ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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20.12.03
MELHORIAS
já realizadas: actualização dos arquivos, alinhamento do texto e imagens com o título na página visível. (url)
COISA RIDÍCULA
e perigosa, a cena dos jornalistas da televisão e operadores de câmara, a perseguir, a alta velocidade, a carrinha onde seguia o embaixador Ritto para a prisão. Não há qualquer conteúdo informativo na cena, que claramente viola todas as leis de trânsito e põe desnecessariamente em perigo os profissionais da televisão e quem estiver na rua. Vale tudo. (url)
BOAS FESTAS, BONS DESEJOS, FELICIDADE
a todos. "Não descobrimos o absurdo sem nos sentirmos tentados a escrever um manual qualquer da felicidade. "O quê, por caminhos tão estreitos?..." Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. "Acho que tudo está bem", diz Édipo, e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo está, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe. O seu rochedo é a sua coisa." (Camus) (url)
TRABALHOS DE MANUTENÇÃO
Alguns trabalhos de manutenção, melhoria gráfica, colocação de arquivos em linha, actualização do correio, estão a ser feitos para desenvolver o Abrupto. Daqui a pouco, ainda hoje, voltamos. (url) 19.12.03
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SERÁ DE CAMÕES? – O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES (Actualizado)
"Só agora é que vi a correspondência da nossa amiga Amélia Pinto Pais e o soneto que V. publicou. Ela tem razão, a meu ver: o soneto não tem aquele quid camoniano, a provocar a "guinada" que refiro no meu texto que ela cita. É com certeza mais tardio, mais acabadinho e mais preocupado com uma saturação mais ou menos engenhosa e forçada de repetições anafóricas, oposições e simetrias com que o Camões nunca se teria importado tão sistematicamente... E sobretudo não tem tensão de nenhuma espécie entre as suas várias partes. Joga com os conceitos, mas não os faz viver expressivamente, nem tem aquele toque de experiência vivida que teria se fosse do grande Luís... Provavelmente, como diz a A.P.P., é do Baltasar Estaço. " (Vasco Graça Moura) “Colocou, creio que ontem-pelo menos eu dei-me conta ontem - no seu blogue um soneto que indicou ser de Camões. Gostei do soneto, mas não me 'cheirou' muito a que fosse de Camões, antes de alguém mais claramente maneirista (Camões também o foi, em parte e sabemo-lo desde os estudos de Jorge de Sena e de Aguiar e Silva) ou mesmo do Barroco. Como sabe a questão do cânone da Lírica de Camões não está nem nunca esteve clarificado e receio bem que em Portugal nunca venha a ser feito estudo sério sobre tal, que implicaria vasta equipa de investigadores e o percorrer, nomeadamente, os cancioneiros de mão, sobretudo espanhóis, dos s.XVI e XVII. O seu amigo e meu conhecido e estimado Vasco da Graça Moura desenvolveu num saborosíssimo poema a respeito do O dia em que nasci moura e pereça a sua interessante teoria do abalo (contra a a qual nada tenho, aliás...): de que um soneto ou poema de Camões é sempre um poema de Camões e dá sempre um abalo...por isso ele entendia ser o referido soneto de Camões, ao contrário do Aguiar e Silva... Em suma: hoje, e até prova em contrário, tem-se como assente de que, apesar de tudo, a edição mais fidedigna das Rimas é a de Costa Pimpão(que infelizmente tive como professor e com quem nada aprendi, antes pelo contrário...- felizmente também tive o Aguiar e Silva). Tenho outras edições da Lírica e numa delas aparece,de facto, o soneto que refere - na de M.de Lurdes Saraiva para Imprensa Nacional (1980).Lá se diz, contudo,no II volume, pág. 450 que o soneto foi «Publicado por Juromenha.* Figura no Cancioneiro de Fernandes Tomás como sendo da autoria de Baltazar Estaço.Foi editado entre as poesias deste autor em 1604, motivo que levou Carolina Michaelis a rejeitar a introdução no corpus camoniano. Nenhum dos editores modernos o inclui. Tema e forma levam a inseri-lo entre os lugares comuns da época. Nada no poema permite atribui-lo a Camões.» A referida autora acrescenta em nota que «Juromenha publicou, em nota, um soneto espanhol se tema e estrutura idênticos, que encontrou num manuscrito do século XVII, e que tem como incipit «Con tiempo passa el año, mes y hora». *edição de Juromenha:1860-1868 (nota minha) Estas coisas tornam-se difíceis de aclarar enquanto não houver, de facto, uma edição definitiva...O Aguiar e Silva discute amplamente a questão do cânone camoniano no livro Camões:Labirintos e Fascínios -editado pela Cotovia em 1994 - livro que vale a pena ser lido, nomeadamente, e entre outros, pela análise que nele se faz da Ilha de Vénus. Bem...em suma: a mim não me provocou o tal «abalo»...e penso mesmo que o soneto não é de Camões...talvez, sim, de Baltazar Estaço. (...) só há verdadeira certeza de autoria daquilo que vem na 1ªedição das Rimas, a de 1595 -mesmo essa, como se vê, póstuma.” (Amélia Pais) (url) (url) 18.12.03
CONSPIRAÇÃO CONTRA O MEU SONO
A principal conspiração contra o meu sono, passível de se falar num blogue, é a BBC Learning. Mais um engano do professor Marcelo, que acha que sabe como eu ocupo as noites. Adiante. Ontem , era alta a madrugada, passava um filme sobre Nancy Mitford, a mais literata das irmãs Mitford. As irmãs são de facto curiosas, duas eram nazis, uma comunista, e a outra, proto-comunista, gostava de um francês gaullista que era feio, tinha má pele e lidava mal com os excessos de "infatuation" da senhora. Todas traziam da sua inútil vida aristocrática a mesma incapacidade de fazer qualquer coisa sem a transformar numa "joke", sendo todas as coisas "muito": muito nazis, muito comunistas e muito amantes da França tricolor. Descobri-as através da mais improvável (minto, a mais improvável seria de facto Unity), a comunista Jessica Mitford, de cujos livros, inevitavelmente divertidos, sobre a vida no Partido Comunista Americano, fiz uma recensão há muitos anos. O seu mundo é muito britânico e quase inexportável, com uma mistura de sofisticação viperina e elegante, com uma quase ausência de educação formal. O pai, Lord Redesdale, achava que as mulheres não deviam ser educadas, e aliás ele próprio pouco mais sabia do que caçar, dizer umas piadas, e fazer a vida de gentlemen's farmer. Nancy, numa entrevista, falava dele dizendo que o seu problema era que verdadeiramente "não tinha nada para fazer" . Num assento de baptismo aparecia como profissão "honorable". Há imensa literatura sobre as irmãs, figuras de culto para uma vasta galeria que vai dos que gostavam de ser nobres ingleses ou meninas debutantes com amigos muito homossexuais, aos litterati. Mas a corte e a superficialidade de muita coisa mitfordiana não impede o interesse, e lá se foi o sono. Depois de dois dias de prisão domiciliária, a penar pelos destinos perdidos da Conferência Inter Governamental, depois de Assia Djebar, as Mitford são um descanso. (url)
EARLY MORNING BLOGS 99
Longe da pátria, língua da pátria. Com os early mornings na véspera dos cem, (cem é um número gigantesco na blogosfera, que me faz competir com Matusalém), o poema salta das manhãs, parte do tempo, para ser sobre o tempo todo, um dos fios do Abrupto. De Camões , este "prado": Com o tempo o prado seco reverdece, Com o tempo cai a folha ao bosque umbroso, Com o tempo para o rio caudaloso, Com o tempo o campo pobre se enriquece, Com o tempo um louro morre, outro floresce, Com o tempo um é sereno, outro invernoso, Com o tempo foge o mal duro e penoso, Com o tempo torna o bem já quando esquece, Com o tempo faz mudança a sorte avara, Com o tempo se aniquila um grande estado, Com o tempo torna a ser mais eminente. Com o tempo tudo anda, e tudo pára, Mas só aquele tempo que é passado Com o tempo se não faz tempo presente. (url) 17.12.03
CAIXA DE PANDORA - O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES
"O Figaro tem um editorial interessante sobre o problema dos feriados judaico e muçulmano, a introduzir em França, talvez como compensação pela proibição dos véus. Menciona a ausência de qualquer pedido das comunidades, para a instituição dos feriados; a falta de necessidade, uma vez que os fiéis dessas religiões têm justificação de faltas por motivos religiosos; as dificuldade práticas na definição de um dia para o feriado muçulmano (um ponto controverso, segundo o editorial); o risco de criar incomodidade na comunidade cristã, que viu recentemente desaparecer o feriado de segunda feira de Pentecostes, e pode interpretar esta questão como uma perda em detrimento de judeus e muçulmanos; o possível benefício para a Frente Nacional de Le Pen, a poucos meses das eleições regionais. Termina com a defesa dos feriados cristãos existentes, por fazerem parte da História, tal como as catedrais preservadas com o dinheiro do Estado." (Paulo Almeida) (url)
SOCIEDADE CIVIL
Uma breve nota sobre o artigo "As Perguntas, o Porto e Pacheco Pereira" de Paulo Rangel no Público de hoje, criticando uma nota do Abrupto. Todo o artigo vive de uma pretensa diferença de agenda e interesses entre o que o autor chama "sociedade civil" e os "políticos". O autor afirma falar em nome da "sociedade civil". Acho espantosa esta caracterização da "sociedade civil" como oposta aos "políticos", para fazer passar, com um mecanismo auto-legitimador, exactamente o mesmo tipo de discurso, apenas com a diferença que ele é emitido por pessoas que não têm (ou ainda não têm) actividade política institucionalizada. Para existir essa dicotomia, era preciso encontrar uma autonomia para esse discurso da "sociedade civil" e, no caso dos debates do Porto, o que se passa é que a sua agenda foi toda ela profundamente politizada. As "perguntas" dos debates são para o estado e os políticos, nenhuma outra espécie de interlocução da sociedade e com a sociedade é prevista. Não se pergunta à universidade o que ela faz pelas empresas; às empresas, o que elas fazem como mecenato; aos intelectuais portuenses o que eles fazem sem subsídios, aos sindicatos que mundo do trabalho desejam fora da reivindicação, nunca se fala do voluntariado e do seu papel. Aliás, se alguma coisa revela esta série de colóquios, é exactamente a incapacidade da "sociedade civil" (se é justo chamar assim aos organizadores dos debates, o que duvido, pela sua clara agenda política) de discutir qualquer questão sem a subordinar a uma lógica de reivindicação ao estado , aos governos, aos partidos, ou seja, à política. Se isto é a "sociedade civil", em acto de reflexão, parece-me tão parecida com os partidos e a política institucional, que não sei onde esteja a diferença. Não é pelo facto de os organizadores dos colóquios não serem políticos eleitos ou com cargos institucionais, que os torna "sociedade civil". (url)
CITAÇÃO
do Liberdade de Expressão, com vénia. A reboque "Bush não é um intelectual. Bush é na verdade estúpido! Os Barnabés e os Bloguistas de Esquerda são intelectuais. Estão há um dia a racionalizar os factos produzidos por um homem estúpido. Agora perguntam: então e o Bin Laden? Então e as Armas de Destruíção Maciça? Como já antes tinham perguntado: então e Saddam? E como já antes tinham previsto a derrota americana, a nova Estalinegrado, uma guerra civil no Iraque, o novo Vietname. De cada vez que uma previsão (ou será um desejo?) não se confirma é preciso actualizar a litania. Moral desta história: intelectuais inteligentes tendem a andar a reboque dos factos criados por estúpidos homens de acção." (url)
PECADO MORTAL
Se alguém me dissesse, se eu me imaginasse, que ia ver, teria jurado que não. Era exactamente o protótipo das coisas que eu nunca veria: numa mesa de café literário, duas mulheres com o desenvolto aspecto e a língua fácil de feministas francesas e literatas (vá , só com esta frase se pode fazer um tratado de misogenia ou coisas piores...), numa sala cheia de jovens estudantes e intelectuais by the book, atentos e reverentes, com aquela postura de quem tem muitos colóquios, conferências, encontros com escritores, lançamentos, em cima da pele. Enfim, o mundo do Prado Coelho. Mas parei e caí em pecado mortal. Fui apanhado pela voz intensa da mulher principal, a outra era a mestre de cerimónias, uma escritora argelina de nascimento, que usa o pseudónimo de Assia Djebar, que , dilemas da identidade, ninguém diria que fosse outra coisa que francesa. Assia falava do uso do árabe, de como aprendera o árabe corânico sentada no chão com uma lousa, de como na sua casa e nas ruas se falava o dialecto, do berbere proibido, e do árabe culto, que a elite da revolução argelina usava para mostrar distância face ao povo. Falava dos discursos elegantes e cuidados, num árabe culto, de Boumedienne e de como eles eram incompreensíveis para as pessoas comuns. Depois falava e falava, com um gosto pela fala densa, culta, o francês que deve ser semelhante ao árabe de Boumedienne, passando da Argélia para a França, sempre num registo cosmopolita e apaixonado. Acabou por falar pouco da sua obra (que eu desconheço, mas sobre a qual se pode encontrar informação aqui), mas tudo o que dizia era interessante. É este o problema dos pecados mortais. (url)
EARLY MORNING BLOGS 98-2
Por outra manhã (cortesia de Vasco Graça Moura), esta "dolce color" dantesca: Dolce color d'orïental zaffiro, che s'accoglieva nel sereno aspetto del mezzo, puro infino al primo giro, a li occhi miei ricominciò diletto, tosto ch'io usci' fuor de l'aura morta che m'avea contristati li occhi e 'l petto. Lo bel pianeto che d'amar conforta faceva tutto rider l'orïente, velando i Pesci ch'erano in sua scorta. I' mi volsi a man destra, e puosi mente a l'altro polo, e vidi quattro stelle non viste mai fuor ch'a la prima gente. (Purgatorio, Canto I) (url)
EARLY MORNING BLOGS 98
Nos países frios, o frio vê-se. Olha-se pela janela, à luz cinzenta da manhã, e sabemos que está frio. Há uma deserção geral das ruas: nem pessoas, nem pássaros, nada. Não há ainda neve, mas a humidade nos telhados está branca. O branco vai tomando conta de tudo o que era verde. O verde cresce com as chuvas de Outono, mas, à medida que o Inverno se instala, o branco começa em baixo, no chão, e em cima, nos telhados, e vai descendo até se encontrar. Lá para Janeiro, uma paz camponesa subjugará a cidade. Acho que o Natal se destina a prepará-la, com uma última série de brilhos, antes de vir esse tapete que abafa os sons, pára os movimentos, recolhe o gado, alimenta o fogo, pára quase tudo. (url) 16.12.03
BIBLIOFILIA 4
Na Biblioteca municipal de Colmar está um pequeno caderno, com o tamanho dos antigos cadernos de significados, com o título manuscrito D'un Carnet de poche ,e assinado Rilke. Nele, Rilke escreveu meia dúzia de poemas em francês, numa letra comum, apesar de elegante e regular. Percebe-se, pela ausência de correcções, que os poemas foram passados a limpo. O poeta enviou-o, em 1926, de um sanatório suíço, a um seu amigo e tradutor francês, Maurice Betz. Depois de várias vicissitudes da família Betz, acabou por ir parar à Biblioteca de Colmar. Foi agora editado em facsimile por uma editora local, Le Verger Editeur. É um livrinho frágil e pequeno que fala assim : Hiver J'aime les hivers d'autrefois qui n'étaient point encore sportifs, On les craignait um peu; tant ils étaient durs et vifs...... (url)
CAIXA DE PANDORA
Ontem, na televisão francesa, a enésima discussão sobre o véu islâmico e as propostas Stasi. Os franceses começam a aperceber-se da caixa de Pandora que estão a abrir. Agora há propostas de tornar dias feriados festas religiosas muçulmanas e judaicas. Se há feriados cristãos , porque não? Depois discute-se proibição do foulard, da kippa e das "grandes cruzes" na escola pública. Mas quando é que uma "pequena cruz" passa a "grande cruz"? Levantando o problema para os muçulmanos, este ganhou vida própria e regressa sob forma de um laicismo igualitário inimaginável na terra que, antes de ser de Jules Ferry e Chirac, era de Joana d'Arc. Depois, pouco a pouco, acumulam-se os problemas, todos eles à volta da condição da mulher. Há mulheres muçulmanas que se recusam a seguir num elevador sózinhas com homens, que se recusam a ser observadas num hospital por médicos masculinos, empresas que não querem empregadas de véu a atender o público. Uma empresária dizia que não podia ter empregadas que se recusavam apertar a mão aos clientes, nem aceitava um conselho que um muçulmano lhe tinha dado de "as pôr a trabalhar longe dos olhos dos outros". Protestava: "como é que eu posso ter empregadas que tenho que esconder por serem mulheres?" É. A caixa de Pandora está aberta. Embora os franceses, com o seu jacobinismo exacerbado, tenham agravado o problema, faça-se a justiça de considerar que este é (cada vez mais) europeu. (url)
DE VOLTA
como começar? Hard politics, suave cultura, divagações, faineanter com as palavras? Faineanter. v. n. Estre faineant, estre à ne rien faire, par paresse. Demeurer à faineanter. il n'a fait tout le jour que faineanter. (Dictionnaire de L'Académie française, Première édition, 1694) Como começar? (url) 15.12.03
JUDEU ERRANTE
Estou de novo de judeu errante. Voo de uma terra para outra, de outra para outra, porque devo, nalgum passado distante, ter recusado água, abrigo, palavras a alguém. A única geologia que conheço é a das nuvens, estrato a estrato, paz e turbulência, uma a seguir à outra. Do alto, nenhuma caneta toca a terra, nem sequer a frágil e imortal sequência de bits, de sins e nãos electrónicos - "eléctricos", diria McLuhan, com razão - desce os 39000 pés para tocar o chão. Silêncio, pois, na terra, branco absoluto nas páginas brilhantes do ecrã. Até breve, pássaros. (url) 14.12.03
IMAGENS
dos últimos dias. O Moisés ameaçador é de Rembrandt; as flores são de um mosaico de Iznik; os barcos, ao vento da história, são de Caspar David Friedrich; o turbante, um pormenor de um quadro de Vittore Carpaccio; o comboio, da capa de um livro da Puffin do início dos anos cinquenta; e o cartaz contra o álcool é belga e mostra o povo, os criados , a beberem de mais. As classes altas pelos vistos não bebiam. (url)
PITON DE LA FOURNAISE
finalmente a erupção, no dia 7 de Dezembro, com um tempo tão nebuloso que ninguém a viu começar. Notícias aqui. (url)
PRISÃO DE SADDAM
se se confirmar, é um acontecimento importante. A chamada "resistência", nome viciado e programático, é , como com maior rigor a imprensa de referência internacional a descreve, um movimento para-militar ligado às estruturas do partido de Saddam , o Baath. Sendo assim, a queda de estruturas de comando político-militar, que estão por trás dos ataques, é relevante para o seu desmantelamento. Podem continuar os atentados, podem até aumentar de intensidade, mas o problema continua a ser essencialmente militar e deve ser tratado como tal. (url)
FRACASSO DA CIG
Cito aqui, porque não vale a pena fazer de novo o que já disse mil vezes, o que escrevi , por volta de Junho de 2001, e tenho vindo a repetir desde 1999, quando fui eleito para o PE. "A ilusão está em pensar que os progressos na integração europeia vêm da laboriosa arquitectura política que se constrói e não de algo mais substantivo, como seja, peço desculpa por lembrar este pequeno pormenor-, a vontade dos povos. (…) Nunca como agora as elites políticas europeias se comportaram de forma tão iluminista,- elas é que sabem o que é melhor para a Europa - tentando por todos os meios evitar debates e consultas nacionais." Esta básica premissa democrática nunca foi a central no modo como é apresentada aos portugueses a questão europeia, quer pelos governantes, quer pela comunicação social. O que é sistematicamente relatado na imprensa portuguesa (em particular na cobertura puramente ideológica “franco-alemã” que Teresa de Sousa faz no Público) é sempre a montante e a juzante desta questão, que nunca é enunciada como prévia. Nem se fala das alternativas, tão forte é a situação de facto que se quis criar com o Tratado de Nice e a falsa Convenção. "Existe uma alternativa ? Certamente que sim . Os “pequenos passos” propostos por Jean Monnet , um processo mais lento , mais seguro , que pudesse ganhar raízes , tornar-se tradição , consolidar-se num ambiente de riqueza e paz que ele próprio garantia . Que consolidasse o euro , o mercado comum , a politica externa e de segurança comum , as instituições comunitárias, o alargamento . Sempre sem passar ao passo seguinte , sem um sólido apoio político nas democracias europeias . Porque nunca se foi ao longe nestes processos a não ser devagar ." “Há um modelo alternativo da Europa, muito mais seguro do que o desvio de Nice e do que o programa, perigoso e de má fé, do "pós-Nice": é o modelo de Maastricht e Amesterdão, assente no euro, no pequeno reforço dos poderes do Parlamento Europeu, no salto em frente da "política externa e de segurança comum", no avanço do exército europeu. É um modelo não testado, não experimentado, porque todos estão com demasiada pressa e não conhecem a história. Este modelo aguenta o alargamento muito melhor do que as veleidades experimentais federalistas. Precisa de vontade política para que cada uma das suas componentes funcione e ganhe experiência, precisa de tempo para se perceber o que pode funcionar bem e o que tem que se rectificar, precisa também que o alargamento se faça de forma diferente, simultaneamente mais solidário e mais realista. Se os nossos iluminados governos experimentassem ser um pouco mais conservadores, talvez tivessem resultados mais revolucionários.” O que é que é mais grave? É que o falhanço da CIG tem pouco a ver com estes argumentos, ou com a vontade de mudar o caminho seguido nos últimos anos. Pelo contrário, é um seu subproduto. Eles vão continuar, em privado, a discutir os votos; em público, a erguer a bandeirinha das estrelas. (url)
EARLY MORNING BLOGS 97
Hoje, manhã de brunch impossível, ficamos pelo Dejeuner du Matin (cortesia de Pedro Catanho de Menezes Cordeiro). Il a mis le café Dans la tasse Il a mis le lait Dans la tasse de café Il a mis le sucre Dans le café au lait Avec la petite cuiller Il a tourné Il a bu le café au lait Et il a reposé la tasse Sans me parler Il a allumé Une cigarette Il a fait des ronds Avec la fumée Il a mis les cendres Dans le cendrier Sans me parler Sans me regarder Il s'est levé Il a mis Son chapeau sur sa tête Il a mis Son manteau de pluie Parce qu'il pleuvait Et il est parti Sous la pluie Sans une parole Et moi j'ai pris Ma tête dans ma main Et j'ai pleuré. (Jacques Prévert) * Bom dia! (url)
VER A NOITE
Mal levantei os olhos, o céu foi riscado por um meteorito. Ainda há demasiada lua para se poder tomar partido do escuro mais frio, mas, à volta de Oríon, as estrelas brilhavam. O meteorito atravessou de Norte para Sul, um trajecto pouco habitual. Durou o costume, quase nada. Não deu tempo. (url)
© José Pacheco Pereira
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