ABRUPTO

17.12.03


SOCIEDADE CIVIL

Uma breve nota sobre o artigo "As Perguntas, o Porto e Pacheco Pereira" de Paulo Rangel no Público de hoje, criticando uma nota do Abrupto. Todo o artigo vive de uma pretensa diferença de agenda e interesses entre o que o autor chama "sociedade civil" e os "políticos". O autor afirma falar em nome da "sociedade civil".

Acho espantosa esta caracterização da "sociedade civil" como oposta aos "políticos", para fazer passar, com um mecanismo auto-legitimador, exactamente o mesmo tipo de discurso, apenas com a diferença que ele é emitido por pessoas que não têm (ou ainda não têm) actividade política institucionalizada. Para existir essa dicotomia, era preciso encontrar uma autonomia para esse discurso da "sociedade civil" e, no caso dos debates do Porto, o que se passa é que a sua agenda foi toda ela profundamente politizada.

As "perguntas" dos debates são para o estado e os políticos, nenhuma outra espécie de interlocução da sociedade e com a sociedade é prevista. Não se pergunta à universidade o que ela faz pelas empresas; às empresas, o que elas fazem como mecenato; aos intelectuais portuenses o que eles fazem sem subsídios, aos sindicatos que mundo do trabalho desejam fora da reivindicação, nunca se fala do voluntariado e do seu papel. Aliás, se alguma coisa revela esta série de colóquios, é exactamente a incapacidade da "sociedade civil" (se é justo chamar assim aos organizadores dos debates, o que duvido, pela sua clara agenda política) de discutir qualquer questão sem a subordinar a uma lógica de reivindicação ao estado , aos governos, aos partidos, ou seja, à política. Se isto é a "sociedade civil", em acto de reflexão, parece-me tão parecida com os partidos e a política institucional, que não sei onde esteja a diferença. Não é pelo facto de os organizadores dos colóquios não serem políticos eleitos ou com cargos institucionais, que os torna "sociedade civil".

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© José Pacheco Pereira
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