ABRUPTO

14.12.03


FRACASSO DA CIG

Cito aqui, porque não vale a pena fazer de novo o que já disse mil vezes, o que escrevi , por volta de Junho de 2001, e tenho vindo a repetir desde 1999, quando fui eleito para o PE.

"A ilusão está em pensar que os progressos na integração europeia vêm da laboriosa arquitectura política que se constrói e não de algo mais substantivo, como seja, peço desculpa por lembrar este pequeno pormenor-, a vontade dos povos. (…) Nunca como agora as elites políticas europeias se comportaram de forma tão iluminista,- elas é que sabem o que é melhor para a Europa - tentando por todos os meios evitar debates e consultas nacionais."

Esta básica premissa democrática nunca foi a central no modo como é apresentada aos portugueses a questão europeia, quer pelos governantes, quer pela comunicação social. O que é sistematicamente relatado na imprensa portuguesa (em particular na cobertura puramente ideológica “franco-alemã” que Teresa de Sousa faz no Público) é sempre a montante e a juzante desta questão, que nunca é enunciada como prévia.

Nem se fala das alternativas, tão forte é a situação de facto que se quis criar com o Tratado de Nice e a falsa Convenção.

"Existe uma alternativa ? Certamente que sim . Os “pequenos passos” propostos por Jean Monnet , um processo mais lento , mais seguro , que pudesse ganhar raízes , tornar-se tradição , consolidar-se num ambiente de riqueza e paz que ele próprio garantia . Que consolidasse o euro , o mercado comum , a politica externa e de segurança comum , as instituições comunitárias, o alargamento . Sempre sem passar ao passo seguinte , sem um sólido apoio político nas democracias europeias . Porque nunca se foi ao longe nestes processos a não ser devagar ."

Há um modelo alternativo da Europa, muito mais seguro do que o desvio de Nice e do que o programa, perigoso e de má fé, do "pós-Nice": é o modelo de Maastricht e Amesterdão, assente no euro, no pequeno reforço dos poderes do Parlamento Europeu, no salto em frente da "política externa e de segurança comum", no avanço do exército europeu. É um modelo não testado, não experimentado, porque todos estão com demasiada pressa e não conhecem a história. Este modelo aguenta o alargamento muito melhor do que as veleidades experimentais federalistas. Precisa de vontade política para que cada uma das suas componentes funcione e ganhe experiência, precisa de tempo para se perceber o que pode funcionar bem e o que tem que se rectificar, precisa também que o alargamento se faça de forma diferente, simultaneamente mais solidário e mais realista.
Se os nossos iluminados governos experimentassem ser um pouco mais conservadores, talvez tivessem resultados mais revolucionários.”


O que é que é mais grave? É que o falhanço da CIG tem pouco a ver com estes argumentos, ou com a vontade de mudar o caminho seguido nos últimos anos. Pelo contrário, é um seu subproduto. Eles vão continuar, em privado, a discutir os votos; em público, a erguer a bandeirinha das estrelas.

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© José Pacheco Pereira
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