ABRUPTO

30.11.05


DE REGRESSO

Em breve, notícias russo-francesas, venezianas e luso-portuguesas.

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24.11.05


JUDEU ERRANTE


Mais uma corrida, mais uma viagem.

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(24 de Novembro)



Sobre as leituras de sondagens aparentemente contraditórias e outras prudências e rigores a acautelar, veja-se Ponto de situação e Numeracia, precisa-se no Margens de Erro.

*

Muitas e interessantes sugestões tem vindo a ser-me enviadas para um título do LENDO / VENDO. Como vou de novo fazer de judeu errante durante uns dias só poderei trata-las em breve.

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COISAS COMPLICADAS


Edward Ruscha

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EARLY MORNING BLOGS 652

Homenagem a Cesário Verde


Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo rei comeram-se as sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas

Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda poetas cá no país!

(Mário Cesariny)

*

Bom dia!

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23.11.05


VER



o Primeiro-ministro a responder aos blogues da micro-causa, no discurso de apresentação propagandística da OTA, como aliás já tinha feito na Assembleia com a cena dos CDs, é um bom retrato dos tempos de hoje, que muitos continuam a não querer perceber. Ele fá-lo por arrogância, convencido que ganha uns pontinhos, mas está muito enganado.

A controvérsia da OTA só começou e começou mal. Como se pode ver pelos estudos que já estão disponíveis, (e convém lembrar aos propagandistas socialistas que o governo não está a fazer favor nenhum em divulga-los, nem tem que ser louvado por isso), a decisão tem pouco a ver com os estudos. Percebe-se isso muito bem fazendo uma antologia das contradições governamentais sobre uma matéria tão importante como a rede de transportes que servirá o aeroporto.

Voltarei ao assunto em breve.

NOTA: o assunto vai ser discutido na Quadratura do Círculo de hoje.

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22.11.05


LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(22 de Novembro)



Entre as sugestões recebidas para o nome desta "coluna" estão: "mirando" (A. Matos Rodrigues), "perscrutando" ou "perscrutando a rede" (Rodrigo Costa), "mediando" (Tiago Azevedo Fernandes). Claúdia Silva sugere: "por este rio acima: papel e silício", explicação (óbvia, mas impõe-se): por este rio acima: roubado a Fausto, dá a idéia de stream (na minha modesta opinião, papel: jornais e livros arrumados, silício: arrumados os restantes media que usem circuitos electrónicos (sejam eles analógicos ou digitais)".

A questão também é entre isto e isto .

*

A exibição de loucura mansa que é a nova coligação alemã, mostra como a vontade dos pequenos poderes é hoje tão apetecida que faz esquecer o mais elementar bom senso. Talvez porque já não haja grandes poderes, e só sobrem os pequenos. Mas esta coligação nunca pode dar resultado pelas melhores razões, só pode subsistir pelas piores. Será um bom exemplo de como os "blocos centrais" são péssimas soluções de governo, a não ser que se esteja em guerra. Teria sido muito melhor ter feito eleições de novo. Mesmo contra a vontade dos alemães que parecem desejar esta mistura malsã. É aqui que a política devia ser uma ultima ratio e não é.

*

Temas e música de fundo para o Super Mario em marimbas. Podem usar em campanha para não andarem tão sérios.

*

Um grande Rocketboom como de costume, com luzes de Natal, o computador a manivela para os pobres, e o aumento da robotização na rede com coisas como o Diggdot.us, o equivalente digital da linha de montagem da Ford, produzindo carros baratos para as massas.

*

Traffic flow no kottke.org.

*

A psicanálise de "mon ami Mitterrand" em breve em livro. Isso mesmo, as conversas de Mitterrand com o seu psicanalista. Primeiras revelações no Sunday Times.

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COISAS SIMPLES / AR PURO


Edward Henry Potthast, Rushing Stream

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EARLY MORNING BLOGS 651

Escrito em Verona

As coisas não se vêem por metade.
Ou passas e as fitas de repente
pousando um longo olhar de eternidade
que logo vai aos fumos da memória,
ou viverás com elas, nelas vendo-
te como em espelho que te sobrevive.

Mas o passar como quem visse tudo
e ali ficasse não ficando a vida
faz que as coisas se cubram de um cristal
opaco e as diluindo em corpo falso,
aquele que é quanto então mereces.

(Jorge de Sena)

*

Bom dia!

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21.11.05


PARA A SEMANA


finalmente.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UMA PEDRA MUITO DIFERENTE DAS OUTRAS


Quem não tem cão caça com gato, e os gatos japoneses revelam-se excelentes caçadores. Eis o asteróide Itokawa, explorado por um pequeno robot japonês chamado Hayabusa. Já lá se perdeu um ainda mais pequeno robot, desta vez ocidentalmente chamado Minerva. Esperemos agora que o (ou a?) Hayabusa desça direito e arranque uns fragmentos do Itokawa para trazer para casa.

(Actualizada aqui.)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
"
O ESTÚPIDO É MAIS PERIGOSO QUE O BANDIDO"

Incluido no livro Allegro Ma Non Troppo de Carlo M. Cipolla (1922-2000), vem a obra Leis Fundamentais da Estupidez Humana, na qual o autor teoriza sobre esse mal que aflige a humanidade.

Aconselhando, desde já, uma leitura desta interessante obra, que teoriza sobre esse misto de estado e de característica de efeitos conhecidos mas tão pouco estudada a que damos o nome de estupidez, deixamos aqui as leis fundamentais que, segundo o autor, regem tão lamentável flagelo.

1ª - Cada um de nós subestima sempre e inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos em circulação.

2ª - A probabilidade de uma certa pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica dessa mesma pessoa.

3ª - Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para sí, ou podendo até vir a sofrer um prejuizo.

4ª - As pessoas não estúpidas subestimam sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas. Em particular, os não estúpidos esquecem-se constantemente que em qualquer momento, lugar e situação, tratar e/ou associar-se com indivíduos estúpidos revela-se, infalivelmente, um erro que se paga muito caro.

5ª - A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que existe.

Corolário - O estúpido é mais perigoso que o bandido.

Mesmo parecendo fora do contexto dos assuntos que habitualmente abordamos (...), não queremos deixar de lembrar que Carlo M. Cipolla teria encontrado um inesgotável campo de estudos caso tivesse tido a oportunidade de visitar o nosso País durante os meses em que este é assolado pelos fogos florestais.

(Nuno Miguel Cabeçadas)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
"TOUT VA TRÈS BIEN MADAME LA MARQUISE"


Não é todos os dias que tenho o prazer de ler notícias sobre Lisboa ao pequeno-almoço, quando abro o meu jornal, o Göteborgs Posten. Mas hoje tive essa sorte. É certo que não era uma notícia enorme, nem estava nas rubricas mais sérias e honrosas do jornal. Estava no quadradinho “God morgon”, onde cada manhã somos brindados com um “fait divers” que nos faça sorrir (um dia destes li aí que em Roma foram agora proibidos, por decreto municipal, os aquários redondos, por serem traumatizantes para os peixes, e que o mesmo decreto assegura o direito dos cães a exercício diário).

Hoje a notícia era esta:

A capital de Portugal, Lisboa, vai este ano ser iluminada pelo que se afirma ser a mais alta árvore de Natal artificial da Europa. Levou 44 dias a montar esta alegria para os olhos de 72 metros de altura, na Praça do Comércio.”

É fantástico! Lisboa a destacar-se com um record tão honroso! E como calculo que esta monumental glória custa dinheiro, só pode ser sinal de que a crise do país não é assim tão grave quanto dizem as más-línguas... Afinal, como se dizia numa famosa canção francesa dos anos trinta, “tout va très bien, Madame la Marquise”!

(Madalena Ferreira Åhman)

*
Não sei se tem conhecimento que a dita árvore, que por sinal é uma beleza de efeito de Natal, e uma forma de alegrar as hostes portuguesas,é de patrocinio de algumas empresas portuguesas, tais como a SIC, BCP MILLENIUM,etc, o que é de louvar.Por outro lado, como já mencionei é uma forma de alegrar as hostes portuguesas(que andam muito por baixo) e faz alguma publicidade da nossa cidade para ser visitado por estrangeiros, que por consequência é bom para a nossa economia(que anda tão pobre). Sejam mais positivos para com as iniciativas que se processam no nosso País e que o valorizem.

(Manuel Beirão)

*

O texto versando a atenção escandinava à majestosa árvore de Natal “plantada” na Praça do Comércio, sugere-me outro comentário. E ele vai no sentido de manifestar o incómodo (irritação?) com que assisto à chegada cada vez mais precoce dos fiéricos enfeites natalícios às ruas das nossas cidades. É o banalizar por dilatação de um tempo que dantes se resumia a quinze dias antes da festa. Perde-se aquela expectativa que se sentia quando eu era pequeno. Aquela coisa do “já falta pouco!”, do “nunca mais chega!”, até que um dia, já com Dezembro adiantado, finalmente as ruas se enchiam de luzes, desenhando velas, Pais Natais, trenós e renas. E havia até aquele quase ritual das famílias que, como a minha, não moravam na Baixa do Porto, de ir até lá para ver as iluminações. Mas esse também era o tempo em que durante meses se namorava um brinquedo, um só, que nos desafiava da montra do Bazar Paris, do Londres ou dos Três Vinténs. Passávamos e pensávamos: no Natal talvez sejas meu. Não perdes pela demora: quando chegar a hora, hei de namorar-te com outro empenho. Espera e verás. E essa altura chegará quando for o tempo mágico, tão ansiado, das luzes a cruzarem as ruas de passeio a passeio. Agora, coisa estranha, o Natal chega no dia a seguir ao último saldo de calções de banho e camisas de manga curta. Suspeito que ainda havemos de consoar na praia.

(Artur Carvalho)

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AR PURO


Feodor Vasilyev

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EARLY MORNING BLOGS 650

ROMANCE DE ABENÁMAR

—¡Abenámar, Abenámar, moro de la morería,
el día que tú naciste grandes señales había!
Estaba la mar en calma, la luna estaba crecida,
moro que en tal signo nace no debe decir mentira.

Allí respondiera el moro, bien oiréis lo que diría:
—Yo te lo diré, señor, aunque me cueste la vida,
porque soy hijo de un moro y una cristiana cautiva;
siendo yo niño y muchacho mi madre me lo decía
que mentira no dijese, que era grande villanía:
por tanto, pregunta, rey, que la verdad te diría.
—Yo te agradezco, Abenámar, aquesa tu cortesía.
¿Qué castillos son aquéllos? ¡Altos son y relucían!

—El Alhambra era, señor, y la otra la mezquita,
los otros los Alixares, labrados a maravilla.
El moro que los labraba cien doblas ganaba al día,
y el día que no los labra, otras tantas se perdía.
El otro es Generalife, huerta que par no tenía;
el otro Torres Bermejas, castillo de gran valía.
Allí habló el rey don Juan, bien oiréis lo que decía:
—Si tú quisieses, Granada, contigo me casaría;
daréte en arras y dote a Córdoba y a Sevilla.
—Casada soy, rey don Juan, casada soy, que no viuda;
el moro que a mí me tiene muy grande bien me quería.

(Anónimo)

*

Bom dia!

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20.11.05


HOJE


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COISAS DA SÁBADO: CAVACO E OS PARTIDOS



A candidatura de Cavaco precisa de encontrar o tom certo quanto aos partidos, o sistema partidário, e a política em democracia. Não é que o tenha perdido, é que ainda não o achou Os partidos têm um menor papel nas campanhas unipessoais como são as presidenciais. Isso é natural e tem a ver com o nosso sistema constitucional. Só que as coisas deveriam ficar por aí, mas não ficam. As candidaturas, em particular a de Cavaco, tende a ser supra-partidária, tanto no bom sentido, como no mau.

Explico-me. O afastamento dos partidos é mau sinal para a saúde da democracia, mas há que convir que os partidos têm muita culpa em que se criasse uma situação em que quase que só se pode ganhar contra eles, ou pelo menos sem eles. Esta situação malsã em que vivem os partidos portugueses, leva a que os candidatos (em particular Cavaco e Alegre, por razões diferentes) se afastem do terreno partidário como se este fosse pestífero. Este tipo de fuga à convivência partidária é, no nosso sistema constitucional e na realidade da nossa democracia, um contributo para agravar a crise das instituições. O futuro presidente vai precisar de um Governo forte e estável, mas precisa também de um sistema partidário mais equilibrado, em particular que favoreça os instrumentos de acção política e de vigilância democrática da oposição através da Assembleia. Resumindo e concluindo: precisa de estabilidade, conseguida não apenas pelo Governo, mas pela acção da oposição.

Um supra-partidarismo que vá para lá do natural centramento da candidatura presidencial numa lógica unipessoal e que possa, por acção ou omissão, minimizar o papel dos partidos não favorece a estabilidade política.

(Publicado na Sábado há uma semana.)

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(20 de Novembro)



Em breve, mais sugestões para o nome alternativo ao LENDO/VENDO.

*

Contrastes: uma péssima reportagem sobre se há médicos a mais ou a menos nos hospitais, no noticiário principal da RTP1. Tudo feito em cima do joelho e dominado por um directo em que uma menina perguntava aos doentes numa urgência se estavam a ser bem atendidos ou não. Tudo sem uma ideia, sem um fio condutor, sem qualquer profissionalismo, enchendo o tempo com banalidades e ouvindo as pessoas que estavam na sala de espera a dizer coisas completamente diferentes do esperado. Alguém me explica qual a razão de um directo desta natureza, casuístico, confuso, caótico, na parte mais nobre do telejornal? Ah! Controlo de qualidade que não existe, negligências que ninguém corrige, mau uso do nosso dinheiro. Logo que esteja em linha, vale a pena ver como é um péssimo trabalho.

Contrastes: pelo contrário, magnífica reportagem da SIC sobre o Martim Moniz como "lugar" de diferentes culturas, civilizações, religiões. Em poucos minutos, um retrato como deve ser das comunidades, com personagens certas e típicas e com a câmara dentro do mundo delas: o altar hindu; o angolano que fez a guerra dos dois lados (deve ter começado na UNITA e depois ter sido integrado no exército governamental), uma personagem viva e a merecer ter as oportunidades de estudo que procura (contou como noticiou à família que já não estava em Angola: mandou uma foto com os pombos do Rossio, e como em Angola, os pombos comem-se, tinha que ser noutro sítio...); uma cabo-verdiana cabeleireira a falar sentidamente das "saudades"; uma família chinesa a explicar, num português sincopado, por que é que não percebia a incapacidade da polícia em prender os ladrões da sua loja e a dizer que os polícias só gostavam de papelada; o indiano a contar com pena que os filhos já não percebiam o Diwali e não queriam voltar à Índia; a jovem chinesa a dizer que não tinha gostado de Lisboa, porque lhe parecia “velha” …. Tudo na primeira pessoa dito por pessoas.

*

Já tinha anotado aqui este livro de Joachim Köhler/Stewart Spencer, Richard Wagner. The Last of the Titans, mas agora, que já o li , insisto porque vale mesmo a pena. A narração da vida de Wagner, entrelaçando os fios da sua permanente agitação interior, mulheres, leituras, ego, política, lugares, com o seu programa estético resulta num quadro que nos dá a respiração wagneriana quase sem fôlego. Vemos as cenas: Wagner, no seu palazzo veneziano, frio, húmido, quase sem dinheiro, sofrendo de um quisto numa perna, tendo acabado de romper com Mathilde Wesendock, lendo Schopenhauer e começando o Tristão e Isolda. Ou a morte de Wagner, que Köhler trata quase sem pormenores, nem drama, com Wagner contorcendo-se subitamente com falta de ar, perante uma aterrorizada criada e depois morrendo diante de Cosima, que o mandou enterrar na parte de trás da casa, onde já estavam enterrados os seus cães, “para o manter sempre debaixo dos seus olhos”.

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EARLY MORNING BLOGS 649

ROMANCE IX LA RESPUESTA DEL REY

Pidiendo a las diez del día papel a su secretario,
a la carta de Jimena responde el rey por su mano;
y después de hacer la cruz con cuatro puntos y un rasgo,
aquestas palabras pone a guisa de cortesano:

«A vos, la noble Jimena, la del marido envidiado,
vos envío mis saludos en fe de quereros tanto.
Que estáis de mi querellosa, decís en vuestro despacho,
que non vos suelto el marido sino una vez en el año,

»y que cuando vos le suelto, en lugar de regalaros,
en vuestros brazos se duerme como viene tan cansado.
Si supiérades, señora, que vos quitaba el velado
para mis namoramientos, fuera bien el lamentarlo;

»mas si sólo vos lo quito para lidiar en el campo
con los moros convecinos, non vos fago mucho agravio;
que si yo no hubiera puesto las mis huertas a su cargo,
ni vos fuerais más que dueña, ni él fuera más que un hidalgo.

»A no vos tener encinta, señora, el vuestro velado
creyera de su dormir lo que me habedes contado.
Más pues el parto esperáis... si os falta un marido al lado,
no importa, que sobra un rey que os hará cien mil regalos.

»Decís que entregue a las llamas la carta que habéis mandado;
a contener herejías, fuera digna de tal caso;
mas pues razones contiene dignas de los siete sabios,
mejor es para mi archivo que non para el fuego ingrato.

»Y porque guardéis la mía y no la fagáis pedazos,
por ella a lo que pariéredes prometo buen aguinaldo:
si fuere hijo, daréle una espada y un caballo
y cien mil maravedís para ayuda de su gasto;

»si fija, para su dote prometo poner en cambio
desde el día en que naciere de plata cuarenta marcos.
Con esto ceso, señora, y no de estar suplicando
a la Virgen vos ayude en los dolores del parto».

(Anónimo)

*

Bom dia!

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19.11.05


LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(19 de Novembro)



Para os admiradores da Blue Ball Machine, o Rocketboom de hoje. No mesmo filão há outras coisas bem divertidas: Paris Hilton doesn't change facial expressions, um exemplo para os blogues caçadores de incoerências em tempo real; um Batman: ualuealuealeuale ; um hino para os blogues que trabalham muito para as audiências ; um George Costanza sei lá para quê; e um para os blogues justiceiros. A febre de sábado de manhã vai alta.

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AR PURO


Alexei Savrasov

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EARLY MORNING BLOGS 648

Child Of The Romans


The dago shovelman sits by the railroad track
Eating a noon meal of bread and bologna.
A train whirls by, and men and women at tables
Alive with red roses and yellow jonquils,
Eat steaks running with brown gravy,
Strawberries and cream, eclaires and coffee.
The dago shovelman finishes the dry bread and bologna,
Washes it down with a dipper from the water-boy,
And goes back to the second half of a ten-hour day’s work
Keeping the road-bed so the roses and jonquils
Shake hardly at all in the cut glass vases
Standing slender on the tables in the dining cars.


(Carl Sandburg)

*

Bom dia!

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18.11.05


COM ELES



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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(18 de Novembro) - 2ª série




De um leitor:
"Enquanto por cá andamos (pais, professores e académicos) preocupados por os nossos alunos escreverem em provas escritas recorrendo a linguagem SMS e discutimos o uso de "sitio" em alternativa a site ou wireless em vez de "sem fios" pois há quem não perca tempo e se ajuste aos tempos. Já imaginou os Lusiadas ou Os Maias em linguagem SMS?
Pois agora imagine isto.

(Carlos Brás)
Um fragmento daquilo:
"As principais obras da literatura britânica foram traduzidas para linguagem de SMS, como forma de ajudar os estudantes do Reino Unido a rever a matéria para os exames. O serviço condensa clássicos como «Orgulho e Preconceito» ou as peças de Shakespeare. Frases emblemáticas como o clássico «Ser ou não ser, heis a questão» («To be or not to be, that is the question»), de Hamlet, foram transformados em «2b? Nt2b? ???». Uma tradução que, de acordo com o professor John Sutherland, da Universidade de Londres, demonstra a capacidade dos SMS de apreender os principais pontos de uma história»
*

Os "anéis de Einstein" no Jet Propulsion Laboratory.

*

Recordado por Paulo Almeida:

"The Federal Election Commission today issued an advisory opinion that finds the Fired Up network of blogs qualifies for the 'press exemption' to federal campaign finance laws. The press exemption, as defined by Congress, is meant to assure 'the unfettered right of the newspapers, TV networks, and other media to cover and comment on political campaigns.'
The full ruling is available at the FEC site. A noteworthy passage: '...an entity otherwise eligible for the press exception would not lose its eligibility merely because of a lack of objectivity...'" ( aqui.)

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota TEMAS PRESIDENCIAIS (3ª SÉRIE).

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
ATENÇÃO AOS IDOS DE MARÇO (QUE EM PORTUGAL SÃO EM JANEIRO)




Existe algum perigo de um atentado terrorista em Portugal nos próximos tempos? Existe, claro: na véspera das eleições - como foi o assassinato de Gaspar Castelo Branco em 86, como foi o massacre de Madrid em 2004. Ainda mais que os terroristas podem querer evitar a eleição de Cavaco Silva e ajudar Soares como conseguiram em Madrid levar à derrota o Governo do PP, um bom Governo, como dois dias antes todas as sondagens confirmavam largamente.

A Espanha participou na Guerra do Iraque e nós não? Mentira: a Espanha não participou na Guerra, limitou-se a enviar um barco-hospital que chegou ao Golfo mês e meio depois dos combates terem terminado.

Aznar esteve na cimeira dos Açores com Bush e Blair? Também Durão Barroso. A cimeira não declarou a guerra ao Iraque, tratou da moção no Conselho de Segurança que previa o uso da força contra Saddam e acabou por ser retirada antes da votação. Mas Zapatero fez toda a sua campanha a proclamar que era preciso retirar a Espanha da "fotografia dos Açores"? A mesma da "fotografia dos Açores" e a mesma amálgama alimentaram em Portugal a campanha da Bloco de Esquerda com bom proveito.

Ainda assim, que a Espanha fizera a guerra e e isso justificava o massacre de 192 passageiros civis àquela hora da manhã num comboio suburbano (como se houvesse justificações!) - foi a palavra de ordem dos manifestantes socialistas, convocados por SMS ou alertados pela Cadena Ser e pla CNN espanhola, que cercaram as sedes do PP de Aznar até às primeiras horas do dia da votação. E foi também o que afirmaram nesse dia as televisões portuguesas, a maioria das rádios e dos jornais. Prova que em Portugal é neste momento extremamente fácil criar factos políticos ao sabor dos ventos e das ondas: veja-se o arrastão "informativo" que varreu a praia de Carcavelos este Verão.

Mas Cavaco Silva não apoiou a guerra do Iraque, até considerou que os Estados Unidos se precipitaram e não fizeram o que deviam, previamente, nas Nações Unidas e no campo diplomático? Também o Rei Abdullah não apoiou a guerra do Iraque muito pelo contrário, limitou-se mais tarde a apoiar a reconstrução das forças armadas daquele País, segundo a letra e o espírito das mais recentes decisões do Conselho de Segurança.

Nem os terroristas - que são os únicos responsáveis dos seus actos - precisam de pretextos, ou, melhor dizendo, tudo lhes serve. A França, de Chirac e Villepin, liderou a oposição aos Estados Unidos, desmultiplicou-se em iniciativas anti-americanas, arvorou-se em campeã do mundo muçulmano, foi aplaudida pelas massas populares pró-Saddam, de Rabat a Jacarta. Pois quem duvida que haja dedo islamista nas revoltas dos subúrbios parisienses que alastraram e continuam? O odiado (pela esquerda bem pensante!) Sarkozy, criador do conselho muçulmano de França na sua anterior passagem pelo Governo, acaba de lançar um alerta vermelho: "é real"... o risco de atentados em França nos próximos tempos. Villepin confirma.

E do risco de atentados em Portugal ninguém fala? Desde que os terroristas conseguiram alterar o sentido do voto em Espanha com os atentados de 12 de Fevereiro de 2004, todos estamos expostos. Portugal, em primeiro lugar, que tão parecidos somos com os espanhóis, tão permeáveis a qualquer arrastão informativo, como bem se viu. Nem é preciso um grande atentado: ao menor incidente, a qualquer boca foleira de um canidato, e a comunicação social sai para a rua desembestada.

Ninguém gosta de ser profeta de qualquer desgraça. Mas como diria Almeida Santos "por favor preocupem-se".

(José Teles)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UMA BIBLIOTECA ROLANTE


(Pedro Filipe da Silva Gaspar)

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(18 de Novembro)



No Público, o artigo de Miguel Sousa Tavares, Desencontros, (sem ligação) que fará correr muita tinta:

"Esta teoria do primado absoluto do "direito à orientação sexual" está-se a tornar uma espécie de ditadura bem-pensante, que funciona por um método "terrorista" de silenciamento dos discordantes: quem não reconhece este sagrado direito constitucional, com todas as suas consequências, só pode ser uma abecerragem, ao estilo do dr. João César das Neves."

a contrapor às notas habitualmente assinadas f. (Fernanda Câncio) no Glória Fácil.

*

No Bloguitica AFINAL NÃO SÃO APENAS OS BLOGUES (I de II) e A OSCILAÇÃO, a viagem asiática dos autores do kottke.org, as notícias portuguesas e brasileiras do Google, que todos os dias faz uma coisa diferente. E por falar no Google vale a pena ver este filme com os diferentes logotipos usados pelo motor de busca, em cima de música de Elvis.

*

Mecanismos da informação: no dia da greve dos professores, a divulgação dos números do absentismo docente. A muito governamental RTP abre com os números do absentismo, dados aliás da forma mais conveniente, para, a seguir, noticiar a greve. É assim que se fazem as coisas.

*

Os leitores do Abrupto estão a enviar sugestões para um nome alternativo a estes LENDO / VENDO... que dê melhor a ideia do stream digital. Algumas sugestões recebidas: “Audio, video, disco - I hear, I see, I learn” (Paulo Almeida); “Correnteza”, “Na correnteza dos media” (José Nunes); "MediaPlaning", “por vezes, tal como o "AquaPlaning", também o "MediaPlaning" pode provocar despistes!" (SBC); "Regato mediático", "Córrego mediático", "O fio de Ariadne", "Leituras no éter" (Leonel Morgado), etc. Vasco Godinho escreve:
"Notas sobre o fluxo electrónico", "Notas sobre o fluxo" ou "Fluxografia" foram as minhas primeiras ideias, mas são um pouco imediatas e nenhuma responde inteiramente ao que procura, e nem sequer têm a elegância que decerto procura. Se toda a gente soubesse quem foi o inventor do ensaio e da escrita-à-medida-do-que-se-pensa-e-se-vê, eu tomaria a liberdade de sugerir que se invocasse algures Montaigne. No fundo, a culpa disto tudo é dele.

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COISAS SIMPLES


John Pilson, St. Denis (Stairwell and Elevators)

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EARLY MORNING BLOGS 647

O poema ensina a cair

O poema ensina a cair
sobre vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede

até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face antige o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.

(Luiza Neto Jorge)

*

Bom dia!

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17.11.05


TEMAS PRESIDENCIAIS (3ª SÉRIE)

UMA CAMPANHA DECLARATIVA


A campanha de Cavaco Silva é diferente de todas as outras. É feita para um candidato cujas características políticas e psicológicas são muito diferentes do habitual na "classe política" portuguesa. É feita em circunstâncias também sui generis: Cavaco Silva parte com patamares de apoio superiores aos dos outros candidatos todos juntos, o que é pouco comum em eleições muito contestadas e personalizadas. Esta última característica aparece pela primeira vez na nossa história eleitoral presidencial. Nem Eanes, nem Soares Carneiro, nem Freitas do Amaral, nem Mário Soares, nem Jorge Sampaio alguma vez estiveram numa situação deste tipo. Ou tinham um favoritismo esmagador, e os outros candidatos estavam apenas a "marcar presença", ou havia uma forte bipolarização com dois candidatos igualados.

Deixo aqui de lado o mérito relativo da mensagem de cada um, minimizando o papel de manifestos e programas, dado que mais do que as palavras é o interlocutor que lhes dá sentido. As mesmas coisas ditas por Cavaco e Soares são muito diferentes e os eleitores sabem disso muito bem, visto que ambos são conhecidos como políticos. Este efeito de conhecimento é um elemento essencial desta campanha. O julgamento do eleitorado parte de um princípio de necessidade: precisa, ou acha que precisa, de uma pessoa com determinadas características e história, e não de outra. Esta é hoje a força de Cavaco e a fragilidade de Soares.

Num mundo em que não houvesse ruído, ou seja no Paraíso ou no Inferno, vale o mesmo, esta escolha seria límpida. Acontece que existe um conjunto de práticas que correspondem ao que se pensa serem (ou deverem ser) as campanhas eleitorais, umas impostas pelas nossas tradições políticas, outras pelo sistema mediático. E estas práticas moldam, durante três meses, a imagem dos candidatos num contexto de sobreexposição que tem todos os riscos ou vantagens, dependendo do tipo de campanha.

Veja-se, por exemplo, como a primeira entrevista presidencial de Cavaco Silva na TVI revelou o melhor e o pior da face mediática de Cavaco, o candidato cuja face mediática cola menos com a sua exposição "pública". Quando vi a entrevista, Cavaco pareceu-me tenso, rígido, um pouco ansioso, mas convincente. Atenho-me à última classificação, a que mais depende da vontade própria, porque admito que as outras surgem contra a vontade do candidato. A tensão de Cavaco prejudica a mensagem, porque há sempre um ruído psicológico de instabilidade e insegurança na tensão. No entanto, como ele só fala de coisas "sérias", acaba por favorecê-lo, gerando um efeito de veracidade. Aquele homem está nervoso porque está preocupado e está preocupado por nós. É muito interessante verificar que, se me pareceu que na entrevista havia rigidez a mais e incomodidade face a algumas perguntas, que Cavaco podia responder de forma simples e de bom senso sem dificuldades, já quando a entrevista é reduzida aos excertos que são transmitidos nos noticiários, estes resultam muito eficazes.

Cavaco é pouco plástico e por isso tende a seguir uma linha pré-estabelecida com muita rigidez e isso, numa entrevista mais longa, prejudica-o. Já em fragmentos, o que é valorizado é o grau de convencimento pessoal, de dedicação às suas causas, que é muito difícil um político dos nossos dias transmitir e ele consegue-o. Por isso, não há frases engraçadas nem soundbites para reproduzir no dia seguinte, como acontece com Soares, que é sempre um must televisivo, mas uma mensagem limpa e convincente de dedicação à causa pública. Cavaco não consegue o mais fácil, mas consegue o mais difícil, como aliás revelam as sondagens que os seus adversários acham que caíram injustamente do céu, sem qualquer razão.

Pela entrevista, percebe-se que o que é essencial na campanha de Cavaco é a sua natureza de campanha declarativa, afirmando determinadas coisas e só essas, e não "conversando" com as outras campanhas. É isso que exaspera Soares, que precisa de interlocutor para o seu tipo de intervenção discursiva, e não o encontra. Como o candidato Cavaco é credível e gera um efeito de confiança, o que diz é muito eficaz. Sofrerá alguma erosão, em particular face ao estilo mais comunicativo de Soares, mas pode ter resultados surpreendentes. Já os tem, porque as sondagens revelam uma excepção, não uma normalidade.


UMA CAMPANHA PROVOCATÓRIA


Mário Soares seria um excelente candidato para o Bloco de Esquerda, ou melhor, para a área do Bloco de Esquerda, e digo-o sem qualquer intenção de minimizar a campanha e o candidato. Tivesse ele sido um candidato com uma lógica exterior aos conflitos internos do PS e centrado nas áreas onde conquistou influência nos últimos anos, que podia não ganhar, como tudo indica que não vai ganhar, mas faria uma campanha muito mais animada e que lhe seria menos penosa.

Soares estaria mais próximo do que realmente pensa, e seria mais convincente, pelo menos para uma parte do eleitorado. Um Soares solto, apoiado por uma franja considerável da nossa esquerda mais radical e activista, fazendo uma campanha na base dos seus temas favoritos, o antiamericanismo, a crítica à globalização, o ataque ao "neoliberalismo", em defesa dos "direitos sociais" contra o "economicismo" do Governo, sem receio de confrontar Sócrates, traria um incremento de força e unificaria mais a esquerda do que a actual campanha híbrida e pouco convincente.

O Bloco percebeu isso e hesitou. Fernando Rosas foi ao lançamento de Soares, um gesto politicamente simbólico, e a mandatária da juventude veio do BE. Quando a campanha endurece, vemos uma comunidade de temas em uníssono, com a mandatária da juventude de Soares e Francisco Louçã a usar contra Cavaco, por exemplo, a desgraça do jovem baleado na Ponte 25 de Abril. As sondagens revelam essa fluidez entre Soares e a esquerda radical quando mostram que se o BE não tivesse candidato, seria Soares e não Alegre nem Jerónimo, o verdadeiro receptáculo dos votos radicais.

O que prende Soares numa redoma fechada é que ele se convenceu de que, aparecendo do nada, depois do seu sonoro "basta!", podia reproduzir uma campanha como a de 1985 ou de 1991, num tom unanimista e mobilizador, levando tudo atrás do "animal político" por excelência. Ele ainda não percebeu que nada disso aconteceu, nem vai acontecer, e está penosamente a tentar chegar à segunda volta. Apanhado na sua armadilha, Soares está a fazer uma campanha que Louçã não desdenharia: provocações, picardias, frases assassinas, que são sempre um sucesso comunicacional, mas que o reduzem à situação do candidato menor anti-sistema que pretende crescer apenas no confronto com o maior. Soares faz isso muito bem, porque ele é bom nisso, mas também porque este tipo de campanha encaixa bem no tom habitual da própria comunicação social. Só que este tipo de campanha dificilmente lhe dará o estatuto de um candidato com sentido de Estado e a gravidade política que as pessoas associam à função presidencial.

Soares tenta bipolarizar a todo o custo, mas tem muita dificuldade em usar o armamento pesado que, numa segunda volta, não terá pejo em utilizar. Esse armamento assenta num antifascismo forçado, recorrendo a todas as metáforas dos perigos de Cavaco e do cavaquismo como subversão da democracia. Só que Soares não está na segunda volta e candidatos como Alegre, ao serem o seu contraponto, tiram-lhe o tapete e diminuem-lhe a dramatização. Quando Soares diz que com ele podem dormir descansados, Alegre vem dizer que com Cavaco também podem dormir descansados, quando Soares se gaba da sua superioridade cultural face a Cavaco, a mera existência de Alegre o diminui, onde Soares faz um contínuo de provocações, Alegre aparece como um factor de calma e seriedade.

Vamos ver como evolui o confronto entre a campanha provocatória e a campanha declarativa, porque é no confronto entre ambas que se vai jogar o que parece ainda em aberto na campanha eleitoral: se Cavaco ganha à primeira volta, e, se houver uma segunda volta, se é Soares ou Alegre que passarão.

(Hoje no Público.)

*
Lido o seu artigo sobre as campanhas de Cavaco e de Soares, concordando na generalidade com o que diz e em absoluto no que se refere a Cavaco, gostaria no entanto, de deixar uma interpretação diferente da atitude de Mário Soares.

Tenho para mim que este é o verdadeiro Soares, contraditório prisioneiro entre princípios e carácter. Não simpatizando com a pessoa, acredito firmemente na sinceridade e boa fé dos seus princípios e da sua capacidade mobilizadora. Contudo, creio que os princípios públicos de Soares se circunscrevem a uma esfera política, em grande parte literária, teórica e essencialmente abstracta. No plano das suas relações pessoais, Soares aparenta agir regulado por motivos de decisão e acção muito diferentes e menos agradáveis que apenas a sua dimensão pessoal revela, nunca a sua dimensão pública. Foram estes diferentes motivos de acção que determinaram, entre outras, as ruturas com Manuel Alegre, em parte, com Salgado Zenha, a sua reacção após a derrota no Parlamento Europeu e, quanto a mim, a actual candidatura.

Soares vai perder estas eleições pela simples e comezinha razão de que, talvez pela primeira vez na vida, ele concorre a algo não por convicção política profunda, mas por razões de carácter. A quase total ausência de conteudo político relevante da sua campanha e a concentração quase exclusiva e hostil na pessoa de Cavaco, mais do que na campanha, vêm demonstrar, creio, este ponto de vista. Suporá talvez que já tudo lhe é permitido e esta suposição é uma questão de carácter.

(Fernando Calado Lopes)
*
«...quando Soares se gaba da sua superioridade cultural face a Cavaco, a mera existência de Alegre o diminui, onde Soares faz um contínuo de provocações, Alegre aparece como um factor de calma e seriedade...»

A lógica desta sua frase parece-me muito correcta.

A verdade isenta, parece-me, é que Manuel Alegre terá arriscado candidatar-se numa perspectiva ofendida, sem dúvida com um tom tranquilo e com um tom que toca a muitos, mas que também não toca a generalidade de um País em crise e desesperado e que está urgentemente precisado de um salvador supra-dotado. Não sei se Alegre, como Cavaco Silva, interpreta esse papel. Sinceramente, creio que Manuel Alegre, como símbolo de esquerda e provavelmente como um bom Presidente da República (porque tem um perfil melhor que os outros), tem o problema de ter a credibilidade que lhe falta; ou seja, nunca ter errado porque nunca esteve em sítio nenhum (ao contrário dos outros).

Manuel Alegre surge como uma espécie de pássaro ganhador da consciência de toda a gente, mas não tem a fibra que estamos habituados a ver nas pessoas aparentemente dotadas para o governo do País e terá o azar de não ser tempo para brincadeiras e frases genéricas de combate. O que nós precisávamos todos era de um Presidente fundador de qualquer coisa nova, e se bem que Manuel Alegre crie essa expectativa, também não possui o estatuto exemplar para uma coisa dessas. A não ser que por uma recusa visceral a Cavaco as eleições dêem por esse lado inventor. Seria engraçado que no fundo do poço os portugueses arriscassem o tudo ou nada.

Apesar de ter toda a minha simpatia (e apesar de eu gostar que ele ganhasse como elemento traído e vítima da máquina partidária que ninguém, no fundo, percebe -- numa espécie orinetação para o futuro), à situação de Manuel Alegre falta qualquer coisa que ninguém pode explicar ou arriscar inteiramente sem ser por um "vamos a isto, caramba!". Se calhar é isso que nos falta a todos. Se calhar é este o desafio que, se for devidamente identificado, pode dar numa boa campanha -- mas para isso era necessário que os meios de comunicação social não perdessem tempo com o espectáculo estranho que Soares inventou contra o candidato essencial e automático que é Cavaco Silva. Digo estranho porque Soares optou por uma campanha que sabe que não vence, e portanto há aqui um fenómeno que ninguém entende e nos anda a ocupar todos. Mas num plano de banda-desenhada que mimetiza a verdade e, pior, aquilo que realmente precisamos.


Não fosse este pormenor de Soares ter aparecido sabe-se lá porquê, teríamos umas presidenciais "à antiga", entre a direita pragmática e a esquerda fundadora. Se calhar, já ninguém pensa entre um lado e outro sem avaliar a validade das pessoas em si, e depois o excesso de informação-espectáculo (não da baixa-política, como se pretende fazer passar normalmente) está a baralhar o essencial do problema e a turvar a questão que se nos apresenta: a de decidir entre o prático Cavaco e o potencial Alegre. São dois termos muito claros que confundem qualquer simpatia.

(Vasco Godinho)

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(17 de Novembro)



Sugestões para mudar o nome ao LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA? Qualquer coisa como em inglês Stream, fio, fluxo, para cobrir o contínuo digital (e ainda analógico, cada vez menos) que faz estas notas?

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Mais um novo Google, o Google Base e o Google Print chama-se agora Google Book Search.

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Um saudável antídoto à mania acusatória, zangada, apressada e superficial, infelizmente típica de alguns blogues, na nota "Atirar pedras ao ar na Ota" no Adufe. Cito:

"Obviamente, nem todos os bloggers que exigiram os estudos que agora "começam" a ser publicados são especialistas, logo não são os críticos mais competentes para apreciar a informação. Terão seguramente a sua palavra a dizer e é do interesse de todos que os argumentos sejam suficientemente fortes e claros que permitam convencer a maioria da bondade das decisões, mas o fundamental era/é que estes mesmos estudos fossem divulgados para que todos, incluindo técnicos especializados alheios à realização dos estudos, os podessem avaliar e comentar. A lógica de facto consumado sem justificações foi em si um erro crasso nesta matéria que tem andado literalmente ao sabor dos caprichos de cada ministro da tutela."

*

Quando, muitas vezes, alguns jornalistas fazem, irritados, a pergunta retórica de quando é que "protegeram" Soares, uma das respostas está dada hoje. Soares entrou numa campanha quase de insulto pessoal, fazendo a psicanálise do seu adversário, a quem chama "complexado", ou melhor ainda, dizendo que é "complexado com ele próprio". Todo o discurso de Soares é de uma insuportável jactância e arrogância pessoal, política, mas também cultural e social. Não é muito distinto do ataque que o Independente em tempos fez a Macário Correia por ser filho de pobres. Soares não é um analista, não é um comentador, é um candidato a Presidente da República, a dita "mais alta magistratura da nação". Ora ainda não vi um único editorial de protesto contra quem está claramente a baixar o nível da campanha, editorial a que não escaparia qualquer outra personagem da política se não fosse Soares. Ou então terá o seu editorial crítico quando se encontrar qualquer coisa que permita um exercício salomónico, que, como é costume, protege o principal prevaricador. É verdade que Soares não tem tido boa imprensa ao contrário de Cavaco, mas a sua campanha também tem sido tão má que não espanta. Mas continua a beneficiar de uma enorme complacência.

*

E nos jornais vê-se também como um dos grandes méritos da discreta campanha de Alegre tem a ver com o que disse acima. Alegre fala de igual para igual com Soares, e não lhe reconhece um átomo da superioridade que Soares pensa que tem. Pode por isso responder com elegância ao "mau gosto" de Soares, como fez a propósito do boletim clínico que este anda a prometer exibir.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: A PEDRA DE PANDORA



Mais uma pedra que conhecemos melhor. A primeira mulher. A de todas as qualidades. A que trazia a caixa com o mal. Agora vemos que não é uma caixa é uma pedra. Será que se pode abrir? Será que a Esperança continua no fundo da caixa, a única a não fugir?

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AR PURO


Richard Estes, Urban Landscapes II, Allied Chemical

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EARLY MORNING BLOGS 646

La Grenouille qui se veut faire aussi grosse que le Boeuf

Une Grenouille vit un boeuf
Qui lui sembla de belle taille.
Elle qui n'était pas grosse en tout comme un oeuf
Envieuse s'étend, et s'enfle, et se travaille
Pour égaler l'animal en grosseur,
Disant : Regardez bien, ma soeur ;
Est-ce assez ? dites-moi ; n'y suis-je point encore ?
- Nenni. - M'y voici donc ? - Point du tout. - M'y voilà ?
- Vous n'en approchez point. La chétive pécore
S'enfla si bien qu'elle creva.
Le monde est plein de gens qui ne sont pas plus sages :
Tout Bourgeois veut bâtir comme les grands Seigneurs,
Tout petit Prince a des Ambassadeurs,
Tout Marquis veut avoir des Pages.

(Jean de La Fontaine)

*

Bom dia!

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16.11.05


INTENDÊNCIA

Em actualização os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
SOBRE O "ALMOCREVE DAS PETAS", VERSÃO EM PAPEL



Lendo, como sempre o “abrupto”, encontrei uma referência ao “Almocreve das Petas”. É interessante lembrar que a primeira referência bibliográfica a este nome é do André Brun, em A malta das trincheiras (guerra de 14/18). O nome era aplicado às notícias oficiais do Estado-Maior, sobre o andamento da guerra. Passou, quase de imediato, a aplicar-se aos rumores e panfletos que circulavam entre a nossa tropa. Tinha também o simpático “nickname” de “Daskpeten Almokreven”!

É um livro de leitura obrigatória, de um humor excepcional, onde se podem encontrar pérolas como a da origem do vocábulo “cavar”, aplicado a “fugir”; e muitos outros; e onde se podem encontrar elementos preciosos para a compreensão (sociológica) do nosso Povo. Estou a citar de memória, pois há anos que não releio o autor da Maluquinha de Arroios. E cuja obra recomendo vivamente a todos.

Quem não perceber o Brun de antes da guerra (de 38/45), então – como diria o Vasco Pulido Valente – é porque não percebe nada do que se passa hoje em Portugal.

Ontem, como hoje, «o Mundo está perigoso…»

(Luis Rodrigues)

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DE REGRESSO

daqui. E está diferente!!!

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15.11.05


LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(15 de Novembro)



Mais um "google", Google Analytics.

*

Padrões: dois blogues sobre comunicação social, o INDÚSTRIAS CULTURAIS e o Jornalismo e Comunicação são actualizados regularmente pela manhã. Blogues kantianos, seguros. O Almocreve das Petas costumava ser o mais regular blogue nocturno, sinal de bons e clássicos vícios antigos, mas está um pouco errático.

O número de blogues nocturnos (nos Frescos) está a diminuir. Sinal de uma crise do umbiguismo? Não sei. O umbigo tende a falar mais à noite, a irritação, a quezília, a mesquinhez, a inveja mais de dia. Terá o Diabo dado ritmos circadianos aos blogues?

*

Um bom artigo de Teresa de Sousa, "Más notícias", no Público (sem ligações):

"Se a União Europeia vier a ser responsabilizada pelo fracasso das negociações para a liberalização do comércio mundial - graças à teimosia cega de alguns dos seus membros no que respeita preservação da PAC -, a sua credibilidade internacional ficará reduzida a pó."

Ainda estou para saber se o pagamento dos conteúdos no Público compensa a perda de influência real do jornal no debate público. É que, para um jornal que se pretende de referência, a circulação dos seus artigos na rede é um multiplicador natural de influência, e a influência (nas elites em particular) está no centro da "referência".

*
Partilho da sua dúvida em relação ao pagamento de conteúdos do Público: será que o actual pagamento "compensa a perda de influência real do jornal no debate público"? A minha dúvida está inclinada para uma resposta, que penso será também a sua - parece-me que o Público tem perdido influência no debate. E, de facto, perder influência é ir deixando de ser referência...

Tenho para mim que, se fizessemos uma análise quantitativa ao número de citações de artigos, na Internet, o Público seria, até há pouco tempo, o jornal mais citado. Basta ver o mundo dos blogs "de referência": o seu Abrupto, o Causa Nossa, entre muitos outros, que continham citações quase diárias, e que se têm reduzido agora - passando a surgir citações de outros jornais, como o DN e JN, entre outros.

Eu próprio tenho um exemplo concreto. Sou dinamizador de um fórum de discussão (uma mailing list, que dá origem a um blog ), com notícias que normalmente retiro da minha leitura diária do jornal Público. Ora, desde que as ligações para a página passaram a estar apenas disponíveis para assinantes, o debate tem-se ressentido - nota-se uma clara diminuição. Hoje em dia, porque gosto muito de ler o Público, tenho continuado a "recortar" as notícias deste jornal, mas é provável que no futuro comece a escolher hiper-ligações doutros jornais, de forma a procurar fomentar o debate.

(Fernando Ramos)

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COISAS COMPLICADAS


Hiroshi Sugimoto, Stanley Theater

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EARLY MORNING BLOGS 645

Mélange adultère de tout

En Amerique, professeur;
En Angleterre, journaliste;
C'est à grands pas et en sueur
Que vous suivrez à peine ma piste.
En Yorkshire, conferencier;
A Londres, un peu banquier,
Vous me paierez bien la tête.
C'est à Paris que je me coiffe
Casque noir de jemenfoutiste.
En Allemagne, philosophe
Surexcité par Emporheben
Au grand air de Bergsteigleben;
J'erre toujours de-ci de-là
A divers coups de tra la la
De Damas jusqu'à Omaha.
Je celebrai mon jour de fête
Dans une oasis d'Afrique
Vêtu d'une peau de girafe.

On montrera mon cénotaphe
Aux côtes brûlantes de Mozambique.

(T. S. Eliot)

*

Bom dia!

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14.11.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: QUEM FOI EDUARDO MOREIRA?

Por gentileza de Ana Claúdia Vicente, publica-se aqui a biografia que fez de Eduardo Moreira na sua dissertação de mestrado A Introdução do Escutismo em Portugal. 1911-1942.

Eduardo Henriques Moreira (1886 - 1980)

Natural da cidade de Lisboa, foi discípulo do professor Erasmo Braga. Fez estudos teológicos e históricos. Tornou-se pastor da Igreja Evangélica Presbiteriana em 1913; encetou profissionalmente, dois anos depois, carreira na função pública. Desde o primeiro momento esteve envolvido na criação da Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP), fundada em Setembro de 1913. Foi Secretário-Geral da AEP até 1922, e Comissário da Zona do Porto até 1926, onde deu início ao “Dia do Gaiato” (1923).
Em 1917, foi aceite pelo ministro de Guerra, Norton de Matos, como capelão evangélico do Corpo Expedicionário Português, missão que não chegou a cumprir devido ao golpe sidonista. Em 1920 foi eleito vereador do município de Lisboa, e no ano seguinte exerceu as funções de Vice-Presidente do Senado Camarário. Nessa altura foi aprovada, por proposta sua, a restauração da bandeira da cidade, e iniciados estudos toponímicos sobre a capital. Após ter desempenhado funções de secretário ministerial do Coronel António Maria Baptista, cessou em 1922 toda a sua participação política e carreira na função pública, dedicando-se exclusivamente à vida religiosa.

Professor no Seminário Evangélico e historiador do fenómeno protestante português (pertenceu ao Instituto Histórico do Minho e de Coimbra), preparou em 1928 uma colectânea de leis que respeitavam aos evangélicos portugueses; foi poeta e periodista. Tomou a cargo a fundação de vários órgãos de comunicação protestantes, nomeadamente a revista Triângulo Vermelho, da Associação Cristã da Mocidade, sendo Secretário-Geral desta associação de 1922 a 1928. Primeiro Secretário da Aliança Evangélica Portuguesa (1922-25), assumiu a presidência da instituição pelo menos até 1948. Representou Portugal em inúmeras reuniões internacionais, entre as quais os congressos pedagógicos protestantes de Nimes (França), em 1922 e Poertschach (Áustria), em 1924; o Congresso Evangélico Espanhol de Barcelona, 1929; ou o Congresso Mundial das Escolas Dominicais (Brasil), em 1932. Na qualidade de procurador das missões evangélicas em África, visitou durante o ano 1934 cinquenta estações missionárias em Cabo Verde, Angola e Moçambique. Aderiu à Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica, tendo sido ordenado (primeiras ordens) em Outubro de 1947, pelo arcebispo Armagh, primaz da Irlanda. Com o bispo protestante Santos Figueiredo, participou na revisão da versão seiscentista da Bíblia, da autoria de João Ferreira de Almeida. Colaborou na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, editada nessa mesma década, bem como na publicação de vários artigos na imprensa (n’ O Século, entre outros), sobretudo de divulgação económica.

(Ana Cláudia Vicente)

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HORA PIMBA 5
OU O REFRIGÉRIO DOS AFECTOS PELAS EXCITAÇÕES CULTURAIS
(OU VICE-VERSA)
(Continuação)

O Simões não percebe o Nuno : o rapaz do Nietzsche achava o vinho um "vício porco", mas apreciava "alguma companhia feminina que lhe animava um pouco as artes". O que é que lhe tinha dado? Trabalhava? O Nuno era um pequeno intelectual:
. O Simões, que tinha saído da loja para passsar pelo Centro Republicano, e não encontrara ninguém de feição, tinha-se resignado à conversa com o "selvagem do Nuno". O que é que o Nuno lia?. Estranho.

E de repente lembrou-se:.
(Continua)

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(14 de Novembro)



Miserável o aproveitamento que Louçã e Joana Amaral Dias (mesma tradição, mesmos métodos) estão a fazer da desgraça do jovem baleado na ponte 25 de Abril. Tão miserável como aqueles que atacavam Mário Soares de ser responsável pelos suicídios de trabalhadores com salários em atraso. Aqui está um verdadeiro exemplo de como enterrar a campanha na lama.

*

O que está por cima sobrepõe-se ao que está por baixo, é a lei temporal dos blogues. A propósito do que está por baixo, vale a pena ler Roger Sandall, "Tribal Yearnings. The enemies of the open society today" no The Culture Cult.

*

Tenham medo, tenham muito medo da série de ideias ultra-politicamente correctas do pomposamente chamado Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas (eu a pensar que num mundo "multicultural" não havia "minorias étnicas"), expostas no estilo da Raposinha do Aquilino, "com muita treta", no Programa "Diga lá Excelência" e reproduzidas no Público de hoje. Aqui vai uma pobre amostra do discurso cheio de certezas do Alto-Comissário:

Só nós:
"A Europa está a viver um tempo triste em que se está a fechar numa concha, erguendo muros e barreiras à sua volta. A opinião pública espanhola era das poucas que se mantinham abertas, agora restamos praticamente só nós, os portugueses."
Onde estão "talheres" coloquem coisas como o estado de direito, a democracia, valores civilizacionais como a igualdade das mulheres e dos homens, repúdio da violência "cultural" (excisão do clitoris, etc.):
"Quando eu convido alguém para almoçar comigo não é normal que eu exija que todos comam com talheres?

Não é obrigatório. Eu acho possível sentar à mesma mesa pessoas com registos culturais, históricos e religiosos completamente diferentes.

Com pratos diferentes, instrumentos diferentes?

Exactamente. Em contexto global, é isso mesmo que temos que fazer. O grande perigo que corremos é querer que toda a humanidade se sente à nossa mesa comendo com os nossos talheres e com a nossa culinária."
Preconceitos:
"Vamos então a um caso concreto. Defende escolas só para algumas comunidades imigrantes, com currículos especiais?

Não, a interculturalidade não é isso. Isso são versões suaves de multiculturalismo, versões de segregação, de separação de diferentes comunidades.

Mas parece que a escola portuguesa não interessa muito aos filhos dos imigrantes...

É um preconceito.

O insucesso escolar nestas comunidades é um preconceito?

Mas o insucesso escolar não tem que ver com o interesse na escola portuguesa. Temos todos a ganhar com a aceitação da diversidade. De ver a realidade a partir do ponto de vista do outro."
As certezas enfatuadas e o tom dogmático eram tão evidentes que até os jornalistas habitualmente calmos estavam irritados.

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COISAS SIMPLES


Norman Rockwell, The Connoisseur, 1962

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EARLY MORNING BLOGS 644

Segredo

A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.

Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.

Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.

Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.

(Carlos Drummond de Andrade)

*

Bom dia!

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13.11.05


HORA PIMBA 4
OU O REFRIGÉRIO DOS AFECTOS PELAS EXCITAÇÕES CULTURAIS
(OU VICE-VERSA)
(Continuação)

Estava o nosso jovem a ler Nietzsche como um verdadeiro pluralista

quando o Simões o interrompe.

E lá subiu para a mansarda do Nuno (era em Alfama), o "da alma sincera", com a "mesa cheia de brochuras", um guarda-chuva, o catre mal feito, a luz do petróleo.

(Continua)

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O FIM DAS ESPÉCIES.

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HORA PIMBA 3
OU O REFRIGÉRIO DOS AFECTOS PELAS EXCITAÇÕES CULTURAIS
(OU VICE-VERSA)


De Eduardo Moreira, Duas Revoluções. História Verosímil da Actualidade, Lisboa, Livraria Evangelica, 1925

O jovem que "não vê claro no meio da confusão das doutrinas":



O "nosso amigo" estava a ler Nietzsche, em francês(é uma história "verosímil"), e quer fazer a "instrução contraditória" do cristianismo.



(Continua)

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HORA PIMBA 2
OU O REFRIGÉRIO DOS AFECTOS PELAS EXCITAÇÕES CULTURAIS
(OU VICE-VERSA)




O artista olha para o quadro e diz: "Outra vez comigo, querida fugitiva. Agora tenho duas: a inspirada e a real, a que amo...Existe a terceira que não virá..."

Virá, virá, está atrás do sr. Costa:



Conclusão: "a partir de então, Xavier Costa compreeendeu o que faltava à sua arte: o toque maravilhoso do amor..."

(Continua na Hora Pimba 3)

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© José Pacheco Pereira
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