ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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31.10.06
EARLY MORNING BLOGS 899 - The Cruel Moon The cruel Moon hangs out of reach Up above the shadowy beech. Her face is stupid, but her eye Is small and sharp and very sly. Nurse says the Moon can drive you mad? No, that’s a silly story, lad! Though she be angry, though she would Destroy all England if she could, Yet think, what damage can she do Hanging there so far from you? Don’t heed what frightened nurses say: Moons hang much too far away. (Robert Graves ) * Bom dia! (url) 30.10.06
RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL Trabalhos na barra do Douro. Hoje. (Gil Coelho) Etiquetas: trabalho - retratos (url) RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL Jardineiros no jardim do Passeio Alegre, no Porto. (Gil Coelho) Etiquetas: trabalho - retratos (url)
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 30 de Outubro de 2006 Em Portugal apoiam Sócrates por apertar o cinto, no Brasil apoiam Lula por dar dinheiro aos pobres. Há aqui qualquer coisa que não encaixa. Uma breve nota sobre a comparação entre Sócrates e Lula. Não há dissemelhanças, porque o ponto, creio, é este. A imagem de Sócrates é, tal como Lula, a de Robin dos Bosques. * Robert Fagles sobre as razões que o levaram a traduzir a Eneida de Virgílio: “My feeling is that if something is timeless, then it will also be timely.” * Continua a não haver um dia singular sem o Momento-Chávez do Primeiro-ministro, num palco controlado a dizer o que quer sem contraditório e, mais grave ainda, sem tratamento editorial em função da relevância e do conteúdo jornalístico da matéria. (url) COISAS DA SÁBADO: DIA SIM DIA SIM Contam-se pelos dedos de uma mão só, as pessoas que têm acesso à comunicação social de primeira linha e que falam dos mecanismos de controlo e manipulação da comunicação social pelo governo socialista. É uma matéria tabu, que suscita logo um ambiente de grande hostilidade, com exigência probatórias imediatas. Não acho mal as exigências probatórias, dado que penso não faltarem provas, sendo às vezes serem tão evidentes que a sua exigência já é suspeita. Só tenho pena que não tenham sido pedidas com a mesma convicção antes do período actual de governação. Mais: intriga-me que aqui os jornalistas que se indignam, muitos deles em posições de relevo em órgãos de comunicação estatais, alguns em posições de chefia, tenham nesta matéria a atitude exactamente contrária à que tomam face a todas as coisas, onde acham sempre que não há fumo sem fogo por regra geral, e onde exercitam abundantes doses de cinismo. Aqui, ficam ingénuos em absoluto, nesta matéria não são certamente o “ninho de víboras” com que são descritos no mundo anglo-saxónico. Veja-se um dos exemplos mais que evidentes, referido por Eduardo Cintra Torres na série que está a escrever para o Público, e que tanta hostilidade suscita contra o seu autor, que está a provar uma medicina que já conheço há muitos anos. Trata-se da tentativa de controlo da agenda comunicacional através da sobreposição de pseudo-factos, declarações, conferências de imprensa, manobras de diversão, criados do nada para esconderem ou minimizarem os factos que são incómodos para o governo. O Primeiro-ministro Sócrates não faz isto dia-sim-dia-não, faz isto dia-sim-dia-sim, com sucesso garantido. Exemplo: no dia da manifestação da CGTP com setenta mil pessoas na rua, Sócrates fez mais uma das suas deslocações a um palco controlado (é interessante ver como utiliza muitas vezes o grupo parlamentar do PS como “palco controlado”) para responder aos manifestantes a solo, sem contraditório. Nos noticiários o facto e o pseudo-facto equivaliam-se e mesmo que não se queira chamar às declarações de Sócrates pseudo-facto, elas não tinham o interesse jornalístico que justificasse um tratamento quase simétrico. Isto acontece, quase sempre com Sócrates a solo em palcos controlados, dia-sim-dia-sim. É evidente que não só os governos socialistas que aplicam estas técnicas, os do PSD e do CDS fizeram o mesmo, mas com muito menor eficácia porque há diferenças fundamentais e que têm a ver com o facto de a comunidade jornalística se comportar por regra de forma muito adversarial com governos “de direita”, como agora se diz. Provas? Provas, pergunto eu? E que tal pensarmos nisto: sabedores das tácticas de ocultação do Primeiro-ministro e de alguns membros do governo mais sábios como o Ministro António Costa, que fazem os jornalistas para manterem a informação crítica a fluir, que fazem as redacções para darem o devido valor (o de notas de quatro ou cinco linhas como fazem os jornais anglo-saxónicos) a actos que eles sabem serem de contra-informação, sem conteúdo jornalístico, não dando o benefício ao infractor? Nada, quase nada. Ao aceitarem as regras do Primeiro-ministro e do governo, aceitam a governamentalização e o controlo político. E não adianta dizerem, como já vi escrito, que não há problema nenhum em que o governo tenha investido tanto em “relações públicas” e em assessorias de imprensa que são “boas”, sem perceberem que esta frase é mortífera para a profissão de jornalista e auto-condenatória. Há quanto tempo se recordam de uma genuína pergunta e de uma genuína resposta do engenheiro Sócrates, fora do mundo da propaganda? Não me lembro. (url) EARLY MORNING BLOGS 898 - The Fall Of Rome The piers are pummelled by the waves; In a lonely field the rain Lashes and abandoned train; Outlaws fill the mountain caves. Fantastic grow the evening gowns; Agenst of the Fisc pursue Absconding tax-defaulters through The sewers of provincial towns. Private rites of magic send The temple prostitutes to sleep; All the literati keep An imaginary friend. Cerebrotonic Cato may Extol the Ancient Disciplines, But the muscle-bound Marines Mutiny for food and pay. Caesar's double-bed is warm As an unimportatnt clerk Writes I DO NOT LIKE MY WORK On a pink official form. Unendowed with wealth or pity Little birds with scalet legs, Sitting on their speckled eggs, Eye each flu-infected city. Altogether elsewhere, vast Herds of reindeer move across Miles and miles of golden moss, Silently and very fast. (W.H. Auden) * Bom dia! (url) 29.10.06
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 29 de Outubro de 2006 Lendo o Sol hoje: um editorial de miséria e uma miséria de editorial. Já se percebeu que tudo está maduro para se descer mais um passo na abjecção pública. É verdade que os sinais já estavam por todo o lado, que a porta que o Expresso abriu escancaradamente já estava semi-aberta. Mas cada vez temos menos respeito por nós próprios e pelos outros. Se há quem queira viver no mundo do Simplesmente Maria e na lama voyeuristica da exibição da privacidade e da intimidade, força! Que as páginas exibicionistas vos sejam leves! Mas não esperem de quem não é desse mundo outra coisa que não seja nojo e vergonha por terem descido tão baixo. (url) IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 2
(url) IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 1
(Enviada por Medina Ribeiro) (url) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: GOVERNAR POR DECRETO DÁ LUGAR AO "RELEVANTE INTERESSE PÚBLICO" Hoje, o mesmo acontece, mas sob um nome diferente, o de resolução fundamentada, que justifica se com o interesse público e se sobrepõe a decisões de carácter administrativo por parte dos Tribunais, evitando assim o normal curso da Justiça e revogando o efeito suspensivo imposto pelas instâncias judiciais. Perversamente, ao ultrapassar a decisão com carácter suspensivo de um Tribunal, supostamente garante da igualdade perante a Justiça, a decisão fundamentada pode tornar irreversível todo o processo, sendo que após este passo, muitas vezes, ultrapassou-se o ponto de retorno. Esta possibilidade legal, que assume cada vez mais contornos de verdadeiro artifício que permite contornar decisões desfavoráveis, pela sua vulgarização nos mais diversos domínios da governação, tem-se vindo a alastrar a todas as instâncias que, no âmbito das suas competências, a possam utilizar. Por outro lado, permite contornar a legislação em vigor e, por exemplo, proceder a adjudicações por ajuste directo quando um concurso público não foi lançado a tempo, mesmo sabendo-se da sua necessidade, ou quando um processo se atrasou de tal forma, por responsabilidade exclusiva dos próprio, que já não há possibilidade de seguir os trâmites legais sem um efectivo prejuizo. O recurso a esta figura jurídica tem, portanto, servido cada vez mais como uma alternativa processual do que como um último recurso para situações imprevistas, nas quais existe uma efectiva necessidade de ultrapassar um obstáculo de última hora, razão pela qual cada vez menos o chamado "relevante interesse público" adquire o carácter excepcional que o devia caracterizar. Entre a excepção e a regra, o uso e o abuso, aceita-se a normalidade, do que devia ser excepcional ganhando força à custa da imposição de uma figura de carácter administrativo que tende a transformar-se numa nova forma de governar. Afinal, a normalidade é um conceito estatístico, dependente do número de ocorrências, sobre as quais não emite qualquer valor. (Nuno M. Cabeçadas) (url) EARLY MORNING BLOGS 897 - The dangers to which we are exposed from our Women must now be manifest ... If our highly pointed Triangles of the Soldier class are formidable, it may be readily inferred that far more formidable are our Women. For, if a Soldier is a wedge, a Woman is a needle; being, so to speak, all point, at least at the two extremities. Add to this the power of making herself practically invisible at will, and you will perceive that a Female, in Flatland, is a creature by no means to be trifled with. But here, perhaps, some of my younger Readers may ask how a woman in Flatland can make herself invisible. This ought, I think, to be apparent without any explanation. However, a few words will make it clear to the most unreflecting. Place a needle on the table. Then, with your eye on the level of the table, look at it side-ways, and you see the whole length of it; but look at it end-ways, and you see nothing but a point, it has become practically invisible. Just so is it with one of our Women. When her side is turned towards us, we see her as a straight line; when the end containing her eye or mouth -- for with us these two organs are identical -- is the part that meets our eye, then we see nothing but a highly lustrous point; but when the back is presented to our view, then -- being only sub-lustrous, and, indeed, almost as dim as an inanimate object -- her hinder extremity serves her as a kind of Invisible Cap. The dangers to which we are exposed from our Women must now be manifest to the meanest capacity of Spaceland. If even the angle of a respectable Triangle in the middle class is not without its dangers; if to run against a Working Man involves a gash; if collision with an Officer of the military class necessitates a serious wound; if a mere touch from the vertex of a Private Soldier brings with it danger of death; -- what can it be to run against a woman, except absolute and immediate destruction? And when a Woman is invisible, or visible only as a dim sub-lustrous point, how difficult must it be, even for the most cautious, always to avoid collision! (Edwin A. Abbott, a Square, Flatland: A romance of many dimensions) * Bom dia! (url) 28.10.06
BIBLIOFILIA / GRANDES CAPAS
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LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 28 de Outubro de 2006 Ontem houve vários Momentos-Chavez para o Primeiro-ministro, hoje haverá mais. O TGV já deu para dois Momentos-Chavez e ainda dará para mais. Agora começou-se a desdobrar os actos públicos - um com o ministro, que também quer os seus Momentos-Chavez; outro, igual ao anterior e sobre a mesma matéria, com o Primeiro-ministro. Ontem a RTP deu outro exemplo de como se actua pela imagem: enquanto o Ministro das Finanças fazia o seu discurso punitivo contra as finanças da Madeira, Jardim aparecia em imagens de fundo a passear-se num elefante. O Justo e o Tolo. Duvido que imagens de Soares passeando numa tartaruga ou vestido de marajá passeando num elefante alguma vez passem em fundo de qualquer notícia sobre ele. É verdade que Jardim muitas vezes pede-as, mas não pode ser a televisão pública a dá-las. * Ontem um amigo aqui em Cabo Verde que pouco se interessa por política e muito menos está a par do que se passa com a política lusa, perguntou-me se vai haver eleições em Portugal. Que eu saiba, não, disse eu, porquê? É que o teu primeiro ministro parecer estar em campanha eleitoral. Pois, parece, respondi. Bom, talvez esteja a pensar em eleições mais cedo. (url) EARLY MORNING BLOGS 896 - I call our world Flatland, not because we call it so, but to make its nature clearer to you, my happy readers, who are privileged to live in Space. Imagine a vast sheet of paper on which straight Lines, Triangles, Squares, Pentagons, Hexagons, and other figures, instead of remaining fixed in their places, move freely about, on or in the surface, but without the power of rising above or sinking below it, very much like shadows -- only hard with luminous edges -- and you will then have a pretty correct notion of my country and countrymen. Alas, a few years ago, I should have said "my universe": but now my mind has been opened to higher views of things. In such a country, you will perceive at once that it is impossible that there should be anything of what you call a "solid" kind; but I dare say you will suppose that we could at least distinguish by sight the Triangles, Squares, and other figures, moving about as I have described them. On the contrary, we could see nothing of the kind, not at least so as to distinguish one figure from another. Nothing was visible, nor could be visible, to us, except Straight Lines; and the necessity of this I will speedily demonstrate. Place a penny on the middle of one of your tables in Space; and leaning over it, look down upon it. It will appear a circle. But now, drawing back to the edge of the table, gradually lower your eye (thus bringing yourself more and more into the condition of the inhabitants of Flatland), and you will find the penny becoming more and more oval to your view, and at last when you have placed your eye exactly on the edge of the table (so that you are, as it were, actually a Flatlander) the penny will then have ceased to appear oval at all, and will have become, so far as you can see, a straight line. The same thing would happen if you were to treat in the same way a Triangle, or a Square, or any other figure cut out from pasteboard. As soon as you look at it with your eye on the edge of the table, you will find that it ceases to appear to you as a figure, and that it becomes in appearance a straight line. Take for example an equilateral Triangle -- who represents with us a Tradesman of the respectable class. Figure 1 represents the Tradesman as you would see him while you were bending over him from above; figures 2 and 3 represent the Tradesman, as you would see him if your eye were close to the level, or all but on the level of the table; and if your eye were quite on the level of the table (and that is how we see him in Flatland) you would see nothing but a straight line. (Edwin A. Abbott, a Square, Flatland: A romance of many dimensions) * Bom dia! (url) 27.10.06
BIBLIOFILIA / GRANDES CAPAS
(url) A DEGRADAÇÃO DA PRIVACIDADE E DA INTIMIDADE Tudo começou no Expresso de 14 de Outubro, há apenas dez dias. É verdade que já havia nas revistas do coração e nos tablóides uma exploração do mesmo tema, mas nunca tinha chegado à imprensa que se pretende séria e responsável. Para se perceber como é que a coisa funciona, basta seguir a sequência: no dia 14, o Expresso titula na primeira página "Casal Sócrates pelo sim", referindo-se à presença de José Sócrates enquanto secretário-geral do PS e uma jornalista descrita como sua "namorada" num debate sobre o aborto. O título era completamente abusivo: a presença dos dois na sala e o facto de fazerem intervenções sobre o mesmo tema era mais que justificado pela circunstância de ambos, cada um de per se, como indivíduos, terem revelado interesse pelo tema e pela causa e não por serem um "casal" que era o que o título queria dizer num mecanismo puramente tablóide. Acresce que, quer um, quer outro, independentemente das relações que tenham ou não tenham, são pessoas que mantêm sobre a sua vida privada uma sadia reserva que cada vez menos se observa em pessoas sujeitas a uma exposição pública. O título do "casal" não tinha qualquer relevância jornalística, destinava-se apenas a alimentar o voyeurismo de um público que respeita pouco ou nada da privacidade alheia. Não havia um átomo de interesse público em tal "revelação", ou sequer na sugestão ofensiva para a individualidade de cada um, e aqui obviamente mais ofensiva para a mulher do que para o homem, de que ela vale mais como parceiro de um "casal", do que pelo seu mérito próprio. Os jornalistas do Expresso não podiam deixar de saber o que estavam a fazer. Quem conhece os mecanismos da comunicação e a selvajaria deontológica em que está hoje mergulhada sabe muito bem que, quando um jornal de "referência" faz aquele título, abre as comportas a uma enxurrada que, a partir da intromissão de privacidade inicial, normaliza o delito. O Expresso deu legitimidade a que todos pudessem voltar a atenção do seu voyeurismo, do seu machismo, para o "casal", neste caso em particular para a "namorada". E nos últimos dez dias a enxurrada do lixo tablóide aberta pelo Expresso levou outra vez todas as revistas do coração a pegar no mesmo assunto, agora já livres do gueto inicial onde estavam acantonadas e mais à vontade para irem mais longe, e a imprensa séria a colocar-se ao mesmo nível. Hoje [ontem], no momento em que escrevo, a Focus tem como título da primeira página "Conheça a namorada do 1.º ministro", e a procissão ainda vai no adro. Insisto que não há aqui qualquer elemento de interesse público, nada que justifique que um jornal assim proceda. Não se trata de usar recursos do Estado indevidamente, não se trata de passar segredos a uma potência estrangeira, não se trata de cometer qualquer crime, trata-se de se viver como se pretende, mesmo tratando-se do primeiro-ministro, que sempre foi reservado na sua vida privada, e da "namorada", que não sei se o é ou não nem isso me interessa, que também tem sempre preservado as suas relações da curiosidade pública. Trata-se de duas pessoas que não podem em nenhuma circunstância ser acusadas de se andarem a exibir e, bem pelo contrário, pretenderam sempre defender a sua privacidade com a máxima reserva e a quem esta exposição forçada e gratuita notoriamente incomoda. Isso deveria ser respeitado, mas não é. O facto de ter sido o Expresso a trilhar este caminho revela uma tendência preocupante da comunicação social portuguesa para desrespeitar direitos de privacidade (já quase todos violados repetidamente pelas revistas cor-de-rosa) e da intimidade (violados no mundo do espectáculo e da televisão, muitas vezes com o consentimento dos próprios, que encontraram na exposição da sua privacidade um modo de vida, mas que é só uma questão de tempo até chegar a todos, queiram ou não). A banalização da violação da privacidade e da intimidade vive do conúbio entre o novo mundo das revistas do coração, cada vez mais agressivas, com a generalização das fotografias tiradas na via pública sem autorização por paparazzi e "cidadãos-jornalistas-tablóides", e a progressiva infecção destas práticas pela imprensa séria, daí a importância do título do Expresso. Neste processo participam muitos voluntários do mundo do espectáculo e cada vez mais gente de outros mundos, inclusive da política. Fazem mal, e quase sempre arrependem-se, tendo muitas vezes que fazer o exercício público de arranque da pele da tatuagem em que escreveram, como num cartaz, o nome do amor eterno que durou um mês. A verdade é que ainda há muita gente para quem a defesa da privacidade e da intimidade são elementos essenciais da sua dignidade e da dignidade dos outros, muita gente que se respeita a si próprio para gostar de ter e viver no seu espaço de liberdade. Estou a imaginar o encolher de ombros e o sibilino, "devem ter alguma coisa a esconder...", pretendendo-se criminalizar a defesa da privacidade, atribuindo-a sempre um mundo de culpa clandestino. Mas é isso mesmo, têm alguma coisa a esconder para poderem ter liberdade de viver como querem, para serem senhoras da sua vida. São cada vez mais uma minoria em extinção, face aos maus hábitos das gerações antigas habituadas à coscuvilhice e ao boatério e das mais novas que praticam a "aldeia global" com todos os inconvenientes da "aldeia", onde todos se conhecem. As gerações do telemóvel e da Internet anónima crescem sem qualquer respeito pela privacidade e intimidade, como se vivessem num reality show. São eles que não perceberam que, ao aceitar um telemóvel com GPS ou com vídeo, aceitam ser controlados com eficácia. Não querem saber, cresceram assim, ninguém os educou para a reserva de si próprios. Serão excelentes clientes para os psiquiatras, quando tiverem dinheiro para os pagar. Uma sociedade em que haja um putativo direito de saber tudo e em que ninguém tenha o seu espaço de intimidade e privacidade defendido, mesmo admitindo uma restrição razoável por razões de interesse público, e só por essas, para os detentores de cargos electivos, é uma sociedade totalitária. Nos últimos dias deram-se mais alguns passos para que, na cultura comunicacional dominante em Portugal, a dignidade do indivíduo fique mais frágil, assim como a liberdade de todos. (No Público de 26 de Outubro de 2006) * Estamos cada vez mais pobres. Mais embrutecidos pela imprensa cor de rosa/marginal que alimenta sonhos de dona de casa frustrada e dependente de "factos" que não a obriguem a olhar o seu "EU". O Expresso foi o meu refugio de fim de semana. Ainda me recordo da frase "não hé sábado sem sol ou Expresso". Mas modificou-se, adulterou-se, vendeu-se ao facilitismo. Será que tem saudades do Independente e quer seguir as suas pisadas? O Sol também foi uma decepção. O que nos resta para ler? ONde vamos poder ler NOTICIAS de interesse. Alguém que nos acuda. Casal Sócrates? Acha respeito pelo outro se quer ser respeitado. Expresso:Amén. (url) (url)
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 27 de Outubro de 2006 Ontem, o Momento-Chavez do Primeiro-ministro foi junto dos militantes do PS no Algarve, no dia anterior no Forum das PME. Qual será o de hoje? Sempre o mesmo esquema: palco controlado, plateia atenta, veneradora e obrigada, discurso firme e vigoroso, sempre adversarial. Sócrates tem sempre inimigos: os governos anteriores, o PSD, Marques Mendes (ele leva Marques Mendes mais a sério do que os jornalistas e o PSD), as corporações, "eles". Câmaras de televisão de frente, primeiro plano para Sócrates, frases fortes escolhidas a dedo e preparadas para a televisão, não para os interlocutores de circunstância que são parte da decoração. Sem perguntas, sem contraditório, sem nada que perturbe o cenário montado. Quantas vezes já vimos isto nos últimos meses? Muitas. Os anteriores bons manipuladores da televisão parecem meninos de coro (Cavaco fazia o mesmo, mas com muito menor eficácia e nem Lopes, nem Barroso, nem Guterres se comparam). Havia também outras hostilidades da "classe", contra Cavaco, contra Lopes, contra Guterres na fase moribunda, que parecem ter-se desvanecido. A diferença é que Cavaco, Guterres, Barroso e Lopes, ainda estavam na infância da arte. Entretanto, os órgãos de comunicação social já deviam ter evoluído na sua percepção de como se faz propaganda moderna. Mas não, passam acriticamente a encenação. Sejamos justos: uns mais que os outros. (url) EARLY MORNING BLOGS 895 - Fête galante Les hauts talons luttaient avec les longues jupes,
En sorte que, selon le terrain et le vent, Parfois luisaient des bas de jambes, trop souvent Interceptés! - et nous aimions ce jeu de dupes. Parfois aussi le dard d'un insecte jaloux Inquiétait le col des belles sous les branches, Et c'étaient des éclairs soudains de nuques blanches, Et ce régal comblait nos jeunes yeux de fous. Le soir tombait, un soir équivoque d'automne: Les belles, se pendant rêveuses à nos bras, Dirent alors des mots si spécieux, tout bas, Que notre raison, depuis ce temps, tremble et s'étonne. (Paul Verlaine) * Bom dia! (url) 26.10.06
RETRATOS DO TRABALHO EM BARCELONA, ESPANHA Trabalhos de remodelação na Fundação Joan Miró, em Barcelona. (António Filipe Meira) Etiquetas: trabalho - retratos (url) (url) NUNCA É TARDE PARA APRENDER COMO O PCP NÃO CONSEGUE FAZER A SUA PRÓPRIA HISTÓRIA (Versão completa em ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.) Para comemorar o 70º aniversário da criação do campo do Tarrafal, a editorial do PCP, as Edições Avante!, publicou um Dossier Tarrafal. Nesse volume, sem autoria a não ser a da Editora, o que quer dizer de autoria da direcção do PCP, são incluídos documentos conhecidos como também outros inéditos. Como a publicação de documentos inéditos oriundos dos arquivos do PCP não abunda, foi com muito interesse que li este volume. Infelizmente confirmei na sua leitura que o PCP não consegue ultrapassar a sua enorme dificuldade em contrariar as versões oficiais da sua história, destinadas à sua legitimação política, e qualquer política de publicação de documentos inéditos acaba por ser muito restritiva para não entrar em contradições com essas mesmas versões oficiais. É o caso deste volume, aliás feito sem grandes cuidados de rigor, sem notas e omitindo muita informação de enquadramento que podia valorizar o que de inédito lá se publica. Grande parte do volume é constituído por documentos já conhecidos ou publicamente acessíveis – artigos do Avante! e testemunhos de antigos presos do Tarrafal – a que são acrescentados dois grupos de inéditos: “diários” do Tarrafal, escritos por presos não identificados, e peças da correspondência entre a Direcção da Organização Comunista do Tarrafal e a direcção do PCP, representada por Álvaro Cunhal. Sabia-se da existência destes documentos nos arquivos do PCP, como aliás de outros que continuam a ser escondidos, mas o partido não permitia o seu acesso à investigação histórica. Como é habitual nas publicações do PCP é a perspectiva repressiva-heróica que domina o volume, o que se compreende no seu papel de denúncia, mas acrescenta muito pouco à história do Tarrafal, e ainda menos à história dos comunistas no Tarrafal, apenas uma parte dos seus presos. Do ponto de vista do detalhe sobre as condições prisionais, sobre as violências cometidas pelos carcereiros, sobre a devastação causada pela doença e pelos maus tratos, os “diários” oferecem mais detalhes que permitem conhecer melhor o aspecto de extrema punição, quase exterminista, que o campo de concentração tinha. Basta ver como a doença matava em três a cinco dias: “6- apareceu uma biliosa ao Damásio Martins Pereira; 11 – faleceu o Damásio”; “Deu um ataque ao Vale Domingues que faleceu uns minutos depois”, etc., etc. Este aspecto, como o seu reverso, a luta dos prisioneiros para conseguir concessões da direcção do campo, fica a conhecer-se melhor com a publicação destas fontes primárias. Mas tudo o resto fica na mesma, em particular tudo o que tenha a ver com a política, quer entre os comunistas e os outros grupos de presos, em particular, os anarquistas, quer entre os diferentes grupos em que os comunistas se dividiram bem como sobre a sua complexa relação com o PCP na metrópole. Aí os documentos inéditos escolhidos foram seleccionados a dedo para não se saber mais, e a habitual política de ocultação e falsificação da história do PCP continua de vento em popa. O que falta é abissal. No período da existência do Tarrafal toda uma série de polémicas e discussões, divisões, anátemas e expulsões, atravessou quer a OPC quer o PCP continental, e sobre isso nada de novo é acrescentado, embora os documentos fundamentais e politicamente relevantes estejam nos arquivos do PCP. É verdade que o editor informa que apenas “algumas”, uma “selecção” de cartas da correspondência entre a OPC e o Secretariado são publicadas. Mas que sentido tem continuar a pretender manter em segredo aquilo de que já se sabe, pelo menos em linhas grossas? Nem uma linha sobre as polémicas entre anarquistas e comunistas sobre a atitude a manter face às autoridades no Tarrafal, nem uma linha sobre os debates à volta do Pacto Germano-Soviético e as propostas que Bento Gonçalves fez ao sabor das reviravoltas da política da URSS, nem uma linha sobre que papel teve a OPC no desencadear da “reorganização”, nem uma linha – e aqui a omissão é gritante – sobre a chamada “política de transição”, cuja crítica por Cunhal fundou ideologicamente o PCP até aos nossos dias. Estas omissões grosseiras diminuem significativamente o interesse deste volume e mostram que o PCP continua incorrigível a tentar tapar com o seu dedo o conhecimento da sua história, da nossa história contemporânea. (url) RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL Pormenores são os 2 euros a dúzia por que alguns transeuntes fazem caretas e os novos cartuchos em substituição dos velhinhos cones de páginas amarelas ou quartos de folha de jornal, afinal formas de reutilização do papel... (António Marrachinho Soares) Etiquetas: trabalho - retratos (url) COISAS DA SÁBADO: MANIFESTAÇÕES Está na moda desvalorizar os sindicatos e as manifestações. É um pouco bizarro, bem vistas as coisas, que num país onde há tão pouca participação cívica, se dê mais importância ao enclausuramento de quarenta “artistas” temerosos pelos seus subsídios, do que a setenta mil pessoas na rua. Também, bem vistas as coisas, pode-se sempre dizer que “é o Partido Comunista” e, em grande parte, é. Só que, também, bem vistas as coisas, era suposto que o PCP já não fosse capaz de juntar tanta gente. Nem o PCP nem as “corporações”, o modo como agora erradamente se descrevem os sindicatos. Tudo isto é cegueira, e cada qual toma a que quer. É verdade que a resistência que se encontra nas ruas é resistência á mudança, mas para muitos é a “sua” resistência à mudança e não apenas a do PCP ou da CGTP. Não estariam lá tantas pessoas se não fosse assim. Quanto às corporações é verdade que o seu poder é grande em muitas áreas do estado. Na saúde, na educação, nas profissões liberais como os médicos, advogados e farmacêuticos. Enquanto o Sindicato dos Professores mandar no Ministério da Educação por dentro estamos perante uma “corporação” que deve ser de lá tirada. Mas, cá fora, o Sindicato dos Professores ou qualquer outro, como sindicato e não como detentor de poderes “corporativos”, é um elemento fundamental da saúde de uma sociedade democrática. Convém não atirar fora o menino com a água do banho. (Na Sábado de 18 de Outubro.) * Ainda bem que esta’ na moda desvalorizar sindicatos. Quer dizer que o povo portugues esta’ finalmente a acordar para a realidade de um mundo global, de uma economia global e para o facto de que os patroes que tratavam os empregados ao pontape’ sao uma coisa do passado. A sociedade em que vivemos evoluiu moralmente desde o virar do seculo, quando os sindicatos foram pela primeira vez criados. Nessa altura sim, as condicoes de trabalho eram horriveis e os trabalhadores necessitavam de defesa. Hoje em dia, isso ja’ nao existe. (url) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A ESCOLA QUE TEMOS Estive a trabalhar até agora na correcção das provas escritas dos meus alunos e terei de continuar até um pouco mais tarde para alinhavar algumas aulas da próxima semana. Fiz portanto um intervalo.O meu horário apesar de conter apenas 26 horas marcadas não me permite fazer um uso útil das que não estão e supostamente serviriam para este trabalho. São verdadeiros buracos no horário que me obrigam a permanecer na escola sem condições para fazer o que devo fazer e que não são contabilizadas para trabalho de escola. Tenho também 90minutos para apoio aos meus alunos, os que apresentem mais dificuldades. Pena é que entre o pedido de autorização aos pais e a efectivação do apoio teremos chegado ao final do primeiro periodo. No segundo período e partindo do principio que os pais autorizam os seus educandos a terem mais umas quantas horas no já denso horário dos seus filhos irão para uma sala onde estão cerca de 10 professores com as mesmas atribuições. Cerca de 20% (tenho sorte) dos meus alunos irão necessitar mais tarde ou mais cedo de apoio que será prestado nesta sala. Não é preciso ser matemático para perceber que nesta sala não podem estar tantos professores e alunos até porque não há condições para realizar o trabalho nem acomodar tanta gente. No caso de um professor não prescrever as medidas necessárias à correcção dos desvios às aprendizagens previstas estará em falta. Não se justifica a retenção destes alunos pois devem ter apoio caso necessitem devendo o professor avaliar atempadamente e pôr em prática as medidas necessárias- é um direito dos alunos que não questiono. Tudo isto está certo. Desta forma 75% dos meus alunos transitam por mérito próprio e os restante 25% também. Pois terão aulas de apoio de modo a adquirirem as "competências" necessárias a transitarem. Tudo fruto da competência do responsável, o docente, que de outra forma não é tido como competente. Neste dia a dia nas escolas percebo uma coisa muito simples: a necessidade de resultados. Bons resultados permitem subir uns lugares no ranking dos países mais competitivos. Talvez por isso hoje estejam a ser criadas secretarias que passam diplomas de 12º ano. Um ano em que muito estudei e aprendi e onde quem não estudava não passava. Essa autonomia e capacidade de desenrascanço perante um sistema menos atento então permitia crescer e desenvolver a capacidade de resposta perante as dificuldades que encontrávamos como alunos. Também tive maus professores e isso nunca foi desculpa para pôr os livros de lado, pelo contrário. Quem não trabalhava "chumbava". Hoje com a proletarização dos licenciados urge não reter pessoas que apesar de não saberem ler ao fim de 9 anos de escolaridade têm de saber que a matéria é discreta e que as fases de Vénus evidenciam um sistema dito heliocentrico. Não é uma situação economicamente viável- o que também acredito. Hoje sou a par dos educadores dos jardins Infantis, que muito respeito, medido a resultados. O triste disto é que estudei a matemática de Newton e introduzo aos meus alunos conceitos como a fusão e fissão nuclear, a formação do Universo como as provas encontradas tornam este modelo aceitável, o que a é ciência, falo das teorias de Einstein e como estão presentes no GPS e porquê, de conceitos que embora simplificados exigem uma actualização permanente cada vez mais difícil de fazer. Não vale a pena falar e trazer para aqui outras competências minhas nas áreas das didácticas específicas da Química ou da Física onde aprendemos a dar a volta às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Também as "novas" tecnologias com a utilização dos computadores em sala de aula e a exploração de modelos matemáticos, sensores diversos são correntes nas aulas. Além disso transporto o livro de ponto de sala em sala, lavo material de laboratório quando a funcionária não está (felizmente temos na nossa escola funcionária com essas funções), faço as matriculas dos alunos, tuturia, avaliação e organização da formação na escola etc. No entanto a bitola é a mesma para todos e serve um único objectivo: resultados. Aos olhos da sociedade não sou diferente do educador infantil. É esta a escola que temos. Não é nova, não está em remodelação nem será melhor, mas teremos a curto prazo melhores resultados. Subiremos um ou dois lugares no ranking da competividade. E isso é importante atrai investimento, com ele emprego que embora precário e transitório dá de comer. (...) (Carlos Brás) (url) OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: PARABÉNS AO ESPÍRITO
que fez mil sols. (url) COISAS DA SÁBADO: REFORMAS OU DINHEIRO PARA DIMINUIR O DÉFICE? Como todas as avaliações finais são supostas serem feitas no momento do exame, quando de novas eleições, pode-se sempre estar a julgar erradamente quando se avalia a meio. No entanto, penso não me enganar repetindo aquele que me parece ser o mais clamoroso erro do governo, mas também de quem lhe bate palmas a mais ou o exorciza totalmente. Está o governo a fazer reformas de fundo ou apenas a traduzir medidas pontuais que “tem” que tomar para controlar o défice numa retórica de reformas? Esta parece-me ser a questão central para avaliar o governo Sócrates. O pano de fundo da questão tem a ver com as condições excepcionais de governabilidade que este governo tem: maioria absoluta, partido socialista domado pelo poder, oposição muito enfraquecida, consenso alargado na opinião pública muito para além das fronteiras partidárias. Ter tudo isto em Portugal é um milagre, pelo que se espera que o miraculado mostre excepcionais virtudes. Depois, para além do pano de fundo, há que julgar a linguagem e as medidas concretas, a retórica política e a capacidade de realização, e fazer um balanço. A retórica política do governo é reformista-autoritária, associada a progressivista-tecnológica. Usando estes pares de conceitos consegue-se perceber quase tudo do governo Sócrates. Deixo aqui o lado progressivista-tecnológico e fico pelo primeiro par, o reformista-autoritário e a retórica respectiva. Aqui, analisando medida sobre medida, é óbvio que o que se pretende a muito curto prazo é controlar o défice, cortar onde for preciso e arranjar mais dinheiro. É isto que tem sido considerado reformista na acção do primeiro-ministro e merecido um apoio mais vasto do que o do PS ao governo. Ora, é aqui também que me parece dever-se ser muito prudente, porque se há de facto medidas com o objectivo de cortar dinheiro, associada a medidas ainda mais duras, para arranjar mais dinheiro, não parece que se vá para além da emergência pontual, numa via que não devia ser chamada de reformas porque o não é. Fica aliás a suspeita consolidada de que, se não fosse o aperto financeiro da União Europeia, o governo socialista procederia de forma bem diferente. Basta ver as medidas que podiam ser tomadas e não o foram nem são, como as ligadas a uma reforma mais estrutural e menos conjuntural na segurança social, ou a intocabilidade de alguns monstros como as SCUTs, para se perceber que não há um plano reformista de conjunto, mas sim medidas pontuais cuja eficácia está por demonstrar para além do muito curto prazo. É por isso que a retórica governamental encalha quando defronta adversários que tem poder para resistir, como acontece com os autarcas. O governo bem pode valorizar os méritos estruturantes da nova legislação sobre as finanças locais, que os autarcas não têm dificuldade em desmontar aquilo que são estratégias para poupar e que seriam mais facilmente aceites se não fossem envolvidas numa retórica reformista-autoritária. O problema é idêntico na saúde e na educação, pelo menos em parte. Se a retórica fosse de emergência nacional, dizendo com clareza que as medidas se destinam a resolver um problema urgente de adequar as nossas despesas à imposição do défice, as pessoas aceitariam mais facilmente porque as faziam participar num sacrifício colectivo. Aí haveria apenas que mostrar que a crise é para todos, para o que também há um retórica própria que o governo conhece bem porque a ensaiou. Assim, as pessoas são confrontadas com falsas reformas apresentadas como sendo contra “eles”, como sendo virtuosas e salvíficas, quando todos percebem muito bem que se destinam a apenas a obter mais poupanças ou mais dinheiro à custa não só do seu pecúlio como da sua imagem profissional e pessoal. E isso valeria a pena se se tratasse efectivamente de domar fortes corporações, para fazer uma nova configuração da relação entre o estado e os cidadãos, o que manifestamente não é o caso, porque quase tudo vai ficar na mesma, embora mais pobre e mais zangado. Mas foi este o caminho que Sócrates seguiu desde o início e que começa agora a mostrar os seus efeitos perversos. (Na Sábado de 18 de Outubro.) (url) EARLY MORNING BLOGS 894 - The Weather in Verse The undersigned desires, in a modest sort of way, To make the observation, which properly he may, To wit: That writing verses on the several solar seasons Is most uncertain business, and for these conclusive reasons : In the middle of the Autumn the subscriber did compose A sonnet on November, showing how the spirit grows Unhappy and despondent at the season of the year When the skies are dull and leaden, and the days are chill and drear. Perhaps you may recall to mind that, when November came, No leaden skies nor chilly days accompanied the same ; But the weather was as balmy as in Florida you'd find, And that sonnet on November was respectfully declined ! (...) And for these conclusive reasons it is obviously plain That verses on the weather are precarious and vain ; And the undersigned would only add, so far as he can see, The trouble's not the metre, but the meteorology ! (Marc Cook) * Bom dia! (url) 25.10.06
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O Ministério das Finanças apurou um «buraco» de 365 milhões de euros nas contas da empresa Estradas de Portugal EP, que faria aumentar o deficite do OGE de 4,6 % para 4,8 % . Teixeira dos Santos. Ministro das Finanças solicitou então ao Ministro das Obras Públicas Mário Lino para adiar para 2007 o lançamento de vários concursos para construção de novas vias e parar obras actualmente em curso. No entanto o orçamento de 535 milhões de euros da Estradas de Portugal previsto para 2007 é claramente insuficiente para cobrir a totalidade das rendas das SCUT orçadas em cerca de 705 milhões de euros, mesmo contando com as receitas geradas pelas portagens anunciadas para as três SCUTs do norte do país. «When the going gets tough, the tough gets going!» Neste contexto a Estradas de Portugal necessitaria de um orçamento de cerca de 1,2 bilhões de euros para pagar as rendas das SCUTs e lançar as obras anunciadas e diferidas para 2007. Na actual balbúrdia governativa que passou por ministros a anunciarem infantilmente o fim da crise «por decreto», a responsabilizarem os cidadãos pelos anunciados aumentos da electricidade, a anunciarem o lançamento de taxas moderadoras nos internamentos hospitalares e o aumento das prestações sociais de pensionistas e deficientes, a CICI - Central de Inspecção e Controlo lançada por Sócrates para filtrar e seleccionar as declarações institucionais dos respectivos ministros não foiu de todo eficiente na sua operação propagandística. De todo... Contra tudo o que foi prometido e garantido por Sócrates em campanha eleitoral aí estão as primeiras SCUTs com o anuncio de introdução de portagens reais, sem uma declaração explicando aos cidadãos o porquê da inversão da política governativa, nem desculpando a quebra de promessas e garantias. José Sócrates «deu às de vila Diogo», pura e simplesmente volatilizou-se deixando os seus ministros com o ónus das justificações e explicações. Este será talvez, tudo o leva a crer, o princípio do fim das SCUTs e o inicio, pé ante pé - como convém para minimizar os estragos - da introdução do princípio do conceito utilizador-pagador, reconhecendo que 705 milhões euros anuais em portagens são orçamentalmente insustentáveis sem o agravamento correspondente de impostos. A demagocia e hipocrisia de Sócrates está bem à vista.: «when the going gets tough, the tough gets going!». Nem mais...aplica-se que nem uma luva ! (António Ruivo) (url) RETRATOS DO TRABALHO EM BEIJING, CHINA Trabalho marcial em Pequim, Outubro de 2006 (Luis Azevedo Rodrigues) Etiquetas: trabalho - retratos (url) 24.10.06
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 24 de Outubro de 2006 Tinha acabado de escrever uma nota para a Sábado sobre a falência crítica de muita comunicação social face à manipulação oriunda do governo e do Primeiro-Ministro, de maior gravidade nos órgãos públicos como a RTP, quando vejo os noticiários das 13 horas da RTP e da SIC. Há sempre quem, quando se critica o governo, peça muitas provas que noutras circunstâncias acha desnecessárias. Aqui vai mais uma: o tratamento da intervenção do Primeiro-Ministro no Fórum das PME pela RTP e pela SIC. Na RTP, engole-se sem pestanejar o modo como o governo todos os dias (como Chavez, Sócrates actua todos os dias na sua televisão) arranja uns minutos de propaganda - Sócrates a anunciar medidas, solitário face a uma plateia atenta, veneradora e obrigada. O papel do jornalista nesta peça, em que é tão evidente que o discurso que passa é só propaganda (este caso é tão explícito que não oferece dúvidas), é repetir em seguida o que aquele disse. O Primeiro-Ministro lá está ao fundo, a cumprimentar uns notáveis, enquanto a propaganda ganha uma nova dimensão ao ser repetida pela voz do jornalista. Nem uma pergunta, nem uma curiosidade, nem nada. O homem entrou vestido de redoma e vai-se embora de redoma vestido, que a RTP acha bem. Na SIC, o jornalista bem tenta perguntar ao Primeiro-Ministro sobre a greve anunciada da função pública e sobre as notícias do incumprimento da lei das finanças partidárias (a ele que é o secretário-geral do PS), e ele foge protegido por uma pequena multidão em silêncio, virando as costas. Diferenças. * Concordando inteiramente com o teor do que escreve sobre o (não)desempenho profissional dos jornalistas da RTP face ao Governo e à sua máquina de propaganda, e particularmente perante a “vaca-sagrada” que é hoje o Primeiro-Ministro para muitos meios de comunicação social, permita-me que lhe faça notar que a comparação com o Sr. Chávez da Venezuela é excessiva. Todos os Domingos, durante 6 a 8 horas, o homem tem direito a um programa televisivo na maior cadeia de TV daquele país (“Hola Presidente”, ou algo parecido), onde em directo o homem perora sobre o mundo, os inimigos, os traidores, a economia (maravilhosa), os EUA (imperialistas) a vida do pai, a história da mãe, a qualidade da colheita de laranjas deste ano e, de passagem, sobre a sua extraordinária personalidade de estadista. Penso que ainda não chegámos a esse ponto. Julgo, aliás, que não chegaremos. Temos em Portugal, felizmente, mecanismos formais - e sobretudo informais, como a opinião escrita, os blogues, etc. - que vão estabelecendo limites, precários é certo, mas social e culturalmente enraizados, que nos afastaram definitivamente dessa espécie de “Conversa em Família” populista, um anacronismo até no contexto latino-americano, que é o estilo e a essência (fundem-se, na verdade) do oligarca venezuelano. (url) PARA UM DEBATE SOBRE A "RIVOLUÇÃO" 1. O ESTADO COMO ÁRBITRO DO GOSTO E DA QUALIDADE CULTURAL Acta de reunião da Comissão de Apreciação do Concurso para Apoio a Projectos Pontuais no âmbito das Actividades Teatrais de Carácter Profissional, de 11 de Abril de 2006: "Entendeu ainda a comissão recomendar uma revisão da ponderação dos diversos critérios que são tidos em conta na classificação dos projectos. Com efeito, o regulamento actualmente me vigor contempla sete critérios dos quais três, apenas, com a classificação de 0 a 10, incidem sobre a qualidade e sustentabilidade artística dos projectos, correspondendo-lhe assim um total de trinta pontos (de cada membro) em 55 pontos atribuíveis. Os restantes quatro critérios incidem sobre aspectos que se prendem sobretudo com a vertente da produção executiva (públicos e comunicação) e com a vertente administrativa e financeira (orçamento, parcerias e apoios), sendo pontuados com um máximo de 25 pontos nos 55 pontos atribuíveis. Sem descurar a vertente da produção e da administração, entende a comissão que os aspectos artísticos deveriam contar com um peso de cerca de dois terços, ou seja, não 30, mas 40 pontos, reduzindo os outros quatro critérios para 20 pontos, ou seja, cerca de um terço. Caso contrário, o concurso traduz-se mais num concurso a projectos com boa produção e administração do que a projectos com elevada qualidade artística."(Sublinhados meus.) 2. QUANDO OS "PÚBLICOS" NÃO SÃO TIDOS EM CONTA Retomando o tema da programação cultural do País, e especialmente do Porto, e do 'completo "divórcio" entre a cultura subsidiada e o público', interessará talvez analisar alguns números sobre os espectáculos musicais previstos para o mês de Outubro, nesta cidade. Somando os espectáculos musicais do Coliseu do Porto, Casa da Música (apenas Sala Suggia, a principal), Rivoli Teatro Municipal e Teatro do Campo Alegre, temos que nenhum dos grupos actuantes está no top semanal da Associação Fonográfica Portuguesa, apenas 3 deles podem ser considerados "mainstream" (por muito discutível que seja a definição, são apenas estes os grupos conhecidos pela generalidade do público) e o conjunto Música Clássica + Música Barroca representa 48% do total da programação, sendo ainda que estão previstos mais espectáculos de música popular brasileira do que de pop/rock português. O problema não está em haver um número elevado de espectáculos de música clássica, e uma oferta suficiente de jazz e música barroca, até porque a sua qualidade é inquestionável, com protagonistas como a Orquestra Nacional do Porto. O problema está no desequilíbrio entre a programação tendencialmente mais elitista e aquela que é mais comercial, mais "mainstream", desequilíbrio este muito provavelmente explicado pelo rótulo de "cultura menor" que é colado a tudo aquilo quanto vende um número significativo de CDs. Não havendo na cidade do Porto salas de espectáculo de dimensão significativa para além das enumeradas, não seria de esperar que, pelo menos essas, servissem também para criar utilidade para uma porção significativa do público portuense, em lugar de o fazerem apenas para minorias? Não será isto, a ausência de uma programação atractiva para as massas, uma razão maior para o progressivo esvaziamento do centro da cidade, que agora tanto se discute? (Artur Vieira)
Acredito que este seja apenas mais uma reacção aos acontecimentos que se deram no Porto. Mas penso que nunca são amais. (url) PARA SE COMPREENDER O PORTUGAL DE SALAZAR E O PORTUGAL QUE FEZ SALAZAR 10 Do boletim confidencial dactilografado da Direcção Geral dos Serviços de Censura à Imprensa - Boletim Diário de Registo e Justificação dos Cortes, secção "Questões de ordem moral", de 15 de Julho de 1935: e foram 48 anos disto. (url) EARLY MORNING BLOGS 893 - A Connotation Of Infinity a connotation of infinity sharpens the temporal splendor of this night when souls which have forgot frivolity in lowliness,noting the fatal flight of worlds whereto this earth’s a hurled dream down eager avenues of lifelessness consider for how much themselves shall gleam, in the poised radiance of perpetualness. When what’s in velvet beyond doomed thought is like a woman amorous to be known; and man,whose here is alway worse than naught, feels the tremendous yonder for his own— on such a night the sea through her blind miles of crumbling silence seriously smiles (E. E. Cummings) * Bom dia! (url) 23.10.06
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 23 de Outubro de 2006 Será que alguém explica aos redactores do telejornal das 13 horas da RTP que na Hungria não há só o governo (o do mentiroso socialista) e a "extrema-direita" e que a maioria dos manifestantes, lá porque atacam um governo socialista, não são "extrema-direita"? “Alguém explica” ao inefável repórter da RTPN António Esteves Martins e seus colegas que uma manifestação pacífica não se faz com encapuçados a arremessar pedras contra as forças policiais? “Alguém explica” ao AEM & colegas que num Estado de Direito é necessário o uso da força e a intervenção policial para manter a ordem e o respeito pela lei quando ela é desrespeitada? “Alguém explica” aos ditos senhores jornalistas que a lei é desrespeitada quando, sob o pretexto da manifestação, se aproveita para lançar o caos e a desordem? Finalmente “alguém explica” aos senhores jornalistas que mesmo admitindo ter existido desproporção nos meios usados aquilo não tem nada a ver com a intervenção dos tanques soviéticos na Revolução Húngara? É que foi com essa mensagem que a notícia começou e essa foi a ideia pisada e repisada durante toda a reportagem. Eu sei que este tipo de comparação cai muito bem e dá uma certa emoção à estória. Em alguns casos revela muita ignorância, noutros má fé e desonestidade intelectual. Nesta linha já vi insuspeitos a comparar o 11 de Setembro com Hirochima ou os refugiados de Melilla com os “balseros” de Cuba… * Será que alguém explica ao editorialista do Diário de Notícias que afirmou isto A introdução de portagens nas Scut anunciada ontem pelo Governo é uma medida sensata, na medida em que corresponde à aplicação do modelo utilizador-pagador, ainda para mais num tempo de evidente escassez de recursos públicos. Regista-se, ainda, a intenção de o Governo se propor fazer cumprir o programa eleitoral com que o PS se apresentou às últimas eleições, no qual prometia manter as auto-estradas sem portagens apenas nas regiões com menores índices de desenvolvimento socioeconómico e naquelas em que não existem alternativas no sistema rodoviário. . (Sublinhados meus)aquilo que um leitor do Abrupto explica com clareza: O Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações divulgou os seus argumentos para a colocar portagens em algumas vias nacionais. (url) NUNCA É TARDE PARA APRENDER: MAMBO JAMBO, POESIA, FEMINISMO, TROCAS E MEINKAMPF LOOK Camille Paglia é um típico produto da Universidade americana. A Universidade americana não dá só MITs dá também alguns dos melhores departamentos literários do mundo, sendo os outros igualmente anglo-saxónicos. Mesmo quando há muito mambo-jambo francês nas universidades americanas, e o estruturalismo mais Derrida, Foucault, Lacan e Deleuze invadiram a academia literária, não parecem tão franceses if you know what I mean… Paglia tinha tudo para ser desta escola, a que somava as inconveniências da persona pública, mas o fundo, como era sólido, vem ao de cima. A mulher-harpia está lá, com a mistura de generalizações provocadoras e cénicas que dão público, mas também está a melhor escola, uma atenção à leitura do texto, um entusiasmo culto pela palavra e o seu arranque do meio das outras palavras para dar origem a um poema. Em Break, Blow, Burn, a aluna de Bloom defronta-se com o cânone, com a necessidade do cânone: At this time of foreboding about the future of Western culture, it is crucial to identify and preserve our finest artifacts. Canons are always in flux, but canon formation is a critic’s obligation. What lasts, and why? Custodianship, not deconstruction, should be the mission and goal of the humanities.Cá está a frase-chave: “Custodianship, not deconstruction, should be the mission and goal of the humanities.” Longe dos franceses, perto da “literary education” de tradição anglo-saxónica. Simplifico, como é óbvio. Não é que Paglia não mergulhe fundo nas fontes do mambo-jambo, em particular numa leitura psicanalítica agressiva tão ao gosto discursivo da crítica francesa, mas fá-lo respeitando mais o valor das palavras originais do que perdendo-se no próprio discurso da crítica. Fiel ao texto, perto do texto, presa pelo texto, não pela análise do texto. Break, Blow, Burn, título pagliano, é uma análise de 43 dos “melhores poemas do mundo”. Paglia explica as razões pelas quais só escolheu poemas escritos em inglês, e as razões são aceitáveis para evitar que o seu texto, rasando os poemas por perto, se enredasse nos problemas da tradução. É verdade que alguns dos 43 poemas estão longe de ser os “melhores poemas do mundo”, mas isso é pouco importante porque servem a consistência da leitura idiossincrática de Paglia. Dois exemplos em que Paglia brilha com a sua luz própria, ao mesmo tempo Paglia, a feminista e Paglia, a crítica: os comentários ao poema de William Carlos Williams This is Just to Say (que já apareceu num Early Morning Blogs) e Daddy de Sylvia Plath (que nunca apareceria num Early Morning Blogs, porque não se alimenta o inimigo, a filha do "daddy"). O poema de William Carlos Williams parece incomentável, na sua absoluta simplicidade, mas Paglia mostra a complexidade, o mundo denso de relações entre os sexos, o espaço doméstico, a proposta do poema, a sua chantagem afectiva, a sua troca invisível de favores e serviços: “hence the “delicious” fruitness of the final images has the tactile lushness of a kiss”. Em Daddy, que Paglia considera um dos poemas fundamentais do século XX, e é capaz de ter razão (não sei bem julgar porque quando reli o poema neste livro ele soou-me mais “fundamental” que antes, mas tinha 160 páginas de Paglia por trás…), poema, autora e leitora encaixam tão perfeitamente que estas páginas são as que mais transportam um pathos comum. A raiva pura que emana do poema, as suas injunções insultuosas I made a model of you,ou Every woman adores a Fascist,até ao final Daddy, daddy, you bastard, I’m through.servem às mil maravilhas para Paglia mostrar o melhor e o pior da sua análise, a densidade do significado (este “bastard” ainda tão pouco vulgar na boca de uma mulher no ano em que foi escrito) , o mergulhar do poema em todas as histórias fundadoras da psicanálise, como num catálogo freudiano dos complexos, e até o mau gosto kitsch da comparação final “I nominate Sylvia Plath as the first female rocker”. Se há qualquer coisa semelhante a um cordão umbilical paterno, o poema corta-o, mas como Paglia nota, quem o corta diante da rapariguinha que ama/odeia o pai, infantilizado no “Daddy” é o próprio pai, o agressor em acto, aquele para quem a força está do lado do Homem e para quem todas as mulheres serão sempre o objecto da violência sexual: “Daddy, daddy, you bastard, I’m through”. Estava. Meteu a cabeça num fogão, na cozinha, lugar da mulheres, como nota Paglia. Parece um quadro de Paula Rego, é o mesmo mundo. Está lido. * Faço assim a minha estreia neste espaço a propósito do seu tópico sobre o último livro de Camille Paglia, dado que a minha experiência recente nos departamentos literários americanos não podia ter sido mais dissonante daquilo que escreve sobre a sua "excelência". Fui durante o ano de 2005 uma visiting scholar junto do Departamento de Literatura Comparada na Universidade de Yale e não posso deixar de manifestar o meu profundo desagrado pelo que lá assisti. (url)
© José Pacheco Pereira
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