ABRUPTO

20.11.05


COISAS DA SÁBADO: CAVACO E OS PARTIDOS



A candidatura de Cavaco precisa de encontrar o tom certo quanto aos partidos, o sistema partidário, e a política em democracia. Não é que o tenha perdido, é que ainda não o achou Os partidos têm um menor papel nas campanhas unipessoais como são as presidenciais. Isso é natural e tem a ver com o nosso sistema constitucional. Só que as coisas deveriam ficar por aí, mas não ficam. As candidaturas, em particular a de Cavaco, tende a ser supra-partidária, tanto no bom sentido, como no mau.

Explico-me. O afastamento dos partidos é mau sinal para a saúde da democracia, mas há que convir que os partidos têm muita culpa em que se criasse uma situação em que quase que só se pode ganhar contra eles, ou pelo menos sem eles. Esta situação malsã em que vivem os partidos portugueses, leva a que os candidatos (em particular Cavaco e Alegre, por razões diferentes) se afastem do terreno partidário como se este fosse pestífero. Este tipo de fuga à convivência partidária é, no nosso sistema constitucional e na realidade da nossa democracia, um contributo para agravar a crise das instituições. O futuro presidente vai precisar de um Governo forte e estável, mas precisa também de um sistema partidário mais equilibrado, em particular que favoreça os instrumentos de acção política e de vigilância democrática da oposição através da Assembleia. Resumindo e concluindo: precisa de estabilidade, conseguida não apenas pelo Governo, mas pela acção da oposição.

Um supra-partidarismo que vá para lá do natural centramento da candidatura presidencial numa lógica unipessoal e que possa, por acção ou omissão, minimizar o papel dos partidos não favorece a estabilidade política.

(Publicado na Sábado há uma semana.)

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© José Pacheco Pereira
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