ABRUPTO

10.3.07


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ÁTOMOS E BITS

de 10 de Março de 2007


Noticiários das oito, os mais importantes das televisões.

Na SIC, uma reportagem sobre a visita de Cavaco Silva ao Luxemburgo sob o tema da insatisfação dos emigrantes com o pouco tempo que o Presidente lá esteve. Fontes que justificam o título e a frase sempre a passar por baixo: três entrevistas num café numa localidade que o Presidente não visitou. Chegou para esses três homens, aliás bem pouco assertivos nas suas queixas, passarem a ser "os emigrantes do Luxemburgo". Mau jornalismo quanto baste.

Na RTP, pior. A correspondente em Madrid a propósito da grande manifestação contra o governo Zapatero por causa da medida de clemência tomada com um etarra autor de assassinatos, repete ispsis verbis, os argumentos do governo e do PSOE contra os protestos, atacando o PP espanhol. Política disfarçada de jornalismo.

*
A melhor parte dessa reportagem foi quando um dos Portugueses do Luxemburgo disse que " o Presidente devia passar por todas as villages do Luxumburgo". Sem comentários

(João Melo)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VOTAR NA RÚSSIA

(Sem acentos.)

Amanha e dia de eleicoes para a Assembleia Legislativa de St.Petersburgo (nao sei se nas outras cidades da Russia tb). Todas as pessoas com que falei se mostraram bastante descrentes em qualquer dos partidos e sobretudo numa possibilidade de mudanca. Mas sao curiosas as medidas dos governantes para combater a "insatisfacao". A juntar a exclusao de um dos maiores partidos da oposicao (Yabloko), ha agora uma nova medida subtil. Dantes nos boletins de voto era possivel votar "Protiv Vse" (Contra todos). Existia mesmo espaco para uma cruz nesta opcao. Agora isso acabou! Ja nao se pode estar contra todos. Ou se vota num dos partidos ou em branco. Claro, todos sabem que, da forma como e feito o controlo nas mesas de voto, um voto em branco e facilmente transformavel....

Mas o povo sempre vai encontrando formas de protestar. A solucao parece ser nao entregar o boletim de voto. Estao a sugerir a quem quer votar "contra todos" que traga o boletim para fora da mesa de voto e o entregue num determinado sitio, onde farao uma contagem dos "insatisfeitos". Estou curioso para saber esses valores mas, como sempre, creio que terei de recorrer a imprensa estrangeira para os saber porque, "la fora" sabe-se mais do que vai "ca dentro"...

(João Tiago Santos)

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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR





Pinhal perto de Castanheiro do Norte (Carrazeda de Ansiães). (Olga Flora)

Arrifana, Algarve. (Fernando Soares)

Oceano Atlântico visto do Castelo do Queijo, Porto. (André Guerra)

Danúbio. (Heloísa Preto)

Basta clicar sobre a foto para a aumentar.

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EARLY MORNING BLOGS

983 - I Didn't Go to Church Today

I didn’t go to church today,
I trust the Lord to understand.
The surf was swirling blue and white,
The children swirling on the sand.
He knows, He knows how brief my stay,
How brief this spell of summer weather,
He knows when I am said and done
We’ll have plenty of time together.

(Ogden Nash)

*

Bom dia!

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9.3.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Serra de S. Macário, em São Pedro do Sul.

(Vítor Ribeiro)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A ESCOLA COMO ELA REALMENTE É

- “Tenho a certeza de que vou ter uma nota óptima nesta composição!

- Ai sim? Porquê?

- Porque escrevi “a desgraça abateu-se sobre ele” e as professoras adoram isto!”

(Zé)

*

O desenho de que se fala em A NOSSA SENHORA E AS TRÊS OVELHINHAS (no Abrupto de 6 de Março).


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COISAS DA SÁBADO: QUERER “FAZER OPOSIÇÃO” COMO RETÓRICA

Uma coisa curiosa, que só pode ser dita pela amnesia habitual da comunicação social, é a proclamação de ambos (Portas e Lopes) de que só eles sabem fazer oposição a Sócrates. Não é preciso ir mais longe para verificar que desde 2005 ambos tem falado quase ininterruptamente semana sim, semana sim, auto-elogiando-se nessa capacidade de oposição, sem qualquer resultado vísivel. Portas tem um programa de televisão quinzenal a solo, que foi lançado com grandes parangonas com a motivação de “fazer a diferença” e os resultados são nulos. Nunca se viu Sócrates a recear nada vindo dali e nem sequer os jornais, que gostam muito do estilo de frase assassina de Portas, lhe dão importância, como aliás os telespectadores que não o vêem. Portas é deputado e também, que se saiba, nenhuma intervenção parlamentar de “oposição” marcante se lhe ouviu. Santana Lopes dá sucessivas entrevistas “de vida”, publicou um livro, tem colunas na comunicação social, é parlamentar embora não exerça, e, apesar de várias vezes ter proclamado a sua eficácia na oposição, nunca se viu qualquer resultado dos seus ataques ao governo. É o vilipendiado e ineficaz Marques Mendes que Sócrates (e Jorge Coelho) atacam.

Não foi por falta de voz que ambos não puderam “fazer oposição”, foi porque para se poder fazer oposição a Sócrates tem que se ter, em primeiro lugar, credibilidade e nenhum dos dois a tem. É que os principais responsáveis da colocação de Sócrates e do PS no sítio onde estão, são os dois. E o que eram ontem são-no ainda mais hoje. Por isso não há retórica que dê a volta a esta situação.

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ÁTOMOS E BITS

de 9 de Março de 2007

Euler's relation

As equações como ícones.

*
(...) a equação de Euler (...). A equação já é examinada com algum detalhe no artigo para o qual colocou um link, mas quero só salientar que nesta curtissima expressão podem-se ver os cinco números mais importantes da Matemática: 0, 1, e, i e pi. Quem diria que seria possível juntá-los a todos de maneira tão significativa e de forma tão sucinta?

(José Carlos Santos)

A propósito da genial equação referida por José Carlos Santos, aproveito para referir uma pequena "anedota histórica" segundo a qual Euler teria dado a conhecer ao mundo essa famosa expressão no decorrer de uma discussão de carácter teológico - atirando-a à cara dos presentes como argumento a favor da existência de Deus!

(C. Medina Ribeiro)
*

Numa loja chinesa.

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COISAS DA SÁBADO: ZAPATERO E A ETA



Em Espanha, perante a nossa habitual indiferença e o silêncio conveniente dos nossos socialistas que adoram Zapatero, passam-se dias de brasa. Manifestações populares um pouco por toda a Espanha, pichagens de “Zapatero traidor”, cocktails Molotov contra sedes do PSOE, a rua tomada pelo PP e excedida pela extrema-direita para quem o que o governo está a fazer é semeadura frutífera. Tudo porque o governo socialista cedeu a uma greve de fome de um dos etarras mais violentos, autor de muitos assassinatos, que se vangloria disso em público. Ao colocar o etarra numa situação de quase prisão domiciliária, cedendo à greve de fome, provocou manifestações de regozijo dos independentistas bascos e o furor de muitos espanhóis, a começar pelas vítimas da ETA. Zapatero e o PSOE estão a pagar o erro trágico de iniciar um processo de negociações com os terroristas, que reforçou a ETA e lhe deu a ofensiva, colocando o governo na posição de ter que ceder sempre para não reconhecer que errou e voltar ao combate anti-terrorista.

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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Ferragudo

(Luís de Matos Gonçalves)

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EARLY MORNING BLOGS

982 - La Génisse, la Chèvre et la Brebis en société avec le Lion

La génisse, la chèvre et leur soeur la brebis,
Avec un fier lion, seigneur du voisinage,
Firent société, dit-on, au temps jadis,
Et mirent en commun le gain et le dommage.
Dans les lacs de la chèvre un cerf se trouva pris.
Vers ses associés aussitôt elle envoie.
Eux venus, le lion par ses ongles compta,
Et dit: "Nous sommes quatre à partager la proie".
Puis, en autant de parts le cerf il dépeça;
Prit pour lui la première en qualité de sire:
"Elle doit être à moi, dit-il, et la raison,
C'est que je m'appelle lion:
A cela l'on n'a rien à dire.
La seconde, par droit, me doit échoir encor:
Ce droit, vous le savez, c'est le droit du plus fort.
Comme le plus vaillant, je prétends la troisième.
Si quelqu'une de vous touche à la quatrième,
Je l'étranglerai tout d'abord.

(La Fontaine)

*

Bom dia!

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8.3.07


DE REPENTE...

...flores por todo o lado. Ninguém as viu vir. Vieram. Estão ali.

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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Ericeira – Ribeira d’ Ilhas

(Luís de Matos Gonçalves)

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ÁTOMOS E BITS

de 8 de Março de 2007


Nenhum dos dois jornais "de referência", Diário de Notícias e Público, está em linha como deve ser às 10.15 minutos da manhã. O Diário de Notícias continua o de ontem, e ao Público faltam-lhe páginas mesmo para os assinantes.

*

O que leio no Público sobre um deputado social-democrata é mais um exemplo de como a Assembleia da República não se toma a sério quanto ao problema ético das incompatibilidades (como aliás já se tinha visto no caso de Pina Moura e António Vitorino):

"O deputado social-democrata e advogado Jorge Neto, presidente da Associação dos Accionistas Minoritários do Grupo PT e PTM (AAM), participou na assembleia geral (AG) de 2 de Março da Portugal Telecom (PT) apenas enquanto representante da Insight Strategic Investments SGPS, e não de investidores minoritários, como declarou. Esta holding pertence a Nuno Vasconcelos, próximo do Banco Espírito Santo e dono da Ongoing, que se opôs à OPA da Sonaecom. Na mesma reunião foi eleito administrador da operadora. Como prova a lista dos participantes na AG onde foi votada a desblindagem dos estatutos da PT, a que o PÚBLICO teve acesso, Jorge Neto participou com 11,4 milhões de acções da PT, correspondentes a 22.825 direitos de votos, mais de um por cento do capital. Na véspera da AG, Neto apareceu a falar em nome da AAM numa conferência de imprensa onde apelou ao chumbo da oferta da Sonaecom e à rejeição da desblindagem dos estatutos."
Este tipo de actuações, mais que legítimas enquanto advogado, levantam problemas gravíssimos quanto a uma multidão de votações sobre questões de economia, finanças, legislação, em que a representação profissional remunerada de interesses colide com a efectiva independência da função parlamentar. Repito o que já uma vez escrevi: se a Comissão de Ética não serve para prevenir estes casos, não serve para nada.

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EARLY MORNING BLOGS

981 - ...I thought I would sail about a little and see the watery part of the world.

Call me Ishmael. Some years ago- never mind how long precisely- having little or no money in my purse, and nothing particular to interest me on shore, I thought I would sail about a little and see the watery part of the world. It is a way I have of driving off the spleen and regulating the circulation. Whenever I find myself growing grim about the mouth; whenever it is a damp, drizzly November in my soul; whenever I find myself involuntarily pausing before coffin warehouses, and bringing up the rear of every funeral I meet; and especially whenever my hypos get such an upper hand of me, that it requires a strong moral principle to prevent me from deliberately stepping into the street, and methodically knocking people's hats off- then, I account it high time to get to sea as soon as I can. This is my substitute for pistol and ball. With a philosophical flourish Cato throws himself upon his sword; I quietly take to the ship. There is nothing surprising in this. If they but knew it, almost all men in their degree, some time or other, cherish very nearly the same feelings towards the ocean with me.

(Herman Melville)

*

Bom dia!

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7.3.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR





À vela, rumo a Tavira (Mário Negreiros)

Madeira-Funchal. (Luís Babo Nunes)

Arredores de Estocolmo (Vítor Magalhães)

Ribeira d’Ilhas-Ericeira (Luís de Matos Gonçalves)

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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR





Parque natural de Cornalvo, perto de Mérida, na província de Badajoz. (Neves de Ontem)

Vimeiro, perto de Torres Vedras. (André Felício)

Ria de Aveiro - Estuário do Vouga. (Fernando Santos Marques)

Castanheira de Pera. (Fernando Santos Marques)

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6.3.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Estuário do Sado.

(José Farinha)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:

OS VERBOS TEM MUITA SAÍDA NO MERCADO DA MORFOLOGIA

rosto [51 KB] - Mãe, olhe a peça que eu vou fazer na aula de português, chama-se “Dona Morfologia”!

- E qual é o teu papel?

- Sou um pronome.

- Porque é que escolheste o pronome?

- Eu escolhi o verbo, mas como todos querem ser o verbo, tive que ficar pronome.

(M.s)

A NOSSA SENHORA E AS TRÊS OVELHINHAS

The image “http://www.quintadesara.com/imagens/ovelhas.jpg” cannot be displayed, because it contains errors.Estava um desenho dele em cima da secretária, espreitei e vi uma forma humana com um halo de luz amarela à volta em cima de uma árvore. Fiquei intrigada, mas lembrei-me que hoje era dia de catequese. Disse-lhe que o desenho estava muito bonito e perguntei o que era. "Ainda não acabei: é a Mãe do céu que apareceu às três ovelhas".

(J.)

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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Praia das Marinhas em Esposende.

Enquanto passeava na praia deserta, encontrei uma cadeira partida (e perdida) no areal imenso, virada para o mar. Foi tirada pelo telemóvel, pelo que a resolução não é grande coisa.

(José Cardoso)

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ÁTOMOS E BITS

de 6 de Março de 2007


Perceber a Europa pelas suas notícias:

- O governo socialista cede a uma greve de fome de um etarra De Juana Chaos, condenado por múltiplos assassinatos, e provoca manifestações por todo o lado em Espanha. Tema: como se combate o terrorismo à europeia e à Zapatero.

- Na Dinamarca, a internacional informal dos okupas, representada em Portugal pelo BE, provoca tumultos violentos. Tema: não são só os neo-nazis...

- Na Rússia, manifestações anti-Putin são dissolvidas à força. Tema: a liberdade na Rússia de Putin a que fechamos os olhos.

. Lembrando o massacre de Srebrenica, fala-se timidamente dos capacetes azuis holandeses que permitiram o massacre, e ainda mais timidamente dos comandos europeus que não fizeram nada para o impedir. Tema: como se faz guerra "humanitária" à europeia e se cumprem as obrigações militares no terreno.

- A BBC, o protótipo elogiado do orgão de comunicação público, não pode falar dos negócios com a "venda das honras", a concessão de títulos reais por troca de favores políticos e outros. Tema: como ser "público" garante a independência.

- Em Itália, Prodi volta aos bons velhos tempos da instabilidade governativa. Tema: perceber porque razão Berlusconi pareceu apetecível a muitos italianos.

Etc., etc.

Na verdade, pouca coisa muda. Esta é a velha Europa de sempre.

*

Mais para "pensar os jornais":

(...) provavelmente pela primeira vez (e logo nos seus 17anos), o PÚBLICO tinha a palavra "lol" escrita na sua capa: "Como é ter hoje 17 anos ou viver a felicidade... lol" É um sinal dos tempos mas não deixa de surpreender os leitores.

(Fausto Ferreira)

*
Eu que gosto de desporto em geral e de futebol em particular, que sou fã do ideal do atleta que dá o seu melhor, que vence ou que tenta vencer, que cria num momento de inspiração um gesto de espectáculo como um artista ou que batalha com coragem como um herói clássico, eu que sou capaz de ficar colado à televisão a ver horas de bilhar transmitido brilhantemente pela BBC ou a ver um jogo de basket da NBA, eu que me orgulho quando Obikwelu vence com as nossas cores, que vibro quando vejo Federer continuar invencível nos cortes de ténis, que admiro profundamente uma jogada de Ronaldinho ou uma tacada de Woods... revolto-me profundamente com os nossos jornais desportivos, que dia após dia com as suas capas e conteúdos ferem o espírito desportivo, ferem o jornalismo e a imparcialidade.

(Filipe Pinto da Silva)

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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Mar da Ericeira.

(Luís de Matos Gonçalves)

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EARLY MORNING BLOGS

980 - Si no temo perder lo que poseo

Si no temo perder lo que poseo,
ni deseo tener lo que no gozo,
poco de la Fortuna en mí el destrozo
valdrá, cuando me elija actor o reo.

Ya su familia reformó el deseo;
no palidez al susto, o risa al gozo
le debe de mi edad el postrer trozo,
ni anhelar a la Parca su rodeo.

Sólo ya el no querer es lo que quiero;
prendas de la alma son las prendas mías;
cobre el puesto la muerte, y el dinero.

A las promesas miro como a espías;
morir al paso de la edad espero:
pues me trujeron, llévenme los días.

(Quevedo)

*

Bom dia!

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5.3.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Fjord Vaxholm, Suécia.

(Paulo Arruda)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O ECLIPSE NO ALGARVE E EM TORRES VEDRAS



(Manuel Serra)

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Eclipse total - Torres Vedras

(Lourenço Bray)

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PENSAR OS JORNAIS - 3

[publico2007.JPG]The image “http://dn.sapo.pt//2007/02/12//capa.gif” cannot be displayed, because it contains errors.
(Devido à sua extensão o artigo não pode ser publicado integralmente no jornal. As partes em vermelho foram cortadas e são aqui repostas.)
Embora não haja receitas milagrosas e a actual situação da chamada "imprensa de referência" em Portugal seja má por razões comuns a toda a imprensa deste tipo e por problemas portugueses, essencialmente ligados à pequena dimensão do mercado, é possível identificar caminhos que, a serem seguidos, melhorariam a situação. À partida, o problema fundamental para se avançar neste caminho é que os jornais já existem e foram criados para outro modelo, com redacções tradicionais que muito dificilmente se alteram sem mudanças drásticas. Seria muito mais simples começar de novo, do zero, criando um novo tipo de jornal de "referência" de raiz, um modelo cuja hibridez se devesse apenas às impossibilidades tecnológicas do presente e não à necessidade de manter o tamanho e composição das redacções actuais. O problema dos jornais actualmente existentes, caso do Público e do Diário de Notícias, é que, devido ao lastro do passado, tem todos os problemas genéricos da crise da imprensa em papel e mais os que advêm da enorme dificuldade de se adaptarem para a transição, para os anos de espera entre o papel e o papel electrónico.

Por isso, parece-me uma solução segura e certa, e, no caso português de escasso mercado, ainda mais segura e certa, que os jornais de "referência" têm de ser muito mais pequenos, mais compactos, mais especializados, menos generalistas, comunicando de forma próxima com outros media, como a televisão e a rede, explorando todas as sinergias, com um conteúdo com identidade própria, resultado de um trabalho jornalístico único. Serão mais parecidos com os semanários e bastante diferentes entre si. Não podem contar com públicos de muitas dezenas de milhares (em Portugal), mas têm de ter uma relação económica sustentável com públicos mais escassos, mas muito mais influentes em toda a sociedade e que estão dispostos a pagar mais. Essa influência trará publicidade, mais do que a "audiência" da venda em banca, mas exige padrões muito qualificados de jornalismo. É como se, mal comparado, se abandonasse a tentativa de fazer televisão generalista para fazer um canal por cabo, a SIC Notícias por exemplo.

Um dos obstáculos a que isto aconteça encontra-se nos próprios jornais actuais, com redacções muito grandes, com vícios territoriais, com dificuldades em ter verdadeira edição sem prémio nem sanção, sem controlos internos, renitentes à verificação de qualidade. Em redacções deste tipo, as restrições de custos têm efeitos devastadores na quebra de qualidade porque o dinamismo é escasso à partida. Do mesmo modo, a introdução de critérios de exigência internos (como se verifica já hoje com a actuação dos provedores) gera grande conflitualidade. Tamanho e mediocridade sempre foram mortíferos para jornais que se pretendem de "referência", só que agora são factores decisivos de sobrevivência

Hoje, um jornal vive numa ecologia muito mais crítica e num escrutínio permanente e público. Os blogues alargaram o campo comunicacional e tornaram inevitável o escrutínio da imprensa escrita, que até há uns anos não existia de todo. Mesmo quando não fornecem essa crítica de qualidade, tornaram a reflexão sobre os jornais inevitável e inescapável. Tornaram difícil manter os jornalistas resguardados num mundo próprio, vivendo em grupo, e "pensando" em grupo, em pack, falando quase que exclusivamente uns com os outros, reagindo corporativamente a todas as críticas, exibindo nos jornais, sem sanção, a sua falta de experiência, de formação e, acima de tudo, de imaginação, deixando o mundo correr ao seu lado sem o ver, repetindo de jornal para jornal, as mesmas notícias, as mesmas palavras, a mesma maneira de ver as coisas, uma casuística superficial que só tem paralelo em Portugal com o mundo político, que é aquele que cada vez é mais próximo do dos jornais e vice-versa.

Há excepções, e é tão má a regra que essas excepções brilham de evidência. Matérias como a Europa, Timor, sondagens, corrupção, são exemplos de casos em que há jornalistas altamente qualificados nos jornais portugueses e que têm um grau de especialização que não se compadece com exercícios amadorísticos num jornal de "referência". O grau de exigência subiu e muito e a competição com os novos media valoriza a especificidade da escrita, da reportagem, da investigação, que sobrevivem bem em papel, muito melhor do que as notícias em tempo real. São jornalistas que conhecem as suas matérias, lêem o que se publica sobre elas, artigos e livros, conhecem os protagonistas, têm fontes altamente colocadas, e, quando escrevem, tem autoridade. Um jornal "de referência" só sobrevive se assentar neste tipo de jornalistas. Eles é que são o penhor da "referência" e é com eles que se pode construir uma redacção compacta, que possa ser um centro de tratamento e edição de informação, que actua organizando, procurando, editando e "escrevendo" a partir de muitos inputs do exterior, quer sobre a forma de contribuições externas (não há razão nenhuma para se utilizarem crescentemente "produções" externas, como acontece nas televisões) quer usando os novos recursos daquilo que é chamado "jornalismo dos cidadãos".

O que esta redacção compacta deve fazer é moldar o fluxo de informação ao trabalho de mediação típico do jornalista e à identidade do jornal, mas cada vez mais é suposto que o facto de trabalharem para o "papel" não deve esquecer que o "papel" e o jornal em linha não devem ser apenas complementares, mas pensados em conjunto como um único produto. Por exemplo, parece-me um erro quer menosprezar a edição em linha quer assentar a edição em linha na edição em papel. É a edição em linha que tem futuro, não a de papel, e o fluxo de informação é o mais importante "material" de qualquer órgão de comunicação.

Hoje, esse fluxo tende a ter actualidade, e "tempo real" apenas na rádio, na televisão e na rede. Mas as "sinergias" de que muito se fala hoje para os modelos de negócio na comunicação deviam ser em primeiro lugar sinergias de informação porque a prazo, rádio, televisão, rede e papel esbaterão as distinções entre meios especializados. Jornalistas com os novos meios digitais ao seu dispor podem gravar, filmar e fotografar. E o jornal deve poder utilizar toda a massa de informação que obtenha, colocando em linha toda a que não servir para colocar no papel, ou aquela que não pode ser colocada em papel. Desde já.

Um exemplo recente mostra como as redacções de hoje não actuam no sentido de maximizar os instrumentos que tem ao seu dispor, valorizando ao mesmo tempo a edição em linha e a de papel. Esse exemplo é o do terramoto de há dias, um caso típico de um evento inesperado, uma notícia em estado puro. Ocorrido o terramoto, que ainda por cima não é um facto privado, um jornal devia de imediato começar a conduzir toda a informação em linha, criando um foco de interesse, de “leitura”, que corresponda a uma necessidade real de informação por parte do público. O efeito do “directo” é muito poderoso e de imediato começam a aparecer testemunhos e, se as houver, imagens e filmes. Esse material pode de imediato ser sujeito a uma edição rápida e conforme a sua natureza colocado em linha. A massa de informação obtida das pessoas (e neste sentido os testemunhos editados podem ser considerados peças de “jornalismo de cidadão”), aliada ao trabalho da redacção em obter informação qualificada, de especialistas em sismologia, técnicos e responsáveis pela protecção civil, permite um trabalho muito mais qualificado e economias de escala. Isto significa uma redacção a mover-se à velocidade dos eventos, com equipas em linha e outras a preparar a edição em papel, acompanhando o trabalho em linha, que pode identificar com muito mais rigor as deficiências da prevenção (telefones de emergência que não são atendidos como deviam, sítios na Rede que vão abaixo, ignorância de bombeiros quanto ao que fazerem, pânico dos responsáveis, falta de treino, etc,) Isto significa também, como é óbvio que o trabalho num jornal dura 24 horas e que a tendência para se fecharem os jornais cada vez mais cedo, os prejudica gravemente.

Muito mais poderia ser dito, seguindo o modelo de tentar aproximar o mais possível o jornal de hoje das tendências de futuro que já podem ser identificadas, mas não cabe aqui. Reconheço que há outras maneiras de colocar a questão, mas trata-se apenas de um exercício de análise, nada mais. A realidade é sempre muito mais complicada.

(Parcialmente publicado no Público de 3 de Março de 2007)

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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR
Ericeira

(Luís de Matos Gonçalves)

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EARLY MORNING BLOGS

970 -The Sea said “Come” to the Brook

The Sea said “Come” to the Brook—
The Brook said “Let me grow”—
The Sea said “Then you will be a Sea—
I want a Brook—Come now”!

The Sea said “Go” to the Sea—
The Sea said “I am he
You cherished”—”Learned Waters—
Wisdom is stale—to Me”

(Emily Dickinson)

*

Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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