ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
|
10.6.06
ARRASTÃO E CONTRA-ARRASTÃO Desde o primeiro minuto que o arrastão me pareceu implausível, pelo menos como era relatado na comunicação social. Escrevi-o muito antes do filme da Diana ter feito passar o arrastão a contra-arrastão. Estou por isso muito à vontade. Mas o contra-arrastão a que se assiste nos dias de hoje, não é uma mera verificação dos erros da comunicação social, que toca apenas ao de leve e sem responsáveis (parece que a culpa toda foi do dono de um bar...). O contra-arrastão é um produto ideológico puro, tão afastado da realidade como o arrastão, tão falso no plano factual como ele, tentando tornar impossível, culpabilizadora e racista qualquer crítica à violência suburbana, oriunda de jovens negros da segunda geração, que implicitamente nega como problema de criminalidade apenas para afirmar como questão "social" e de exclusão. (url) 9.6.06
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VOZES DE TIMOR E VOZES SOBRE TIMOR JPP dixit: ADENDA: Por exemplo, ninguém se pergunta sobre o significado de "acantonar" a GNR num único bairro em Timor e o que isto significa de entradas de leão e saídas de sendeiro. Queria só dar-lhe conta de que quando vi esta notícia o que me passou pela frente (embora nunca possa certamente vir a ter tão desgraçado e infeliz desfecho) foi a imagem dos nossos bravos do Corpo Expedicionário Português, enviados para as piores localizações e, em muitos casos, para a morte, para algo que duvido muito que tenha tido – em termos estritamente políticos – justo destaque na altura. Claro que nada de semelhante se passará agora, mas parece-me patente a intenção de nos dar algo para tratarmos que será certamente sempre complicado e, por outro lado, sempre pequeno. A fama da GNR em Timor é muita, a capacidade será também certamente muita, mas haverá todo o interesse em que não brilhe… (António Delicado) * Não saí de Timor-Leste. E cá estarei apesar desta guerra de nervos. Todos os dias somos bombardeados por uma campanha sistemática que tem como único objectivo derrubar o primeiro-ministro. Para nós, portugueses, praticamente que o nosso dia-a-dia é o mesmo. Mas as tragédias pessoais das famílias timorenses são assustadoras. Vale tudo. Os boatos iniciais que resultaram no pânico colectivo da população, e que a levou a abandonar a capital, tentando parar todas as instituições; às declarações diárias do Ramos-Horta a manifestar a sua disponibilidade de ser Califa no lugar do Califa, vendendo o seu país aos invasores; os ataques dos governantes australianos ao governo; as manobras de certo corpo diplomático; as tentativas de virar os orgãos de soberania uns contra os outros; o apoio e a passividade das tropas australianas com os desertores e afins; os títulos da imprensa australiana; e as recentes provocações à Fretilin para que isto se transforme numa guerra civil. Enfim, vale tudo para desestabilizar e dar ao mundo uma imagem da necessidade de derrubar um governo que enfrenta os objectivos da Austrália na região. Mas uma coisa é certa. A única pedra no sapato, o único obstáculo entre a ocupação de Timor-Leste pela Austrália, tem sido a imprensa portuguesa e o Governo português. Patriotismos exarcebados ou não, é aqui que se tem feito resistência a um invasor arrogante e sem escrúpulos.. Fora de Díli, excepto nas vilas onde estão os ex-militares sustentados pelos militares australianos, as instituições funcionam, a polícia existe e a vida parece a mesma como há dois meses atrás. Assisti à tentativa da missão da UN em evacuar todos os internacionais que apoiam os orgãos de soberania de forma a parar o país. Assisti ao Ramos-Horta a ajudar os objectivos australianos numa campanha de auto-promoção ridícula, esperando eu ainda, que o esteja a fazer acreditando que é o melhor para o país. Assisti incrédula à passividade das tropas australianas ao lado de jovens que incendiavam e que disparavam, assisti aos apelos desesperados de outros para os defenderem. Assisti ao alegre convívio entre militares americanos e australianos, e os desertores. Assisti aos pedidos de governantes ao comando australiano para que parasse a violência e defendesse a população sem qualquer efeito. Assisti à tentativa do comando australiano em neutralizar capacidade que a GNR tem de acabar com os distúrbios nas ruas de Díli. Assisti a muitos timorenses corajosos ficarem nos seus postos, onde agora vivem, por lhes terem sido destruídas as casa e tudo o que tinham. Mas também assisti à resistência de muitos funcionários da UN e de outras instituições, na maior parte portugueses e brasileiros, que ficaram mesmo ameaçados que os seus contratos acabassem. Assisti a muitos portugueses que no meio dos confrontos foram buscar amigos timorenses e os seus familiares, debaixo de fogo, já com uma presença de mais de 1.500 militares australianos que nada, nada fazem para evitar a violência. Assisti a outros que tudo fizeram para mostrar ao mundo que estávamos à beira de um golpe de estado. Outros que conseguiram travar a intriga entre o PR e o PM e que ajudaram a que se entendessem. Assisti também, aos esforços de dirigentes da Fretilin em travar militantes desesperados que queriam vir defender o PM, que quer queiram quer quer não, foi eleito com larga maioria, e cujo partido há poucos meses, nas eleições locais, voltou a demonstrar que representa a maioria dos eleitores, com larga margem. E assisto todos os dias ao empenho de muitos timorenses, portugueses e brasileiros, para que os orgãos de soberania, não deixem de funcionar como seria tanto do agrado do governo australiano que levou o país ao caos, sustentando e manipulando todos os grupos insatisfeitos que encontraram. Exaustos, uns dias mais difíceis, outros com mais esperança. Fazemos tudo o que está ao nosso alcance para que a situação volte ao normal e que o país funcione. Como sabe não votei no partido do Governo que elegeu o primeiro-ministro de Portugal. Nem alguma vez simpatizei politicamente com o nosso MNE. Mas, aqui em Timor-Leste, em Camberra e em Nova Iorque, fez a diferença. Houve alguém no Palácio das Necessidades que se deu ao trabalho de reagir a tempo. Que nos ouviu. Que fez o que tinha que fazer. E que não escolheu o caminho mais fácil que seria o de abandonar os nossos aliados. Como sabe, tanto se me dá o nome do país que consta no meu passaporte, não ponho bandeiras de Portugal à janela e nem sequer aí vou passar férias. Mas o governo do meu país tomou a decisão correcta e está a ter sucesso. E se alguém não compreende que, apesar de estrangeiros, nos sentimos em casa e que adoramos viver neste país, I could't care less. Os timorenses compreendem. Ao lado deles resistimos, mesmo que alguém não nos considere politicamente correctos. (M.) * Infelizmente mais uma situação que em nada dignificou o nosso país, com custos para a imagem da GNR em Timor-Leste. Situação criada pela falta de preparação e insuficiência no campo das informações. As Australian Defense Forces (ADF) seguem a doutrina NATO no que concerne ao emprego das suas forças. Isto é sabido pelos estados-maiores do nosso Exército e Força Aérea, pelo menos. A doutrina NATO coloca grande ênfase na problemática do fratricídio, designado em linguagem NATO por “blue on blue”, expressão que ficou dos exercícios no tempo da guerra fria, em que o oponente era sempre “red” e as nossas forças “blue”. Esta mesma doutrina foi aplicada durante a UNTAET e depois na UNMISET. Para evitar coordenações demoradas, complicadas e nem sempre seguras até pela diversidade de línguas dos diversos contingentes militares, o território de Timor-Leste foi dividido em Sectores. O Ocidental era comandado pela Austrália, o Central por Portugal e o Oriental pela Coreia do Sul. Mesmo dentro dos Sectores, cada escalão tinha áreas de responsabilidade definidas, de forma a poderem conduzir operações sem correrem o risco de abrirem fogo sobre tropas amigas. Para uma viatura militar de um Sector se deslocar a outro, tinha que preencher um “Road Space Request” definindo o itinerário, as horas, o propósito, os ocupantes da viatura, etc... Na cidade de Díli esta situação não se punha porquanto a segurança cabia à polícia civil das Nações Unidas (CIVPOL), onde se integrava a Unidade de Reacção Rápida da GNR. Que na realidade era quem avançava sempre que havia confusão. O batalhão português cujo comando estava sedeado em Bécora suplementaria a GNR em caso de necessidade e a pedido desta. Ora a situação presente é inversa. As ADF estão a fazer o policiamento da cidade e a GNR entra depois. E entrou logo em operação sem haver estabelecido o sistema de coordenação previamente. É do senso comum que não pode haver duas forças com armas a actuar na mesma área de operações sem a devida coordenação, ou então têm áreas de responsabilidade distintas. Hoje em dia não é aceitável enviar gente para casa em saco de plástico porque foi atingido por fogo “amigo”. A opinião pública não aceitaria tal. E é esse o argumento do comandante da Força Australiana para os tristes “equívocos”. Bem sabemos (ou devíamos saber) que as ADF não iriam facilitar a vida à GNR. Já não o faziam em relação ao exército português durante a UNTAET e UNMISET, porque haviam de o fazer agora? A posição de princípio não mudou. E o que a precipitação fez, foi dar às ADF razões para agirem como agiram. E o governo lá teve que às pressas encontrar forma de salvar a face sem deitar tudo a perder. Mais uma vez a humilhação ficou para os homens da GNR. E agora vamos ver quanto tempo vai levar, se acontecer, para as ADF se retirarem de Díli e deixarem campo livre à GNR e à Polícia da Malásia. Como a Malásia vai ter mais polícias que a GNR, o comando unificado de polícia vai caber a......... Malásia, pois claro. E as ADF só retirarão das funções de policiamento de Díli quando a Malásia tiver todo o seu equipamento e puder efectivamente comandar toda a acção policial. Até existir uma força policial das Nações Unidas. Porque aí, a Austrália vai querer ter também o Comando da força policial. Como aliás prevê o acordo Díli-Camberra. Resta-nos a confiança no brio e preparação dos homens da GNR para conseguirem levar a cabo com honra e dignidade a sua missão. É aqui que a impreparação (ignorância) dos nossos jornalistas vem ao de cima. Não sabem fazer as perguntas certas aos responsáveis políticos. O mesmo jornalista tanto pode cobrir o funeral de Raul Indipwo, como o fogo florestal de Barcelos, como a seguir cobrir esta triste conferência de imprensa. E as perguntas pertinentes ficam por fazer. (João Tavares) * Ouvi na TSF uma noticia sobre os deslocados Timorenses... Porque não usar a palavra habitual: refugiados? Não entendo a relutância de certa imprensa em motrar que os timorenses são um povo como outro qualquer: capaz do melhor e do pior. Porque carga de água são deslocados e não refugiados? Se até o ACNUR já está a ajudar. (Alberto Mendes) (url) PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. (Museu de Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.) Etiquetas: João Guimarães Rosa, Museu da Língua Portuguesa - S.Paulo - Brasil (url)
EARLY MORNING BLOGS 789
Tecendo a Manhã 1 Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. 2 E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. (João Cabral de Melo Neto) * Bom dia! (url) 8.6.06
PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER
Numa parede do Museu de Língua Portuguesa, em São Paulo, Brasil, um mulato dança com uma garrafa equilibrada na cabeça. Com aquele brilho inventivo muito especial do português brasileiro, aparece no ecrã "água-que-passarinho-não bebe". Cachaça. Mas parece que passarinho bebe mesmo... (url) GOVERNAMENTALIZAÇÃO, O QUE É?
(url) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FOGO, DE NOVO Correndo o risco de ser considerado (...) um acto de "voyeurismo" da minha parte, não resisti a enviar-lhe uma fotografia do fogo que lavrou ontem não longe da minha residência. O meu objectivo não é outro mais do que o de querer alertar novamente para o drama destas situações. Penso, de forma muito sincera, que todas as discussões públicas que possam ser feitas em torno destes dramas serão muito úteis. Hoje o dia tem estado cor de laranja porque a luz do sol tem dificuldades em atravessar a cortina de fumo. A imagem é do fogo que lavrou ontem na Freguesia de Fragoso, concelho de Barcelos. (Sérgio Ribeiro, Forjães) (url) PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. (Museu de Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.) Etiquetas: João Guimarães Rosa, Museu da Língua Portuguesa - S.Paulo - Brasil (url) RETRATOS DO TRABALHO NAS TWIN TOWERS EM LISBOA, PORTUGAL Um dos aspectos que mais me fascina nas gerações mais jovens é a capacidade para desenvolver trabalho no meio do mais confuso dos cafés ou do mais barulhento "food court" de um qualquer centro comercial. Estas novas gerações têm, de facto, capacidades acima do normal. No meu tempo, um trabalho em grupo consistia em dividir tarefas, executar as tarefas separadamente cada um em seu canto e depois reunir para juntar as peças do puzzle. Hoje em dia, aparentemente, as reuniões são permanentes e a criatividade está sempre em acção. Tudo isto, repito-o, no mais barulhento centro comercial ou café da nossa praça. E depois dizem que não há produtividade... (Rui Silva) (url) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VOZES VINDAS DAS ESCOLAS (2ª série) (...) é o próprio Ministério da Educação quem ajuda a confundir domínios que devem ser discriminados, dado que o texto é marcado por um problema estrutural de organização temática. Era importante que um novo ECD distinguisse com clareza – seja por capítulos; seja por princípios orientadores explícitos; seja por qualquer outro processo; seja por vários factores em conjunto – aquilo que é matéria propriamente laboral (ou de cariz sindical) daquilo que é matéria deontológica (ou pedagógica e ética) da profissão docente. Mesmo que se continue a evitar a questão da constituição de uma Ordem de Professores (constituição que na actual conjuntura não parece essencial, até porque provavelmente uma Ordem ficaria mais próxima de reproduzir a fragmentação sindical do que de traduzir uma voz coesa de um corpo profissional demasiado heterogéneo), reformar o ensino sem a preocupação de estabelecer de génese a distinção referida é curto, precisamente porque será continuar a pôr no colo dos sindicatos aquilo que é, misturado com aquilo que pura e simplesmente não deve ser da sua competência. Reside aqui uma incongruência elementar de quem, de peito aberto, está, bem ou mal, a combater o poder de uma elite de representantes sindicais, mas que depois, por culpa do seu mau tpc, vê-se obrigado a conceder a essa mesma elite o monopólio da representatividade de um complexo, contraditório e multifacetado corpo docente. A fuga em frente resultante desse mau trabalho prévio tem sido o folclore agravante de envolver na vida interna das escolas os pais, as associações, o poder local e outros, invadindo o domínio estrito da função docente, com prejuízo generalizado cuja factura normalmente demora a chegar mas será invariavelmente pesada. O documento proposto carece, de facto, de muita e muita reflexão e clarificação. Se calhar até de ser reelaborado de raiz. «Despachá-lo» em poucos meses é brincar com aspectos essenciais de todo um projecto de sociedade. Ao menos nisso estou de acordo com a Fenprof. Juristas, intelectuais, políticos, jornalistas e demais pensadores seniores não podem colocar o corpo de fora deste tipo de discussão concreta, como têm feito, nem perderem-se em generalidades mais ou menos especulativas (basta ler a imprensa), para que mais tarde não venham, uma vez mais, ditar sentenças de cátedra depois de mais um desaire do sistema educativo que não é difícil prever desde já. Aliás, o Partido Socialista nesta fase dever-se-ia centrar nas questões contratuais ou laborais e deixar de brincar às tipologias do bom professor à moda das «ciências da educação». Mas para isso era necessária sensibilidade política e tratar os grupos profissionais com a dignidade que merecem. Parece-me que o tempo político da Ministra da Educação esgotou-se. Pau que nasce torto... (Gabriel Mithá Ribeiro) * No Público de hoje, a ministra da Educação dá a cara por uma proposta cerca de uma semana depois de ela ter sido apresentada. Ter aparecido com a entrevista de hoje há uma semana atrás, poderia nada ter resolvido mas evitava a imagem de estar a reagir aos críticos. Mas há muito nos habituámos a que este ministério ateie pequenos fogos e depois surja a apagar os mesmos. Infelizmente também nos habituámos à reacção extemporânea de uma classe corporativista e de uns sindicatos que de pedagogia pouco mostram saber. Para tal basta ver muitos dos comentários feitos neste blog. É o caso dos "29" itens que definem a função de professor e que pouco ou nada acrescentam ao que já era suposto serem funções dos docentes, mas que alguns críticos parecem desconhecer. Também a reacção de alguns à avaliação é irónica se tivermos que vem de profissionais que fazem da avaliação um instrumento – avaliar sem ser avaliado? – e as leituras em diagonal que muitos fazem desconfiar da preparação e leitura efectiva que atribuirão a documentos de trabalho. Estamos perante uma proposta, não seria interessante discutir a mesma de forma inteligente? Quando uma carreira de 10 escalões se reduz a 6, não seria legítimo pedir a tabela de equivalências para a conversão de tempo de serviço e de salário? São muitas as classes de licenciados em que o acesso à carreira só é feito após prova, serão os docentes diferentes? Creio que não e basta ver a falta de cultura e conhecimentos básicos de muitos professores. Quanto à avaliação dos pais, confesso que não me choca e noto que é mais bem recebida por docentes que são pais do que por docentes solteiros. Ouço os sindicatos falar em "habilitações pedagógicas", mas onde está isso referido? Em algum sítio se estipula em que medida os pais vão efectuar a avaliação? Os Encarregados de Educação podem não saber nada de disciplinas, mas certamente saberão melhor que ninguém quando um professor falta, ou quando ocupa a aula a discutir a sua vida pessoal em lugar de leccionar, ou se atrasa na correcção de testes para lá do desejável. Não serão estes itens suficientes para distinguir o bom do mau docente? Talvez os sindicatos fizessem melhor em discutir estes temas que em marcar greves para dias a seguir a feriados e assim teríamos um ministério a ter de dar a cara pelas suas políticas e a saber que não bastava anunciar as mesmas e que as teria de realmente fundamentar. No momento actual acabam os sindicatos e os docentes exaltados a ser o melhor justificativo das políticas ministeriais (Emanuel Ferreira, docente do 3º Ciclo) * A Ministra foi populista e fez eco da crítica comum de que os professores são os responsáveis pela calamidade educativa portuguesa. Não apresenta evidências de que assim seja. Mas por que razão a Ministra da Educação e outros agentes das esferas do poder se dão ao luxo de falar assim desta classe profissional? Na realidade, os professores são responsáveis, não propriamente pelo facto de ensinarem mal ou de serem intrinsecamente maus professores. A responsabilidade é mais funda. É que desde há algumas décadas os professores abdicaram da sua vocação intelectual, ou mantiveram-na só para aquilo que interessa em cada conjuntura ou momento, aceitando em troca incluir-se na bolsa de sustentação do poder político e económico. O poder, é sabido, precisa destas bolsas de sustentação, e um grupo como os professores é fundamental que seja "capturado" para o pleno exercício do poder actual. Fala-se em "democratização" do ensino, mas isso é um eufemismo. Com certeza algo corresponderá a isso, mas na essência o que se deu foi um fenómeno de "massificação do ensino", o que não é exactamente a mesma coisa. Nesse processo, foi preciso apresentar taxas de sucesso, níveis de ensino em grande escala, impedir o abandono escolar, etc. Ou seja, o aparelho educativo esteve ao serviço de objectivos sociais, económicos e políticos que pouco têm a ver com o verdadeiro ensino. E em troca de favores profissionais e de um certo teor de vida, entre outras vantagens, a "classe profissional" dos profs. alimentou estes objectivos extra-educativos. Numa palavra, vendeu-se ao poder. Evidentemente, o nível de formação e de conhecimentos dos alunos tem-se ressentido drasticamente. Mas os professores têm estado sempre cegos, surdos e mudos. Sempre muito mais preocupados com os seus interesses profissionais e com a sua carreira, enfim, com a sua vidinha. Não se importaram, portanto, durante estes anos, de se submeterem a um processo de proletarização que lhes retirou muita da credibilidade que possuiam, sendo natural que agora o poder os trate como párias e não nutra por eles o mínimo respeito. E os restantes actores também não, designadamente, os pais dos alunos, que não vêm com bons olhos os resultados obtidos. Que pretendem agora os professores? Já nada podem fazer. Podem fazer greves e manifestações. Mas não têm mais crédito que qualquer outro grupo social. E perderam o apoio da sociedade, e agora falam sozinhos no deserto. Isto é uma análise generalíssima. Não se pretende pôr em causa os muitos professores que ensinam bem e que fazem das tripas coração para que os alunos passem e se formem, etc. Mas isso não pôe em causa a minha tese central: os professores, enquanto classe, prostituiram-se ao poder e agora são tratados como rameiras do sistema. E se querem ter emprego e fruir ainda de algumas migalhas do poder têm que aceitar a "grelha" que lhes é imposta e conformar-se. O servilismo e a apatia de anos vão sendo agora cada vez mais evidenciados, e pelo próprio poder, o que não é surpreendente. Ainda me recordo quando aqui há uns anos se negociou o Estatuto da Carreira Docente (penso que em 1997), e estava em causa a saída do ensino de centenas de professores provisórios que durante anos foram os colegas de segunda, mas muitos deles com provas de dadas de qualidade e dedicação, que ficavam sempre com as piores turmas e até ganhavam menos. Estava em causa na mesma altura, através da uma reforma do ensino secundário, o desparecimento de disciplinas como Introdução à Antropologia ou Jornalismo. A "classe" dos professores e os sindicatos nada fizeram caso disso, e negociaram o Estatuto e a reforma sem o mínimo de solidariedade por esses colegas, muitos com família, que ficaram sem trabalho, e muitos continuam no desemprego porque estiveram 10, 15, 20 anos nessa situação provisória e agora não têm onde se agarrar... E quando estes fizeram manifs. à porta do Ministério estavam sozinhos, porque a "nobre" classe dos profs. esteve a marimbar-se para estes colegas... E quanto ao desaparecimento das disciplinas? Alguém se interrogou sobre a validade destas matérias, qual o seu papel na formação integral dos jovens? Alguém ainda se lembra de Educação Visual?... Orlando de Carvalho (...não sou professor) * (...) desejo fazer uma confissão solene. É verdade, também eu sou culpado. Sim, incluo-me no grupo dos réus responsáveis pelo “estado a que «isto» chegou”, independentemente do conceito que possa atribuir-se ao termo «isto». Resumindo, também eu sou professor. Do 1º ciclo por reforma imposta pelo “eduquês”, primário, por opção de há trinta anos, consubstanciada nos ideais que o republicanismo projectava na instrução popular. Publicitado o meu crime, ouso, humildemente, questionar o leitor identificado como Leonel sobre algumas das suas afirmações, face á minha incapacidade de as tornar inteligíveis. (Confesso, no entanto, que apesar desta minha dificuldade, sou moreno e nada tenho de louro. Nem um simples cabelinho). Para evitar que alguma das aves negras e palradoras que, usualmente, costumam enovelar-se por entre o texto escrito subverta o meu discurso, vou recorrer ao mui tecnológico “copy past”. Então vejamos: Afirma o comentador Leonel: «Falam-se em "parasitas" das educação, apontando Escolas Superiores, Faculdades, Docentes, Editores.» «Aprende-se melhor a nadar na água dentro dela, não a ter aulas teóricas sobre natação, é o que se tenta explicar muitas vezes.» « As ciências da educação, como em qualquer outra área científica emergente, contêm grande valor e grande quantidade de irrelevância ou desinformação.» « faça-se como sempre que se fez, não tenho de pensar tanto» (Sic) Como disse? Ora, meu caro Leonel, não me diga que necessita de uma licenciatura em ciências de educação para escrever esta prosa brilhante? Mas que digo eu? Uma licenciatura? Não pode ser. Às ciências de educação deve corresponder uma licenciatura por ciência… Aliás, meu caro, saberá quantas são essas ditas ciências? Tê-las-á contado? Deveras? Quanto mais descansado eu ficaria sobre as qualidades dos cientistas que tanto velam pela nossa educação, se pudesse esclarecer-me esta dúvida. Três, eu sei, de fonte certa, que integram o elenco, «noções de psicologia, de sociologia, de métodos de avaliação». Mas o Português, sim esta língua banal em que nos expressamos, também faz parte da lista, ou tê-la-á V. Exª esquecido enquanto tanto se empenhou, durante sete anos, «a procurar mais informação sobre todos estes elementos, não apenas sobre as "técnicas pedagógicas"»? (...) (António Vicente) (url) PALAVRAS, ESSE INFINITO PODER Exposição de Bia Lessa sobre o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. (Museu de Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.) Etiquetas: João Guimarães Rosa, Museu da Língua Portuguesa - S.Paulo - Brasil (url)
O ABRUPTO FEITO PELOS ESUS LEITORES: QUOTAS PARA HOMENS
A propósito da "lei das "quotas" gostaria de saber a opinião do PS para a hipótese de haver um partido exclusivamente feminino. Aceitaria de bom grado ou propunha uma nova lei para homens? (A. Lamas) (url) TEMOS POLÍTICA EXTERNA OU É SÓ EGOS, BRAVADO, BANDEIRA ENROLADA À CINTURA E AMADORISMO? Repito-me, não para exibir qualquer razão antes do tempo, mas para mostrar que as evidências eram tão gritantes que não se percebe por que razão o Governo (Primeiro-ministro, MNE e MAI na linha da primeira responsabilidade e por esta ordem) mostraram tão grande incompetência e a oposição tão grande silêncio perante uma questão desta gravidade. No dia 29 de Maio escrevi: "Quem manda em última instância nas ruas, o governo de Timor ou a Austrália? E se mandar a Austrália, e manda quem pode e tem a força, mandam também os comandos australianos na GNR? Se os australianos entenderem que a rua X está interdita, a GNR tem que negociar ou pedir licença para lá passar? Qual é a cadeia de comando em Dili? Estas e mais mil e uma perguntas deviam estar a ser feitas e a ter respostas claras. Mas nem se pergunta, nem se responde."No dia 3 de Junho escrevi: "Ficou claro que o comando é da GNR" - "Comando" de quê? Das tropas da GNR? Qual é a exacta cadeia de comando no terreno? Fica por saber. O que se sabe é que num território numa situação de caos, a existência de vários "comandos" operacionais só pode dar confusão e risco. É perigoso: se houver um incidente e forem chamados ao mesmo tempo (pelos populares, por uma família portuguesa, seja por quem for) a GNR e os australianos, como é que se resolve? E sem comunicações claras a probabilidade de fogo "amigo" é grande, porque ninguém está a ver em plena acção as forças a discutirem competências e comandos."O que se está a passar com a GNR em Timor é de uma enorme irresponsabilidade e é perigoso, primeiro para os nosssos homens, depois para a nossa política externa em relação a Timor. A não ser que a GNR esteja lá, como antigamente se dizia , em "missão de soberania", e então tem que varrer os comandos australianos a tiro, quando estes lhe impeçam o caminho... , ou então é para "ajudar" Timor, e ninguém sensato pode achar que andarem no terreno forças sem comando único não é um risco acrescido para todos. * Quando há dias antes do envio das forças da GNR, ouvi a explicação do Ministro dos Negócios Estrangeiros sobre a questão do respectivo comando, se integradas nas forças da Austrália se autónomas, pareceu-me estar a ouvir uma explicação da República Francesa, com laivos nacionalistas e com eterno complexo de inferioridade, quando se refere ao pais do Tio Sam. * Agora que a "questão timorense" parece ter voltado às primeiras páginas dos jornais, talvez seja bom vermos "para além da árvore"...Aos leitores do "Abrupto", aconselho a consulta do (recentemente) criado "blogue", onde podemos ler coisas que, nem sempre, a comunicação social portuguesa transmite. |