ABRUPTO

21.4.06


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(21 de Abril de 2006)


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Nós temos o nacionalismo típico dos pobrezinhos: o astronauta brasileiro foi quase sempre designado no Telejornal das 12 horas da RTP1 como "lusófono", e o ter-se falado português no espaço como o evento principal da viagem. Como se Portugal tivesse algum mérito, algum papel, na ida para o espaço do nosso estimado brasileiro.

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Ao ler o seu post lembrei-me que no passado já tinha sentido o mesmo, nas últimas eleições americanas com a senhora Teresa Heinz Kerry e a possiblidade da primeira dama americana falar português.

Nacionalismo à parte, fico contente quando os "outros" se lembram de "nós", em geral devido ao futebol, o que é pena, mas deve ser a única coisa em que temos tido visibilidade junto do público em geral.

No ano passado por esta altura, passava na África do Sul um anúncio de televisão da cerveja Castle que terminava em Portugal com imagens da bandeira portuguesa[a ligação da bandeira à cerveja não me agradou muito, confesso] e de um jogo de futebol no novo estádio de Alvalade. Ou ainda à poucos dias, num canal de televisão egípcio, passava um filme local onde uma das personagens a determinada altura envergava a camisola 7 da selecção nacional.

(Nuno Alexandre Lopes Marques aka Temba)

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A propósito da observação/questão colocada pelo leitor Rui C. Barbosa: eu sentir-me-ia exactamente da mesma forma, como antes de ouvir o erro do tradutor oficial. Provavelmente pensaria que ele, pela profissão, teria obrigação de o não cometer. A única coisa que me poderia incomodar, enquanto português, é que ali estava, como se mais fossem necessários, outro exemplo de como as pessoas deste país negligenciaram, décadas a fio, a própria língua e a sua divulgação. A língua inglesa também não nasceu nos EUA (tal como o português no Brasil), país esmagadoramente dominante a vários níveis, e ninguém se refere à língua americana.

Paulo Azevedo

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Obviamente que Portugal não tem nenhum mérito na viagem de Marcos Pontes. No entanto gostava de saber como se sentiria se ouvisse o tradutor ocifial da comitiva brasileira presente nas conferências de imprensa ás quais assisti em Baikonur a dizer aos presentes que primeiro falaria em 'brasileiro' e depois traduziria para russo e que os representantes do Brasil falariam em 'brasileiro'. Não deixa de ser curioso que era o próprio Marcos Pontes a dizer que falava primeiro em português e depois em inglês e russo.


Eu próprio salientei várias vezes em Baikonur que Marcos Pontes era o primeiro astronauta a falar português a viajar no espaço, coisa que muito me orgulhava.

(Rui C. Barbosa)

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Fazem parte desse nacionalismo dos pobrezinhos coisas como «o Chelsea de Mourinho», «o Milan de Rui Costa», «o Barcelona de Deco» - e por aí fora, em "notícias" em que a realidade é virada de pernas para o ar para gáudio da saloiada nacional. Há tempos, até teve destaque na TV um golo de um futebolista da Selecção dos Camarões só porque o homem era treinado, lá na sua terra, por um português!

Se esses patriotas-da-treta resolverem, também, deitar foguetes pelo facto de uma das personagens principais do romance «Fotaleza Digital» ser português, esperemos que omitam que ele é o assassino...

(C. Medina Ribeiro)
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Dilemas dos académicos na televisão: sound bites ou argumentos?

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Sartre e Beauvoir, o casal insuportável, começa a ter boa imprensa. Não há nada que, deixando passar o tempo e as fúrias, não tenha boa imprensa. Ele dizia " Je suis écrivain, j'ai besoin d'amours contingentes !", ela era menorizada como La Grande Sartreuse. Agora um telefilme Amants du Flore retoma a história do casal e Assouline conclui:
"Mais des deux, le génie, c'est elle. Rien dans l'oeuvre de Sartre n'arrivera à la capacité d'influence et de bouleversement des mentalités du Deuxième sexe. Sur la durée et dans la profondeur, c'est Beauvoir qui restera -et qui reste déjà, n'en déplaise à la secte des gardiens du temple sartrien, qui d'ordinaire assimile la moindre réserve à une insulte."
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Algumas perguntas e afirmações certeiras de João Adelino Faria no Diário de Notícias:
"Há quanto tempo não damos notícias? Há quanto tempo nós, jornalistas, corremos quase obsessivamente, todos os dias, para escutar mais uma reacção sobre uma declaração feita por um ministro, político, advogado, juiz ou procurador? (...) Porque andamos todos atrás uns dos outros? Um jornal avança com um tema, a rádio segue, a televisão completa, ou vice- -versa - a ordem pouco importa. É uma tarefa quase inglória descobrir algo diferente nos jornais, na rádio e na televisão. Estamos todos quase sempre à volta do mesmo.(...)

O que esta semana é relatado até à exaustão, na seguinte é substituído ou suspenso porque outras novas alegadas histórias surgiram, ou assim nos fizeram crer, para matar as anteriores. São notícias esquecidas que só voltam à primeira página quando surgir algo de novo. O que esquecemos muitas vezes é que somos nós quem tem a responsabilidade de encontrar o desenvolvimento e não esperar pela vontade daqueles que detêm a informação e não têm interesse em divulgá-la.

Temos fama de contrapoder ou quarto poder, mas não se pode viver eternamente da reputação - há que fazer justiça ao nome e isso depende de todos e de cada um que ainda quer fazer jornalismo."

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© José Pacheco Pereira
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