino de qualidade?

A resposta é não!

2-O meu filho mais velho (9º ano) é um excelente aluno. Todavia, a turma que lhe saiu em “sorte” é péssima, tanto no que concerne ao comportamento e à boa educação dos seus colegas, como no que concerne ao aproveitamento escolar.

Qual a reacção dos professores à anomia reinante na sala de aulas? Completa demissão, invocando para o efeito, e sistematicamente, o argumento de que são professores e não educadores (e que a educação se recebe em casa) e é para dar aulas que são pagos.

Conclusão:

Os professores demitem-se da sua função supletiva de educadores e há muito que se estão pouco preocupando com a sua autoridade.

3-Um outro filho meu, com algumas culpas dele próprio, é perseguido por uma sua professora de desenho cujas habilitações são o antigo curso de formação feminina, como já foi e é perseguido pela professora de inglês.

Tenho meios para pôr termo a esta situação? Claro que não, pois ainda prejudicaria mais a criança.

Conclusão:

No próximo ano lectivo, o miúdo terá de transitar para uma escola privada, sob pena, de somadas às sua próprias deficiências, se sujeitar a ter de suportar a perseguição “ad hominem” de professores ignorantes e mal-formados.

4-A minha filha tem dificuldades a matemática, embora seja uma excelente aluna às restantes disciplinas.

Conclusão:

A miúda não é estúpida, a miúda é trabalhadora. Falha qualquer coisa, e é bom de ver o quê que falha.

5-Os meus filhos estudam música ( e têm particular talento) no ensino articulado. Apesar disso, pago cerca de 200 euros mensais na formação musical da garotada. O custo total das despesas com a formação dos meus filhos ronda os 500 euros mensais (já que têm de andar em lições particulares de inglês e matemática).

Para o próximo ano lectivo, na impossibilidade imediata de levá-los este ano comigo para um país civilizado, vou inscreve-los numa escola privada, onde nada disto acontece ( as aulas só ocupam um parte do dia, não há anomia nas salas de aula, o meu filho do meio não será perseguido por nenhum professor).

Tudo somado, vou ter de arranjar um orçamento mensal de 800 euros só para a educação formal dos garotos.

5-O Estado vai ressarcir os meus filhos pelos prejuízos brutais já sofridos e que o sistema público de ensino já lhes causou, simplesmente porque são filhos de metecos?

Solução que eu proporia:

-Privatização do ensino; entregar as escolas aos professores, que seriam delas proprietários;

-Publicação anual dos “rankings” das escolas, segundo critérios antecipada e publicamente conhecidos;

-Institucionalização do cheque “voucher”

Num país como Portugal, onde os hábitos são tão maus, não há outra solução séria.

(Maria Teresa Carvalho)

*

Estou espantado com estes professores que só se queixam. Porque motivo não contam toda a verdade:

- quantos dias leccionam por ano?

- quanto ganham por mês?

- as regalias principescas que possuem?

- as mordomias que possuem e que são bastantes???

- as férias que possuem ao longo do ano??

- o vencimento mais elevado da UE!!!!

Se está tão mau podem sempre mudar de carreira e fazer outra coisa.

(Rui Henriques)

*

Nesta questão do novo estatuto da carreira docente, onde não se coloca em causa todo o sistema de ensino que tem vindo a ser implementado ao longo das últimas décadas, penso que seria interessante analisar o paralelismo com a situação vivida em França, despoletada há já algum tempo e pela intervenção de um matemático mundialmente famoso, Laurent Lafforgue, quando foi convidado a fazer parte da Alta comissão para a Educação nacional. Na altura ele respondeu ao presidente da dita comissão por e-mail, que inadvertidamente, ou não, foi tornado público e que o levou a demitir-se (Laurent Lafforgue). O texto integral deste e-mail encontra-se aqui do qual se transcreve este pequeno texto:

Monsieur le Président du HCE,

Je vous remercie de votre message ci-dessous qui nous donne
l'ordre du jour de la prochaine réunion.
Je ne peux m'empêcher de réagir sur certains points
qui me plongent dans le désespoir.
Le principal est le suivant:

> - appel aux experts de l'Education nationale : Inspections
> générales et directions de l'administration centrale, en particulier
> direction de l'évaluation et de la
> prospective et direction de l'enseignement scolaire,

Pour moi, c'est exactement comme si nous étions un "Haut Conseil
des Droits de l'Homme" et si nous envisagions de faire appel
aux Khmers rouges pour constituer un groupe d'experts
pour la promotion des Droits Humains.

Penso que vale bem a pena ler e analisar este e outros textos deste senhor sobre educação.

(Vitor Augusto)

*

Tendo acompanhado aqui a discussão sobre o estatuto dos professores, venho dar uma achega a título de cidadão eleitor e contribuinte, ex-estudante, pai duma estudante do 8º ano, nunca tendo sido professor, nem ter perspectivas de alguma vez o ser:

Uma das medidas anunciadas foi a dos pais fazerem a avaliação dos professores dos respectivos filhos. Há quem compare a medida com o que já se passa em todos os sectores: o utente/consumidor manifesta-se sobre a qualidade dos serviços/produtos. Mas será assim? Bem, se eu fosse professor passaria a exigir uma avaliação prévia dos alunos no início do ano e negociar com os pais, escola, ministério, sei lá, os objectivos a atingir aluno a aluno. Por outro lado, quantos pais aceitarão que chumbar o filho possa ser a melhor coisa que o moço/a ganhou aquele ano (a hipótese de recomeçar e melhorar o seu desempenho, em vez da fuga em frente e depois se vê)? Ora, estas questões passam mais pelos responsáveis da gestão da escola, na verdade, pelo próprio ministério.

Na escola da minha filha, em reunião dos pais com o director de turma, já nos aconteceu pronunciar sobre o desempenho de determinados professores, de modo verbal e dando ao director a oportunidade de falar com o professor em causa, sempre com bons resultados. Já assisti a reacções exaltadas, mas o diálogo entre os pais e o director tem estabelecido consensos no sentido de tentar melhorar o que pode ser corrigido. A avaliação que não se fala, mas que nessas reuniões vem sempre à baila, são sobre os recursos da escola para fazer mais e melhor: instalações desportivas, salas de aula, segurança, apoio diverso, etc. Pessoalmente, entendo que há alunos a mais por turma, vejo que os professores têm pouco tempo, pouco estímulo e pouco apoio, para se prepararem, se empenharem a fazer algo de diferente (e melhor, claro).

Se calhar os pais podem fazer mais pela Escola (podem, certamente), e se calhar isso passaria por um envolvimento da autarquia (não tenho qualquer dúvida, na verdade). O que não aceito é ver as questões essenciais, que são políticas e da responsabilidade do ministério, serem embrulhadas numa estratégia em que os professores são postos no pelourinho (é tão fácil apontar o dedo ao funcionário).

(Pedro Freire de Almeida)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]