ABRUPTO

20.11.05


LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(20 de Novembro)



Em breve, mais sugestões para o nome alternativo ao LENDO/VENDO.

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Contrastes: uma péssima reportagem sobre se há médicos a mais ou a menos nos hospitais, no noticiário principal da RTP1. Tudo feito em cima do joelho e dominado por um directo em que uma menina perguntava aos doentes numa urgência se estavam a ser bem atendidos ou não. Tudo sem uma ideia, sem um fio condutor, sem qualquer profissionalismo, enchendo o tempo com banalidades e ouvindo as pessoas que estavam na sala de espera a dizer coisas completamente diferentes do esperado. Alguém me explica qual a razão de um directo desta natureza, casuístico, confuso, caótico, na parte mais nobre do telejornal? Ah! Controlo de qualidade que não existe, negligências que ninguém corrige, mau uso do nosso dinheiro. Logo que esteja em linha, vale a pena ver como é um péssimo trabalho.

Contrastes: pelo contrário, magnífica reportagem da SIC sobre o Martim Moniz como "lugar" de diferentes culturas, civilizações, religiões. Em poucos minutos, um retrato como deve ser das comunidades, com personagens certas e típicas e com a câmara dentro do mundo delas: o altar hindu; o angolano que fez a guerra dos dois lados (deve ter começado na UNITA e depois ter sido integrado no exército governamental), uma personagem viva e a merecer ter as oportunidades de estudo que procura (contou como noticiou à família que já não estava em Angola: mandou uma foto com os pombos do Rossio, e como em Angola, os pombos comem-se, tinha que ser noutro sítio...); uma cabo-verdiana cabeleireira a falar sentidamente das "saudades"; uma família chinesa a explicar, num português sincopado, por que é que não percebia a incapacidade da polícia em prender os ladrões da sua loja e a dizer que os polícias só gostavam de papelada; o indiano a contar com pena que os filhos já não percebiam o Diwali e não queriam voltar à Índia; a jovem chinesa a dizer que não tinha gostado de Lisboa, porque lhe parecia “velha” …. Tudo na primeira pessoa dito por pessoas.

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Já tinha anotado aqui este livro de Joachim Köhler/Stewart Spencer, Richard Wagner. The Last of the Titans, mas agora, que já o li , insisto porque vale mesmo a pena. A narração da vida de Wagner, entrelaçando os fios da sua permanente agitação interior, mulheres, leituras, ego, política, lugares, com o seu programa estético resulta num quadro que nos dá a respiração wagneriana quase sem fôlego. Vemos as cenas: Wagner, no seu palazzo veneziano, frio, húmido, quase sem dinheiro, sofrendo de um quisto numa perna, tendo acabado de romper com Mathilde Wesendock, lendo Schopenhauer e começando o Tristão e Isolda. Ou a morte de Wagner, que Köhler trata quase sem pormenores, nem drama, com Wagner contorcendo-se subitamente com falta de ar, perante uma aterrorizada criada e depois morrendo diante de Cosima, que o mandou enterrar na parte de trás da casa, onde já estavam enterrados os seus cães, “para o manter sempre debaixo dos seus olhos”.

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© José Pacheco Pereira
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