ABRUPTO

7.6.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VOZES VINDAS DAS ESCOLAS

Hoje, o meu grupo disciplinar reuniu-se para escolher o manual a adoptar pela escola para o 7.º ano de escolaridade. Todos, sem excepção, apresentam o preço de 17.42€ cêntimos. A única diferença, mas ao nível dos cêntimos, está nos cadernos de actividades. A autoridade para a concorrência não devia ver estas coisas?

Havia nove(!) manuais para escolha. Qual é o professor que consegue fazer um estudo exaustivo, correcto e honesto de tantos manuais, sabendo que os foi recebendo a partir do fim de Abril, tempo em que todo o trabalho de fim de ano se acumula?

(Maria Pereira Stocker)
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Na (minha) qualidade de professor do ensino secundário (há 32 anos a ensinar Física) (...) permito-me enviar-lhe algumas achegas. (...)

1. Sobre a componente não lectiva e o local da sua concretização, há problemas ainda não equacionados. Um deles é o da exposição do professor a ambientes agressivos e ruidosos. De facto, se há uma parte da componente não lectiva que pode /deve ter lugar na Escola, para reuniões e outras coisas parecidas, tal parcela deve ser pequena —reduzida ao mínimo— pelas seguintes razões:

a) as escolas em geral não têm gabinetes para albergar um grande número de professores em simultâneo; foram concebidas partindo do pressuposto de que a componente não lectiva é passada fora da Escola (por exemplo em casa do professor); desse modo, poucos são os professores que num dado, momento estariam na escola ao mesmo tempo: quando uns saiam entravam outros.

b) mesmo nas escolas que possuem alguns gabinetes, quase todos esses gabinetes têm portas que dão para corredores onde passam alunos a falar aos berros, a gritar intencionalmente, a bater às portas, etc.; quem é que consegue (eu não consigo!) fazer trabalho útil no meio do barulho ?

c) também é de considerar o problema nas próprias salas de professores, onde alguns/algumas colegas não se coíbem de falar alto, mesmo quando estão a ver outro colega a corrigir testes, a preparar lições, etc.

d) as condições de b) e c) tornam o trabalho da componente não lectiva (quando prestado na Escola) penoso, triplamente cansativo, frustrante e de escasso rendimento;

As condições acima referidas propiciam um desgaste acrescido e inútil por exposição demorada ao ruído. Sabe-se quais são as consequências a médio/longo prazo de tal exposição excessiva e ao "stress" dela derivado (os psicólodos e os psiquiatras têm documentação). É certo que uma escola é, por definição, um local onde se reúne muita gente, professores, alunos, etc., mas essa exposição ao ruído deve ser reduzida ao fundamental. Por isso, a não ser que haja gabinetes acusticamente isolados, vidros duplos, etc., não será viável o prolongamente exagerado da componente não lectiva nos espaços das Escolas.

2. Continua a esperar-se do professor um verdadeiro milagre. No entender dos mais "iluminados" governantes, trata-se de um profissional "multifacetado e de largo espectro" que é, ao mesmo tempo, psicólogo, psiquiatra, assistente social, animador, bom encaminhador de jovens, divertido, sempre bem disposto e transbordante de energia, despistador de casos de uso de drogas, domador de delinquentes, perspicaz educador e ainda agente interactivo escola-família-comunidade. Também se pretende que seja de vez em quando palhaço quanto baste (com a respectiva bola vermelha no lugar do apêndice nasal) e pouco faltará para termos de equilibrar uma bola na ponta do nariz, como as focas do circo! Depois de tudo isto, e como pequeníssimo pormenor, o professor também **ensina** uma determinada disciplina (Matemática, Biologia, Português, Física, Inglês, História, etc.). Mas este último aspecto será (dizem os "iluminados") cada vez mais irrelevante, a bem das primeiras componentes da profissão, já referidas....
(...)

(Guilherme de Almeida)

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"Dessas 60 mil pessoas que se candidataram e não foram contratadas, só cerca de um terço eram professores, outros eram pessoas que se candidataram ao lugar de professor" e "nunca foram professores na vida", afirmou aos jornalistas em Resende, Viseu. É urgente explicar ao Senhor Primeiro Ministro que o concurso em questão se destina ao preenchimento de vagas de Quadros de Escola ou de Quadros de Zona Pedagógica, o que implica ser profissionalizado, ser mesmo professor portanto.

Eles não estão a candidatar-se ao lugar de professores. Eles são professores.
Como é possível ficar tudo calado e não repor a verdade?
Estes não colocados irão passar para um concurso de professores contratados e a maioria dos contratados também tem habilitação profissional.
Sabia, não sabia, Senhor Primeiro Ministro?
Todos os dias são dias de dizer a verdade e só a verdade, sobretudo quando se trata de pessoas que prometeram exercer as suas funções "com lealdade".

(Madalena Santos, Professora do Ensino Básico, Montijo.)

(Continua)

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