ABRUPTO

28.4.06


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(28 de Abril de 2006)


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Uma muito interessante vantagem nas "antecipações" jornalísticas (sobre as quais tenho as maiores das reservas) é o de obter uma divulgação quase que inteiramente controlada pela fonte da "antecipação". Consegue-se assim "passar" uma mensagem limpa de ruído, do ruído que inevitavelmente existe quando a "antecipação" se torna um facto (e do meu ponto de vista se torna notícia). Um discurso parlamentar pode ser assim divulgado sem o aborrecimento do contraditório, e com os sublinhados que pretende o seu autor, que "passa" preferencialmente a mensagem que lhe convém e não a integralidade do que vai fazer.

Consegue-se ainda mais: a de fazer o jornalista incorporar no texto da notícia a argumentação da fonte como sendo do jornalista, logo oferecendo uma mensagem que parece mais legitimada e incontroversa a quem a recebe. Um caso típico ocorreu nos últimos dias, com a notícia em primeira-mão dada à SIC sobre as alterações nos cálculos da reforma. A SIC e a SICN passaram em vários noticiários não só a informação do essencial do que o Primeiro-ministro ia dizer no dia seguinte (o que é relevante em termos jornalísticos) como a argumentação governamental sobre a inevitabilidade de tal medida tendo como sujeito o jornalista que a escreveu ou o pivot que a leu. Ora, independentemente do juízo que se possa fazer sobre a virtude das medidas governamentais, elas são escolhas politicas definidas, escolhas entre escolhas, e não cabe ao jornalista valida-las como soluções inevitáveis dos problemas da segurança social.


Aliás um dos trabalhos jornalísticos que se exigia fazer, o de calcular o impacto real das medidas nas reformas reais, só foi feito muito tardia e insuficientemente, aceitando-se que o Ministro e o Primeiro-ministro fossem muito omissos (e o Ministro que costuma ser muito seguro no que diz, hesitando no limite de tartamudear) num aspecto decisivo para a vida de todos. Inconscientemente este mecanismo favorece a interiorização dos argumentos governamentais e permite propaganda em vez de informação.

Voltarei a este assunto também tratado aqui e aqui .

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O New York Times não faz parte daqueles que acham que os blogues não são importantes. É assim que, num e-mail aos assinantes, introduzem uma categoria nova, a de "most blogged":
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© José Pacheco Pereira
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