ABRUPTO

11.11.06


RETRATOS DO TRABALHO NA GOLEGÃ, PORTUGAL


Venda de pão.

(R.M.)

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TESTEMUNHOS E OPINIÕES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES 5



Parece que a conquista do poder, ao mesmo tempo que tende a apagar as ideologias, vai compensando isso com uma maior personalização no exercício do político, tanto maior quanto mais forte for o peso da votação. O efeito, pelo menos em Portugal, vem sendo o de revelar os «instintos genéticos» (no sentido familiar e social) dos líderes por tal «carga genética» se transferir quase directamente para a sua acção política. Assim como a origem social do Prof. Cavaco Silva o fez valorizar o «self made man», o Eng.º António Guterres acabou bloqueado pelo seu piedoso berço católico, e agora o Eng.º José Sócrates não disfarça que vem de uma família cujo atributo essencial são «as posses» (ou simplesmente a riqueza). A felicidade e auto-elogio do Primeiro Ministro pelas suas «reformas» talvez se devam ao facto de no seu subconsciente ter atingido o nirvana dos «detentores do capital e/ou dos meios de produção» (sei que recorro ao marxismo-leninismo primário, do qual nunca padeci, mas os tempos que correm fazem milagres) ao conseguir colocar os pobres e as classes médias uns contra os outros. É a subversão completa da luta de classes, crença que sustenta o estado social, mesmo que estivesse (e cada vez mais) apenas subjacente. A versão que se vai tornar para nós recorrente nos próximos anos é a da oposição entre funcionários públicos e funcionários do sector privado. Portugal entrou assim de modo abrupto no problema social do século XXI. Há, por outro lado, sintomas interessantes na modelação dos discursos públicos (basta ler o seu blog a propósito das greves): parece que os funcionários públicos não pagam impostos e quando vão às repartições ou ao hospital, quem os atende reconhece-os instintivamente e confere-lhes tratamento privilegiado, como se houvesse uma «sociedade dos públicos» e outra «sociedade dos privados». Mas as ideologias sempre foram assim, pois simplificam, às vezes de modo radical, a complexidade do real. O que o mundo mudou. Incrível é que isto venha da «esquerda» que assim enterra a luta de classes na versão «vertical» marxista e inaugura outra «horizontal» que permite aos que podem «tirar o corpo de fora». Resistirão as utopias da coesão social e da igualdade? Vivem-se tempos interessantes.

(Gabriel Mithá Ribeiro)

*

Já que a conversa parece estar a desviar-se para a justificação das greves em geral, ocorre-me recordar as teorias recentes do ideólogo João Bernardo sobre como o modelo actual de greve é uma forma de luta completamente anacrónica. Segundo ele, a greve vista como paralisação de actividades e ausência do local de trabalho é uma reminiscência da velha greve operária da grande fábrica, em que essa era com efeito a única forma de parar a produção, por natureza organizada e ultra-disciplinada. Os consumidores não davam por nada e só o capitalista era penalizado.

Na nova economia de serviços, tal tipo de greve só prejudicaria os consumidores, que se viram contra os grevistas. Por conseguinte, defende ele, a forma de luta a adoptar deverá ser a continuação da produção dos serviços, eventualmente acompanhada de propaganda junto dos clienes/consumidores, de forma a manter o seu apoio, mas... não cobrando pelos mesmos! Assim, de facto, só o patrão seria prejudicado!

Baseia-se João Bernardo na experiência da greve da Carris de 1969, que decorreu dessa maneira (prestação do serviço mas ausência de cobrança), e onde por sinal a organização marxista-leninista de que Bernardo era dirigente teve algum papel, mas claro que a extrapolação directa não é em geral possível por que os condutores da Carris são dos raros trabalhadores que são simultaneamente cobradores. No entanto, Bernardo sugere adaptações: por exemplo, que os professores estejam nas escolas mas, em vez de darem o programa lectivo definido pelo Ministério, dêm programas alternativos...

Acho imensa graça a estas ideias “criativas” de João Bernardo, mas é claro que são pueris e na prática tão contra a própria greve como o patronato. As escolas, por exemplo, e como diz Medina Carreira, são entre nós e antes de mais uns locais onde a maioria dos alunos e professores tem de estar fechada até ao fim da tarde, e pouco importa à maioria dos pais que lá se ensine ou não, desde que desempenhem o seu papel de depositárias dos filhos, ou seja, de creches...
No entanto não deixa de ser verdade, penso eu, que a greve como se fazia antigamente nas fábricas vira hoje o público consumidor contra os grevistas da economia de serviços e pouco prejudica os patrões. No Estado, por exemplo, até ajudam a reduzir o défice público...

(Pinto de Sá)

*

Falando da função pública, parece estar encontrado o bode espiatório para o estado da nação... Todo bom português anda agora, mais do que nunca, com a mira no preguiçoso e sugador de recursos comuns que mais não faz que nadar em regalias e previlégios! A ignorancia não é desculpa para tudo, ou melhor a ignorancia não é desculpa (sem mais). Sou funcionário do estado e (surpresa) contribuo mais para o erário público que os funcionários com categoria equivalente no sector privado (em percentagem e atendendo ao facto de que não me chega nada por baixo da mesa). Por vezes dou comigo a imaginar se todos esses malandros saissem da função pública e fossem trabalhar para o sector privado. Se, na minha área (a Saúde), tudo entrasse na alçada do poder privado... Podem ter algumas certezas: Eu trabalharia o mesmo; receberia mais ao fim do mês; provavelmente descontaria menos!; com a veemente convicção de que o português comum (o do salário minimo e pouco mais) teriam muito menos hipóteses de serem servidos por um serviço de qualidade e principalmente em situação de igalidade, repito igualidade de tratamento. Acabem lá com o funcionalismo público numa prespectiva redutora, mandem todos os serviços para o sector privado... Por mim tudo bem! Posso pagar um seguro de Saúde razoável! E o resto dos portugues? Quando ouvirem: não fazemos a sua cirurgia ou o seu tratamento porque o seguro não cobre e o estado também não, vá morrer longe! Falo com conhecimento de causa tanto do sector público como do sector privado.

Já agora digam lá, quais as regalias do funcionário público, que ainda não as vi...

(Filipe Martins)

*

(...) Falava eu com um catedrático de Coimbra sobre a greve geral última, quando fico a saber que Carvalho da Silva, o sindicalista, estava a prepara a tese de Mestrado em Sociologia. Não sei se a propósito, ou se seria a tese em si que versava sobre o tema, o Professor abordou a teoria da possibilidade de estarem as greves previstas para acabarem. Isto é que se estaria a pensar em encontrar formas de luta ( igualmente de pressão, penso) para encontra arternativas, uma vez cito" as greves são ideias do Séc XIX e é preciso renovar as formas de reivindicar. Estará a greve fora de moda?

(José João Canavilhas)

*


SOBRE OS FUNDAMENTOS DA GREVE E DOS PRIVILEGIADOS, julgo ser necessário descer ao caso concreto, até para as pessoas melhor perceberem do que estamos a falar.

Considere-se…

Um curricula:

Curso do secundário em humanidades com média final de 18 valores. Provas de entrada na Universidade com 19,1 e 18,5 valores (História e Filosofia, respectivamente). Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra aos 22 anos, com 14 valores. Pós-graduado em Direito das Empresas pela mesma Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Curso de estágio pela Ordem dos Advogados com média de 16 valores. Titular do Curso de Estudos Avançados em Gestão Pública (pós-graduação), pelo Instituto Nacional de Administração (num total de 2000 pessoas que concorreram, ficou em 3.º lugar), o qual finalizou com 16 valores, curso esse que lhe possibilitou entrar na função pública. Mestre em Gestão Pública, pela Universidade de Aveiro, com distinção. Mestrando no Mestrado em Direito Público/Administrativo pela Universidade Católica de Lisboa.

Um desempenho profissional, na função pública:

Obteve a classificação de Muito Bom e de Excelente com o novo sistema de avaliação (SIADAP), nos últimos 4 anos, num organismo com mais de 2000 funcionários – note-se que nos termos do SIADAP, apenas 5% do total dos funcionários pode ter excelente…

Contributo para o interesse público/cidadão do meu desempenho profissional:

No âmbito de diversos projectos de simplificação e de reestruturação regulamentar, procedimental e organizacional por mim apresentados e superiormente aprovados (antes mesmo do SIMPLEX), foram alcançados os seguintes resultados: diminuição de 3 anos para 8 meses do tempo total de um determinado licenciamento; diminuição de 12 meses para menos de 1 mês de mais de 9 processos administrativos internos de resposta ao cidadão; redução em mais de 50 % da totalidade das reclamações dos utentes/cidadãos; ..etc, etc. (com o SIMPLEX 2006 (e também do próximo de 2007), no âmbito de dois projectos/planos por mim apresentados, o organismo esteve representado em mais de 10% da totalidade das medidas, tendo concretizado 95% das mesmas).

Retribuição:

Salário? 1100 euros líquidos.

Descontos? 300 euros de IRS todos os meses (retenção na fonte, porque no final do ano fiscal acabo sempre por pagar mais +/- 700 euros, o que dá à volta de 4000 euros anuais) + 200 euros referentes à Caixa Geral de Aposentações e à ADSE.

QUESTÃO: SOU UM PRIVILEGIADO?

Antes de ser funcionário público, exercia a advocacia: em termos líquidos, anuais e médios, auferia cerca de 3 vezes mais do que actualmente, e pagava sensivelmente menos de metade dos actuais descontos. Antes de ser advogado, tive também outras experiências profissionais, onde mais de metade do meu salário era por mim recebido fora da minha folha de vencimentos (o mesmo acontecia com os demais funcionários e colaboradores).

Em resposta à pergunta e para quem considere que sim, sou um privilegiado, pois bem, eu também…, tanto assim que estou neste momento à espera de autorização superior para sair, o que espero que aconteça até ao final do presente ano (apesar de saber que o Secretário de Estado leva +/- 2 meses para decidir…).

Algumas precisões:

1. Na Administração Pública 47,7% dos trabalhadores têm um nível de escolaridade superior (v.g. Médicos, Enfermeiros, Juízes, Professores), enquanto no sector privado a percentagem de trabalhadores com formação superior é inferior a 13,7%;

2. Em comparação (feita por profissões/qualificações), as remunerações praticadas na Administração Pública são significativamente inferiores às remunerações praticadas no sector privado. Tomando como base tudo aquilo que o trabalhador recebe, a diferença para menos na Administração Pública, quando comparado com o pago no sector privado, varia da seguinte forma por profissões: Grupo "Técnico": entre -188% e -156%; Grupo "Técnico profissional": entre -75% e -46%;

3. O total de descontos em 2007 na FP vai ser 11,5%, enquanto no privado vai ser de 11%;

4. Mais de 33% do total de trabalhadores entraram para a Função Pública nos últimos 15 anos através dos Gabinetes Ministeriais, Cargos de Direcção e Agências ou Unidades de Missão (todos de escolha política), primeiramente através de contratos de prestação de serviços e de tarefa (v.g. avenças) e sequentemente através da sua integração dos quadros por via legislativa ou através de concursos públicos orientados.


Para quem gostar de aprofundar estes temas para além do banal, do barulho e da “propaganda”, sugere-se, entre muitos, os seguintes:

- Alves, A. e Moreira, J. M., (2004), O que é a Escolha Pública? Para uma análise económica da política, PRINCIPIA, Publicações Universitárias e Científicas, Cascais.

- Bauby, P., (1998), Reconstruire l’Action publique. Services publics, au service de qui?, Syros, Paris.

- Bonwitt, B., (1989), “Reforme de l’administration publique: des missions aux objectives”, Revue Internationale des Sciences Administratives, vol. 55, n.º 2, pp. 255-275.

- Bjorkman, J. M., (2003), Health Sector Reform – Measures, Meddles and Mires, Institute of Social Studies, The Hague, The Netherlands.

- Boyne, G., Jenkins, G. e Poole, M. (1999), “Human resource management in the public and private sectors: an empirical comparison”, Public Administration, vol. 77, n.º 2, Summer, pp. 407-420.

- Cabral, M. V., Silva, P. A. e Mendes, H., (2002), Saúde e Doença em Portugal, Imprensa de Ciências Sociais, Viseu.

- Campbell, D. e Stanley, J., (1963), Experimental and Quasi-experimental Designs for Research, Houghton Mifflin Company, USA, Boston.

- Canotilho, J. J. e Moreira, V. (1985), Constituição da República Portuguesa Anotada, 2ª edição, Coimbra Editora, Coimbra.

- Corte-Real, I., (1995), O Livro de Modernização Administrativa: 1986-1995, Lisboa, Secretariado de Estado de Modernização Administrativa.

- Denhardt, V. e Denhardt, R., (2003), The New Public Service: serving, not steering, M. E. Sharpe, New York.

- Egeberg, M., (2003), “How bureaucratic structure matters: an organizational perspective”, in B. G. Peters e J. Pierre (eds.), Handbook of Public Administration, Sage Publications, London.

- Harrison, M., (2002), “Can competition transform public organization? European attempts to revitalize hospitals trough market mechanisms”, in E. Vigoda (ed.), Public Administration, An Interdisciplinary Critical Analysis, Marcel Dekker, Inc., New York.

- Hayek, F., (1977), O Caminho para a Servidão, Teoremas, Lisboa.

- Heeks, R., (2002), “Reinventing government in the information age”, in R. Heeks (ed.), Reinventing government in the information age, International practice in IT-enabled public sector reform, Routledge, London.

- Hood, C., (1995), “The “new public management” in the 1980’s: variations on a theme”, Accountig, Organization and Society, vol. 20, n.º 2/3, pp. 93-109.

- Hood, Christopher (1991), “A public management for all seasons”, Public Administration, vol. 69, n.º 1, Spring, pp. 3-19.

- Howorth, C., (1997), “Can we explain recent developments in British health policy as the product of a general crisis in the welfare states’ of modern market economies”, in http://www.sun.rhbnc.ac.uk/~uhtm005/nhs.htm.

- Mintzberg, H., (1979, 1999), Estrutura e Dinâmica das Organizações, 2ª Edição, Publicações Dom Quixote, Lisboa.

- Moreira, V. (2003), “Sebenta Direito Administrativo” para a disciplina Fundamentos Jurídicos, do Curso de Estudos Avançados em Gestão Pública (CEAGP), 3ª edição Mouzinho da Silveira, INA, Oeiras.

- Morris, D., (1998), “Moving from public administration to the public management”, In: Micheal Hunt e Barry O’Tolle, Reform, Ethics and Leadership in Public Service, Hants, Ashgate Publishing Limited, cap. 4, pp. 55-66.

- Mozzicafreddo, J., (2005), Interesse público e funções do Estado – Dinâmica conflitual da mudança. Comunicação no âmbito do III Colóquio Internacional Interesse Público, Funções do Estado e Reforma da Administração, do curso de mestrado em Administração e Políticas Públicas do ISCTE, Abril de 2005.

- Mozzicafredo, J. e Gomes, J. S., (2001), Administração e Política, Oeiras, Celta Editora.

- Mozzicafredo, J., Gomes, J. S. e Batista, J. S. (2003), Ética e Administração – Como modernizar os serviços públicos?, Oeiras, Celta Editora.

- Mozzicafreddo, J., (2000), Estado-Providência e Cidadania em Portugal, Celta Editora, Oeiras.

- Mozzicafreddo, J., (1998), “Estado, modernidade e cidadania”, in J. Leite Viegas e A. Firmino da Costa (orgs.), Portugal, que modernidade?, Celta Editora, Oeiras.

- Peters, B. G., (2001), The Politics of Bureaucracy, Routledge, London.

- Peters, B. G. e Pierre, J., (2003), «Introduction : The role of public administration in governing», In B. G. Peters e J. Pierre (eds.), Handbook of Public Administration, Sage Publications, London.

- Peters, B. G. e Savoie, D. J., (1993), Reinventing Osborne e Gaebler: Lessons from the Gore Commission, Canadian Centre for Management Developement.

- Pollitt, C. e Bouckaert, G., (2000), Public Management Reform: a comparative analysis, University Press, Oxford.

- Pollitt, C., (2003), The Essential Public Manager, Maidenhead, Open University Press.

- Rosenbloom, D., (1998), Public Administration. Understanding management, politics and law in the public sector. McGraw-Hill Companies, Inc, New York.

- Rouban, L., (2000), «Introduction – Le service public en devenir: la mondialisation, l’Europe et les ruptures socials», in Luc Rouban (dir.), Le Service Public en Devenir, L’Harmattan, Paris.

- Stewart, J. e Walsh, K. (1992), “Change in the management of public services”, Public Administration, vol. 70 (winter), pp.499-518.

- Teixeira, C. (2003), “Atitude dos funcionários face à modernização da administração pública”, in Juan Mozzicafreddo, João Salis Gomes e João S. Batista, Ética e Administração, Oeiras, Celta Editora, Cap. 4, pp. 47-79.

- Warin, Philippe (1997), Quelle Modernisation des services publics? Les usagers au cœur des réformes, Paris, La Décourverte.

- Wright, V. (2000), “Blurring the Public-Private Divide”, in B. G. Peters e D. J. Savoie (eds.), Governance in the Twenty-first century: revitalizing the public service, Canadian Centre for Management Development, McGill-Queen’s University Press, Montreal e Kingston.

(Daniel de Sousa)

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IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 4

Os desenhos de John Kent no Guardian e no Sunday Times foram violentamente atacados pelos grupos feministas, que contribuiram para o silenciar. Este é do tempo do PREC e Varoomshka encontra o nosso general Otelo que a coloca atrás das grades por delito de opinião.

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 11 de Novembro de 2006


Recordações de um mundo perdido no Almanaque republicano.

*

http://images.bestwebbuys.com/muze/bookmed/24/0801443024.jpg Para o Passado/Presente e a sua "construção da memória " este livro: Richard H. Armstrong, A Compulsion For Antiquity: Freud And The Ancient World (Cornell Studies in the History of Psychiatry) .

É um livro “convoluted", complicado, mas brilhante:
"To sum up so far, long before Freud, the ancient archive was a space of synaesthetic interaction in modern European thought, a realm of imaginary freedom and eros tied to highly valued norms of culture—which continues to fascinate even the post-modern mind, to judge from the amount of work on ancient sexuality produced in the wake of Michel Foucault. For Freud as for many thinkers in the nineteenth century, historical consciousness is itself an expression of freedom, even when it bears an admixture of other determinants and ought not to be exaggerated into a basis for radical free will. The exposure of unconscious motives in one's fascination with the ancient archive does not lead to a dismissal of this fascination as mere projection; for Freud, it rather establishes a genuine psychological connection, the discovery of a common unconscious ground that expands the import of research, intensifies its power, and validates its outcomes."

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COISAS SIMPLES


(Levitan)

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EARLY MORNING BLOGS

907 -L'homme et son image

Un homme qui s'aimait sans avoir de rivaux
Passait dans son esprit pour le plus beau du monde:
Il accusait toujours les miroirs d'être faux,
Vivant plus que content dans une erreur profonde.
Afin de le guérir, le sort officieux
Présentait partout à ses yeux
Les conseillers muets dont se servent nos dames:
Miroirs dans les logis, miroirs chez les marchands,
Miroirs aux poches des galands,
Miroirs aux ceintures des femmes.
Que fait notre Narcisse? Il se va confiner
Aux lieux les plus cachés qu'il peut s'imaginer,
N'osant plus des miroirs éprouver l'aventure.
Mais un canal, formé par une source pure,
Se trouve en ces lieux écartés:
Il s'y voit, il se fâche, et ses yeux irrités
Pensent apercevoir une chimère vaine.
Il fait tout ce qu'il peut pour éviter cette eau;
Mais quoi? Le canal est si beau
Qu'il ne le quitte qu'avec peine.

On voit bien où je veux venir.
Je parle à tous; et cette erreur extrême
Est un mal que chacun se plaît d'entretenir.
Notre âme, c'est cet homme amoureux de lui-même;
Tant de miroirs, ce sont les sottises d'autrui,
Miroirs, de nos défauts les peintres légitimes;
Et quant au canal, c'est celui
Que chacun sait, le livre des Maximes.

(Jean de la Fontaine)

*

Bom dia!

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TESTEMUNHOS E OPINIÕES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES 4



A minha mulher, educadora do ensino especial (miúdos deficientes), desta vez não fez greve. A escola dela funcionou. Eu não fiz greve, na Universidade, que me pareceu estar a trabalhar “as usual”. O meu filho, estudante universitário noutra escola, também teve as aulas todas, e a minha filha (12º ano) notou a falta de alguns professores, mas teve aulas de substituição, na sua ausência.

E no entanto, o descontentamento é geral, no ensino. Porquê, então, esta greve suave?
Uma causa será o custo económico dela, como notou um leitor seu. Outra, o facto de os Sindicatos estarem algo descredibilizados. Mas eu acho que há outra causa mais séria: o anúncio de que boa parte dos docentes vai para o desemprego no próximo ano, e que os que ficarem vão ter de se esforçar muito para ascenderem de escalão remunerativo. Há medo. E a noção de que as grandes lutas ainda estão para vir, agora que ninguém se vai reformar em breve. Talvez me engane, mas palpita-me que 2007 vai ser um ano de brasa!...

Mas fora da função pública, um taxista que o é há 32 anos, disse-me ontem que os privilégios dos funcionários públicos eram um escândalo, antes das novas leis. E contou-me o mesmo tipo de histórias do seu leitor Manuel Castelo Branco. Quererá ele nivelar por baixo? Nos EUA, li ontem numa revista, o horário médio semanal de trabalho de um engenheiro é de 46 horas (cá, varia entre as 35 e as 40)... e em geral, ainda que a produtividade média horária do trabalho norte-americano não supere a norueguesa ou a alemã, acontece que o número médio de horas de trabalho per capita é lá muito superior. Claro que por outro lado, os ritmos de vida no litoral brasileiro ou em Moçambique, por exemplo, são de uma falta de stress invejável (“qualidade de vida”, diz-se). O que não se pode é ter o melhor desses dois mundos...

(Pinto de Sá)

*

Diz o Sr Fernando Reis, que fica chocado com a "reacção de uma parte significativa da população que tem sido ouvida nos órgãos de comunicação". Refere ainda que "Essas pessoas que acusam...são em muitos casos, as mesmas que aceitam trabalhar em más condições, com salários muito baixos, e com poucas ou nenhumas regalias sociais." Diz ainda o Sr Fernando Reis que estas pessoas vêem "Privilégios", onde ele vê apenas "Direitos".

Fico impressionado com o raciocínio. Só está na situação de ter um trabalho em más condições, mau salário e nenhumas regalias, as pessoas que o aceitam. Esquece-se que essas má condições decorrem essencialmente da situação económica do país, onde há pouco emprego gerado, levando as pessoas a ter que aceitar o que aparece. Os patrões menos escrupulosos, percebendo a aflição do empregado em manter o emprego que lhe permite um mínimo de sobrevivência, permitem-se explorá-lo como entendem, não havendo força sindical ou tribunal que lhe valha. É óbvio que para estes trabalhadores, as vantagens da função pública são obscenas, porque são obtidas em parte à custa daquilo que ele desconta todos os meses.

Os "direitos" do Sr Fernando Reis são os deveres de desconto dos trabalhadores que ele critica por não compreenderem a posição dos funcionários públicos. E o trabalhador sente-se obviamente injustiçado por, com o seu dinheiro, darem aos outros aquilo de que ele não usufrui. Chamar a isto "inveja" é, no mínimo, uma provocação irreflectida. O dinheiro que é pago aos funcionários públicos tem origem nos impostos que todos pagamos. É nosso dever e direito garantir que seja gasto com o melhor índice de aproveitamento possível e benefício prático dos cidadãos pagantes. Não é o que tem acontecido. O desperdício abunda, as perdas são enormes e parece que, muitas vezes as formalidades só existem para justificar uns quantos empregos pagos com dinheiro que seria mais útil noutros lados. Nem que fosse no bolso de onde saiu.

Se a crise diminui os empregos disponíveis, os salários e as condições de trabalho, logo, o rendimento do Estado proveniente dos impostos, porque é que os trabalhadores da administração central continuam como se nada se passasse, montados nos seus "direitos" inalienáveis? A crise é só para alguns?

( Lá fora passa um carro do lixo, em abstinência da greve, que todos na rua agradecem concerteza. Já neste trabalho, por exemplo, acho que não há privilégios. Apenas algumas vantagens que tentam compensar um trabalho em condições extremas, a que poucos se sujeitam, mas que aproveita a todos nós).

(Pedro Malheiros Fonseca)

*

Sou uma funcionária pública que fez greve ontem, dia 9 de Novembro. Hoje não aderi. E não o fiz porque considero que a decisão de fazer greve não pode, de forma alguma, correr o risco de poder estar associada a uma maneira expedita de conseguir um fim-de-semana prolongado.


Num país como Portugal, em que é fundamental aumentar a produtividade, entendo que o acto de fazer greve deverá ser reflexo de uma atitude cívica responsável, de recurso extremo, face a uma situação de manifesta gravidade.

Mas, de facto, é muito grave o que se está a passar na Função Pública, tanto mais que não se pode considerar o “fenómeno Função Pública” como extrínseco à própria realidade da sociedade portuguesa.

Se é certo que, por natureza, e tendencialmente, se oferece resistência à mudança, a verdade é que a gravidade de que falo nada tem a ver com a reestruturação dos Serviços da Função Pública, enquanto tal.

Todos os que querem que Portugal cresça qualitativamente sabem o quanto é necessário alterar o sistema de funcionamento de grande parte destes Serviços.

A gravidade advém do facto de não ser possível, em qualquer tipo de serviço – seja público ou privado –, mudar no sentido da melhoria e do desenvolvimento, se essa mudança não se basear no rigor, na objectividade e na eficácia, princípios fundamentais numa gestão orientada para o sucesso.

O novo sistema de avaliação dos funcionários públicos (Sistema Integrado de Avaliação da Administração Pública) é, apenas, uma ferramenta de gestão que, como qualquer outra, pode ser bem ou mal usada.

Ter a ferramenta é importante, mas não é suficiente. É necessário assegurar a sua boa aplicação. E isso nem sempre está a acontecer.

Infelizmente, são do meu conhecimento casos concretos, nos quais, com comprovada falta de isenção, são atribuídas classificações de insuficiente na decorrência de razões que nada têm a ver com o desempenho do funcionário, visando a sua saída da instituição e seu o possível desvio para os chamados supranumerários.

- A lei prevê que os funcionários que se sentirem injustiçados possam recorrer da classificação de que foram alvo – dirão muitos.

Mas, voltando à objectividade dos casos concretos, acrescentarei:

- Sim, sem dúvida, recorrerão aqueles funcionários cujo perfil seja suficientemente forte para resistirem ao processo de desencorajamento de que vão ser alvo, quando após dois ou três contactos, paralelamente à garantia de poder recorrer – que ninguém nega – vão ouvir falar de coisas como “se tiver coragem”, “se estiver disposto a enfrentar possíveis represálias”, ou, pura e simplesmente, “se for capaz de entrar num processo de grandes desigualdades de poder”: de um lado o funcionário; do outro o dirigente de topo da instituição, que, em algumas situações, é o próprio avaliador, ou mesmo o membro do Governo competente, que, amiúde, terá nomeado aquele.
Recorrerão, ainda, os que não se deixarem entorpecer pelas anestesiantes e recorrentes expressões “não se pode fazer nada”, ou “o melhor é mudar para outra instituição”.

Não há boa gestão sem sistema de avaliação. É preciso avaliar para poder melhorar.
È preciso associar o reconhecimento do mérito a quem trabalha bem e penalizar quem tem um mau desempenho. É compreensível que quem não cumpra, de forma adequada, as suas funções, deva ser dispensado. Só assim poderá haver mudança qualitativa na Função Pública.

Qualquer pessoa entende isto. Mais, qualquer pessoa de bem o deseja.

Mas o grave é que, infelizmente – como acima referi –, há casos que mostram que a realidade é bem diferente. E se é óbvio que seria abusivo, e até injusto, tomar a parte pelo todo, também não é verosímil que aquilo que conheço seja apenas um caso singular, ou a tal excepção à regra.

Neste texto, a palavra “infelizmente” é recorrente.

Na verdade, pela primeira vez, na minha já muito longa vida de funcionária pública, é de um modo infeliz que convivo com o meu quotidiano profissional, não só por aquilo a que venho a assistir ultimamente, dia após dia, mas porque receio pelo amanhã de um país em que é possível, em democracia, e no seio das instituições do Estado, utilizar de modo perverso uma ferramenta de gestão – a classificação –, não para o desenvolvimento e para a mudança qualitativa, mas antes para actos vexatórios que atentam contra um dos valores mais sublimes: a dignidade do indivíduo.

E se a prática de tais actos já é grave, mais grave ainda é a sua impunidade, indiciando uma sociedade dormente, que já perdeu a capacidade de se indignar.

(F. P.)

*

Com ou sem greves, (as quais eu não acredito uma vez que trabalhei mais de 45 anos numa firma privada, ali passei o 25 Abril, o sector a que pertencia chegou a fazer várias greves, mas eu não) acho que já vai sendo tempo de deixar de branquear o funcionalismo público, no que se refere a privilégios. Senão vejamos: em 1959, com 17 anos de idade, comecei a trabalhar numa determinada empresa e nessa altura tinha um grande amigo, da minha idade, que começou igualmente a trabalhar no funcionalismo público. Em 1989, isto é, com 30 anos de serviço o meu amigo, na altura com 47 anos, reformou-se e nessa altura foi-lhe atribuído uma pensão igual a 100% do seu último ordenado. Eu tive de trabalhar até 2004, e isto porque resolvi fazer uma pré-reforma, e na altura tinha 63 anos de idade, quarenta e cinco anos de descontos e mesmo assim fui penalizado na minha reforma em 0,5% porque aos 55 anos faltava-me 6 meses para atingir “x” tempo de descontos. A minha reforma foi calculada na base da média dos melhores 10, dos últimos 15 anos de salários. Além disso, não pude dispor de um sistema especial de saúde (ADSE) como o meu amigo.

Mas o mais irritante é que, durante os meus 45 anos de trabalho eu mensalmente descontei, para a Segurança Social, 11% do meu salário e a firma onde prestei serviço, 23,75% também daquele salário, para o mesmo fim, o que quer dizer que ambos descontamos 23,75% do meu salário em cada mês. O patrão do meu amigo, esse não descontou um centavo, mas no fim o meu amigo tem muito melhor reforma do que eu.

Afinal, será que o funcionalismo público estará assim tão mal ? E se assim é, porquê no tempo de António Guterres somente, entraram 100.000 novos funcionários públicos? Serão todos masoquistas ?

(Manuel Castelo Branco)

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10.11.06


A DIFERENÇA ENTRE UM QUIOSQUE E A BLOGOSFERA

Se eu olhar para um quiosque de jornais como muita gente olha para os blogues, o que eu vejo é isto: Maria, O Jornal do Crime, A Mãe Ideal, Novenas Milagrosas, Lux, VIP, Nova Gente, Maxman, o Borda de Água, Público, Flash!, Única, 24 Horas, Nova Cidadania, TV Guia, TV Mais, Ana, Teleculinária, MM, Saúde, Record, Atlântico, A Bola, Autosport, Correio da Manhã, O Diabo, uns títulos em ucraniano, o Guia Astrológico, Os Meus Livros, Cosmopolitan, Prevenir, Sporting, Blitz, Guia Astral, Mini-Recreio, Activa, GQ, Diário de Notícias, Selecções...

Se abrir as folhas ao acaso, como se consultar blogues ao acaso, coisas sinistras estão sempre a cair de dentro das folhas: notícias falsas, especulações, falsidades anónimas, plágios, voyeurismo, egos à prova de bala, ignorância, erros, invejas, ajustes de contas, presunção, arrogância, esquemas diversos, banha da cobra, cobras. Há gente que fala com Deus e gente que namora o Diabo, há quem coma a namorada, como o Dr. Lecter, há o professor Karamba, e há umas meninas para todos os gostos, há extraterrestres, boatos, insinuações, muita "informação" anónima, pornografia strictu sensu, pornografia intelectual, quartos à hora, hotéis à noite, etc., etc. Uma selvajaria, o Mundo Cão, o Faroeste, os baixos fundos, o jet set, um conde, o tatuador, a tatuada, a esposa, o marido, a amante, o escroque, o bondoso, o franciscano e o tolo...


Ah! Diz-me uma voz, mas estás a misturar tudo! Pois estou, é como fazem os que falam dos blogues misturando tudo, como Miguel Sousa Tavares e Eduardo Prado Coelho fizeram recentemente para se defenderem (o que é legítimo) de acusações e falsificações anónimas. É verdade que os jornais e revistas têm responsáveis e não são como as cartas anónimas, ou os blogues que funcionam como cartas anónimas, mas quando os primeiros transcrevem os segundos ficam iguais. No caso do Miguel Sousa Tavares, o que falhou foi a imprensa tradicional, que aceitou citar fontes anónimas, sem um julgamento de mérito. A notícia não é que um blogue anónimo acuse Miguel Sousa Tavares de plágio, a notícia é que Miguel Sousa Tavares cometeu plágio, se o tivesse cometido, e aí o autor da notícia devia fazer o seu próprio julgamento e só publicar caso esse julgamento fosse que sim. Não sendo, o blogue é como uma carta anónima, incitável e inaceitável. Foi isso que falhou e hoje em dia falha cada vez mais, porque a comunicação social escrita precisa de pretextos para violar as regras de que se gaba como sendo distintivas e, na Internet, encontra-os com facilidade, entrando depois facilmente na selvajaria. Está lá no computador, para milhões verem, por isso está "publicado", logo posso citar e levar a sério, sem ter responsabilidade.

O mal não está nos blogues em si, está na nossa incapacidade para ler e escrever blogues, como para ler e escrever jornais com uma decência mínima. O problema é mais comum do que se pensa, embora seja verdade que as pessoas se sentem mais impotentes para se defenderem da Internet do que no mundo da comunicação social tradicional, mas o que é crime cá fora é crime lá dentro.

Mas a reacção aos blogues, selvagens, inúteis, desviadores da atenção, perdulários do nosso tempo, oculta-nos muita coisa de interessante que está a passar-se diante dos nossos olhos e que não percebemos porque os vemos tão misturados como o Jornal do Crime está com o Público no quiosque de jornais, ou como se o Público para falar de ciência citasse o Guia Astrológico como fonte. Os blogues são apenas uma das pontas do mundo novo em que já estamos, uma pequena ponta, mas tão reveladora que mesmo estes episódios lesivos de Miguel Sousa Tavares (acusado de plágio) e de Eduardo Prado Coelho (que tem um texto falso a circular na Rede) são dele sinal. Ora nunca ninguém disse que era o Admirável Mundo Novo, a não ser os utopistas que pensam que as tecnologias mudam o mundo sem o pano de fundo das sociedades onde elas existem.

Vamos admitir, o que não me custa nada, porque até acho que é verdade, que mais de 90 por cento do que está na blogosfera é lixo. Temos em seguida que convir que também 90 por cento do que está nos quiosques é lixo, a julgar pelo nosso quiosque. Não é por aí que se faz a diferença. Para isso é preciso olhar com um pouco mais de atenção quer para os 90 por cento de lixo, quer para os 10 por cento sobrantes, porque, tendo muita coisa em comum, têm também diferenças importantes. Para se perceber o que está a mudar no conjunto do sistema comunicacional temos que analisar o lixo e o luxo na Rede.

http://www.johnbreslin.com/blog/wp-content/20051221a.pngO lixo nos blogues, como antes (e agora) o lixo na Rede têm muito de comum com o lixo nos diários pessoais, nos jornais locais, nos boletins de paróquia, nas rádios locais, nos panfletos partidários, nas cartas anónimas, na pequena, grande e média comunicação social, nessa imensa voz entre sussurrada e gritada que nos acompanha sempre, na maioria dos casos como pura estática, lixo escrito, lixo dito, lixo visto. Mas tem diferenças interessantes como esta que não é meramente quantitativa: mais indivíduos falam na Rede do que alguma vez falaram em jornais, revistas, diários, cartas anónimas ou assinadas.

O número espantoso dos milhões de blogues, com o seu crescimento exponencial, é um fenómeno radicalmente novo. Estes milhões de pessoas que escrevem na Rede, em nome próprio, com pseudónimos ou anonimamente, são uma manifestação da principal característica das sociedades pós-industriais, as que nasceram em espaços urbanos dominados por serviços, pela produção, distribuição e consumo de informação - são sociedades de massas, onde impera o que antigamente se chamava "psicologia de massas". São ainda poucos, mas são o primeiro destacamento, o destacamento loquaz, o que anuncia o que aí vem, os que ocupam o espaço público com as suas vozes no mesmo movimento com que um centro comercial se enche quando abre as portas às 10 da manhã, ou o prime time das novelas fica habitado das suas audiências, ou as praias do Algarve e os estádios de futebol se enchem.
http://www.school-for-champions.com/science/images/noise-white.gif
Essas pessoas falam porque têm alguma coisa a dizer? Acrescentam alguma coisa ou são elas mesmo um sinal de cacofonia? Depende como se vê a questão: elas têm alguma coisa a dizer porque querem dizer alguma coisa - essencialmente que existem e que são elas que vão mandar, que são elas que já mandam. O que têm a dizer não é novo, é ruído, é pobre, é insignificante em termos culturais, estéticos, criadores, mas é a voz que fala cada vez mais alto, a voz que se ouve, a estática gerada pelas multidões e que exige ser ouvida nas sondagens, nas pseudo-sondagens dos telefonemas para dizer sim ou não, nas audiências da televisão, a que não quer esperar, não quer delegar, não quer aprender, não quer sofrer. Quer tudo e já, e só não o tem porque os "políticos" a enganam e desviam.

O número dos blogues significa que também, pouco a pouco, as massas das sociedades de massas chegam à Rede como nunca antes chegaram aos jornais ou chegam hoje à televisão. Trazem com elas aquilo que antes, nos primeiros parágrafos deste texto, chamei "selvajaria": não querem mediações, que são o poder do passado, o poder dos intelectuais, o poder dos antigos poderosos. Querem democracia "participativa", não querem democracia representativa, não querem saber de nada que possa significar privilégio dos sábios, ricos e poderosos. Não prezam a intimidade e a privacidade, porque no seu mundo não existem e não são valores, não prezam a propriedade porque a têm pouco, são anti-intelectuais, combatem todos os que parecem atentar ao seu igualitarismo funcional e punem-nos na Rede como gostariam de os punir cá fora: "é bem feito" é a expressão que mais se ouve por todo o lado. Miguel Sousa Tavares é "arrogante", o "povo" acusa-te de plágio; Eduardo Prado Coelho mandaste na intelectualidade durante muito tempo, leva lá com um texto falso para aprenderes que aqui somos todos iguais! Por bizarro que pareça, tudo isto foi escrito em linha, quer em caixas de comentários, as furnas da Internet, quer nos blogues anónimos e ignorados, os degraus superiores do Inferno.

É por isto que os blogues são interessantes, porque se move ali um monstro, que existe bem fora dos electrões. Esse monstro fala - nos blogues e nos jornais - e nós não o queremos ouvir porque ele nos coloca em causa, coloca em causa o lugar que ocupamos. Ele luta ali pelas suas regras próprias e não pelas que tomamos por adquiridas e, desse ponto de vista, convém conhecê-lo muito bem. É por isso que se aprende mesmo com os 90 por cento de lixo na blogosfera. E aprende-se ainda melhor se olharmos para o 10 por cento que não é lixo, porque para essa parte da Rede irá migrar uma parte mais dinâmica do espaço público, que conhece melhor o monstro e que já fez a prova do monstro.

Tratar os blogues como um quiosque dos jornais indiferenciado é deitar fora o menino com a água do banho. Vamos em seguida falar dos 10 por cento, número optimista, eu sei.

(No Público de 9 de Novembro de 2006)

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TESTEMUNHOS E OPINIÕES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES 3



Quem me conhece sabe que, por princípio, defendo os trabalhadores e os seus direitos. Sabe ainda que me bato pelo lugar-comum segundo o qual os funcionários públicos e os serviços públicos são medíocres. É ainda capaz de saber que acho que os últimos Governos têm vindo a tratar mal os funcionários públicos, fazendo-os perder poder de compra, há anos sucessivos.
Esta situação é suficiente para que eu entenda que os trabalhadores do Estado têm legitimidade para recorrer à greve. Só que, pelo que atrás expus sobre os lugares-comuns nesta matéria, defendo que os funcionários públicos têm de tentar ganhar a simpatia da generalidade da opinião pública. Para isso, dependem muito daquilo que os sindicatos que os representam decidam.

O problema é que uma parte substancial dos sindicalistas são, eles sim e não os trabalhadores que dizem defender, medíocres. É gente que se perpetua há décadas no trabalho sindical e que já não trabalha há largos anos no emprego de origem. São pessoas que, deste modo, têm uma vida muito mais descansada do que quando tinham chefes e patrões a quem prestar contas. Agora limitam-se a fazer o que manda o controleiro partidário que os dirige de cima. E quem os dirige quer agitação social a todo o custo. Não entende as greves como uma forma de pressão negocial, entende-as apenas como braços-de-ferro para demonstrar uma suposta influência social. É por isso que convoca greves para perto dos fins-de-semana. Deste modo, aumentam a adesão aos protestos: aderem os trabalhadores conscientes e aqueles que apenas querem ter um fim-de-semana prolongado. Assim, não se ganha a simpatia da opinião pública. Pelo contrário, isolam-se os grevistas, que até têm razão para reivindicar. Ficam isolados e são apontados a dedo pelo cidadão comum, um cidadão que vê a greve - e com alguma razão - apenas como uma desculpa para a criação de uma ponte de São Martinho.

Já era tempo de os sindicalistas defenderem realmente aqueles que representam e de convocarem greves para o meio da semana. É que ganhar a opinião pública é meio caminho andado para vencer as justas reivindicações. Só desvaloriza isto quem vê nas lutas laborais apenas um pretexto para uma agenda política mais ou menos oculta.

(José Carlos Gomes)

*

O que me choca mais neste momento de contestação, é a reacção de uma parte significativa da população que tem sido ouvida nos órgãos de comunicação. Para lá de qualquer possível estratégia de apoio ou contestação à greve, é inegável que cada vez mais pessoas são contra as greves.

Uma das razões mais apontadas para esta posição é a ideia de que os funcionários públicos são privilegiados, têm emprego garantido, salários altos, e reformas boas. Bem, a questão das reformas, agora que são aos 65 anos e foram reduzidas em valor, já não se ouve tanto. Mas a ideia de que há funcionários a mais, de que estes não trabalham, ou que trabalham mal, e que ganham de mais, é muito generalizada.

Porque me chocam estas opiniões? Porque revelam um desconhecimento enorme da realidade. Da realidade dos funcionários públicos, dos serviços públicos e da sua organização, e dos direitos dos trabalhadores. Essas pessoas que acusam, a meu ver injustamente, os trabalhadores da administração públicos de tudo o que consideram mau, são em muitos casos, as mesmas que aceitam trabalhar em más condições, com salários muito baixos, e com poucas ou nenhumas regalias sociais. Desta forma, tendem a conceber os direitos sociais como privilégios. Isto é muito preocupante...

Na medida em que revelam um pessimismo generalizado, uma inveja latente, uma noção de que os direitos são privilégios e não direitos, de que todos devem sofrer como eles sofrem, estas opiniões são perigosas. Não para os funcionários públicos, que parecem estar condenados a continuar a perder poder de compra e direitos, mas para a generalidade dos trabalhadores por conta de outrém. Isto revela uma submissão e uma subserviência ao poder económico, que acaba por se generalizar e diminuir, se não extinguir, direitos que eram considerados, até há pouco tempo, fundamentais.

Não me parece ser este um bom caminho. Puxando os funcionários públicos para baixo, toda a sociedade portuguesa vai ser puxada para baixo, e vamos assistir, já estamos a assistir, a um aumento da diferença entre ricos e pobres, ou seja, ao enfraquecimento das classes médias. Isto é mau para o colectivo, por bom que seja para os empresários, proprietários de riqueza e de bens de produção.

Será que vamos ser todos empresários? Será que vamos todos ter empregados a trabalhar para nós, e a quem vamos pagar o mínimo possível?

Mais uma vez a hipocrisia leva a melhor. O mesmo povo que tem um dos índices mais altos de posse e utilização de telemóveis, e de outros bens não essenciais, reclama agora uma justiça social nivelada por baixo, como se isso fosse bom para todos. Hiprcrisia perigosa, digo eu, porque vai calcar ainda mais o nível de vida dos portugueses, de todos, incluindo os funcionários públicos. Será que os não-funcionários públicos ganham alguma coisa com isso? Tenho a convicção que não, mas ficam felizes com esta vingaçazinha, do português "toma lá que é para não pensares que és melhor que eu...eu estou mal mas tu também ficas."

(Fernando Reis)

*


Aqui vai um testemunho relativo à adesão à greve dos funcionários da Administração Pública. Eu própria, e vários colegas, aderimos à greve no passado mês de Outubro tendo inclusive participado na manifestação que se realizou no mesmo dia. No meu caso, em 23 anos de serviço na AP, foi a primeira vez que fiz greve e participei numa manifestação desta índole.

Por razões de ordem financeira – o respectivo desconto de um ou dois dias no salário – decidi que não tenho condições de o fazer. Anoto que sou técnica superior e estou no topo da carreira. No meu serviço, desta vez também ninguém fez greve.

Na escola do meu filho os professores fizeram greve no dia da greve apenas da greve dos docentes. Ouvi, esta semana, alguns professores referirem que também não o poderiam fazer por razões de ordem financeira. Curiosamente ontem a escola funcionou normalmente, hoje fechou por adesão à greve por parte dos funcionários. Manifestamente organizaram-se para a fazer só num dia.

Há aqui matéria para os sindicatos reflectirem sobre a sua estratégia.

(Rosa Barreto)

*

Vamos lá então a um testemunho pessoal sobre greves:


Nos idos anos de 1975/76 fiz parte de uma comissão de trabalhadores de uma empresa sediada no distrito de Setúbal, cujo patrão se havia ausentado abruptamente para o Brasil, tendo o governo intervido na empresa nomeando uma comissão administrativa para a gerir. A este tipo de empresas se chamavam de intervencionadas.
Na época a Intersindical decretou uma greve no sector com intuitos meramente politicos e intimamente ligados aos interesses estratégicos do PCP e nós, comissão de trabalhadores, que não éramos nem de perto nem de longe uns “amarelos”, resolvemos “furar” a greve, exactamente pelas suas raízes e motivações e pensando únicamente no interesse particular da empresa, que se debatia com dificuldades económico-financeiras, não podendo por isso desperdiçar uma hora que fosse da sua produção.

Hoje ainda me pergunto, se o patrão estivesse na gestão da empresa se assim teríamos pensado e agido ?

Não dependerão muitas greves mais de quem está no lado contrário do que do interesse imediato de quem as faz ?

(JCB)

*

Sugiro-lhe alguma decência. Verifico mais uma vez que recai no hábito de lançar uma discussão com premissas mais que contestáveis. Assim costuma fazer a manipulação, que não está em qualquer raciocínio lógico que siga depois, mas no estabelecimento das premissas, que são colocadas com tal rapidez e eloquência que a audiência as toma por verdadeiras. Com isto ponho em causa a sua afirmação absoluta: "as greves têm hoje má imprensa e má fama". Sem me propôr desconstruir a frase em si, o que obrigaria a um trabalho espartilhado de moderação (para explicar que "nem tanto ao mar nem tanto à terra") sugiro-lhe que leia o que os blogs do João Morgado Fernandes e do Eduardo Pitta dizem sobre o assunto.

(João Machado)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER:
PERCEBER O PAPA COMO UM ALEMÃO MUITO ESPECIAL - UM CATÓLICO BÁVARO (UM PLEONASMO TÍPICO)

http://www.somlivre.pt/capas/682785.jpgJeanne Perego, A Baviera de Joseph Ratzinger

Há um ano nunca compraria este livro, fosse qual fosse o seu mérito. Nunca tive muita curiosidade pelas biografias dos papas contemporâneos, antes de serem papas. Os trajectos dos papas italianos pareciam-me típicos da ascensão burocrática da institucional igreja, suporte do Vaticano.Quando eles deixaram de ser italianos, interessei-me mais, mas, como João Paulo II era polaco, uma mistura entre a história da Polónia e do Solidariedade pareciam-me chegar. Como de costume, há aqui muita ignorância, mas a verdade é que também não havia curiosidade.

Com Joseph Ratzinger as coisas são diferentes. O interesse que o papa me suscita é intelectual e cultural, não é religioso per se. Traduz um movimento, que penso ser mais vasto, de reflexão identitária sobre a Europa, sobre as raízes civilizacionais da nossa história do "Ocidente", como sinal da espécie de kulturkampf que simultâneamente o fundamentalismo muçulmano e o seu terrorismo apocalíptico, denso de atitudes culturais e civilizacionais, e o chamado "multiculturalismo" trouxeram aos nossos dias. Ora, apercebemo-nos agora (de novo, a ignorância...), que o papa Bento XVI foi um dos intelectuais que com mais importância e influência pelo seu papel em muitos documentos da Igreja, tratou destas questões em termos teológicos, filosóficos, históricos e culturais.

http://content.answers.com/main/content/wp/en-commons/thumb/c/cf/250px-MarktlamInn.jpg

O papa é alemão, bávaro, e isso conta. O catolicismo bávaro, verdadeiramente católico-apostólico-romano não é igual aos outros catolicismos nacionais. É bem diferente do nosso tão proclamado catolicismo, mais popular do que burguês, anticlerical, inculto, mais fiel do que piedoso, mais temeroso do que crente, mais social do que cultural. Coisas da história e da geografia. É o que este livro nos mostra, a abrir com uma foto de Ratzinger cardeal com um copo de cerveja, na mais tímida e hierática postura imaginável, mas mesmo assim possível. E ao olhar o retrato dessas pequenas vilas e aldeias da fronteira com a Áustria, limpas, sólidas, prósperas, em que a torre da igreja é sempre a primeira coisa que se vê de longe, cheias de conventos, mosteiros, faculdades de teologia e seminários, percebe-se um comunitarismo piedoso, que nos é bastante alheio. The image “http://www.dw-world.de/image/0,,1557550_1,00.jpg” cannot be displayed, because it contains errors.Depois as fotografias dos Ratzinger, a casa, os dois irmãos padres para orgulho da família, tudo nos aponta para um catolicismo calmo e consolidado. Muito da biografia de Ratzinger pode ser explicado pelo choque dessa placidez antiga, com o Mundo que encontrou lá fora, o mundo da laicidade agressiva da Europa feita por Napoleão, o mundo das perturbações de Maio de 68, tão importantes para a viragem conservadora do peritus progressista do Vaticano II.

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TESTEMUNHOS E OPINIÕES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES 2



Segue como opinião uma vez que o testemunho me está interdito:

Esta greve é irrelevante e não alterará nada de fundamental na política do governo.
Ela é feita básicamente porque o espaço de actuação dos sindicatos deixou há muito de existir na economia real (privada). No meu caso ela não me afecta em nada, pelo contrário, o trânsito matinal até me facilita e encurta o tempo de deslocação para o trabalho.
Dois dias sem escola também não é assim tão importante: afinal de contas os miúdos não estão a aprender nada na escola. Para eles são dois dias em que as brincadeiras na escola são substituídas por brincadeiras em casa dos amigos.
É uma greve de ricos e não de pobres. Apenas a fazem aqueles que têm o emprego garantido até à reforma.
Ao ouvir alguns banqueiros, funcionários públicos, professores,médicos e enfermeiros a queixarem-se tanto , chego à conclusão de que este governo deve estar a fazer alguma coisa acertada.
O resto do país trabalha,mas esse já não tem acesso às televisões.
Pode acontecer que o "resto" seja apenas residual...uma descoberta que não me surpreenderia.

Seguirei com algum interesse qual vai ser a lógica distintiva entre "opinião" e "testemunho" . Simples curiosidade de um velho leitor do Abrupto.

P. S. (salvo seja) : não sou, nem nunca votei socialista.

(João Costa)

*

Sobre a credibilização dos sindicatos e das greves e suas causas:

1) Porque será que as greves são sempre coladas a fim de semana / feriados?

2) Os sindicatos não estão suficientemente modernizados p/ perceberem que isso só agrava a má imprensa e a má fama de que gozam?

3) Será que se por exemplo as greves em toda a função publica não abrangessem serviços essenciais / urgentes como a saúde e as escolas (exceptuando em ambas partes puramente administrativas), o impacto da mediático da greve seria menor? Tal não daria um maior credibilização à greve?

4) E que tal se os trabalhadores em greve comparecessem nos seus locais de trabalho, envergassem um sinal qualquer de estão em greve e não trabalhassem (não necessitam de fazer manifs e erguer grandes cartazes). Isto não reforçaria o sentido da luta e esvaziaria a má fama de que “as greves são só para terem fins de semana prolongados”? Além disso permitiria aos trabalhadores resolver qualquer situação urgente que surgisse nos seus serviços, dando uma imagem muito mais positiva da respectiva luta.

Declaração de interesses: não sou funcionário público nem sindicalizado. São meras achegas de quem está de fora

(Miguel Sebastião)

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AS NOSSAS NOVAS PAISAGENS


7h e 25m da manhã, junto a Videmonte, Guarda.

(J. Guerra)

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PARA SE PERCEBEREM OS MECANISMOS PARTIDÁRIOS
E OS HOMENS QUE NELES MANDAM



Um homem chamado Miguel Coelho ataca um homem chamado Nuno Gaioso, num clássico da acusação aparelhística: culpado de excesso de protagonismo.

A concelhia socialista de Lisboa anunciou hoje a retirada da confiança política ao vereador Nuno Gaioso Ribeiro, a quem convida a demitir-se, depois das críticas feitas a Manuel Maria Carrilho. A decisão do secretariado do PS-Lisboa surge na sequência da publicação, na edição de ontem do “Diário de Notícias”, de uma entrevista na qual Nuno Gaioso Ribeiro acusa o líder da vereação socialista de ter na autarquia um comportamento político "irresponsável, ausente e displicente".

"Embora reconhecendo o direito à crítica, quando ela for construtiva e apresentada nos órgãos próprios, o que não aconteceu, não podemos permitir que um manifesto caso de vaidade pessoal se transforme num facto criado sem nenhuma correspondência com a realidade", lê-se num comunicado emitido pela concelhia.

No comunicado, o secretariado do PS-Lisboa adianta ter decidido, por unanimidade, retirar a confiança política ao vereador Nuno Gaioso Ribeiro e, em consequência, "convidá-lo a demitir-se do cargo que exerce em nome do PS". Também por unanimidade, a concelhia reiterou a sua confiança em Manuel Maria Carrilho, manifestando-se solidária com o vereador.

(...) "O Secretariado do PS-Lisboa só pode entender estas declarações do vereador Gaioso Ribeiro como fazendo parte de uma estratégia pessoal de afirmação – à custa de quem o escolheu e defendeu como candidato – mesmo que para tal prejudique deliberadamente a eficácia das decisões e deliberações dos órgãos legítimos e condutores da afirmação política do PS em Lisboa".
Sublinhados meus. Depois disso, tiraram-lhe o gabinete.

*

É um homem que se chama Pedro Duarte que decide sobre um homem que se chama Rui Rio. Hoje não o recandidataria:

- Se hoje houvesse eleições, e teria de ser feita essa avaliação, Rio seria candidato?

- Objectivamente, hoje não. (Entrevista ao Jornal de Notícias.)

*

Um dos mais graves problemas dos partidos está aqui retratado: as pessoas que os aparelhos produzem e que só têm vida no espaço público pelo seu poder dentro deles. Sócrates e Marques Mendes só ganhariam se dissessem preto no branco que nos partidos que dirigem não há lugar para estas atitudes, até porque ambos são suspeitos de virem desta massa. Faço a ambos a justiça de considerar que já perceberam que não é com estas pessoas nem com estas atitudes que se credibilizam os partidos.

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TESTEMUNHOS E OPINIÕES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES



As greves têm hoje má imprensa e má fama. Fazem parte das coisas que estão fora de moda. Há muitas razões para isso ter acontecido, incluindo a estatização dos sindicatos, que se tornaram um apêndice orgânico do estado do "modelo social europeu" e perderam independência na sua acção. Com o "modelo" em crise, os sindicatos do "modelo" (socialistas) e os que se colaram ao "modelo" (os comunistas) entraram também em crise. No caso português, há também uma grande partidarização dos sindicatos, com a CGTP e a UGT dependentes de estratégias dos partidos. Acresce que uma comunicação social "económica", que funciona como porta-voz das empresas e dos gestores, por sua vez igualmente politizados como se vê pelos seus "Compromissos", conseguiu uma hegemonia interpretativa, hoje ao lado dos interesses do Governo, que oculta outros elementos importantes para julgar o que se passa.

Mas tudo isto não deve impedir-nos de estar atentos à greve da função pública e a outras greves simultâneas, não as tratando como movimentos sociais ultrapassados e “fora de moda”. Por aqui pensa-se que é importante, numa sociedade democrática, a existência de instituições de mediação, sem as quais a democracia representativa fica enfraquecida. Os sindicatos são uma dessas instituições. A produção de "equilíbrio social", quase sempre via conflitualidade social, aberta ou latente no processo negocial, é um mecanismo que se pode inserir nos checks and balances de uma sociedade democrática. Ora, uma das características da pulsão para a chamada "democracia participativa", no meu ponto de vista uma degradação demagógica da democracia, é para a destruição dessas mediações. Por isso, seja qual for a concordância que se tenha com os objectivos das greves, elas não serão aqui desvalorizadas. Podem ser discutidas, podem ser contestadas na sua razão, podem pôr-se em causa os seus objectivos e oportunidade, mas a experiência de fazer greve é uma experiência cívica que não pode ser ignorada.

Apela-se por isso aos leitores do Abrupto para que, durante o dia de hoje, enviem testemunhos (opiniões também, mas os testemunhos terão prioridade) sobre o que se está a passar. De quem entendeu fazer greve, de quem entendeu não a fazer, de quem é por ela prejudicado, de quem não estando no universo dos sectores em greve assistiu a episódios da greve. Seguindo as regras habituais, serão aqui publicados.

*
O secretário de estado, João Figueiredo, faz lembrar o ministro da informação iraquiano, Mohammed Saeed Al-Sahhaf. Os seus 11,7% de adesão à greve da função pública hoje (9.11.2006), por exemplo, na educação, querem dizer que a escola está aberta, apenas com um ou dois funcionários. Um deles na portaria. Os professores entram, estão nas escolas, não podem ir às salas de aula porque os pavilhões estão fechados. Ficam confinados à sala de professores e ao café em frente da escola. Os alunos não podem entrar no recinto escolar por falta de pessoal. Mas a escola funcionou e não houve greve! Pelo que se passou hoje, amanhã os alunos nem se preocuparão em levantar-se a horas. Não quer dizer que tomo como líquidos os 80% de adesão referidos pelos sindicatos. Mas...

(Gabriel Mithá Ribeiro)

*

Como se sabe, o Governo precisou de uma eternidade para saber quantos funcionários públicos existem; no entanto, no primeiro dia de greve da função pública, bastou-lhe um par de horas para saber que a percentagem de aderentes foi de 11,74%. Assim sendo, vale a pena passar adiante da recorrente anedota que são os números díspares esgrimidos por governos e sindicatos e, desta vez, matutar apenas no rigor do valor apresentado.

A mim, pelo menos, faz-me lembrar um director de uma empresa - que eu em tempos conheci - que, face aos orçamentos que os seus técnicos lhe preparavam, dava sempre uns retoques, transformando, por exemplo, 1 milhão de contos em 1.000.000.000$10

Dizia ele que, com isso, mostrava aos clientes como a empresa era rigorosa a fazer orçamentos - e nunca ninguém teve coragem de lhe dizer que ele era alvo da chacota geral - dizendo-se, no meio, que padecia do "Centesi... Mal".

(C. Medina Ribeiro)

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EARLY MORNING BLOGS

906 - Henri quatre

Henri quatre
Voulait se battre
Henri trois
Ne voulait pas
Henri deux
Se moquait d'eux
Henri un
Ne disait rien.

(Anónimo)

*

Bom dia!

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9.11.06


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: MIL CORES

Saturn's rings

nos anéis de Saturno.

Uma verdadeira imagem extra-terrestre ou seja uma imagem, uma paisagem, que nunca tinhamos visto.

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota A FRAGILIDADE DE TUDO e LENDO VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 7 de Novembro de 2006.

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RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL


Construindo a árvore de Natal da Praça do Comércio .

(António Pedro)

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8.11.06


COISAS SIMPLES / COISAS MUITO COMPLICADAS



Ivan Aivazovsky, Mar Negro

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7.11.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 7 de Novembro de 2006


Para quem tem dúvidas sobre a governamentalização da RTP, o telejornal de hoje deve ser visto muito atentamente. Para quem está sempre a pedir exemplos, e a quem se está sempre a dar exemplos que depois não se quer discutir, o telejornal de hoje é um excelente exemplo. Hoje foi o dia do debate parlamentar sobre o OE. Até aos primeiros minutos tudo esteve bem: o debate foi animado e permitiu uma peça dinâmica de contraditório. Por ela se pode ver que o debate não correu muito bem ao Primeiro-Ministro, mas isso não é em si relevante, só viria a favor da síntese televisiva. O problema é o que acontece depois, mais um Momento-Chávez perfeito.

À saída. O Primeiro-Ministro é perguntado sobre declarações de Jardim, reduzidas ao estilo do som que morde ou seja, depuradas de argumentos, a favor da frase bruta. Aí a culpa é só de Jardim que se põe a jeito pelo modo como fala. Até aqui muito bem, era um facto novo e tinha sentido perguntar, naquelas entrevistas de porta de saída, o que o Primeiro-Ministro pensava. O problema é que, depois dos 15 segundos que são relevantes para a resposta, seguiu-se uma longa exposição de vários minutos, uma imensidade de televisão que desequilibra totalmente a reportagem, em que, num discurso limpo, se repetem pela enésima vez argumentos conhecidos das teses governamentais sobre o OE.

O Primeiro-Ministro acaba assim, sem nunca ter sido interrompido por uma corte de jornalistas silenciosos (pelo menos da RTP), por repetir sem contraditório o que acabara de dizer dentro da sala, reforçando nessa fala límpida tudo o que o governo queria dizer. Do ponto de vista jornalístico não há aí nada de novo, e é isso que é favorecer a propaganda do governo. O Primeiro-Ministro faz o seu papel, debita o seu spin, os jornalistas da RTP, que não o interromperam ou não reduziram a peça aos poucos segundos iniciais, é que não estão a fazer o deles.

Quando estiver em Rede este telejornal das 20 horas de hoje, vale a pena ver e que cada um julgue por si.

*

Um bom exemplo de privatização e do princípio consumidor / pagador :
"O Teatro Art"Imagem não está sozinho (...) O movimento Juntos pelo Rivoli vai lançar uma campanha de recolha de fundos que incluirá um leilão de obras de arte e um concerto com músicos do Porto. Os eventos ainda não têm data marcada, mas o objectivo está definido: somar os 20 mil euros de que aquele grupo teatral se viu privado, depois de ter recusado subscrever a cláusula do protocolo que o impedia de criticar o município."
(hoje no Público.)

*
Enquanto estudante e profissional da indústria da comunicação tenho seguido com bastante interesse as opções editoriais dos jornalistas que trabalham nos noticiários da RTP. Tenho a felicidade de poder debater este tema com um grupo de amigos que não têm qualquer formação ou interesse particular pelo jornalismo, mas que, enquanto espectadores atentos, facilmente chegam às mesmas conclusões que eu: há muito que os jornalistas-editores da estação televisiva pública não tinham tão pouco para fazer entre as 18 e as 21. E provavelmente durante o resto do dia, no que respeita à composição do noticiário.

Ontem tive oportunidade para ver abertura do telejornal. Fiquei atento até aos 15 minutos. Durante esse período fiz uma amadoríssima análise de conteúdo, em tempo real, das peças que passaram. A sua análise já esclarece um pouco sobre o que se passou, mas gostaria de acrescentar apenas mais alguns dados, pistas sobre a forma como a informação da RTP parece estar altamente condicionada pelo crivo dos gabinetes de comunicação governamentais:

- O noticiário abriu com o anúncio de Sócrates sobre o aumento da inspecção fiscal da banca. Durante a peça, foi possível ver, durante mais de 2 minutos, o Primeiro-Ministro num permanente auto-elogio e promoção das medidas governativas que têm obtido resultados positivos. A referência ao aumento da inspecção fiscal da banca surgiu apenas numa pequena frase de José Sócrates, sem qualquer contextualização ou desenvolvimento da aplicação da medida. Curiosamente, uma pequena referência ao tom do PM na resposta às interrupções no seu discurso provocadas por elementos exaltados dos partidos de oposição, (algo como "Caros deputados, com gritaria não fazem valer os vossos argumentos") teve a mesma duração.

- O contraditório foi mau demais: O PSD teve o destaque óbvio, mas nessa peça, cerca de dois terços do tempo foi dedicado à polémica "Madeira", que merecia referência mas não o destaque principal. Os restantes partidos foram remetidos a pequeníssimos excertos dos seus líderes, com a intervenção do CDS/PP a remeter-se exclusivamente às SCUT, o PCP ao discurso contra "o grande capital" e o Bloco de Esquerda à polémica entre Louçã e Sócrates relativa à redistribuição do auxílio financeiro a deficientes. E de novo com grande destaque para a resposta do PM, no seu registo deselegante, autoritário.

- Conclusão: não tivemos a oportunidade de ver e ouvir a opinião da Oposição sobre a nova medida do Governo, que teve destaque de abertura do noticiário e acabou por ser, apenas, uma mediática referência numa diminuta frase do PM. Já na SIC e TVI os telespectadores puderam ouvir especialistas do CDS e do PSD a defenderem a sua posição relativamente à medida, bem como o comentário de Miguel Sousa Tavares sobre o debate do Orçamento de Estado. O necessário contraditório para que a informação seja isenta e cumpre a sua função: informe a opinião pública sem a direccionar para uma determinada corrente de pensamento.

- Seguiu-se a "entrevista" a Sócrates, com o seu monólogo habitual - o referido "Momento-Chávez". E sem qualquer contraditório ou pergunta da jornalista.

Trata-se de uma questão que nos afecta a todos - estudantes, jornalistas, professores, políticos, cidadãos - por se tratar da estação pública, de dinheiro que é de todos, de uma mensagem que deveria ser para todos. E que parece ser produzida à medida de alguns, para reduzir a amplitude de análise e pensamento de quem vê as notícias sem um olhar crítico, constante. Por isso quis deixar este pequeno apontamento, um pequeno contributo (sem ambição ou tratamento científicos) para o debate.

(Guilherme Pires)

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Devo começar por lhe dizer que não me encontro nos defensores deste governo, nem tão pouco da RTP. Mas acho que devemos procurar ser justos nas nossas apreciações e não embarcar em campanhas como a que V.Exª quer protagonizar: a de que a RTP tem favorecido o governo. Vejo os telejornais e, sinceramente, não me parece haver nada de comparável com o que consta que se passa na Venezuela. Pelo contrário. O que dizer, por exemplo, da forma com que ontem o telejornal abriu lançando a ideia de que "o governo declarou guerra aos bancos"? para todos concluirmos que este governo é conflituoso com todos os sectores; o que pensar daquele spot que começa assim:"Ganhou o não no referendo..."?sendo afinal uma notícia do anterior referendo ao aborto do tempo de Guterres. Dois exemplos apenas. Mas já agora outro:Então o senhor não acha vergonhosa a "entrevista" que foi feita no Canal Dois pela jornalista de serviço à Ministra da Educação? Será aquilo uma entrevista? Bastava olhar para os olhos da entrevistadora, de que agora não me recorda o nome, para se ficar com a ideia de como a senhora detestava, ou mesmo odiava, a ministra. No final da pretensa conversa a jornalista tem o desplante de fazer a sua apreciação pessoal sobre os casos quentes do Ministério da Educação não ligando nenhuma, absolutamente nenhuma, importância às declarações da Ministra. Bem esta queria acrescentar no fim algumas palavras, mas a jornalista, do alto do seu poder, alegou que não havia tempo. Só havia de facto tempo para a sua opinião pessoal. A forma como essa entrevista decorreu diz bem da falta de educação da pivot, para além de constituir uma lição de como não se deve entrevistar seja quem for - amigo ou inimigo.

Não acho, pois, que o senhor tenha razão. Tenho a lamentar o facto de um homem inteligente, independente quanto baste, e observador muitas vezes arguto que dá gosto ler, tome algumas posições tão parciais como a que constitui objecto desta crítica. Com que objectivo?

(Fernando Barros)

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LUZ DO PORTO



Hoje, quase agora.

(Gil Coelho)

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A FRAGILIDADE DE TUDO

Fora de Lisboa, como em Lisboa, tudo é frágil. Chove, falta a luz, vão-se as estradas, desaparecem o telefone e a Internet em todas as bandas. Para quem trabalha em linha, não se pode trabalhar. Durante 24 horas sumiu o telefone e a Internet por estes lados, a menos de setenta quilómetros de Lisboa, como se fosse o Burkina Faso. Até aí poder-se-ia aceitar o que se passa como mal menor, outros sofrerão mais, com as casas inundadas, sem transportes. Agora o que não se pode aceitar - para além do tempo infinito que tudo demora - é a desresponsabilização que as empresas de telecomunicações, supostamente na vanguarda de todas as tecnologias, ostentam face aos problemas dos seus clientes. Os "call centers", para garantirem a sua mão de obra baratíssima, reduzem os procedimentos ao nível do formulário para imbecis, com mecanismos tão rígidos que nos momentos de crise não servem para rigorosamente nada.

O serviço da ADSL.pt para clientes profissionais então é a suprema ironia: fornece um número de telefone para avarias que não pode ser acedido pelo telemóvel, o único que funciona quando as linhas avariam, e ainda pede que se diga o que se está a ver no écrã de um computador que obviamente está ao lado de um telefone morto. Já desconto o facto de durante parte do dia, o serviço responder que não podia tomar conta das reclamações porque estava o sistema "em manutenção" e face à insistência de que ao menos anotassem a avaria, a resposta ser um irritado "já disse que o sistema está em baixo, telefone noutra altura".

E que tal a PT, ou qualquer outra operadora, pelo menos para as assinaturas profissionais, ser obrigada após um prazo razoável para corrigir a avaria, a ressarcir o cliente dos custos da interrupção? Tenho a certeza que o serviço melhoraria de imediato e as empresas seriam mais dedicadas a servir os seus clientes...

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Está cheio de sorte! Aqui por Penalva do Castelo, distrito de Viseu, foram mais de 200 cortes no abastecimento de energia em apenas 45 dias. No dia 20 de Outubro, entre as 14 e as 15h foram mais de 20. As consequências são as conhecidas: aparelhos queimados, mesmo as UPS. Dizem-nos que são "picos de energia" e que a "solução" é colocar um "descarregador de sub tensão" no quadro eléctrico. Só que o aparelhinho custa 250,00€.

Quanto à PT e ao ADSL subscrevo por baixo tudo o que escreveu. No meu caso foram 8 dias sem telefone e ADSL. E porque meti "cunha". A previsão era de 2 semanas (de 20 de Outubro a 3 de Novembro). Ao que parece por causa das cheias em Leiria e Pombal. Tive de ir trabalhar para Viseu em casa de um amigo...

Se quiser mais pormenores basta ler a reportagem no "Jornal do Centro" da próxima sexta-feira 10 de Novembro.

(António Vilarigues)

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Sobre o pequenino texto que tem o título em epígrafe, muito directo e verdadeiro, gostaria de acrescentar o seguinte, se permite: Há dias faltou, em algumas zonas de Lisboa, menos de uma hora de energia. "Caiu o Carmo e a Trindade ...", soaram sinetas de alarme, noticiários em pânico, título de primeira página. Há duas ou três semanas, estive entre 4 e 5 horas sem energia (e isto acontece várias vezes por ano!). "No pasa nada ...". Espera e aguenta.
Há em Portugal gente de 1ª, 2ª e 3ª. Há tratamento diferenciado para os utentes de um mesmo país.
Pode ser "natural", acredito. Para quem teve a desdita, de escolher morar "longe" de Lisboa, sofre consequências.

(Rui)

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Nunca percebi muito bem porque é que a PT não oferece aos seus assinantes a possibilidade (alternativa) de receberem as Listas Telefónicas em CD pois, mesmo que não fizesse qualquer desconto por esse facto, pelo menos os ganhos ecológicos seriam consideráveis. Claro que, quanto ao custo envolvido, as actuais listas em papel não devem constituir qualquer problema (antes pelo contráro), pois quem as consulta é porque tenciona fazer chamadas, e é através destas que o investimento é amortizado.
E foi por isso que fiquei perplexo quando soube que o Serviço de Informações» (o velhinho «118») passou a ser pago. É como ir a um restaurante e ter de pagar, além da refeição, a consulta da lista!
NOTA: Esta analogia veio da associação-de-ideias com o facto de as pessoas se referirem à PT como sendo a Portugal Tele... Come.

(C. Medina Ribeiro)

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6.11.06


INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TLEBS DE NOVO , e LER, ESCREVER, CONTAR, VER TELEVISÃO E PESQUISAR EM LINHA - VOLTANDO À WIKIPEDIA com comentários de leitores.

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CONTRA A PENA DE MORTE



logo contra a execução de Saddam. Sem nenhum "mas".

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IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 3



"O princípio da sabedoria está no temor a Deus."

Do Ecclesiasticus na Vulgata: Initium sapientiae timor Domini et cum fidelibus in vulva concreatus est et cum electis seminis creditur et cum iustis et fidelibus agnoscitur ...

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LER, ESCREVER, CONTAR, VER TELEVISÃO E PESQUISAR EM LINHA
- VOLTANDO À WIKIPEDIA



(Continuação das notas sobre a Wikipedia.)

A comparação dos artigos da Wikipedia com os artigos de revista e com os jornais pode fazer-se, muitas vezes com vantagem para a Wikipedia, mas não me parece que seja a comparação correcta. A questão com a Wikipedia não é apenas saber se esta é mais ou menos "correcta" no seu conjunto do que a informação disponível noutras fontes. É saber como é que o erro, a falsificação, intencional ou não, são detectados, corrigidos ou evitados, num texto que aparece como sendo de referência.

Os artigos de uma enciclopédia pretendem ter um estatuto de referência pelo que a sua comparação tem que ser feita com textos com o mesmo estatuto e não com artigos de jornais.
Esta comparação foi feita entre a Wikipedia e a Enciclopedia Britannica para as entradas sobre ciência pela revista Nature, com resultados favoráveis para a primeira. Este estudo foi veementemente contestado pela Britannica e recebeu uma contra-resposta da Nature.
Não há maneira de escapar ao problema da validação científica no julgamento da Wikipedia e isso levanta o problema da edição das entradas na enciclopédia e coloca em causa o método "democrático" dos "grandes números" de colaboradores corrigindo-se uns aos outros. Os problemas adensam-se nas áreas das ciências humanas e nas áreas mais periféricas, logo menos escrutinadas, da Wikipedia, como é o caso da parte portuguesa. O problema parece-me insolúvel quanto se trata de questões muito controversas, cultural, religiosa e politicamente sensíveis.

No momento em que a Wikipedia se torna cada vez mais uma fonte para os trabalhos escolares, e para a citação em linha de curto fôlego, ela revela de forma muito interessante todos os problemas das novas literacias que são necessárias para trabalhar na Rede. Literacias ligadas à pesquisa e recolha de informação deveriam fazer parte de qualquer aprendizagem escolar desde o básico. Ler, escrever, contar, ver televisão e pesquisar em linha, são as literacias básicas do dia a dia de hoje. Todas, e todas ao mesmo tempo.

A Wikipedia é uma grande realização da Rede, compreende nas suas páginas uma imensa quantidade de informação, mas padece de problemas estruturais, que decorrem do seu modelo. Como muitas vezes acontece, o que lhe permitiu o sucesso é o que a torna doente. O debate sobre o projecto da Wikipedia é um dos que está no centro dos problemas da Rede enquanto "fábrica de informação", e um dos debates do imediato futuro.

Continuaremos.

*

Um exemplo. Outro dos artigos proposto para os melhores da Wikipedia portuguesa é o artigo sobre a "Oposição à ditadura". Como o artigo sobre o PCP ele suscita as maiores reservas. No seu conjunto ele tem erros factuais, mas acima de tudo propõe uma visão da história essencialmente ideológica, interpretativa politicamente. No início do artigo, uma fotografia de Cunhal de um lado e de uma foice e o martelo do outro, mostram bem a intencionalidade política do texto, com a agravante em termos de legibilidade de ter sido corrompido por tentativas de introduzir um vocabulário valorativo com outras origens (p.e. "a Acção Revolucionária Armada (ARA), apoiada e criada pelo PCP, e as Brigadas Revolucionárias (BR) se revelaram como uma importante forma de resistência contra o sistema colonial português, praticando actos terroristas e atacando principalmente o Exército e as suas bases militares", sublinhados meus a vermelho).

Os problemas de estilo narrativo, que são fundamentais nas entradas em matérias de ciências humanas, e em história em particular, colocam o texto ao nível das piores redacções escolares infantis, como pode ver aqui:
A oposição foi muito importante para a História de Portugal visto que ela contribuiu bastante para acabar a ditadura, acabando assim a repressão, a guerra colonial e o isolamento. Muitos intelectuais e pessoas importantes, como Humberto Delgado, Álvaro Cunhal, Norton de Matos, participaram na oposição e contribuíram muito. A oposição sofria muito com as perseguições e repressão da PIDE, a polícia política do Estado Novo, por isso ela optou pela clandestinidade. Muitos opositores foram forçados a exilar-se para o estrangeiro e alguns até foram assasinados pela PIDE, como o General Humberto Delgado.
Não é preciso ir mais longe do que a caracterização de um único período da história da oposição (1926-1943) onde se somam os erros factuais, uns a seguir aos outros, as omissões, entre as mais flagrantes o papel da guerra de Espanha, com a versão desvalorizadora da oposição anarquista e republicana, que faz apenas nascer a oposição eficaz com os comunistas e, dentro dos comunistas, com a direcção de Cunhal:
* Oposição fraca, desorganizada e violenta.

No princípio da ditadura, a oposição era desorganizada, era dominada por concepções anarquistas que privilegiavam a acção violenta, radical e armada.

Os republicanos democráticos organizaram e comandaram várias revoltas como as de 1927, 1928 e 1931 e tiveram lugar no Porto, Lisboa, Setúbal, Açores, Madeira e Guiné, mas todas elas fracassadas.

A revolta de 1934 que foi organizada pelos comunistas e operários que tentaram opôr-se à corporativização dos sindicatos, teve lugar na Marinha Grande, mas esta revolta, como as outras, fracassou.

Em 1935, os nacionais-sindicalistas, liderados por Francisco Rolão Preto (um integralista, defensor do Corporativismo e fundador do Movimento Nacional-Sindicalista, um movimento católico da Direita fascista, fundado em 1933 e proibido por Salazar em 1934 devido aos seus discursos anti-salazaristas), tentaram uma revolta ("tentativa de revolta do navio Bartolomeu Dias e do destacamento militar do Quartel da Penha de França") para derrubar o Estado Novo, em 1935, mas esta fracassou-se. Preto e alguns dos seus apoiantes nacionais-sindicalistas teve de exilar-se para Espanha.

Em 1938, um grupo de anarco-sindicalistas tentaram assassinar Salazar, o "Chefe", quando este se dirijia para a missa mas ele conseguiu escapar ileso."
A vermelho estão sublinhados os erros, quer factuais quer de classificação e caracterização. O resto do artigo é do mesmo género.

*
Não consegui deixar de esboçar um pequeno sorriso ao ler os seus comentários sobre a entrada que refere na Wikipedia.

Se a entrada tem do seu ponto de vista erros pode:

1 - Aceder à página da Wikipedia e alterar o seu conteúdo

2 - Criar uma página de discussão onde poderá colocar as suas reservas face ao conteúdo do mesmo.

E assim que vive a Wikipedia: alterações e discussões.

E assim nasce uma enciclopédia com 3,5 milhões de entradas em 205 idiomas e dialectos.

Na versão inglesa existem 1.469.342 entradas e 6.277.941 de outras páginas como páginas de discussão onde os diferentes utilizadores podem trocar pontos de vista sobre os conteúdos das entradas (na versão portuguesa existem 194.011 entradas e 516.818 outras páginas).

Estas estatísticas mostram o carácter avassalador do projecto Wikipedia que apenas é possível porque existe a Internet e pessoas dispostas a colaborar sem custos num projecto cujo objectivo último é criar uma base de conhecimento universal e de acesso gratuito.

Este projecto baseia-se em 2 pilares sendo um contratual e o outro
tecnológico:

1 - Licença GNU: esta licença nasceu em 1991 com o advento do software livre. Em termos básicos, esta licença afirma que todas as alterações realizadas por alguém a algo que está afectado por uma licença GNU também ficam do domínio público. Ninguém pode reclamar como suas as alterações que realiza a algo que já é do domínio público.

2 - Tecnologia Wiki: a Wikipedia assenta numa plataforma Wiki que não é mais que uma aplicação de gestão de conteúdos adaptada a portais colaborativos.
Todos podem alterar os conteúdos desse portal logo é importante ter um gestão de versões onde todas as alterações efectuadas são registas e existe sempre a possibilidade de colocar um artigo num estado anterior ao da sua modificação (como acontece nos casos em que as páginas são vandalizadas).

Os seus pontos de vista sobre a Wikipedia fazem-me lembrar as discussões sobre o software livre. Steve Balmer da Microsoft caracterizava esse software como um cancro porque não tinha qualidade. A semana passada, numa jogada magistral, a Microsoft assina com a Novell um contrato para uma melhor integração do Windows com o Suse Linux da Novell (ver aqui.)

Outros exemplos do "cancro" do software livre podem ser apontados como o Firefox e o OpenOffice.

A Wikipedia vive dos mesmos princípios que estão no software livre e que provaram ser os ingredientes para uma receita de sucesso.

Eu sei as razões porque o Dr. Pacheco Pereira tem de dizer mal da Wikipedia.

A primeira é porque a Wikipedia veio mostrar que o saber não é propriedade de uma meia dúzia de pessoas que têm acesso fácil aos meios de comunicação tradicionais (como televisão) e que por isso podem brilhar. A Wikipedia mostra que existem milhares de Pachecos Pereiras tão bons ou melhores que o original Pacheco Pereira.

Em 2ª lugar atinge as suas fontes de rendimento. A elite intelectual vive de se ter de pagar para aceder ao saber (compra de um livro, de um jornal ou de uma enciclopédia). A Wikipedia é algo que vai atingir algumas dessas fontes de rendimento.

Mas como em tudo na vida nada é garantido. Pode dormir em paz, Dr. Pacheco Pereira, porque a Wikipedia tem a sua sobrevivência sempre em risco quer seja pela falta de voluntários para escrever artigos ou pela falta de donativos que são a única fonte de rendimento deste projecto.

(Daniel Nunes)

*

Convenhamos. Nem tudo é perfeito. A Wikipédia, como qualquer outra coisa inventada por nós, tem os seus prós e os seus contras. A minha opinião vem a seguir. Obviamente conspurcada dos prós e contras da minha própria existência intelectual.

Como prós destaco:

- consulta rápida, fácil e gratuita;

- utilidade do hipertexto;

- não há impressão do erro e após a sua detecção permite uma rápida correcção.

É inegável a facilidade e a universalidade de consulta da Wikipédia. As enciclopédias de papel são demasiado caras e demasiado portáteis. O hipertexto é também de extrema utilidade que permite, no imediato, relacionar temas, nomes, palavras, conceitos, teorias. Por outro lado parece-me interessante que não haja a impressão do erro. Numa enciclopédia em suporte de papel o erro imprime-se e a sua detecção é mais difícil (o nosso estado de alerta para o erro de uma enciclopédia popular, por acharmos que é uma espécie de bíblia, está praticamente adormecido) e a sua correcção fica sujeita à edição de um novo volume, o que demora muito tempo e quase sempre tempo demais. Neste particular, a Wikipédia assume vantagem porque permite a rápida correcção do erro.

Como contras destaco:

- o anonimato dos colaboradores;

- as entradas raramente estão finalizadas;

- uso do espaço para fins sociais perniciosos.

O anonimato dos colaboradores é potencialmente crítico. E digo potencialmente porque não considero que esta questão se coloque entre os que sabem tudo e os que sabem nada, sendo os primeiros os "colaboradores das enciclopédias clássicas" e do outro os "colaboradores da Wikipédia". Isto levanta uma questão interessante e que tem a ver com a acreditação das enciclopédias. Não tendo as enciclopédias clássicas (a partir de agora refiro-me desta forma às enciclopédias em suporte de papel) bibliografia, os seus créditos são obtidos pelo nome da editora ou instituição que a edita e pelo coordenador dos volumes. Espontaneamente associamos uma enciclopédia clássica a um trabalho feito por gente que sabe tudo, vulgarmente conhecidos por especialistas. A Wikipédia seguiu o mesmo caminho, procurando credibilidade através do nome, algo que facilmente conquistou. Mas começa a haver um maior cuidado no apoio bibliográfico das entradas o que pode ser uma vantagem para a Wikipédia.

Repito. É um erro muito grande partirmos do princípio que esta questão se coloca entre os que sabem tudo e os que sabem nada. Até porque as enciclopédias clássicas, ditas de referência, também incluem erros e em proporções não muito díspares daquelas que apresenta a Wikipédia. Vejamos um exemplo. Num comentário à obra "Vida de Aristóteles" de António Pedro Mesquita, o José Pacheco Pereira escreveu que «(...) O que nela se aprende não é apenas sobre Aristóteles, mas também sobre a fábrica de uma biografia antiga, as fontes, os textos, os boatos, os fragmentos, as querelas de autoria e de identificação, as versões próximas ou longínquas ao original. Este aspecto, sem desmerecer a qualidade da própria biografia, ensina-nos muito sobre como se investiga a partir de uma realidade que os anos fragmentaram, dispersaram e corromperam, e isso diz-nos muito sobre o que o tempo e a história fazem a uma obra e à memória de um homem.» O mesmo problema ocorre com o neurologista português António Egas Moniz. As fontes secundárias foram-se produzindo com base noutras fontes secundárias (num total despreza pela fontes primárias, quanto mais não fosse para verificar a veracidade da informação) e dessa forma fomos assistindo ao longo do tempo a uma deformação da realidade e à criação de uma imagem que serve unicamente causas sociais absolutamente perniciosos. Resolvi por isso fazer uma coisa muito simples. Peguei no maior número possível de dicionários biográficos e enciclopédias, e fui pesquisar o dizem sobre a leucotomia, a lobotomia e sobre António Egas Moniz . Os erros são imensos (ver aqui) e, pior, são erros impressos, que circulam sob a máscara da credibilidade editorial. Quando detectados não há forma de corrigi-los a não ser através da edição de um novo volume.

Para terminar, gostava de alertar para o perigo do uso do espaço Wikipédia com fins sociais perniciosos. Recentemente vi-me envolvido numa discussão contra desconhecidos (os tais colaboradores anónimos) porque na entrada "Clara Pinto Correia", ainda muito incompleta, alguém tinha colocado em destaque o episódio do plágio na revista Visão. A forma como aquela página se apresentava era inaceitável pois era provinciano e difamatório. Depois de uma discussão (ver aqui) a situação ficou resolvida.

Na minha opinião, a Wikipédia pode ser um excelente instrumento de trabalho mas precisa de ser restruturada. Não podemos ignorar o facto de a Wikipédia ser usada como fonte bibliográfica por milhares de estudantes. Mas é também nossa obrigação aproveitar o pretexto e repensar o modelo actual das enciclopédias clássicas que, convenhamos, deixam muito a desejar.

(Ricardo S. Reis dos Santos)

*

O que afirma sobre os artigos no seu post referidos é verdade. No entanto, esses artigos não citam fontes, fazem afirmações não sustentadas e não são neutrais -- como bem refere no seu post.

Ora, os princípios da Wikipedia explicitamente recomendam que:

* "os artigos da wikipédia devem ser imparciais, ou seja, devem ser escritos numa forma com a qual ambos (ou todos) os lados envolvidos possam concordar com ele." (aqui)

* "os artigos não devem conter conceitos, recolha de dados, pesquisas ou teorias que não tenham sido anteriormente publicados em veículos adequados e reconhecidos para o efeito." (aqui)

* "qualquer leitor deverá poder aferir que tal material foi já publicado por uma fonte fiável" (aqui)

Donde:

1. Não parece ser um problema fundamental com a Wikipedia

2. Não se percebe como a entrada sobre a Oposição à Ditadura pode ser candidado a um dos melhores artigos. Deveria pelo contrário ser assinalado como opinativo e sem fontes (ver por exemplo o seguinte
artigo em inglês, onde está visivelmente assinalado o facto de haver disputas acerca da precisão dos factos).

3. Porque é que ainda ninguém assinalou este artigo como contendo factos discutíveis ou como sendo opinativo, permanece para mim um mistério.

(Tiago Loureiro)

*

Num mundo ideal talvez a Wikipedia ou outra qualquer enciclopédia podessem ambicionar a um estatuto de referência. A seguir ao importante acontecimento recente (durante o ICM2006), que foi o reconhecimento do matemático russo Gregory Perelman pela comunidade matemática internacional, atribuindo-lhe a medalha Fields pelo seu trabalho sobre a conjectura de Poincaré, a qual ele recusou, levantaram-se diversas questões. Uma relaciona-se com o papel dos jornais e revistas matemáticas na validação e arquivo do conhecimento matemático, pois Perelman não procedeu da forma habitual, que seria submeter os seus artigos a essas revistas, antes divulgando-os apenas no servidor arXiv. O que é facto é que estes artigos foram considerados importantes para serem analisados pelos seus pares, embora tivesse havido uma quebra das regras. Não estaremos perante um caso semelhante, quando falamos da Wikipedia?

(Américo C. L. Tavares)

*

A propósito dos marroquinos, espanhóis e portugueses no artigo da Wikipedia, convém referir que basta aceder ao histórico da página.
Podem-se comparar as versões da página. Vê-se claramente quando e quem as efectuou. Um recurso valiosíssimo que está ausente das versões em papel. E mais: pode-se ver que mais tem escrito cada pessoa!
Quanto à alteração de vandalismo, pode-se ver claramente que foi efectuada às 7:21 de 6 de Novembro e anulada às 8:07 do mesmo dia. Um mero acto de vandalismo, facilmente resolvido. O problema coloca-se quando os vândalos são persistentes, o que felizmente não é muito frequente (e geralmente leva a que passado algum tempo se encerrem as alterações à página, para resolver o problema).
Graças à própria Wikipedia, pude detectar uma alteração do mesmo utilizador à página da cidade do Porto, de menor teor, e anulá-la.

(Leonel)

*

Em resposta aos seus comentários sobre a fiabilidade da informação contida na Wikipedia, gostaria de levantar as seguintes objecções:

1) Até agora, todos os artigos que consultei na Wikipedia estavam não só correctos mas também, algumas vezes, mais completos e actualizados do que os seus correspondentes em enciclopédias com edição revista. Mas também acrescento que praticamente todas as pesquisas que fiz foram relativas a temas científicos e não históricos e, se bem me lembro, nunca li nenhuma entrada em português.

2) Relativamente à fiabilidade dos artigos da área das ciências humanas, talvez este artigo seja interessante.

3) Como já disse, não conheço o nível geral dos artigos em português, ou relativos a assuntos portugueses, mas não ficaria espantado se fosse fraco. Só que eu não acho que isto seja uma falha da Wikipedia, acho que apenas reflecte a debilidade da nossa classe acadêmica, e a escassez do debate intelectual e crítico na nossa sociedade (e também a nossa irrelevância no contexto intelectual global). Afinal, quantos erros semelhantes áqueles que apontou são cometidos nas edições, seja de livros ou revistas especializadas, com revisão, portuguesas?

(João Soares)

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