ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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20.4.06
NUNCA É TARDE PARA APRENDER: "A ILHA HERÓICA" (MALTA STORY)
O filme foi feito em 1953 já o esquecimento e outras preocupações começavam a apagar a memória da epopeia maltesa durante a segunda guerra mundial. Basta olhar para um mapa para se perceber como Malta estava no pior sítio do mundo (para os seus defensores, para os malteses e para os italianos e alemães) e no melhor sítio do mundo (para os bombardeiros alemães, e para os ingleses que queriam cortar as rotas de abastecimento de Rommel). Isolada praticamente em território inimigo, Malta tinha que ser reabastecida com enormes dificuldades por submarinos e por comboios, que atravessavam uma das zonas mais perigosas de toda a guerra: aviões alemães, navios italianos e um emaranhado de campos de minas que protegiam a ilha, e cujas estreitas vias de acesso não permitiam qualquer erro. O filme retrata o momento crucial em que o abastecimento de mantimentos e gasolina para os aviões estava quase no fim, e foi preciso romper o bloqueio com muita dificuldade. O "herói" é um piloto de reconhecimento, representado por Alec Guinness, numa das mais aborrecidas e petrificadas actuações que jamais vi dele: o sorriso é o mesmo quer esteja no seu Spitfire, a namorar a maltesa, ou a beber na messe. Ele é arqueólogo (a quantidade de arqueólogos inglese que aparecem nesta guerra é abissal...), ela é irmã de um nacionalista maltês que se tornou espião italiano e é fuzilado. O romance, como as personagens, são moronic até ao limite. O que é interessante: a rara oportunidade de ouvir falar maltês, a Ave Maria em maltês; a cidade de Valleta, um posto fronteiriço único do Ocidente com toda a história turbulenta feita pedra, muralhas, subterrâneos, fortalezas, que aparece aqui em filmes verdadeiros dos bombardeamentos; e tudo o que são imagens reais da guerra. * A minha família é de origem maltesa. Os meus trisavós nasceram em La Valetta e como a família tinha negócios na Península Ibérica o meu bisavô e avô acabaram por se fixar por aqui, depois de terem vivido em Espanha (onde o meu pai nasceu) e do meu avô ter casado com uma francesa do sul, de Cassis. No século XVII, aliás, os meus antepassados Francesco e Nicola Cília foram os "senhores" do feudo (fief) de Budaq. Daqui a minha curiosidade e interesse sempre que aparecem referências a Malta, o que é raro apesar de ser um Estado-Membro da UE. Existem mais famílias de origem maltesa em Portugal (Zammit, por exemplo, ligados, salvo erro, ao Vinho do Porto) e é sempre fácil, pelo menos para nós, identificá-los pelos apelidos onde quer que estejam. Também Teresa Heinz-Kerry é uma portuguesa de origem maltesa, por parte da mãe. Não falo Maltês, mas sei, por exemplo, que é a única língua de origem semita da UE e a também a única que se escreve com alfabeto latino. Penso que a língua é de origem árabe, embora, hoje em dia, tenha adoptado muitas palavras inglesas (Malta foi colónia inglesa até aos anos 60) e italianas. De acrescentar que a George Cross incluída na bandeira de Malta foi-lhe atribuída pela coragem e bravura demonstradas pelo seu povo durante a II Guerra Mundial. (url)
© José Pacheco Pereira
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