ABRUPTO

29.4.06


JUDEU ERRANTE


Mais uma corrida, mais uma viagem.

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RETRATOS DO TRABALHO EM RUIVÃES - VIEIRA DO MINHO , PORTUGAL



Esta fotografia foi tirada hoje durante a tarde junto à Ponte da Misarela no lugar de Frades, freguesia de Ruivães, concelho de Vieira do Minho.

Estes dois homens estavam a cortar o mato para o transportar para as cortes do gado. Quando lhes perguntava se podia tirar esta fotografia, dizia-me um deles que os Portugueses só se sabem queixar, mas que verdadeiramente não querem é trabalhar; eles ao contrário, estavam ali a trabalhar debaixo daquele sol (quase) abrasador.

(Paulo Miranda)

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RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Trabalhos na barra do Douro.

(Gil Coelho)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: GENEALOGIA DAS PALAVRAS

Salazar aos legionários em 1956 sobre a "guerra das civilizações":
“Há vinte anos foi nítido para nós - mas não o foi para muitos - em face do caso espanhol, que o que essencialmente se desenrolava no Mundo eram conflitos de civilização; ou mais precisamente que a civilização ocidental estava sendo desmantelada ate aos alicerces e batida nos seus princípios fundamentais e nas suas criações por outros conceitos filosóficos, outras maneiras de encarar o homem e a vida, novas medidas de valor para as realizações do espírito.”

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MINHO, MINHO, MINHO À NOITE

Pelas estradas do interior, dez quilómetros são cinquenta. Terra, sobre terra, sobre terra. Nomes antigos, nomes bárbaros, consoantes fortes. Bês e guês, erres. De dia, parece estar tudo em cima de tudo, vinhas e terrenos, casas e igrejas. De noite, até parece que há bosques, lugares de escuridão antiga, com casas isoladas, janelas vagamente amarelas ao longe. As igrejas, no cimo das colinas, iluminadas. No iPod, Joan Didion fala de mortes na família, funerais, do seu livro The Year of Magical Thinking. Numa curva, em Roriz, pergunto-me se alguma vez a voz de Didion se ouviu no Minho. Passou-me Camilo à frente, pelos olhos. Não é verdadeiramente nada de importante. Adiante.

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EARLY MORNING BLOGS 769



(do Romanceiro)

*

Bom dia!

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28.4.06


RETRATOS DO TRABALHO NA MAURITÂNIA



Esta fotografia foi tirada no decorrer da semana passada algures entre a pista de praia que liga as localidades de Nouakchott a Nouadibou. Esta ligação/pista é utilizada não só por pescadores mas também por todos os que se deslocam a este local com o objectivo de apreciarem o encanto da conjugação do deserto com o mar. (...) Ao longo da praia são inúmeras as comunidades de pescadores.


(Frederico Moreira Rodrigues)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(28 de Abril de 2006)


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Uma muito interessante vantagem nas "antecipações" jornalísticas (sobre as quais tenho as maiores das reservas) é o de obter uma divulgação quase que inteiramente controlada pela fonte da "antecipação". Consegue-se assim "passar" uma mensagem limpa de ruído, do ruído que inevitavelmente existe quando a "antecipação" se torna um facto (e do meu ponto de vista se torna notícia). Um discurso parlamentar pode ser assim divulgado sem o aborrecimento do contraditório, e com os sublinhados que pretende o seu autor, que "passa" preferencialmente a mensagem que lhe convém e não a integralidade do que vai fazer.

Consegue-se ainda mais: a de fazer o jornalista incorporar no texto da notícia a argumentação da fonte como sendo do jornalista, logo oferecendo uma mensagem que parece mais legitimada e incontroversa a quem a recebe. Um caso típico ocorreu nos últimos dias, com a notícia em primeira-mão dada à SIC sobre as alterações nos cálculos da reforma. A SIC e a SICN passaram em vários noticiários não só a informação do essencial do que o Primeiro-ministro ia dizer no dia seguinte (o que é relevante em termos jornalísticos) como a argumentação governamental sobre a inevitabilidade de tal medida tendo como sujeito o jornalista que a escreveu ou o pivot que a leu. Ora, independentemente do juízo que se possa fazer sobre a virtude das medidas governamentais, elas são escolhas politicas definidas, escolhas entre escolhas, e não cabe ao jornalista valida-las como soluções inevitáveis dos problemas da segurança social.


Aliás um dos trabalhos jornalísticos que se exigia fazer, o de calcular o impacto real das medidas nas reformas reais, só foi feito muito tardia e insuficientemente, aceitando-se que o Ministro e o Primeiro-ministro fossem muito omissos (e o Ministro que costuma ser muito seguro no que diz, hesitando no limite de tartamudear) num aspecto decisivo para a vida de todos. Inconscientemente este mecanismo favorece a interiorização dos argumentos governamentais e permite propaganda em vez de informação.

Voltarei a este assunto também tratado aqui e aqui .

*

O New York Times não faz parte daqueles que acham que os blogues não são importantes. É assim que, num e-mail aos assinantes, introduzem uma categoria nova, a de "most blogged":
"Most Popular: See what your fellow Times readers are buzzing about. Refer to the constantly updated lists: Most E-Mailed, Most Blogged, Most Searched and Most Popular Movies."

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EARLY MORNING PICTURES



Movimento matinal de hoje no Tejo: veleiros, navios de guerra e paquetes.

Hoje o Colombo vai estar cheio de marujos. Mas os marujos já não são o que eram, as sopeiras já desapareceram, e temos todos telemóveis.

(J.)

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EARLY MORNING BLOGS 768

Insomnia


Now you hear what the house has to say.
Pipes clanking, water running in the dark,
the mortgaged walls shifting in discomfort,
and voices mounting in an endless drone
of small complaints like the sounds of a family
that year by year you've learned how to ignore.

But now you must listen to the things you own,
all that you've worked for these past years,
the murmur of property, of things in disrepair,
the moving parts about to come undone,
and twisting in the sheets remember all
the faces you could not bring yourself to love.

How many voices have escaped you until now,
the venting furnace, the floorboards underfoot,
the steady accusations of the clock
numbering the minutes no one will mark.
The terrible clarity this moment brings,
the useless insight, the unbroken dark.


( Dana Gioia)

*

Bom dia!

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27.4.06


JORNALISMO DE "ANTECIPAÇÃO" COM CINQUENTA ANOS



No Século em Novembro de 1956.

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QUEM PAGA A CRISE?



No fim de um ano de aumento de impostos, de excepcional recolha fiscal e do arranque de várias medidas de contenção, o Governo conseguiu ter um défice superior ao previsto no último orçamento de Santana Lopes / Bagão Félix, descontadas as receitas extraordinárias. Nunca saberemos se o previsto se iria realizar, como nunca saberemos se os 6,8% calculados pelo Banco de Portugal não seriam contrariados por medidas do Governo. O que sabemos é que os resultados são maus. Os relatórios da última semana da OCDE e do BM apenas acentuaram a impressão de que nada vai bem, e as medidas do Governo só tocam na superfície dos problemas, na “epiderme” como diz Medina Carreira. Tudo isto num contexto excepcional quanto às condições políticas, com um governo de maioria absoluta e com uma oposição muito fragilizada, e com considerável apoio da opinião pública.

Torna-se evidente que os dilemas que já existiam em 2005 estão hoje mais acentuados e a margem de manobra, com a passagem do tempo, é já bastante menor. Vamos pois a caminho de tempos muito difíceis, agravados pela conjuntura internacional, mas não explicáveis nem exclusiva, nem principalmente por ela. Agora que realmente tudo vai começar a apertar, e já sem a sombra nem a desculpa legitimadora do governo Santana Lopes, as opções erradas de Sócrates, do Governo e do PS começam a perceber-se com maior clareza. Deixo de lado, que havia uma maneira alternativa de actuar, uma política genuinamente liberal, que no entanto não corresponde às opções políticas e ideológicas do Governo socialista.

Como nas histórias infantis, tudo começou no princípio, “naquele tempo”. No balanço da actuação de Sócrates esquece-se várias coisas: uma é que o discurso com que o PS ganhou as eleições não era um discurso de crise, bem pelo contrário, era o da sua negação. Não se chegava ao ponto de anunciar a “retoma”, mas o discurso socialista era o de que havia “vida para lá do défice”. É uma história da carochinha da propaganda acreditar que Sócrates só se apercebeu da situação real depois do relatório Constâncio, porque tal era impossível.

É verdade que Sócrates corrigiu o discurso logo que ganhou as eleições e fez bem, mas uma coisa é corrigir um erro outra é compreender totalmente a necessidade de uma viragem de fundo. Depois de um ano a ser saudado com justiça pela sua coragem nas medidas difíceis, pouca gente se apercebeu que os problemas de fundo do nosso desequilíbrio financeiro se mantêm, em particular com o estado a gastar sempre mais e a “comer” não só o que tinha, mas também o que estava a entrar de novo. Apresentar como resultado um défice maior do que o governo anterior não tem volta que se lhe dê – é andar para trás.

Porque é que é hoje mais difícil passar de 6% para 4,8% do que seria um ano antes?

Primeiro, porque é (foi) um erro gravíssimo, ter cedido ao populismo no pior momento para o fazer. O Governo podia muito bem ter pedido todos os sacrifícios e ter anunciado todas as medidas difíceis com um único argumento: eram necessárias para o país, eram uma questão de “salvação nacional”. Ponto final. Mas o Governo cedeu à tentação de dizer que o que estava a fazer era uma luta contra os “privilégios “ de muitas classes profissionais e com isso deslegitimou-os na sua respeitabilidade social.

Hoje sabemos o efeito dessa táctica comunicacional: deixou cada grupo profissional de per si, socialmente isolado, face a uma opinião pública hostil, mas azedou irremediavelmente o ambiente dentro de cada corporação e grupo entrincheirados contra o Governo. Fez as corporações e os grupos profissionais fracos por fora e fortes por dentro. Uma segunda vaga ainda mais dura de medidas de austeridade e contenção vai dar origem a conflitos sociais mais tenazes. Os comportamentos desesperados vão ser mais comuns, a resistência maior.

Isto significa que muito do tempo psicológico para uma política de efectiva dificuldade, já se perdeu, no exacto momento em que é preciso ir muito mais longe e começar a perceber quem ganha e quem perde com a crise que atravessamos e o modo como o governo a defronta.

Segundo, porque o Governo apenas esboçou as políticas necessárias, excluindo muitas medidas que lhe foram sugeridas e que melhor traduziam a gravidade da situação. Claro que o problema é também político-ideológico, em particular na intocabilidade do “estado social” universal, em que nunca ousou mexer, apesar de ser um caminho que garantia melhor justiça social. Sócrates diminuiu regalias sociais, mas manteve esquemas de universalidade, em particular na segurança social e no sistema de saúde, o que torna muitas medidas mais duras para os mais pobres e irrelevantes para os mais ricos.

Na verdade, as medidas de Sócrates acabam por atingir essencialmente os sectores mais desfavorecidos da sociedade, mais dependentes da inflação, do aumento das taxas de juro, dos despedimentos, da erosão das reformas e menos a classe média. Dos ricos nem falo, porque esses podem sempre bem com as crises. O que o discurso de Cavaco Silva no 25 de Abril traz de novo para a análise desta questão é chamar a atenção para que, se nada mais se fizer, a crise será “paga” pelos mais pobres e agravará a exclusão. A ênfase que “surpreendeu” muita gente, só é surpresa porque se tem ignorado que essas dificuldades não são igualmente distribuídas e que o “pagamento da crise”, deixando-se estar as coisas como estão, irá para baixo e não para o meio. Insisto que, em cima, nada verdadeiramente conta no plano “social”.

A classe média, até agora só tem sido tocada ao de leve. Os padrões de consumo não revelam significativas restrições nos hábitos típicos desse sector social (férias, viagens nas “pontes”, por exemplo) e, no essencial, o efeito da crise tem sido superficial, em detrimento das muito maiores dificuldades escondidas e que raras vezes chegam à comunicação social, no baixo funcionalismo, no mundo do trabalho industrial, nos jovens com trabalho precário, na pequena burguesia urbana dos serviços, muito endividada. O agravamento da crise aprofundará este fosso de degradação de qualidade de vida.

O problema da justiça social nesta crise não está apenas, bem longe disso, na assistência aos casos extremos de miséria e exclusão, aos marginais e aos velhos desprotegidos, que já era exigida pela nossa pobreza há muito tempo. A questão está em se compreender que esta forma de atacar a crise atirará com os seus custos para os grupos sociais que menos defesa têm e, como o que aconteceu até agora é apenas um ligeiro assomar de dificuldades que aí vêm, convém prevenir não contra a austeridade, nem o contra o combate ao descalabro financeiro, mas contra um injusto “pagamento da crise”. E não é o PCP quem o diz.

(No Público de hoje.)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(27 de Abril de 2006)


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Nos idos de Novembro de 1956, em plena crise do Suez e da invasão soviética da Hungria, o senhor Ministro do Interior velava por nós e pela censura.



*

Sobre as querelas da Academia a propósito dos dicionários, leia-se esta nota do Da Literatura.

*

O Canhoto merece ser lido de forma ambidextra.

*

Bem-vindo seja o novo blogue russo do Público, de autoria do nosso bom mujique José Milhazes. Há uma razão especial para estar atento à Rússia: tudo o que lá acontece, mesmo quando parece velho e semelhante, é novo. A "transição para o capitalismo" é um fenómeno sem precedente histórico, como foi em 1917 a Revolução Russa.

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RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL


( o trabalho industrial está mal representado)
( a fábrica fechou)

(António Carvalho)

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EARLY MORNING BLOGS 767

Chanson Innocente, I

in Just-
spring when the world is mud-
luscious the little
lame balloonman

whistles far and wee

and eddieandbill come
running from marbles and
piracies and it's
spring

when the world is puddle-wonderful

the queer
old balloonman whistles
far and wee
and bettyandisbel come dancing

from hop-scotch and jump-rope and

it's
spring
and
the

goat-footed

balloonMan whistles
far
and
wee


(e.e.cummings)

*

Bom dia!

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26.4.06


RETRATOS DO TRABALHO



140 retratos do trabalho já foram publicados no Abrupto, com a colaboração de cerca de cem leitores em Portugal e fora. Muitos outros retratos foram recebidos e serão publicados a seu tempo. Em breve, se fará uma análise dessas fotografias, do olhar sobre o trabalho que revelam, das profissões que faltam ( o trabalho industrial está mal representado) e das que são mais populares, ou mais visíveis.

*
Em relação à questão da pouca representatividade do "trabalho industrial" na sua série "Retratos do Trabalho em Portugal", eu aventaria uma razão bastante prosaica. A maior parte das fotografias que lhe chegaram são de fotógrafos amadores, que as captam em momentos de lazer (essencialmente fins de semana e férias), pelo que é compreensível que nesses momentos se captem fotografias de "exterior".

(António Maltezinho)

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RETRATOS DO TRABALHO NO CAIRO, EGIPTO



Nestes últimos meses em que tenho estado a viver/trabalhar no Egipto, tenho notado bastantes diferenças na abordagem ao trabalho e à vida em geral, nem todas tão evidentes como esta.

(Nuno Alexandre Lopes Marques)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
DESTAQUE DE NOTÍCIAS


(...) hoje no Publico vêm duas noticias muito interessantes:

1) a Faculdade de Psicologia do Porto corre o risco de ficar fora do processo de Bolonha porque uma funcionária não pagou um excesso de peso no dia 27 de Março. O prazo limite era 31, e os documentos só seguiram no dia 3. O que é que se terá passado nessa semana (de 27/3 a 3/4) é um mistério; como é que é possível que o erro não tenha sido corrigido a tempo é outro mistério. Como se costuma dizer, a realidade ultrapassa a ficção. Aguardemos pelas cenas dos próximos capitulos.

2) vai haver uma exposição sobre a Custódia de Belém de Gil Vicente. Saúda-se a iniciativa. O que é incrível é que quando se vai ao Museu de Arte Antiga, a Custódia passa despercebida. Não há (pelo menos não houve durante anos e não havia até ao ano passado) um texto que evidencie a singularidade da obra, ou que explique quem é o autor. Apenas são prestadas as informações minimas usuais: data, nome e autor. Sem querer ser destrutivo de modo saloio, parece-me muito pouco. E parece-me revelador de duas coisas:

- um modo elitista de ver a cultura (supõe-se que as pessoas já conhecem a obra) que resulta em Museus que são montras (e onde não se aprende nada / o conteúdo didáctico é pouco).

- um modo muito "sub-desenvolvido" de nos valorizarmos e de preservarmos a nossa memória colectiva. Estamos sempre a pensar que somos piores que os Europeus, mas Shakespeare, Rabelais, Montaigne ou Cervantes não eram ourives. Outro povo evidenciaria provavelmente mais essa fantástica versatilidade de Gil Vicente. Tornar-nos realmente desenvolvidos vai passar por aí: cuidar da nossa história, dos nossos feitos. Essa versatilidade aliás ainda existe. Um dos artigos base de uma das ultimas edições da Publica (se não me engano) era dedicado a essas pessoas.

(Eduardo Tomé)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
UM DIÁLOGO MATERNO-INFANTIL E AS NOVAS TECNOLOGIAS



"Mãe, jà foi a algum leilão?

Já, de livros.

Na internet?

Não. Numa leiloeira.

Acha que podiamos tentar vender o João no ebay?

Acho. O que é que achas João?

Acho que faziam para ai uns dois milhões..."


(Mãe do João.)

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25.4.06


RETRATOS DO TRABALHO NO DOURO, PORTUGAL


Podando oliveiras no Douro.

(Abilio Tavares da Silva)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TERRORISMO EM DAHAB


Esta vila é umas das pérolas do Mar Vermelho, ainda pouco explorada turisticamente. Em Assalah, a zona sul da vila já cresceram alguns 'resorts', no resto da vila uns quantos pequenos hotéis e um passeio marítimo com restaurantes, lojas e esplanadas junto à água, onde se pode fumar shisha, comer um peixe grelhado fresquíssimo, não deve haver melhor no Egipto. As praias são calmas e o fundo do mar uma maravilha da natureza, onde os turistas se deleitam a fazer mergulho. Em suma um local muito agradável, onde é possivel descontrair. E era isso mesmo isso que os turistas, em boa parte italianos, alemães e russos e muitas famílias egipcias estavam a fazer, aproveitando os feriados desta semana.

Ontem ao final da tarde com a explosão de três bombas, despoletadas à distância ou por suicidas, ainda não se sabe, se foram os mesmos terroristas beduinos que nos últimos dois anos foram responsáveis por ataques semelhantes com ligações a redes terroristas internacionais ou alguma dessas redes internacionais também não se sabe. O que se sabe e se vê é o sangue derramado, o sofrimento, os destroços e os estilhaços. O terrorismo é isto mesmo, é transformar a alegria, a vida, o sossego, os negócios em angústia, em morte, em medo e destroços.

(Nuno Alexandre Lopes Marques aka Temba, Cairo)

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ONDE ESTÁ A DIFERENÇA



Se não tivessemos a obsessão entre a "esquerda" e a "direita", percebíamos o fosso potencial que existe entre o discurso do Presidente e o do Governo : a separação de águas entre o discurso desenvolvimentista e tecnológico, muitas vezes deslumbrado, do Primeiro-ministro, e a observação do Portugal real, pobre, estragado, desigual, excluído que só poderá agravar-se em período de crise social e económica. Não são as reformas que os separa, mas o Portugal diferente para que olham na análise dos seus efeitos.

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PALAVRAS QUE SÃO MULETAS DO NOSSO JORNALISMO: ESQUERDA / DIREITA



Ao "analisar" o discurso do Presidente da República repetem n vezes a muleta da "esquerda" e da "direita" e nem sequer se apercebem de que o fazem para enunciar uma perplexidade, - o Presidente da "direita" fez um discurso de "esquerda" -, que talvez justificasse outro tipo de análise. Só que esta é simples e permite simplificar. O problema é que os factos são mais teimosos do que as palavras.

*
A propósito do discurso do Presidente da República, e a sua observação, ou seja, sobre o estado da Nação, não resisto a transcrever o que José Daniel Rodrigues da Costa versejou, sobre o mesmo assunto em 1819, e sucessivas edições (1820, 1822 e 1829), há 177 anos portanto, com o título infra, e onde transparece algum retrato de um Portugal que se vai parecendo a si mesmo, como se o tempo tivesse parado no tempo.

PORTUGAL ENFERMO / PELOS VICIOS, E ABUSOS DE AMBOS OS SEXOS

Portugal, Portugal ! Eu te lastimo !
E bem que velho sou ainda me animo
A mostrar-te os defeitos, e os excessos
Dos costumes, que tens já tão avessos
Dos costumes, que tinhas algum dia,
Quando mais reflexão na gente havia.
Tu de estranhas Nações foste envejado;
Hoje faz compaixão teu pobre estado:
Cada vez te vão mais enfraquecendo,
Todo o brilho, que tinhas, vas perdendo:
Paraiso do mundo te chamavão;
As mais Nações com tigo se animavão;
Ellas porém ficarão sãs, e fortes;
E tu todo o instante exposto aos córtes
Da usura, da ambição, da falcidade,
Do egoismo, da fuga, da impiedade:
Males, que aos que bem pensão cauzão tédio,
A que apenas descubro hum só remedio,
Que outro melhor não ha, a que se apelle,
E muita gente chora a falta d’Elle*…
……………………………………………

*…A desejada vinda dos nossos Soberanos.

Guardando as distâncias no entendimento do tempo que as separa, e se se quiser aplicar à actualidade o rodapé de então, basta substituí-lo, com a devida vénia, por A desejada vinda do Professor Cavaco Silva.

Pela sua extensão, limito-me a transcrever o princípio. Para quem quiser compulsar todo o livreto pode fazê-lo na Biblioteca Nacional, na cota L 65160 P, correspondente à edição de 1822 que consultei, mas as outras edições também estão disponíveis. Vale a pena lê-lo para se verificar que 177 anos, não são mais do que 177 dias.

(João Boaventura)

*

Mais do que a pobreza de análise da "esquerda/direita", "com cravo/sem cravo", perfeitamente indigente (é mesmo a expressão, peço desculpa) há coisas mais importantes a marcar a sessão comemorativa do 25 de Abril, a saber:

A tónica colocada por ACS na inclusão social que é, verdadeiramente, a pedra de toque que distingue o desenvolvimento do sub-desenvolvimento, a civilização da barbárie.

O facto de o seu discurso ter focado um só tema (um e só um), aquilo que se poderia designar em linguagem de gestão o key issue, evitando a dispersão distractiva e o discurso programático.

O discurso radical, aqui sim "à direita", do CDS/PP, afastando-se do conteúdo da notável entrevista de Mª José Nogueira Pinto à 2: e aproximando-se muito claramente da linha editorial (podemos chamar-lhe assim?) do extinto "Acidental" e da revista "Atlântico", e de textos de alguns dos seus mais conhecidos polemistas (v.g. Luciano Amaral e Mª Helena Matos).

A menção de Marques Mendes, no início do seu discurso, a "Sua Eminência Reverendíssima o Cardeal Patriarca" (sic). Penso terá sido o único (não ouvi o início do discurso do CDS/PP e de certeza o "Bloco" - que não ouvi - não o fez). Sinceramente, lamentável.

(João Cília)

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24.4.06


EARLY MORNING BLOGS 766



Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya


Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-1a.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.


Lisboa, 25 de Junho de 1959

(Jorge de Sena)

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RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL


Calceteiros na Praça da Liberdade, no Porto.

(Álvaro Mendonça)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(24 de Abril de 2006)


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Por mim, os jornais em papel não perdem nas vendas. Leio-os em linha e dias depois em papel. A experiência de ler em papel é muito diferente de ler em linha e, às vezes, perde-se muito ao não se poder "ver". Mas há outro aspecto interessante, que é o perceber como os jornais suportam a prova do tempo, mesmo que seja a de alguns dias. É um exercício muito útil e pedagógico.

Acabei agora de ler a Visão com vários dias de atraso. Duas coisas interessantes: a caricatura do "Puro veneno" com um Bush a rasgar e a comer um tapete persa. A legenda é que é interessante: "Não suporta nada que tenha a ver com o Irão!" diz uma voz off. No entender do caricaturista seria interessante saber o que é que hoje é "suportável" no Irão.

A outra é uma explicação de Freitas do Amaral sobre a sua ida ao Canadá que foi ignorada pela imprensa, certamente porque o assunto já não está na agenda mediática. Independentemente de se concordar ou não com o MNE, uma coisa tem que se elogiar: Freitas do Amaral desce muitas vezes da sua posição ministerial para se explicar, o que é um mérito.

*

Book Cover A. S. Byatt sobre Everyman, o novo Philip Roth:
"Roth's characters inhabit a truly post-religious world, in which we do not have immortal souls, only sick, lively desire, and the dying of the animal. The title of this new, bleak tale is taken from a mediaeval morality play in which Everyman, the human soul, is called by Death to appear before God's judgement seat. He is deserted by his strength, discretion, beauty, knowledge and five wits, leaving only his Good Works to speak for him at the end."

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EARLY MORNING BLOGS 765

http://www.uscg.mil/lantarea/iip/Photo_Gallery/Icebergs_Images/block%20icebergs.jpg

Icebergs

Icebergs, sans garde-fou, sans ceinture, où de vieux cormorans
abattus et les âmes des matelots morts récemment viennent s'accouder
aux nuits enchanteresses de l`hyperboréal.

Icebergs, Icebergs, cathédrales sans religion de l'hiver éternel,
enrobés dans la calotte glaciaire de la planète Terre.
Combien hauts, combien purs sont tes bords enfantés par le froid.

Icebergs, Icebergs, dos du Nord-Atlantique, augustes Bouddhas gelés
sur des mers incontemplées. Phares scintillants de la Mort sans issue, le
cri éperdu du silence dure des siècles.

Icebergs, Icebergs, Solitaires sans besoin, des pays bouchés, distants,
et libres de vermine. Parents des îles, parents des sources, comme je
vous vois, comme vous m'êtes familiers...

(Henri Michaux)

*

Bom dia!

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23.4.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SUSTO E PAVOR



Na habitual linha editorial das nossas TVs de sinal aberto que estão mais ao nível das "trash TVs" de 3º mundo, arrepia até pensar no que virá por aí em Junho 2006 com o inicio do mundial de futebol na Alemanha. O horário nobre será tomado de assalto pela barbárie da futebolândia com reportagens no inicio, no meio e no fim dos telejornais cá do burgo com noticias tão relevantes como a lesão do avançado, o cartão amarelo ou a cor do underware da selecção portuguesa...

É assim a nossa pequenês, a nossa cultura saloia, a nossa procissão mediática profano - religiosa em que pululam expressões com o "sobretudo de Mourinho", "o regresso de Mantorras" ou "as escolhas de Felipão" que fazem as primeiras páginas até de jornais ditos de referência...
Portugal é o paradigma de pequena pátria ansiosa por heróis perenes que nada acrescentam de concreto ao verdadeiro desenvolvimento do país... Portugal é uma pátria exacerbada, uma espécie de "bonfire of vanities" à espera que heróis virtuais façam grandes milagres...e o pior ?
O pior, é que até as designadas elites que nos governam e desgovernam alinham no esquema...

(António Ruivo)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(23 de Abril de 2006)


__________________________

Num pilar de acesso à Ponte 25 de Abril:



"Dr. Salazar"? Se fosse só "Salazar" percebia-se, o "Dr." é que é todo um programa em duas letras. Salazar era Professor, "Prof.", mais do que apenas "Dr.", mas na altura bastavam as duas letras para enunciar a distinção. O autor da inscrição sente essa distinção tanto quanto a quer transmitir com a simplicidade de um nome que diz tudo. É uma pichagem ingénua e por isso eficaz. Mas não há diferença nenhuma entre este "Dr." e o "camarada" das pichagens sobre o "camarada Gonzalo".

*
(...) tanto quanto sei (e pouco mais sei que isso), "Dr. Salazar" é o nome de uma banda que, aliás, chegou a actuar na Festa do Avante, há uns anos atrás. Essa inscrição está em inúmeros outros sítios. Parece-me que estes factos alteram o príncipio (uma inscrição isolada, num local específico) de que parte para o seu raciocínio e interpretação.

(Rui Almeida)

*

A pichagem na ponte, além da possibilidade de se relacionar com a banda, ou as considerações àcerca do "Dr.", não estará mais ligada com o exemplo do postal de que junto cópia?



(Vieira Pinto)
*

"Ouvido" no Overheard in New York
Does Psycho Killer Start with P?

Girl: I'm thinking of an animal that starts with a P.

Guy: Porcupine?

Girl: No. Wait, are those big smears of blood all over that subway map?

Guy: I think they're paint.

Girl: They're totally blood.

Guy: [looks harder] Yeah, you're totally right... Penguin?
Girl: Nope!
--

1 train
: Overheard by: djlindee

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EARLY MORNING BLOGS 764

La Génisse, la Chèvre, et la Brebis, en société avec le Lion

La Génisse, la Chèvre, et leur soeur la Brebis,
Avec un fier Lion, seigneur du voisinage,
Firent société, dit-on, au temps jadis,
Et mirent en commun le gain et le dommage.
Dans les lacs de la Chèvre un Cerf se trouva pris.
Vers ses associés aussitôt elle envoie.
Eux venus, le Lion par ses ongles compta,
Et dit : "Nous sommes quatre à partager la proie. "
Puis en autant de parts le Cerf il dépeça ;
Prit pour lui la première en qualité de Sire :
"Elle doit être à moi, dit-il ; et la raison,
C'est que je m'appelle Lion :
A cela l'on n'a rien à dire.
La seconde, par droit, me doit échoir encor :
Ce droit, vous le savez, c'est le droit du plus fort
Comme le plus vaillant, je prétends la troisième.
Si quelqu'une de vous touche à la quatrième,
Je l'étranglerai tout d'abord. "

(La Fontaine)

*

Bom dia!

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22.4.06


VER A NOITE





Agora mesmo, numa terra sem luz pública, imersa numa escuridão quase total.

*

Outra mudança, mais subtil, a da geografia interior da casa. Sem a luz que entra de fora, da lua (que não há), dos candeeiros, que estão apagados, os contornos da casa perdem-se por dentro. As janelas abrem-se para um escuro que fecha a casa em si mesma. É difícil atravessá-la sem abrir todas as luzes, falta um reflexo de uma clarabóia, um traço amarelo que vem da rua, um rastro de néon ou de magnésio, mesmo de longe, do mundo exterior.

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COISAS DA SÁBADO: OS TELEJORNAIS DOENTES COM TANTA DOENÇA

Hoje não há telejornal sem doenças. Ou são congressos sobre doenças, com reportagens sobre os doentes, ou são campanhas contra esta ou aquela doença, mais reportagens sobre os doentes; ou são casos raros, abstrusos, excepcionais, sobre uma doença que ataca meia dúzia de pessoas, mais reportagens sobre os doentes da rara doença. Não é possível chegar ao fim do longo tempo de noticiário sem a dança intercalada entre o futebol e as doenças. Nos períodos de “operações” da GNR para controlar o trânsito das pontes, miniférias idas e vindas de feriados e férias pequenas, médias e grandes, como se sabe uma actividade constante entre os portugueses, temos o menu intercalado entre futebol, doenças, acidentes e filas de trânsito. Infeliz país o nosso, que só tem doenças. Feliz país o nosso, em que não há notícias.

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COISAS DA SÁBADO: O FINANCIAMENTO DO HAMAS

O Hamas ganhou as eleições no território da Autoridade Palestiniana. Muito bem. Ganhando as eleições deve constituir governo. Muito bem. Um dos erros trágicos da diplomacia ocidental, que se pagou com uma guerra civil foi apoiar o golpe de estado contra a FIS na Argélia, impedindo-a de chegar ao governo. O Hamas não quer mudar duas das suas posições centrais – o não reconhecimento da existência de Israel e o apelo à violência bombista contra os israelitas. Muito bem, embora aqui seja muito mal. O Hamas coloca-se assim fora do “processo de paz” tal como ele existia, mesmo que fragilmente. Muito bem, está no direito de o fazer. O que não pode, nem ele, nem os seus “compreensivos” amigos na esquerda ocidental, é querer que Israel, os EUA e a União Europeia continuem a financiar o governo palestiniano do Hamas, financiamento que era um contrapartida para a aceitação do “processo de paz”.

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ARQUIVO: OUTRAS MÚSICAS






Velhos discos de 45 RPM, directa ou indirectamente relacionados com a vida política.

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RETRATOS DO TRABALHO EM SANTIAGO DE COMPOSTELA, ESPANHA


Abastecimento matinal (08H00 da manhã, 07H00 na república portuguesa).

(José Pedro Oliveira S.)

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EARLY MORNING BLOGS 763

Today and Two Thousand Years from Now

The job is over. We stand under the trees
waiting to be told what to do,
but the job is over.

The darkness pours between the branches above,
but the moon's not yet
on its walk

through the night sky trailed by stars.
Suddenly a match flares, I see
there are only us two,

you and me, alone together in the great room
of the night world, two laborers
with nothing to do,

so I lean to the little flame and light my Lucky
and thank you, comrade, and again
we are in the dark.

Let me now predict the future. Two thousand years
from now we two will be older,
wiser, having escaped

the fleeting incarnations of workingmen.
We will have risen from the earth
of southern Michigan

through the tangled roots of Chinese elms
or ancient rosebushes to take
the tainted air

into our leaves and send it back, purified,
down the same trail we took
to escape the dark.

Two thousand years passed in a flash to shed
no more light than a wooden match
gave under the trees

when you and I were lost kids, more scared than
now, but warm, useless, with names
and different faces.

(Philip Levine)

*

Bom dia!

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21.4.06


RETRATOS DO TRABALHO EM SORGAÇOSA, SERRA DO AÇOR - ARGANIL, PORTUGAL


Carregando um tronco de pinheiro para fazer cavacas destinadas à fogueira.

(António Lopes Pedro)

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INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas NUNCA É TARDE PARA APRENDER: "A ILHA HERÓICA" (MALTA STORY) e A FAUNA DAS CAIXAS DOS COMENTÁRIOS.

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(21 de Abril de 2006)


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Nós temos o nacionalismo típico dos pobrezinhos: o astronauta brasileiro foi quase sempre designado no Telejornal das 12 horas da RTP1 como "lusófono", e o ter-se falado português no espaço como o evento principal da viagem. Como se Portugal tivesse algum mérito, algum papel, na ida para o espaço do nosso estimado brasileiro.

*
Ao ler o seu post lembrei-me que no passado já tinha sentido o mesmo, nas últimas eleições americanas com a senhora Teresa Heinz Kerry e a possiblidade da primeira dama americana falar português.

Nacionalismo à parte, fico contente quando os "outros" se lembram de "nós", em geral devido ao futebol, o que é pena, mas deve ser a única coisa em que temos tido visibilidade junto do público em geral.

No ano passado por esta altura, passava na África do Sul um anúncio de televisão da cerveja Castle que terminava em Portugal com imagens da bandeira portuguesa[a ligação da bandeira à cerveja não me agradou muito, confesso] e de um jogo de futebol no novo estádio de Alvalade. Ou ainda à poucos dias, num canal de televisão egípcio, passava um filme local onde uma das personagens a determinada altura envergava a camisola 7 da selecção nacional.

(Nuno Alexandre Lopes Marques aka Temba)

*

A propósito da observação/questão colocada pelo leitor Rui C. Barbosa: eu sentir-me-ia exactamente da mesma forma, como antes de ouvir o erro do tradutor oficial. Provavelmente pensaria que ele, pela profissão, teria obrigação de o não cometer. A única coisa que me poderia incomodar, enquanto português, é que ali estava, como se mais fossem necessários, outro exemplo de como as pessoas deste país negligenciaram, décadas a fio, a própria língua e a sua divulgação. A língua inglesa também não nasceu nos EUA (tal como o português no Brasil), país esmagadoramente dominante a vários níveis, e ninguém se refere à língua americana.

Paulo Azevedo

*

Obviamente que Portugal não tem nenhum mérito na viagem de Marcos Pontes. No entanto gostava de saber como se sentiria se ouvisse o tradutor ocifial da comitiva brasileira presente nas conferências de imprensa ás quais assisti em Baikonur a dizer aos presentes que primeiro falaria em 'brasileiro' e depois traduziria para russo e que os representantes do Brasil falariam em 'brasileiro'. Não deixa de ser curioso que era o próprio Marcos Pontes a dizer que falava primeiro em português e depois em inglês e russo.


Eu próprio salientei várias vezes em Baikonur que Marcos Pontes era o primeiro astronauta a falar português a viajar no espaço, coisa que muito me orgulhava.

(Rui C. Barbosa)

*

Fazem parte desse nacionalismo dos pobrezinhos coisas como «o Chelsea de Mourinho», «o Milan de Rui Costa», «o Barcelona de Deco» - e por aí fora, em "notícias" em que a realidade é virada de pernas para o ar para gáudio da saloiada nacional. Há tempos, até teve destaque na TV um golo de um futebolista da Selecção dos Camarões só porque o homem era treinado, lá na sua terra, por um português!

Se esses patriotas-da-treta resolverem, também, deitar foguetes pelo facto de uma das personagens principais do romance «Fotaleza Digital» ser português, esperemos que omitam que ele é o assassino...

(C. Medina Ribeiro)
*

Dilemas dos académicos na televisão: sound bites ou argumentos?

*

Sartre e Beauvoir, o casal insuportável, começa a ter boa imprensa. Não há nada que, deixando passar o tempo e as fúrias, não tenha boa imprensa. Ele dizia " Je suis écrivain, j'ai besoin d'amours contingentes !", ela era menorizada como La Grande Sartreuse. Agora um telefilme Amants du Flore retoma a história do casal e Assouline conclui:
"Mais des deux, le génie, c'est elle. Rien dans l'oeuvre de Sartre n'arrivera à la capacité d'influence et de bouleversement des mentalités du Deuxième sexe. Sur la durée et dans la profondeur, c'est Beauvoir qui restera -et qui reste déjà, n'en déplaise à la secte des gardiens du temple sartrien, qui d'ordinaire assimile la moindre réserve à une insulte."
*

Algumas perguntas e afirmações certeiras de João Adelino Faria no Diário de Notícias:
"Há quanto tempo não damos notícias? Há quanto tempo nós, jornalistas, corremos quase obsessivamente, todos os dias, para escutar mais uma reacção sobre uma declaração feita por um ministro, político, advogado, juiz ou procurador? (...) Porque andamos todos atrás uns dos outros? Um jornal avança com um tema, a rádio segue, a televisão completa, ou vice- -versa - a ordem pouco importa. É uma tarefa quase inglória descobrir algo diferente nos jornais, na rádio e na televisão. Estamos todos quase sempre à volta do mesmo.(...)

O que esta semana é relatado até à exaustão, na seguinte é substituído ou suspenso porque outras novas alegadas histórias surgiram, ou assim nos fizeram crer, para matar as anteriores. São notícias esquecidas que só voltam à primeira página quando surgir algo de novo. O que esquecemos muitas vezes é que somos nós quem tem a responsabilidade de encontrar o desenvolvimento e não esperar pela vontade daqueles que detêm a informação e não têm interesse em divulgá-la.

Temos fama de contrapoder ou quarto poder, mas não se pode viver eternamente da reputação - há que fazer justiça ao nome e isso depende de todos e de cada um que ainda quer fazer jornalismo."

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EARLY MORNING BLOGS 762

International Incidents


1.

Wang Ping asks if
we went to a seder
last night
She did,
in Minneapolis
No, I say, we’re not
observant
as though we constantly
overlook details

2.

The teachers in the lounge
crowd around the
Swedish visitor
You must be very proud
one of them beams
to be Swedish
She has no idea
what that means
She says,
I don’t dislike
being Swedish

3.

Who’s ever met a Bulgarian?
he would shout in the bar
Then one night
two homely blond sisters
smiled and said
We are Bulgarians!
They smiled for two weeks
then went away forever

(Robert Hershon)

*

Bom dia!

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20.4.06


RETRATOS DO TRABALHO EM CORUCHE, PORTUGAL


Lavrando, Coruche, Vale do Sorraia, Abril 2006.

(António Ferreira de Sousa)

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A FAUNA DAS CAIXAS DOS COMENTÁRIOS



A Rede está a mudar tudo, a criar coisas novas, a realizar outras muito antigas que as tecnologias até agora existentes ainda não permitiam e a dar eficácia a velhos, e muitas vezes maus, hábitos que existiam no mundo exterior e agora passam para o mundo interior da Internet. Alguns casos recentes voltaram de novo a mostrar a Internet sob uma luz pouco amável, bem preconceituosa aliás, porque nada do que lá se faz se deixou de fazer cá fora. O que há é um upgrade tecnológico no crime, que a Rede melhora e nalguns casos favorece pela sua acessibilidade e universalidade. São estes os múltiplos exemplos da chamada “fraude nigeriana”, ou os casos de Phishing que leva os incautos a fornecerem palavras-passe de acesso a contas bancárias; os casos de “cyberstalkers”, pessoas que perseguem outras cujo nome e morada aparece na Internet. Isto tudo depois da pedofilia, e de outras utilizações criminosas da Rede.

O que é novo na Rede, quer na “normal” quer na criminosa, são as características psicológicas especificas do mundo em linha, em especial a exploração da fronteira, mais ténue do que parece, entre a realidade e a virtualidade. E isso traz elementos novos como se vê se analisarmos para além do crime em si. Um caso actual é o do assassinato de uma menina de 10 anos, por um autor do blogue chamado “Strange Things are Afoot at the Circle K.” , que tinha feito pouco antes um comentário sobre canibalismo, O que há de novo neste caso e no interesse mediático sobre ele, é que em vez de um diário em papel, ou escritos mais ou menos dementes ou geniais, como era o caso pré-Internet do Unabomber, agora, quase de imediato, todos se voltam para o blogue, para o perfil do blogue, para o rastro na Rede do putativo criminoso. A Rede fica indissociável da nova identidade das coisas, como se entre o mundo virtual e o real a teia fosse completa. E, se calhar, é.

Mas não é este apenas o único aspecto interessante, há outro para que não se tem chamado a atenção: o mundo muito próprio dos que escrevem sobre textos alheios nas caixas de comentários dos blogues ou de órgãos de comunicação em linha. O Strange Things are Afoot at the Circle K. continua em linha e tem, à data em que escrevo, 644 comentários na última nota escrita pelo seu autor, todos eles posteriores ao conhecimento do crime. O blogue continua vivo mesmo depois da prisão do seu autor.

Mas os 644 comentários empalidecem face aos portugueses 1321 comentários do Semiramis cuja anónima autora teria morrido de morte súbita, suscitando as mais contraditórias versões na própria caixa de comentários do blogue. Deixando de parte a polémica sobre as caixas de comentários abertas ou moderadas, ou sobre a sua própria utilidade e valor, deixando de lado também a história pessoal inverificável do que aconteceu à sua autora (ou autor?) anónimo, o interessante é registar que o que há nesse blogue é uma comunidade que aproveita o “lugar” para se encontrar. A caixa de comentários tornou-se numa espécie de chat, que parasita a notoriedade do blogue, como já acontecera no Espectro com os seus finais 494 comentários, onde as pessoas se encontram numa pequeníssima “aldeia global”, que tomam como sua.

O comportamento destas pessoas-em-linha é compulsivo, eles “habitam” nas caixas de comentários que são a sua casa. Deslocam-se de caixa para caixa de comentário, deixando centenas de frases, nos sítios mais díspares, revelando nalguns casos uma disponibilidade quase total para comentar, contra-comentar, atacar, responder, mantendo séries enormes que obedecem à regra de muitos frequentadores desta área da Rede: horário laboral na maioria dos casos, quebra no fim-de-semana e nos feriados. São pessoas que estão a escrever do seu local de trabalho ou de estudo, de empresas ou de escolas, onde tem acesso à Internet. Há no entanto, alguns casos de comentadores caseiros e noctívagos, que só podem estar a escrever noite dentro, como era o caso nos primeiros anos da blogosfera portuguesa, antes de se democratizar. É um fenómeno aparentado com muitas outras experiências comunitárias na Rede, mas está longe de ser o mundo adolescente dos frequentadores do MySpace ou dos “salas” de conversa virtual.

No caso português, os comentadores não parecem ser muitos, embora a profusão de pseudónimos e nick names, dê uma imagem de multiplicidade. São, na sua esmagadora maioria, anónimos, mas o sistema de nick names permite o reconhecimento mútuo de blogue para blogue. Estão a meio caminho entre um nome que não desejam revelar e uma identidade pela qual desejam ser identificados. Querem e não querem ser reconhecidos. É o caso da “Zazie”, do “Euroliberal”, do “Sniper”, do “Piscoiso”, “Maloud”, “Bajoulo” “Xatoo”, “Atento”, Dasanta”, “José”, “e-konoklasta”, “Cris”, “Sabine”, “José Sarney”, “anti-comuna”, etc,, etc, Trocam entre si sinais de reconhecimento, cumprimentam-se, desejam-se boas férias, e formam mini-comunidades que duram o tempo de uma caixa de comentários aberta e activa, o que normalmente dura pouco. Depois migram para outra, sempre numa tempestade de frases, expressando acordos e desacordos, simpatias e antipatias, quase sempre centrados na actividade de dizer mal de tudo e de todos.

Imaginam-se como uma espécie de proletariado da Rede, garantes da total liberdade de expressão, igualitários absolutos, que consideram que as suas opiniões representam o “povo”, os “que não tem voz” os deserdados da opinião, oprimidos pelos conhecidos, pelos célebres, pelos “sempre os mesmos”. São eles que dizem as “verdades”. Mas não há só o reflexo do populismo e da sua visão invejosa e mesquinha da sociedade e do poder, há também uma procura de atenção, uma pulsão psicológica para existir que se revela na parasitação dos blogues alheios. Muitos destes comentadores têm blogues próprios completamente desconhecidos, que tentam publicitar, e encontram nas caixas de comentários dos blogues mais conhecidos uma plataforma que lhes dá uma audiência que não conseguem ter.

Não são bem “Trolls”, sabotadores intencionais, mas tem muitas das suas formas perturbadoras de comportamento. A sua chegada significa quase sempre uma profusão de comentários insultuosos e ofensivos que afastam da discussão todos os que ingenuamente pensam que a podem ter numa caixa de comentários aberta e sem moderação. Quando há um embrião de discussão, rapidamente morto pela chegada dos comentadores compulsivos, ela é quase sempre rudimentar, a preto e branco, fortemente personalizada e moralista: de um lado, os bons, os honestos, os dignos, do outra a ralé moral, os ladrões, os preguiçosos que vivem do trabalho alheio, e dos impostos dos comentadores compulsivos presume-se. O que lá se passa é o Far West da Rede: insultos, ataques pessoais, insinuações, injúrias, boatos, citações falsas e truncadas, denúncias, tudo constitui um caldo cultural que, em si , não é novo, porque assenta na tradição nacional de maledicência, tinha e tem assento nas mesas de café, mas a que a Rede dá a impunidade do anonimato e uma dimensão e amplificação universal.

O que é que gera esta gente, em que mundo perverso, ácido, infeliz, ressentido, vivem? O mesmo que alimenta a enorme inveja social em que assentam as nossas sociedades desiguais (por todo o lado existe este tipo de comentadores), agravada pela escassez particular da nossa. Essa escassez não é principalmente material, embora também seja o resultado de muitas expectativas frustradas de vida, mas é acima de tudo simbólica. Numa sociedade que produz uma pulsão para a mediatização de tudo, para a espectacularização da identidade, para os “quinze minutos de fama” e depois deixa no anonimato e na sombra os proletários da fama e da influência, os génios incompreendidos, os justiceiros anónimos, o “povo” das caixas de comentários, não é de admirar que se esteja em plena luta de classes.

(No Público de hoje.)

*
Quanto ao assunto das caixas de comentários, há caixas e caixas. Como há sempre comentadores de todos os estilos e para todos os gostos, o resultado depende em grande parte da forma como é gerida (ou não) a aceitação de comentários. Veja por exemplo o bom caso d'A Baixa do Porto , em que a "caixa de comentários" _é_ a própria página principal do blog.

(Tiago Azevedo Fernandes)

*

Achei interessante a reflexão que fez no seu artigo do Público. Reconheço lá muita coisa.Mas também julgo que falta lá outro tanto, creio. O ano passado teve a bondade de integraraté uma reflexão que continha uma crítica (exposta num blog - A ameaça dos weblogs), estou certo que desta vez não lhe faltará igual coragem e coerência. Julgo que se não tem a caixa de comentários aberta para não lhe suceder o mesmo que ao espectro, faz bem; já o que não se compreende - uma vez que isso contraria o princípio do rizoma que comanda a rede das redes que, por vezes, é mais uma teia, é que não tenha links na vitrina do seu template. No fundo, fala-nos da sociedade digital do séc. XXI e depois o seu template recorda-nos os tempos de novecentos e do arranque dos caminhos-de-ferro, em que o bom do Eça quando se deslocava de Cascais a Carcavelos demorava umas 3 horas. Ora bolas, assim é que não!! Já agora, acha que se o Eça fosse vivo, para tristeza de muitos espectros, teria a caixa de comentários aberta? E teria links?

(Rui Paula de Matos)

*

Era expectável que JPP pretendesse reduzir a participação de uma ampla diversidade de comentadores em blogues a um saco de gatos anónimos - resulta da compreensão dos spin-doctors quando se apercebem estar perante um novo meio de comunicação dificil de controlar como até aqui o foram os jornais de referência, ou muito mais importante, a televisão, ambas ferramentas de manipulação detidas pelas corporações da desinformação.

Óbviamente fui referido no artigo publicado como "postador de comentários", enquanto se omitiu deligentemente que eu próprio sou autor de um Blogue. Como se cada um de nós não tivesse nada a dizer, ou pior do que isso, como se essa opinião não interessasse verdadeiramente para nada.

(Francisco Pereira)

*

(...) a sua caça aos anónimos parece-me algo esquisita e muito, muito inconveniente.

Em priemeiro lugar porque normaliza os comportamentos: para sí, um anónimo ( ou alguém que escreve sob pseudónimo ) é um ser que pertence a "esta gente," que vive num "mundo perverso, ácido, infeliz, ressentido".

Nada mais errado. Há tantos comportamentos possíveis quanto pessoas diferentes. Eu não posso falar dos outros (um erro em que o Abrupto incorre e que envenena tudo o que diz) por isso vou falar por mim. Hele em dia escrevo sob pseudonimo (hoje sou o Guy Fawkes e já fui o Harry Lime) e chamo-me Rui Silva e possuo um blog além disso comento frequentemente outros blogs. Quer no meu blog quer nas caixas de comentários já escrevi sob estas três formas.

A minha atitude nas caixas de comentários varia de blog para blog e do tom que cada um deles me inspira. Exemplos: no Barnabé (onde comentei sempre sob o nome de Rui Silva) publicava comentários muito violentos porque era esse o tom que aquele blog pedia. Aquilo era um blog de combate e a minha atitude perante ele era uma atitude de combate. E divertia-me muito com os doidos que andavam por lá.

Noutros blogs (na Janela Indiscreta, por exemplo) já comentei sob qualquer uma das 3 formas e fiz alguns amigos (que comentam frequentemente no meu blog) da maneira como os blogs pediam: moderadamente e concordando ou discordando educadamente. Existe ainda um terceiro caso: o dos blogs de futebol. Aí tenho de confessar que prefiro mil vezes os blogs benfiquistas (sou do sporting) e quando lá vou comento violentamente e sem cerimónias. Num deles até já me acusaram de ser um troll...

Além disto, é de assinalar que tenho uma vida social saudavel. Gosto de muito de livros, de boa música, de filmes, de sair à noite, de jogar Playstation e de jantar com os meu amigos (um deles é o benfiquista que me chamou troll). Trabalho muito, numa multinacional de consultoria. Serei um anormal?

Perante o que acabei de lhe descrever acha que eu encaixo nesse perfil que descreve? E se eu não encaixo como é que tem a certeza que os outros encaixam?

Pense muito bem no que escreve. Nestas coisas cada caso é um caso. E é sempre errado reduzi-los a esterotipos. Não o faça por favor e deixe as pessoas "andar à vontade com as botas" como dizia o meu avô .

(Rui Silva, aka Harry Lime aka Guy Fwakes)

*

Acho que generalizou demais e agora tem a fauna toda à porta, de tal modo que as excepções arriscam-se a ser a regra.

Do alto do seu Abrupto, sem caixa de comentários e sem "blogroll", não sei até que ponto se apercebe que a caixa dos comentários é também a imagem do autor do blog. Ou apercebeu-se bem demais e precocemente. A qualidade das caixas de comentários, leia-se e infiro do seu texto, a falta dela, é um reflexo directo dos autores dos blogs, que em nome de grande e piedoso "espírito democrático" e "anti- censório", se dão à ociosidade de publicar rigorosamente tudo, como se de uma grande qualidade se tratasse. Preguiça.

Desde que li o primeiro e-mail em 1993, fui compreendendo que isto do teclado é uma fonte de mal-entendidos. Pode classificar e arquivar aí muita da acidez que detecta. Se juntar a leveza de espírito de conversar para um monitor, com um nome de guerra, tem grande parte do caldo. Mas não tem todo.

Não tenho visto no meu blog, que quero cada vez mais de jardinagem, comentários "perversos", "ácidos" e "ressentidos". Nas poucas vezes, apaguei-os sem olhar para trás e sem dar grandes satisfações. Mas é verdade que a discussão já chegou a azedar nos nossos temas "fracturantes" (aquecimento global, ogms...). Podia listar dezenas de blogs, "Dias Com Árvores", "Guilhermina Succia", " A Cidade Surpreendente"... onde a contradição com o que diz é flagrante. É caso para me questionar (como se não soubesse), a que universo reduziu os blogs em que se movimentou ou movimenta, para generalizar com esta aparente autoridade. Afinal, concluo também, que as caixas de comentários, além de reflexo do "blogger", são uma espécie de trangénico dos temas que tratam.

É inevitável não regressar aos autores e também já falou anteriormente disso, designadamente na relação dos blogs com a "imprensa tradicional". De momento não me posso considerar um observador especialmente atento do fenómeno, porque os temas interessam-me pouco ou nada, mas quem é alguém na blogosfera ao nível de poder aspirar a formar opiniões, já era alguém antes na imprensa escrita, rádio e/ou televisão. Os que por acaso ou mérito, não sei, atingiram um determinado nível de visitantes anunciados (podia-se discutir a sua qualidade enquanto visitantes para além da caixa de comentários) e visibilidade, andam por aí de bicos de pés a ver se essa tal imprensa repara neles. Também acham que têm direito a 15 minutos de fama, provavelmente a mais. Também eles já viram que os blogs de referência, estão bem alicerçados não só na qualidade do seu conteúdo, mas também e principalmente, na visibilidade mediatica dos seus autores. O fogo-fátuo da blogosfera, que deu pelo nome de Espectro, só foi excepção na sua falta de endurance. E a recepção foi digna de ser vista. Aqueles pobres autores nunca imaginaram que tinham tantos amigos.

Voltando ao início, nesses blogs onde se baseou para lavrar esta teoria, a relação entre comentado e comentador, é muito mais de simbiose que de parasitismo. Para os 15 minutos, valem mais 100 comentários idiotas, ruidosos e que praticamente ninguém lê, que meia- dúzia de comentários sensatos, podendo estes, inclusivamente, tornar- se inconvenientes. Aliás, é regra o autor do "post" retirar-se para parte incerta e deixar "o bom povo português" fazer o seu papel.

(José Rui Fernandes)

*

Eu já pus meia duzia de posts anonimos em dois ou três blogues, devo pertencer aos tais ingénuos e acho que tem razão. Gostava de acrescentar uma coisa - a solidão de quem bloga é enorme. A actividade é muito impessoal - não se vê o outro - e talvez / provavelmente por isso a asneira é tanta.

(Eduardo Tomé)

*

Desde que existem blogues, fóruns e caixas de comentários passei a ser um ser muito mais social. Agora escuso de me irritar ou contrariar e discutir com alguém, seja amigo, familiar ou simples desconhecido, sempre que não concordo com o que oiço. Não vale a pena! Mais vale concordar "Pois é..." ou ficar calado e continuar nas graças dessa pessoa. Já não oiço mais: "Estás a ser demasiado radical" ou "Estás a ser fundamentalista".

Agora tenho na net o espaço para expressar as minhas opiniões, para discordar quando quero, para "converter" os outros, se calhar atá para uma audiência maior sem que a minha sociabilidade fique beliscada.

(Paulo Martins)

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Hoje não li o Público, (...) mas a partir de certa altura, comecei a achar bizarro, toda a gente a despropósito falar-me da sua coluna. Entretanto já estou informada do insólito.

Pelos outros não posso falar, mas por mim posso. Comecei a “blogar” no Espectro com o meu nome. Como não conhecia as regras, cometi numerosas imprudências. A família começou a temer que me tocassem à campainha e arranjaram-me um nick, Maloud. Continuei com a mesma descontracção, mas houve gente que embirrou com aquilo a que chamavam a minha vacuidade. Tornou-se insuportável, porque estou habituada às boas maneiras. Bati a porta com estrondo e simultaneamente com pena. Toda a gente cá em casa me incentivava a continuar, e arranjaram-me outro nick, DasAntas. Quando o Espectro se suicidou, deixei cair o DasAntas, fiquei com alguns contactos pessoais e outros por e-mail, que mantenho. Um deles que o Sr. Dr. não cita, porque escrevia como Anónimo, mas terminava sempre por Niet, telefona-me de Estugarda e e-maila-me todos os dias os links, para artigos de jornais franceses, visto eu dominar mal o inglês. Tem razão, quando diz que se criam uma espécie de cumplicidade e de amizade entre gente que não se conhece {um veio ao Porto conhecer-me}. Mas sabe, no meu caso, acho estas pessoas muito mais interessantes do que as “tias” das Antas com que me vou dando e, por outro lado, os filhos, embora vivendo cá em casa, cresceram e pouco precisam de mim e o meu marido é verdadeiramente ocupado. Acho que não prejudico ninguém “blogando” e a mim dá-me gozo.

Como talvez me tenha feito entender, vê que nada tenho a esconder, nem me envergonho do que sou. O nick existe mais para proteger a família do que a mim própria, visto ser uma dona de casa anónima do Porto.

(autor identificado, Maloud)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: "A ILHA HERÓICA" (MALTA STORY)

http://www.pierluigisurace.it/imagerie/images/aatw/dot_malta_map_1.jpg O filme foi feito em 1953 já o esquecimento e outras preocupações começavam a apagar a memória da epopeia maltesa durante a segunda guerra mundial. Basta olhar para um mapa para se perceber como Malta estava no pior sítio do mundo (para os seus defensores, para os malteses e para os italianos e alemães) e no melhor sítio do mundo (para os bombardeiros alemães, e para os ingleses que queriam cortar as rotas de abastecimento de Rommel). Isolada praticamente em território inimigo, Malta tinha que ser reabastecida com enormes dificuldades por submarinos e por comboios, que atravessavam uma das zonas mais perigosas de toda a guerra: aviões alemães, navios italianos e um emaranhado de campos de minas que protegiam a ilha, e cujas estreitas vias de acesso não permitiam qualquer erro.

O filme retrata o momento crucial em que o abastecimento de mantimentos e gasolina para os aviões estava quase no fim, e foi preciso romper o bloqueio com muita dificuldade. O "herói" é um piloto de reconhecimento, representado por Alec Guinness, numa das mais aborrecidas e petrificadas actuações que jamais vi dele: o sorriso é o mesmo quer esteja no seu Spitfire, a namorar a maltesa, ou a beber na messe. Ele é arqueólogo (a quantidade de arqueólogos inglese que aparecem nesta guerra é abissal...), ela é irmã de um nacionalista maltês que se tornou espião italiano e é fuzilado. O romance, como as personagens, são moronic até ao limite.

O que é interessante: a rara oportunidade de ouvir falar maltês, a Ave Maria em maltês; a cidade de Valleta, um posto fronteiriço único do Ocidente com toda a história turbulenta feita pedra, muralhas, subterrâneos, fortalezas, que aparece aqui em filmes verdadeiros dos bombardeamentos; e tudo o que são imagens reais da guerra.

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A minha família é de origem maltesa. Os meus trisavós nasceram em La Valetta e como a família tinha negócios na Península Ibérica o meu bisavô e avô acabaram por se fixar por aqui, depois de terem vivido em Espanha (onde o meu pai nasceu) e do meu avô ter casado com uma francesa do sul, de Cassis. No século XVII, aliás, os meus antepassados Francesco e Nicola Cília foram os "senhores" do feudo (fief) de Budaq. Daqui a minha curiosidade e interesse sempre que aparecem referências a Malta, o que é raro apesar de ser um Estado-Membro da UE. Existem mais famílias de origem maltesa em Portugal (Zammit, por exemplo, ligados, salvo erro, ao Vinho do Porto) e é sempre fácil, pelo menos para nós, identificá-los pelos apelidos onde quer que estejam. Também Teresa Heinz-Kerry é uma portuguesa de origem maltesa, por parte da mãe. Não falo Maltês, mas sei, por exemplo, que é a única língua de origem semita da UE e a também a única que se escreve com alfabeto latino. Penso que a língua é de origem árabe, embora, hoje em dia, tenha adoptado muitas palavras inglesas (Malta foi colónia inglesa até aos anos 60) e italianas. De acrescentar que a George Cross incluída na bandeira de Malta foi-lhe atribuída pela coragem e bravura demonstradas pelo seu povo durante a II Guerra Mundial.

(João Cília)

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