ABRUPTO

7.2.07


ESPAÇOS EM QUE SE PODE RESPIRAR

Tirada de um avião perto de Benguela.

(Carlos Costa)

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É PROVÁVEL...

que não valha muito a pena protestar, mas estou há várias horas sem telefone nem Internet (eu e muita gente à minha volta), responsabilidade da Portugal Telecom, sem poder trabalhar como devia, mais uma vez com esta sensação de impunidade (deles) e impotência (minha), face a um serviço que, quando avaria, avaria sempre por muito mais tempo do que devia. Após uma semana com as habituais falhas de energia da EDP, microrupturas e rupturas menos micro, não custa avaliar o preço de tudo isto na produtividade do trabalho em linha, a umas poucas dezenas de quilómetros da capital.

*
“It is based on the conviction that where effective competition can be created, it is a better way of guiding individual efforts than any other. It does not deny, but even emphasises, that, in order that competition should work beneficially, a carefully thought-out legal framework is required, and that neither the existing nor the past legal rules are free from grave defects. Nor does it deny that where it is impossible to create the conditions necessary to make competition effective, we must resort to other methods of guiding economic activity.”



“The functioning of competition not only requires adequate organisation of certain institutions like money, markets, and channels of information-some of which can never be adequately provided by private enterprise-but it depends above all on the existence of an appropriate legal system, a legal system designed both to preserve competition and to make it operate as beneficially as possible.”

Friedrich August von Hayek dixit.

(DG)

*

Mesmo sendo da responsabilidade dos prestadores de serviço assegurar a sua continuidade, acaba por ser dos clientes ou utilizadores a iniciativa de tomar medidas no sentido de se precaver contra falhas alheias. Sobre esta questão, nem vale a pena alongar-me, mas deixo duas sugestões.

Para evitar interrupções no acesso à Internet, sugiro um sistema redundante, que utilize primariamente a actual banda larga e possa, em caso de necessidade, usar os serviços de um operador móvel. Se algum dos operadores oferecer uma velocidade/preço aceitáveis, talvez seja de equacionar esta possibilidade

Um "router" com possibilidade de usar uma conexão Ethernet a um modem (ADSL ou Cabo) e com "slot" para uma placa de dados de um operador móvel pode ser uma solução.

Relativamente à EDP, mesmo em Lisboa, já me vi forçado a instalar uma unidade de alimentação ininterrupta devido, sobretudo, às sobretensões e variações de corrente. Infelizmente, aquilo a que a EDP chama flutuações provocou a avaria de equipamentos não protegidos, tendo a empresa, após dar instruções via email e telemóvel para proceder à reparação, recusado o mesmo em carta enviada posteriormente.

(Nuno M. Cabeçadas)

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6.2.07


BIBLIOFILIA: ENTRADAS PARA A LITERATURA


Barry Miles, The Beat Hotel. Ginsberg, Burroughs, and Corso in Paris, 1958-1963

Paul L. Mariani, Dream Song: The Life of John Berryman

John Berryman, John Berryman: Collected Poems 1937-1971

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ESPAÇOS EM QUE SE PODE RESPIRAR

Alvão.

(Gil Coelho)

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ESPAÇOS EM QUE SE PODE RESPIRAR

Atlântico, Cabo Espichel.

(MJ)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 6 de Fevereiro de 2007


Cada vez mais a agenda mediática é a agenda do Ministério Público: nas notícias de hoje lá estão os voos da CIA (esta investigação vai ser muito interessante de seguir e de ver os resultados) e "as interferências de Alberto João Jardim no "Jornal da Madeira"". Algo me diz que esta tentativa de criar um Baltazar Garzón português não vai ser brilhante. Live by the press, die by the press.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O DESCONTOZITO...

Nos tempos em que todo o comércio era aquilo a que hoje chamamos "tradicional" havia, na maioria dos estabelecimentos, uma curiosa praxe:
Mediante a apresentação de um cartão qualquer - mesmo que fosse o de sócio de um clube de futebol! - o lojista fazia, de imediato e com o seu melhor sorriso, um desconto de 10%.
E já não me lembraria dessa simpática tradição se não se desse o caso de ter assistido, um dia destes, aos festejos que o Governo promoveu para anunciar a recuperação de 1600 milhões de euros de impostos em atraso - importância que corresponde, precisamente, a 10% do valor estimado da fuga ao fisco em Portugal. Ora ainda bem que se recuperou a tradição de todos se contentarem com tão pouco - quer quem paga, quer quem recebe!

(C. Medina Ribeiro)

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ESPAÇOS EM QUE SE PODE RESPIRAR

Amanhecer no Porto. Cais da Alfândega. Hoje.

(Gil Coelho)

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EARLY MORNING BLOGS

962 - Semântica Electrónica

Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim --- o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas --- diz-me a ordenança ---
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!

(Vitorino Nemésio)

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Bom dia!

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO / OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 3 de Fevereiro de 2007.

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5.2.07


JARDINS DE INVERNO

Hoje, no Polje de Mira-Minde, Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, com uma fria e persistente chuva. Junto ao leito quase seco de uma das exsurgências que alimenta de água o polje, as ruínas de um velho moínho movido pela água. Neste lugar de beleza insólita (um acentuado abatimento de origem tectónica) há registos de vindimas feitas de barco quando, em estações continuadamente chuvosas, o polje enche de água, transformando-se numa grande lagoa temporária. De vez em quando o polje enche. A actividade agrícola, embora se mantenha, não tem a expressão que teve no passado.

(Vítor Xavier)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: JUSTIÇA DOS VENCEDORES?

http://www.pocketessentials.co.uk/images/large/1903047501large.jpgJustiça dos vencedores? Sem dúvida, mas não só. Li este pequeno livro de Andrew Walker à luz do julgamento de Saddam Hussein, para ver onde é que as diferenças eram evidentes. Não apenas para ver as diferenças, mas para perceber onde elas pesavam. A conclusão é obvia: o julgamento de Saddam teria sido o equivalente a colocar apenas os comunistas alemães ou os russos a julgar Göring e os outros réus. Quase tudo a que do império da lei e do direito (de alguma lei pelo menos), ou seja de "justo", se assistiu no julgamento de Nuremberga deveu-se aos juízes das democracias aliadas que não aceitaram todas as acusações, deram condições de trabalho à defesa, e decidiram inclusive absolvições. A grande diferença entre Nuremberga e Bagdad tem a ver com o facto de Saddam ter sido julgado por iraquianos em vez de o ser por juízes das forças de ocupação. É pouco provável que Saddam escapasse à pena de morte, como Keitel, Jodl, Rosemberg, Ribbentrop e outros também não escaparam, mas teria sido um julgamento mais sério. Claro que não serviria para nada a curto prazo, porque na guerra do Iraque há pouco "high moral ground", tal decisão seria sujeita a outro tipo de acusações, e, com a guerra civil em curso, pouco adiantaria. Mas serviria para o "moral ground" do futuro.

*

Um dos factos a que se aludiu no julgamento foi a queima por soldados e oficiais alemães da biblioteca de Tolstoy para se aquecerem. Quando alguém objectou, um oficial alemão respondeu que "gostava de se aquecer à luz da literatura russa".

*

Na defesa das SS, para efeito do veredicto sobre quais eram ou não as "organizações criminosas", uma das testemunhas aludiu às boas condições no campo de concentração de Buchenwald que, entre outras coisas, teria um bordel. Um dos juízes não percebeu a palavra e pediu que fosse repetida. Pela segunda vez não percebeu. O seu colega do lado, que já lhe estava a sussurrar que se tratava de bordel, chegou-se ainda mais e ligou o microfone inadvertidamente enquanto lhe diz "ó homem, bordello, bordel, casa de putas". Foi uma das raras ocasiões em que todos se riram.

*
Relativamente à comparação entre os julgamentos de Nuremberga e o de Saddam Hussein, estou de acordo consigo quando afirma que houve mais seriedade no primeiro do que no segundo. E, acrescento, também houve mais seriedade nas execuções. Mas convém não esquecer que Saddam Hussein foi apenas um de oito réus e que não foram todos condenados à morte. De facto, houve três condenações à morte, uma condenação a prisão perpétua, três penas de quinze anos de prisão e, inclusivamente, uma absolvição (por falta de provas).

(José Carlos Santos)

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EARLY MORNING BLOGS

961 - Comme le champ semé en verdure foisonne

Comme le champ semé en verdure foisonne,
De verdure se hausse en tuyau verdissant,
Du tuyau se hérisse en épi florissant,
D'épi jaunit en grain, que le chaud assaisonne :

Et comme en la saison le rustique moissonne
Les ondoyants cheveux du sillon blondissant,
Les met d'ordre en javelle, et du blé jaunissant
Sur le champ dépouillé mille gerbes façonne :

Ainsi de peu à peu crût l'empire romain,
Tant qu'il fut dépouillé par la barbare main,
Qui ne laissa de lui que ces marques antiques

Que chacun va pillant : connue on voit le glaneur
Cheminant pas à pas recueillir les reliques
De ce qui va tombant après le moissonneur.

(Joachim du Bellay)

*

Bom dia!

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4.2.07


JARDINS DE INVERNO

Sexta-feira passada, 2/2/2007, na Guarda, as árvores cobertas de sincelo até às duas da tarde.

(Alexandrina Pinto)

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SEM JARDIM


O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra manteve fechadas as portas ao público, pela primeira vez na sua história, por falta de verbas que suportem os custos de o manter aberto durante o fim-de-semana. Segundo o Diário de Coimbra, a direcção prevê mesmo vir a cobrar entrada durante os dias de semana e até se fala em desligar o aquecimento às estufas. Tão desoladas como as ginkgo bilobas que guardam a entrada principal do Jardim devem estar os espíritos guardiães dos Broteros, dos Quintanilhas, dos Fernandes, a assistir de longe enquanto se torna ainda mais inóspita e infértil a sua cidade

(Teresa)

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DO WINDOWS XP PROFESSIONAL PARA O WINDOWS VISTA ULTIMATE

Mudança sem problemas, como nunca me acontecera, de um sistema operativo para outro. Tudo correu bem e à primeira, sem falhas. Fiquei sem scanner e impressora (ambos da HP), mas já sabia que corria esse risco. Não percebo porque razão a HP ainda só tem um tão pequeno número de drivers disponíveis para o Vista. Instalei também a versão Ultimate do Office 2007 e, embora seja ainda cedo para saber se tudo funciona bem, o Outlook continua a encerrar mal e a demorar muito a receber e a organizar o correio. Vamos ver como as coisas correm com o Word e o Access, os programas que mais utilizo.

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JARDINS DE INVERNO

Com o mar ao fundo.

(RM)

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EARLY MORNING BLOGS

960 - Au Démon secret

Le peuple, sans perplexité, vénère. Il encense, invoque ou répudie. Il donne trois, ou six ou neuf prosternements. Il mesure son respect à la compétence, aux attributs, aux grâces qu'il escompte juste.

Car il sait précisément les goûts du génie de l'âtre ; les dix-huit noms du singe qui donne la pluie ; la cuisson de l'or comestible et du bonheur.

o

De quelles cérémonies l'honorer ce démon que je loge en moi, qui m'entoure et me pénètre ? De quelles cérémonies bienfaisantes ou maléfiques ?

Vais-je agiter mes manches en respect ou brûler des odeurs infectes pour qu'il fuie ?

De quels mots d'injures ou glorieux le traiter dans ma vénération quotidienne : est-il le Conseiller, le Devin, le Persécuteur, le Mauvais ?

Ou bien Père et grand Ami fidèle ?

o

J'ai tenté tout cela et il demeure, le même en sa diversité,

Puisqu’il le faut, ô Sans-figure, ne t'en va point de moi que tu habites :

Puisque je n'ai pu te chasser ni te haïr, reçois mes honneurs secrets.

(Victor Segalen)

*

Bom dia!

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3.2.07


IMAGENS / IDEAS POLITICAMENTE INCORRECTAS


(Enviada por Vieira Pinto)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 3 de Fevereiro de 2007




Hoje no Diário de Notícias Sarsfield Cabral faz uma pergunta interessante, embora capciosa na forma como a desenvolve:
"Ora, se a ética é afastada numa sociedade amoral, porque não, então, legalizar a poligamia (e também a poliandria, para ser politicamente correcto), onde ela ocorra com alguma frequência? Na Holanda foi recentemente tentada a criação de um partido pedófilo..."
Duas precisões. Uma, a pergunta sobre a poligamia (mais do que sobre a poliandria, que não parece ter muitos exemplos no mundo, se exceptuarmos as muito controversas teses de Margaret Mead) não implica qualquer ilação de que só possa ser colocada quando " a ética é afastada numa sociedade amoral". Porquê? Tanto quanto se sabe a poligamia é legal em muitas partes do mundo, em particular em terras do Islão, e não me parece que tal se deva a qualquer "amoralidade" especial. Os bons, crentes e tementes a Deus, mórmons praticavam-na e praticam-na (às escondidas) sem que isso signifique que não pautem a sua vida por rigorosos e estritos padrões morais. Também não me parece que a poligamia implique qualquer instabilidade social própria, e o Utah é um estado particularmente pacífico e próspero. A pergunta sobre a legalização da poligamia (ou da poliandria) tem pois sentido e pode ser formulada sem qualquer quebra do tónus moral da sociedade.

A segunda afirmação, sobre a "a criação de um partido pedófilo" na Holanda, é evidentemente capciosa, pois nada há que permita comparar a poligamia com a pedofilia. É que entre outras coisas (sem diminuir a complexidade da questão da pedofilia que não é tão simples como se pensa) um dos principais problemas morais da pedofilia prende-se com a violência do poder dos adultos e da sua sexualidade sobre as crianças e com a incapacidade destas de livre arbítrio e auto-determinação individual. Ora indo por aqui na questão do aborto, falando de livre arbítrio e auto-determinação individual talvez não se chegue onde Sarsfield Cabral queria chegar...


*
Também li o artigo de Sarsfield e permita-me discordar. Na minha opinião a questão da pedofilia está muito mais perto da questão do aborto que a questão da poligamia / poliandria.

Quer no aborto quer na pedofilia está em causa o poder de quem já atingiu a maturidade (ou pelo menos uma fase mais andiantada de maturidade) sobre um Ser (reforço o S grande) que ainda não a atingiu (ou pelo menos está numa fase mais atrasada). Aqui os valores morais de cada sociedade reflectidos nas respectivas leis e práticas regulam esta diferença de poderes.

A poligamia / poliandria entre adultos nas sociedades democráticas é livre. Se é reconhecida socialmente e dispõe de mecanismos de protecção, é outra questão. Ninguém está proibido de viver e/ou fazer sexo c/ mais do que um parceiro do sexo oposto. Que eu saiba não há nenhuma disposição legal em Portugal que o proíba. Se é aceite socialmente (ou deveria ser) que alguém chegue a um evento social e apresente 2 companheiras(os) / namoradas(os) aos restantes convivas é outra questão. Se, a exemplo do casamento heterosexual, há (ou deveria haver) mecanismos legais para a sua oficialização, respectiva protecção jurídica e eventuais apoios sociais, isso é outra questão.

Há que separar o que são proibições e respectivas penalizações a certas acções individuais do que são protecções jurídicas e aceitação social a certas opções individuais de vida.

(Miguel Sebastião)

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Pelo contrario, acho que Sarsfield Cabral chega perfeitamente onde quer chegar e que a comparacao aborto/pedifilia e muito apropriada, porque em ambos os casos, como bem diz, existe "a violência do poder dos adultos e da sua sexualidade sobre as crianças e com a incapacidade destas de livre arbítrio e auto-determinação individual."

A unica questao aqui e saber se o embriao/feto deve gozar dos mesmos direitos do que a crianca.

(Pedro Domingos)

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Não sei se a pergunta de F S Cabral é assim tão pertinente. O casamento é um contrato civil a que só adere quem concorda com as suas cláusulas. Aliás, é um bom exemplo de separação entre lei (que permite uma sucessão ilimitada de casamentos e divórcios) e moral cristã (que só permite casar uma vez e para sempre). Fora do contrato civil casamento, a “poligamia”, o ter múltiplos namorados, parceiros, engates, em simultâneo, é perfeitamente legal e, inclusive, aceite por alguns dos seus intervenientes.

(Mónica Granja)

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Há um cuidado especial que deve ser tido com as edições em linha e que mesmo uma edição mais cuidada (como a do Público) não tem. Por exemplo, hoje,
"PEDRO BACELAR DE VASCONCELOS Ordem dos Médicos e cultura da justiça não permitiram que isto se resolvesse
Cruzaram-se em Timor-Leste - uma das causas de Pedro Bernardo de Vasconcelos. Juntou-os o Direito, de que ela é hoje professora na Nova de Lisboa (privado) e ele professor na Universidade de Minho (público). Sobre o referendo as visões não podiam estar mais distantes. Por Adelino Gomes"
Quem é "ela"? "Ele" está identificado, "ela" não se consegue saber no texto que está em linha qual é a sua identidade. (Depois há um "Bernardo" onde devia haver um "Bacelar", mas isso é o menos...)

*
A propósito de cuidados que não se têm nas notícias, em particular nesta do Público, a Nova de Lisboa é uma Universidade pública!

(Maria Helena Cabral)

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Na notícia do Pedro Bacelar de Vasconcelos diz-se também que ele foi Governador Civil do Porto aquando da questão da comunidade cigana, quando na verdade era Governador Civil de Braga.

(Filipe Pinto da Silva)

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RETRATOS DO TRABALHO EM S. MIGUEL - AÇORES, PORTUGAL

Portas do Mar, ilha de S.Miguel - Açores

(Ana Luísa Monteiro)

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EARLY MORNING BLOGS

959 - Animula vagula blandula

Animula vagula blandula
Hospes comesque corporis
Quae nunc abibis in loca
Pallidula rigida nudula
Nec ut soles, dabis iocos.

(Adriano)

*

Bom dia!

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2.2.07


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 2 de Fevereiro de 2007 (2)


No noticiário da SIC das 20 horas uma peça muito pouco rigorosa sobre o aquecimento global, que incluía a afirmação de que os efeitos do aquecimento são idênticos aos de uma lareira numa sala fechada que "aquece tanto que até se pode morrer" (mais ou menos estas palavras). A não ser que a lareira pegue fogo à casa, morre-se é devido a envenenamento por monóxido de carbono e não pelo calor. Não pode ser...

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JARDINS DE INVERNO

Serralves, Porto.

(Gil Coelho)

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INTENDÊNCIA

Actualizada A VIDA E A "VIDA" com novas notas ao texto e contribuições dos leitores.

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GRANDES CAPAS HISTÓRICAS


(Enviada por Vieira Pinto)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 2 de Fevereiro de 2007


Notícias da frente: Jimmy Wales fundador da Wikipedia fala do seu novo projecto Wikia. En passant, vendo esta pequena conferência, normalíssima, sem formalismos, dada numa aula de Evan Korth, num curso intitulado "Computer’s and Society" na NYU, percebe-se como funcionam as universidades americanas.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS / NOVOS BOLETINS METEOROLÓGICOS

A huge cloud system covering the north pole of Titan

Nuvens densas no Polo Norte de Titã.

Não é boa altura para ir lá de férias, é melhor irem para Nova Brasil em Vénus, onde está calor.


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EARLY MORNING BLOGS

958 - History

History has to live with what was here,
clutching and close to fumbling all we had--
it is so dull and gruesome how we die,
unlike writing, life never finishes.
Abel was finished; death is not remote,
a flash-in-the-pan electrifies the skeptic,
his cows crowding like skulls against high-voltage wire,
his baby crying all night like a new machine.
As in our Bibles, white-faced, predatory,
the beautiful, mist-drunken hunter's moon ascends--
a child could give it a face: two holes, two holes,
my eyes, my mouth, between them a skull's no-nose--
O there's a terrifying innocence in my face
drenched with the silver salvage of the mornfrost.

(Robert Lowell)

*

Bom dia!

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1.2.07


A VIDA E A "VIDA"



Há um aspecto do debate sobre o aborto que está muito presente nas tomadas de posição do "sim" e, particularmente, no "não": a impregnação do debate por palavras com um sentido cultural, político e religioso determinado, apresentadas como se fossem universalmente aceites e semanticamente unívocas. Como se o significado que lhes damos fosse universal e estivéssemos todos de acordo. É o caso da "liberdade" no argumentário do "sim" e da "vida" no do "não". Ambas as palavras são utilizadas correntemente como se fossem neutras, como se uns e outros tivessem que as aceitar pelo seu valor facial, como se não quisessem dizer mais do que o dizem na linguagem corrente.

[Caminhada.bmp]Na verdade nenhum dos termos é "inocente", nenhum aponta para coisas que todos reconheçam, mas, pelo contrário, remetem para uma longa história cultural, política, filosófica e religiosa, que numas vezes é comum, noutras se distingue e se diferencia. Como num debate político ganha quem consegue impor um léxico que controla, na imposição e na aceitação de um ou de outro significado da palavra enganadoramente comum está também presente uma questão de poder. É muito nítido este problema quando se fala de "vida", quando numa manifestação se grita "viva a vida", o que por si só deveria levar de imediato a pensar que a "vida" que se vitoria é uma determinada interpretação da vida e não a vida tout court.

Pela escolhaNo vocabulário do "sim", a palavra "liberdade" é normalmente caracterizada, ou de "liberdade de escolha", ou de "liberdade do corpo", ou de "liberdade de consciência", remetendo para uma tradição derivada de uma ética laica, civil, jurídica e societal, que é a típica das sociedades ocidentais europeias e americanas dos últimos duzentos anos. Remete para a "felicidade terrestre" de que falava Saint-Just, e para toda uma história do pensamento que nos acompanha desde a Grécia clássica e que se tornou a ética civil dominante, como resultado de um complexo processo que nos deu os direitos humanos, a condenação da pena de morte e da tortura, o casamento civil e o divórcio, o "registo civil", a democracia política, a separação do Estado e da Igreja, a tolerância entre posições políticas, credos e culturas. Por muito que isso custe a muitos católicos, a Igreja não teve um papel central em nenhum destes adquiridos, que hoje aceita como natural ou mesmo civilizacional. Bem pelo contrário, combateu-os com veemência e foi só nas últimas décadas que abandonou a posição "antimoderna" de muitos dos seus papas entre meados do século XIX e XX. Foi em bom rigor só depois da Segunda Guerra Mundial, devido aos esforços de muitos teólogos e hierarcas da Igreja, incluindo o presente Papa, que se aceitou a modernidade como não sendo hostil ao munus religioso, que se aceitou a modernidade como benéfica, mesmo que problemática.

Este adquirido civilizacional de uma sociedade civil, de que fazem parte as Igrejas, mas que não é dominado pelas Igrejas, resultou de um processo em que participaram correntes contraditórias, jacobinas e liberais, nuns casos resultado da fundamentação da liberdade política no direito à dissidência religiosa (EUA), noutros das ideias da Revolução Francesa. Em ambos os casos, mesmo com tradições muito distintas, o resultado foi o mesmo: a predominância do "terrestre" na "felicidade" e na criação de sociedades que não têm nenhuma teleologia comummente aceite.
Dentro dessas sociedades as religiões e as Igrejas tem um papel decisivo, em particular as grandes Igrejas matriciais do Ocidente, a católica apostólica romana, a ortodoxa grega, a reformada, a anglicana, mas esse papel varia não só em função do peso da instituição na "Igreja" como também pela laicização das sociedades civis, que no fundo aplicou a afirmação cristã de que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

Dentro desse princípio, que molda o mundo em que vivemos, deve a vida (a vida e não a "vida") pertencer a César ou a Deus? Esta é a questão que está em causa neste referendo e está longe de ser simples a não ser para aqueles que consideram que existe na vida uma presença divina, uma "alma", um "sopro divino", que permanece intangível desde a fecundação, porque é "em potência" um ser humano. Muitos católicos envolvidos neste debate e a própria Igreja têm esta posição hoje. Mas só para se perceber que não é simples esta definição de "vida" há que lembrar que, por exemplo para alguns budistas e hindus, o mesmo "sopro divino" não se limita aos humanos, mas também está presente nos animais, que nós matamos sem respeito pela "vida" e eles não.

Mesmo para a Igreja esta interpretação da vida é relativamente recente. O Catecismo da Igreja Católica admitiu na sua primeira edição a pena de morte, e mesmo na aprovação das excepções previstas para o aborto na actual lei, aceites por muitos católicos, já há uma cedência à intangibilidade da "vida" como princípio.
http://www.conferenciaepiscopal.es/general/catecismo.jpgO ensino tradicional da Igreja não exclui, depois de comprovadas cabalmente a identidade e a responsabilidade de culpado, o recurso à pena de morte, se essa for a única via praticável para defender eficazmente a vida humana contra o agressor injusto.

Se os meios incruentos bastarem para defender as vidas humanas contra o agressor e para proteger a ordem pública e a segurança das pessoas, a autoridade se limitará a esses meios, porque correspondem melhor às condições concretas do bem comum e estão mais conformes à dignidade da pessoa humana. (Catecismo da Igreja Católica)
Na verdade, esta posição sobre a "vida" tem muitos pressupostos que são intrinsecamente religiosos e de fé, e que ou são aceites ou não, mas não podem ser considerados auto-evidentes para quem não tem fé. Implica, por exemplo, a ideia de que existe uma "alma" - chamemos-lhe o que quisermos vai sempre dar aí -, uma presença espiritual que está para além do corpo, um Logos de natureza radicalmente alheia à mecânica do corpo, que não se reduz a ele, que está para além dele, que é imortal. A "vida" a que se bate palmas nas manifestações é mais do que a do corpo, é a da criação divina, e compreende-se que, sendo entendida como pertencendo a Deus, não se queira dá-la a César, ao Estado moderno.
A forma como se discute a questão do aborto obscurece o facto de que o aborto não é um problema de fundo nas sociedades actuais. O que é um problema de fundo é o planeamento "familiar". Não custa admitir que, a prazo, com a evolução das técnicas anti-conceptivas, com a possibilidade da interrupção da gravidez quando estas falharem, com uma melhor educação sexual, com melhores serviços de planeamento "familiar", com uma melhor educação, acesso aos medicamentos e melhores condições de vida, o aborto se torne residual, se torne excepcional, deixe de ser um problema social para se tornar uma patologia individual. Pelo contrário, o controlo pela mulher, pelo casal, da maternidade permanecerá uma questão central da possibilidade de se garantir a cada um viver a vida que deseja. A ilicitude, com a carga de humilhação. dificuldade e preço que comporta, mantém o problema como sendo social, logo impede a sua mera assunção pelo Estado como sendo um problema individual, como sendo um problema de consciência no qual imperam apenas convicções próprias, ou uma moralidade assente na fé.

E se eu não acreditar que há uma "alma" e me basta o código genético, e se eu for materialista e entender o corpo como uma máquina aperfeiçoada apenas pela evolução natural e resumir o Logos a um produto dessa mesma máquina, e se eu entender que verdadeiramente tudo tem a ver com o "egoísmo" dos genes e for sociobiológico, será que tenho que aceitar esta visão da "vida" mesmo sem fé? E se eu considerar que não há "vida" passível de ser descrita pela ciência a não ser como excepção temporária e precária à segunda lei da termodinâmica e entender que para perceber essa violação da entropia que é o metabolismo, a que chamamos vida, não preciso de qualquer princípio vital? E se eu no meu laboratório não encontrar nem Deus nem a "vida", mesmo desejando encontrá-los, será que me coloco fora dos valores civilizacionais? E se eu considerar que uma coisa é esta "vida" divina e outra é a vida, mais modesta, menos programática, mais humilde, menos pretensiosa, mais "terrestre", que inclui não apenas a criação mas o desejo da criação, que implica mais do que o código genético, ou o acto da fecundação, mas a vontade de a criar, exigindo um "programa" que inclua a vontade dos seus progenitores, coloco-me à margem dos nossos valores civilizacionais? A "vida" a que se bate palmas é apenas uma das muitas interpretações da vida como valor, que assenta numa fé de carácter religioso e numa interpretação que depois extravasa para a aceitação selectiva de determinadas doutrinas éticas e "científicas" que estão longe de ser as únicas e de serem incontroversas.
A construção de uma ética social aceitável como um adquirido comum é obviamente muito complexa e implica contribuições de muitas origens com relevo para as tradições culturais com origem na religiosidade, que moldam muito uma sensibilidade profunda "popular", mas inclui sempre "práticas" que lhe escapam porque envolvem "problemas" que, sendo societais, são resolvidos em conflito com a norma religiosa ou civil. O aborto é claramente um desses casos. Reduzi-lo na lei a uma norma puramente religiosa-filosófica será sempre inaceitável ou porque redutor da realidade "vivida", ou porque colide com outras tradições culturais, políticas ou religiosas cujo estatuto ético não pode ser considerado menor.

Um outro problema consiste em querer fundar uma ética social monista reflectida na lei, como se fosse possível traduzir uma interpretação da "vida" num sistema de ilícitos e de penas. Essa interpretação está presente - aceito que um dos dilemas do acto de abortar tem a ver com um sentimento de mutilação, com um acto "vivido" também como de morte, por isso a questão da "vida" não pode ser afastada da discussão do aborto - mas não pode pretender dominar solitariamente a legislação. A tradição do cristianismo na convivência com as sociedades modernas do Ocidente implicou o abandono de algo parecido com a sharia, uma das dificuldades do Islão se adaptar à modernidade, pela dificuldade de conceber um Estado que seja de César, mesmo com Deus presente.

Mais: fundar uma ética social aceitável como reflexo de uma interpretação "espiritual" da vida, não seria muito distinto de querer fundar uma ética baseada na selecção natural, um darwinismo social, uma posição igualmente ancorada na tradição da nossa cultura ocidental.
Assim não nos entendemos porque me pedem que acredite, e acreditar não está ao alcance de todos. O que é que sobra? Um terreno comum entre a sociedade civil laica e a tradição cristã: a consideração da pessoa humana (também um conceito construído), um personalismo mínimo, que abrange realidades metapolíticas e metassociais mas não é metafísico, esse sim, produto comum da nossa história civilizacional que une laicos e crentes. É isto uma defesa do relativismo? Bem pelo contrário: nenhum relativismo vale quando se trata de pôr em causa a pessoa humana, mas a pessoa humana, cuja noção de "dignidade" une muito dos que defendem o "sim" e o "não", é uma coisa bem diferente da "vida" a que se bate palmas nas manifestações. Ah! e admite o aborto, sem lhe retirar todos os dilemas morais e religiosos, tal como está legislado na maioria dos países europeus e nos EUA, que foram feitos pela nossa civilização. Somos nós a excepção, não eles.

É, por isso, necessária muita prudência ao usar as palavras como valores civilizacionais comuns, quando o que é civilizacional é a convivência de diferentes entendimentos das mesmas palavras e não tanto uma determinada interpretação, muito menos imposta por lei, muito menos pretendendo o monopólio da moral e da civilização.

(No Público de 1 de Fevereiro de 2007)

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Quando no seu texto refere que o Catecismo da Igreja Católica admitiu a pena de morte, não deve esquecer-se – aliás, cita-o no passo seguinte – que o fez num conflito de valores, entre o valor da vida e o da justiça («culpado», «agressor injusto»). Nunca, pelo menos nos tempos modernos, a Igreja aprovou a morte como meio legítimo, especialmente a morte intra-uterina, mesmo em situações extremas.

Aliás, quanto diz que muitos católicos aprovaram e concordam com a actual lei – a qual, diga-se, é um dado adquirido e poucas ou nenhumas vezes foi e tem sido sequer discutida como uma concessão à morte – tem razão ao sublinhar que isso corresponde a uma cedência à intangibilidade da vida como princípio, constituindo algo com o qual os católicos convivem mal e com algum desconforto. Uma das características da Igreja é o radicalismo dos seus princípios. Não se trata de radicalismo no sentido “mau” e obtuso do termo, mas sim no de que existem valores relativamente aos quais não se pode transigir. A Vida, com ou sem aspas, é um desses valores. Eu sei que choca ouvir que mesmo em caso de violação a mulher deve levar a gravidez até ao fim, mas numa análise crua e desprovida de emoção, é, na verdade, a única posição consentânea com a tradição da Igreja e os valores por si defendidos. O que me incomoda no debate acerca do tema é a falta de tolerância que existe – de parte a parte – embora francamente me pareça existir mais da parte do “sim” do que do “não” (apesar dos primeiros dizerem precisamente o contrário), relativamente às posições contrárias. Dizer a um católico convicto que, ao defender “a outrance” a ilegitimidade do aborto está a ter uma posição bárbara face aos direitos das mulheres e da sua condição social, para além de ser retrógrado, não alinhado com os países (que, não por acaso, são nestes casos sempre chamados de democracias) avançados, etc., é estar a ofendê-lo e descentrar o debate do que verdadeiramente interessa.

As convicções de cada um neste debate não estão em causa, nem são referendáveis. O que deve ser referendável são as implicações e consequências que têm uma e outra posição. Parece-me que, com pequenas excepções, isso tem sido afastado, resta saber se deliberadamente.

(Rui Esperança)

Concordo com os cuidados a ter no debate sobre o aborto.
Mas não podemos fugir aos limites da comunicação quando queremos debater temas como o aborto. Não podemos fugir aos significados assimétricos que as facções em debate atribuem aos conceitos de ‘vida’ e ‘liberdade’ e a outros que frequentemente são lançados na tentativa de demarcar a fronteira entre o certo e o errado, entre o bom e o mau, por qualquer uma das partes, o ‘sim’ e o ‘não’ (que são eles próprios os demarcantes mais ineficazes e imprecisos de todos!, afinal sim ou não a quê?, à vida?, à ‘liberdade’?).

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O que pretendemos deste debate?

Queremos de facto encerrar a demarcação definitiva do que é a ‘vida’, a ‘felicidade’, a ‘liberdade’ ou a ‘alma’? Depois do referendo, estes conceitos continuarão a ser interpretados de forma diferente e continuaram a ser âncoras da opinião, armas de arremesso ou trincheiras morais. Serão sempre instrumentos da comunicação e sempre que necessário. Por isso, quando o referendo se realizar, os cinzentos continuarão a ser cinzentos, não se terão desenlaçado em preto e branco.

Depois do referendo, num contexto legal que as penaliza ou não, as mulheres que decidirem interromper por sua vontade uma gravidez não desejada continuarão a fazê-lo. Continuaremos a tomar as suas decisões como certas ou erradas, boas ou más. Continuaremos a julgá-las ou não, a compreendê-las ou não e a ajudá-las ou não. Porque as leis não encerram a capacidade de mudar definitivamente os homens e as mulheres. Nem demarcam definitivamente o que é de César do que é de Deus.

(Dinis Martins)

*

(...) quanto à questão que agora nos ocupa, a do SIM ou NÃO, quereria dar a minha achega:

Tanto os dum lado como os do outro declaram, por um lado, que o que querem é o bem e, por outro, que o aborto é um mal. Mas, se queremos ser coerentes até ao fim, pergunto: poderemos enveredar pelo caminho do mal com o objectivo de dele tirar um bem, sem termos de assumir as últimas consequências da aplicação deste princípio? Será que os fins justificam os meios, tout court?

A verdade é que, antes disto, está a questão de avaliar o que é o mal. Mas esta questão, pergunto: poderá reduzir-se a um mero problema de cultura e de civilização? Esqueçamos por agora as religiões; não estamos antes perante um problema filosófico?

Poderemos nós resolver o problema básico de saber o que é o homem, se nos limitamos a nadar em filosofias de cariz idealista ou meramente existencialista? Não precisaremos de dar o salto que dê firmeza ao valor da razão em ordem a chegarmos a uma verdade objectiva? Ou teremos, pelo contrário, de nos resignar com ficar no campo do cepticismo, não importa sob que formas mais ou menos ilustradas?

(Geraldo Morujão)

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RETRATOS DO TRABALHO EM DILI, TIMOR

Ampliação do muro no bairro dos cooperantes portugueses. Bairro Colmera, Dili. (Jan.2007)

(Amilcar A.)

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RETRATOS DO TRABALHO EM MATOSINHOS, PORTUGAL

Amolador.

(Gil Regueiro)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A "CULPA" É MESMO DE LEO STRAUSS?

http://yalepress.yale.edu/YupBooks/images/full/0300109733.jpg Duvido, duvido muito e depois de ler este livro ainda duvido mais. A "culpa", esclareça-se, é a "culpa" do "império", de Bagdad, da hostilidade anti-árabe, de responsabilidade dos "neo-cons", essas personificações modernas do Dr. Strangelove.

Este é um daqueles livros que numa ou noutra página, conseguem mostrar uma grande qualidade analítica e depois falhar o ponto essencial: mostrar até que ponto existe uma relação entre os ensinamentos de Leo Strauss, o seu grupo de discípulos e o chamado neo-conservadorismo que teria dominado a presidência "imperial" de Bush filho. É um livro muito bem escrito, fluente, rápido, cheio de insights e pequenas histórias académicas típicas do mundo das grandes universidades americanas, mas está longe de corresponder à tese do título.

Não é que não haja relações e influências entre Leo Strauss e os seus alunos "imperialistas", como aliás acontece com outros autores e académicos europeus e americanos, só que nunca é clara no livro a relação de causa. O ponto é tanto mais falhado quanto sempre que Anne Norton vai mais fundo no pensamento de Strauss (por exemplo na importância que atribuía a autores como Maimónides ou al-Farabi na construção de uma ciência política) mais distante este aparece do neo-conservadorismo dos seus alunos. Strauss, um judeu fugitivo da Europa, como Hannah Arendt, sempre se preocupou com a difícil junção entre a Atenas racional e a Jerusalém da revelação, com o estado totalitário nazi e comunista, e isso foram antídotos contra tomar à letra a dicotomia "amigo/inimigo" como fundadora da política, que importara de Schmitt. Talvez seja por isso que o livro é mais sobre os "straussians", descritos quase como uma seita maçónica, do que sobre Strauss.

Sobre os "straussians", Anne Norton, ela própria aluna de Joseph Cropsey, autor com Strauss da History of Political Philosophy, consegue uma leitura que oscila entre uma atracção que não consegue evitar, tal o brilhantismo e a seriedade intelectual e académica de muitos deles, e a recusa da sua política, ou do que interpreta como sendo a sua política. É nessa contradição que se encontram as melhores páginas deste livro, como quando escreve sobre o papel da guerra
"Strauss saw, as Nietszche had before him, hazards in the softness and civility of modern life.(...) Such a life, as Nietszche, Schmitt. Strauss and Kojève feared, was a life of small pleasures and small ambition, few risks and few achievements, few dangers and little greatness of soul. The old virtues of courage and daring would be lost. people bred to so quiet life would be as cats are to tigers, tamed and diminished."
e, logo em seguida, em resposta, Norton escreve uma apologia do "Last Man" da democracia, "ordinary people who will take on the burdens of greatness at need (...) Democracy has thaught them that honour is greater than glory". Analisando o conservadorismo americano das últimas décadas, Norton revela bem algumas das suas contradições e algumas das suas peculiaridades especificamente americanas - o seu "revolucionarismo", por exemplo, muito pouco conservador, e que chocaria os seus congéneres europeus se os houvesse - mas não escapa à amálgama e à facilidade como quando compara alguns autores como Perle, Kristol e Wolfovitz ao pensamento da Al-Qaida e ao fundamentalismo muçulmano. (E no entanto quando fala da jihad, quase que acerta porque o conceito islâmico é bem menos simples do que se pensa e aplica-se como uma luva a alguns textos neo-conservadores...)

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O ABRUPTO VOLTA

em breve.

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