ABRUPTO

16.12.03


CAIXA DE PANDORA

Ontem, na televisão francesa, a enésima discussão sobre o véu islâmico e as propostas Stasi. Os franceses começam a aperceber-se da caixa de Pandora que estão a abrir. Agora há propostas de tornar dias feriados festas religiosas muçulmanas e judaicas. Se há feriados cristãos , porque não? Depois discute-se proibição do foulard, da kippa e das "grandes cruzes" na escola pública. Mas quando é que uma "pequena cruz" passa a "grande cruz"? Levantando o problema para os muçulmanos, este ganhou vida própria e regressa sob forma de um laicismo igualitário inimaginável na terra que, antes de ser de Jules Ferry e Chirac, era de Joana d'Arc.

Depois, pouco a pouco, acumulam-se os problemas, todos eles à volta da condição da mulher. Há mulheres muçulmanas que se recusam a seguir num elevador sózinhas com homens, que se recusam a ser observadas num hospital por médicos masculinos, empresas que não querem empregadas de véu a atender o público. Uma empresária dizia que não podia ter empregadas que se recusavam apertar a mão aos clientes, nem aceitava um conselho que um muçulmano lhe tinha dado de "as pôr a trabalhar longe dos olhos dos outros". Protestava: "como é que eu posso ter empregadas que tenho que esconder por serem mulheres?"

É. A caixa de Pandora está aberta. Embora os franceses, com o seu jacobinismo exacerbado, tenham agravado o problema, faça-se a justiça de considerar que este é (cada vez mais) europeu.

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© José Pacheco Pereira
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