ABRUPTO

4.6.05


PARA O PS: UMA LIÇÃO QUE JÁ DEVIA ESTAR HÁ MUITO APRENDIDA

mas que ninguém aprende: a de que quando se abre a porta ao tratamento demagógico e sem seriedade da questão dos vencimentos e regalias dos políticos, apanha-se sempre por tabela. O PS, o governo socialista, ao usar o fim das reformas vitalícias como “lubrificante” populista das suas medidas de austeridade apanha de través com a sua própria demagogia. Merece-o.

A única forma séria de tratar a questão da remuneração dos detentores de cargos políticos é acabar com as regalias infamantes, ao mesmo tempo que se aumentam os vencimentos seguindo critérios de equilíbrio com os altos cargos da função pública com os quais, em termos de uma visão do estado e da democracia, devem ter uma hierarquia lógica. Como nunca ninguém tem coragem para o fazer, somam-se as medidas demagógicas cujo único resultado é a cada vez maior degradação do exercício de funções politicas.

(url)


OS LIVROS DA SÁBADO

OS POEMAS DA MINHA VIDA


Vale a pena falar de livros no meio desta barbárie futebolística, destas horas e horas monocórdicas de ruído televisivo, sinal da nossa miséria e pobreza de espírito? Vale, no sentido do poema de O’Neill que Mário Soares escolheu para ler na publicidade televisiva à colecção “Os Poemas da Minha Vida”, distribuídos com o Público:

História da Moral

Você tem-me cavalgado,
Seu safado!
Você tem-me cavalgado,
Mas nem por isso me pôs
A pensar como você.

Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.


O mérito desta colecção (em que, declaro já o meu conflito de interesses, também irei colaborar) é o de através dos poemas da “vida” de cada um, nós os lermos, aos poemas, e à “vida” de quem os escolheu. Vale mesmo a pena, porque pouca coisa reflecte mais a percepção que cada um tem de si próprio, ou o retrato público que desenha de si mesmo, do que os poemas que escolhe para serem da “sua vida”, mesmo quando não o foram. Principalmente quando não o foram.

(url)


AR PURO


Robert Campin, mestre de Flemalle

(url)


APRENDENDO COM EÇA DE QUEIRÓS

Depois considera o derradeiro pecado, negríssimo. Tu fundas, com o teu novo jornal, uma nova escola de intolerância. Em torno de ti, do teu partido, dos teus amigos, ergues um muro de pedra miúda e bem cimentada: dentro desse murozinho, onde plantas a tua bandeirola com o costumado lema de «imparcialidade, desinteresse, etc.», só haverá, segundo Bento e o seu jornal, inteligência, dignidade, saber, energia, civismo; para além desse muro, segundo o jornal de Bento, só haverá necessariamente sandice, vileza, inércia, egoísmo, traficância! É a disciplina de partido (e para te agradar, entendo partido, no seu sentido mais amplo, abrangendo a literatura, a filosofia, etc.) que te impõe fatalmente esta divertida separação das virtudes e dos vícios. Desde que penetras na batalha, nunca poderás admitir que a razão ou a justiça ou a utilidade se encontrem do lado daqueles contra quem descarregas, pela manhã, a tua metralha silvante de adjectivos e verbos – porque então a decência, se não já a consciência, te forçariam a saltar o muro e desertar para esses justos. Tens de sustentar que eles são maléficos, desarrazoados, velhacos, e vastamente merecem o chumbo com que os traspassas. Das solas dos pés até aos teus raros cabelos, meu Bento, desde logo te atolas na intolerância! Toda a ideia que se eleve, para além do muro, a condenarás como funesta, sem exame, só porque apareceu dez braças adiante, do lado dos outros, que são os réprobos, e não do lado dos teus, que são os eleitos.

Realizam esses outros uma obra? Bento não poupará prosa nem músculo para que ela pereça: e se por entre as pedras que lhe atira, casualmente entrevê nela certa beleza ou certa utilidade, mais furiosamente apressa a sua demolição, porque seria mortificante para os seus amigos que alguma coisa de útil ou de belo nascesse dos seus inimigos – e vivesse. Nos homens que vagam para além do teu muro, tu só verás pecadores; e quando entre eles reconhecesses S. Francisco de Assis distribuindo aos pobres os derradeiros ceitis da Porciúncula, taparias a face para que tanta santidade te não amolecesse, e gritarias mais sanhudamente: «Lá anda aquele malandro a esbanjar com os vadios o dinheiro que roubou!»

Etiquetas:


(url)


EARLY MORNING BLOGS 511

Sunday Night in Santa Rosa


The carnival is over. The high tents,
the palaces of light, are folded flat
and trucked away. A three-time loser yanks
the Wheel of Fortune off the wall. Mice
pick through the garbage by the popcorn stand.
A drunken giant falls asleep beside
the juggler, and the Dog-Faced Boy sneaks off
to join the Serpent Lady for the night.
Wind sweeps ticket stubs along the walk.
The Dead Man loads his coffin on a truck.
Off in a trailer by the parking lot
the radio predicts tomorrow's weather
while a clown stares in a dressing mirror,
takes out a box, and peels away his face.


(Dana Gioia)

*

Bom dia!

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DIREITOS DE PASSAGEM

Acabei agora de receber a factura da PT. Então não é que me estão a cobrar uma Taxa de 0,25% sobre a incidência dos serviços e telecomunicações fixas dizendo que é TAXA MUNICIPAL DIREITOS DE PASSAGEM. A importância até nem é muita mas entendo que é um abuso
Depois na folha seguinte lá vem a explicação
A Taxa Municipal de Direitos de Passagem (Lei nº 5/2004, de 19/02) é fixada por cada Município e incide sobre os serviços de telecomunicações fixas.O valor cobrado reverte totalmente a favor do Município, estando a PT Comunicações legalmente vinculada a incluir a taxa na factura.
Começo por estranhar que sendo a Lei de 19/2 de 2004 só este mês esta taxa tenha sido cobrada pela 1ª vez sem qualquer informação.
Depois fico sem saber se esta taxa era para a PT pagar ao Município ou apenas está a servir de intermediária de um serviço que o Município não me presta.
Terceiro, pela mesma ordem de idéias, qualquer dia é a EDP a cobrar uma taxa semelhante.
Quarto, uma vez que os postes telefónicos passam em propriedades particulares, poderão os donos desses terrenos solicitarem à Pt ou ao Município uma taxa equivalente de passagem? Por outro lado atendendo a que na frontaria do meu prédio passam várias linhas telefónicas para servir os meus vizinhos, posso eu exigir que me pagam também um direito de passagem por passarem naquilo que é meu?
Então para que serve a Contribuição Autárquica que eu pago anualmente?
Então para que serve a Assinatura Mensal que eu pago à PT ?
Isto é demais.

Fitas Custódio

*

A propósito da TMDP, de referir que a lei 5/2004 é um belo exemplo de inoquidade legislativa, para além de ser um documento profundamente dúbio e mal redigido.
A ideia até é compreensível: responsabilizar a PT (finalmente) pelas suas intervenções no solo (nomeadamente as obras que fazem sem que seja necessária licença, comunicação ou articulação com os Municípios), através de uma taxa a entregar aos Municípios, calculada sobre o valor da sua facturação em cada Concelho.
Vários problemas se levantam: a taxa deve ser acrescida à factura normal (isto é, penalizando os consumidores) ou, antes, calculada sobre a factura, sem que se acresça um cêntimo ao valor da factura? A lei determina que o valor da taxa seja indicado na factura, mas a título de informação ou como item a somar aos valores?
E isto, que é elementar, não fica claro na lei. Daí que sejam imensas as dúvidas dos Municípios a este propósito, sem que alguma instituição (ANACOM, etc) saiba esclarecer o que quer que seja.
O Município onde resido (e trabalho) optou por não determinar qualquer taxa sem que seja cabalmente esclarecido o método de cobrança da TMDP. Mas com isto, o problema de fundo (regular as intervenções de empresas ditas "públicas" nos Concelhos) nem sequer chega a ser frontalmente abordado. Antes se cria uma taxa sem que seja definido concretamente quem a paga. É o Estado que temos.

Rui Coutinho (Paços de Ferreira)

(url)

3.6.05


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: PICCOLO DIAVOLO

A ver absolutamente.

(url)


EARLY MORNING BLOGS 510

Le vierge, le vivace ...


Le vierge, le vivace et le bel aujourd'hui
Va-t-il nous déchirer avec un coup d'aile ivre
Ce lac dur oublié que hante sous le givre
Le transparent glacier des vols qui n'ont pas fui !

Un cygne d'autrefois se souvient que c'est lui
Magnifique mais qui sans espoir se délivre
Pour n'avoir pas chanté la région où vivre
Quand du stérile hiver a resplendi l'ennui.

Tout son col secouera cette blanche agonie
Par l'espace infligée à l'oiseau qui le nie,
Mais non l'horreur du sol où le plumage est pris.

Fantôme qu'à ce lieu son pur éclat assigne,
Il s'immobilise au songe froid de mépris
Que vêt parmi l'exil inutile le Cygne.


(S. Mallarmé)

*

Bom dia!

(url)

2.6.05


APRENDENDO COM EÇA DE QUEIRÓS

"O jornal estende sobre o mundo as suas duas folhas, salpicadas de preto, como aquelas duas asas com que os iconografistas do século XV representavam a Luxúria ou a Gula: e o mundo todo se arremessa para o jornal, se quer agachar sob as duas asas que o levem à gloríola, lhe espalhem o nome pelo ar sonoro. E é por essa gloríola que os homens se perdem, e as mulheres se aviltam, e os políticos desmancham a ordem do Estado, e os artistas rebolam na extravagância estética, e os sábios alardeiam teorias mirabolantes, e de todos os cantos, em todos os géneros, surge a horda ululante dos charlatães... (Como me vim tornando altiloquente e roncante!... Mas é a verdade, meu Bento! Vê quantos preferem ser injuriados a serem ignorados! (Homenzinhos de letras, poetisas, dentistas, etc.) O próprio mal apetece sofregamente as sete linhas que o maldizem. Para aparecerem no jornal, há assassinos que assassinam. Até o velho instinto da conservação cede ao novo instinto da notoriedade: e existe tal maganão, que ante um funeral convertido em apoteose pela abundância das coroas, dos coches e dos prantos oratórios, lambe os beiços, pensativo, e deseja ser o morto.

Neste Verão, uma manhã, muito cedo, entrei numa taverna de Montmartre a comprar fósforos. Rente ao balcão de zinco, diante de dois copos de vinho branco, um meliante, que pelas ventas chatas, o bigode hirsuto e pendente, o barrete de pele de lontra, parecia (e era) um huno, um sobrevivente das hordas de Alarico, – gritava triunfalmente para outro vadio imberbe e lívido, a quem arremessara um jornal: É verdade, em todas as letras, o meu nome todo! Na segunda coluna, logo em cima, onde diz: «Ontem um infame e ignóbil bandido...» Sou eu! O nome todo! E espalhou lentamente em redor um olhar que triunfava. Eis aí, como agora se diz tão alambicadamente, um «estado de alma»! "

Etiquetas:


(url)


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: AS REVOLUÇÕES NOS CÉUS EM CIMA





esmagam as pequenas turbulências das terras em baixo.

Eta Carinae, uma estrela do Sul, brilhando em glória no meio das convulsões e a Terra vista de Marte. Sim, aquela pequena pinta no canto superior esquerdo. Nós.

(url)


CONTINUA O DÉFICE DEMOCRÁTICO - O QUE SIGNIFICA O ACORDO DE REVISÃO CONSTITUCIONAL

Reparem como perante a indiferença geral de quase todos, incluindo a comunicação social habitualmente agressiva nas minudências, mas acomodada face aos “consensos”, na Assembleia da República, PS, PSD e PP, aprovaram um caminho referendário para a Constituição Europeia impregnado de má fé, de desconfiança do voto dos portugueses e de desprezo pelo debate e esclarecimento democrático.

1. Sigo o Público de hoje:

De acordo com o texto final levado à reunião, a que o PÚBLICO teve acesso, passará a existir transitoriamente, o artigo 294-A onde se lê: "1. O disposto no número 3 do artigo 115º não prejudica a possibilidade de convocação e efectivação de referendo sobre a aprovação pela Assembleia da República do tratado que estabelece uma Constituição para a Europa ou de suas alterações. 2. O disposto no número 7 do artigo 115º não prejudica a convocação e efectivação de referendo previsto no número anterior em simultâneo com a realização de eleições gerais para os órgãos de poder local."

Aqui está: “referendo (…) em simultâneo com a realização de eleições gerais para os órgãos de poder local”. Porquê? Ninguém se dá ao trabalho de explicar. O referendo não tem pressa nenhuma, pode ser realizado durante 2006. Se se pretender, com o falso argumento dos custos, fazê-lo em simultâneo, podia ser feito com as eleições presidenciais, muito mais adaptadas a um debate europeu. Mas a razão desta escolha apressada é só uma: fazer um voto de contrabando, sem debate – faltam três meses, sendo que um mês é de férias, o que dá sempre dois meses de silly season – e com participação fictícia, a que se seguirá uma proclamação urbi et orbi dos seus resultados como validando no seu “sim” esmagador tudo: a Constituição, a política europeia dos “consensos”, o bom aluno, tudo.

Não sei porquê mas suspeito que se o "não" começar a crescer nas sondagens portuguesas – e já é um milagre que ele sequer exista neste ambiente de silêncio respeitoso que cá se vive em relação a tudo que venha da União – o entusiasmo com o referendo diminua na razão directa com a diminuição do voto de cruz.

(url)


AR PURO


Rembrandt

(url)


A JACTÂNCIA DOS DIRIGENTES EUROPEUS RESPONSÁVEIS POR ESTE PROCESSO CONSTITUCIONAL 2

É interessante ouvir todos os que foram responsáveis pelo processo que levou a esta Constituição e gerou os “nãos” a mostrarem-se agora derrotistas, apocalípticos e pessimistas ao extremo, sugerindo que a Europa está “morta” ou “moribunda”. Não é a Europa, mas a condução política da União de que foram responsáveis que está “moribunda”, é a combinação de puro oportunismo pragmático que não ousa dizer o seu nome, no fundo o verdadeiro egoísmo nacional que bloqueou quase todas as políticas europeias, com a engenharia utópica desligada da realidade com que queriam fugir para a frente. Agora que falhou, – como tinha irremediavelmente que falhar e houve quem o dissesse a tempo – ,confundem-se com a Europa como se não houvesse outros caminhos. Sem eles claro. Sem Chirac, sem Giscard, sem Schröder, sem os mil e um parceiros menores belgas, sem Barroso, sem a burocracia que gasta milhões em propaganda para nos condicionar politicamente a não exercer um controlo democrático eficaz sobre “Bruxelas”.

(url)


EARLY MORNING BLOGS 509

Beneath Speech



—She lay very still, looking up at the undersides of words.

Pink was pink all the way through, like any organ might be,
plucked from the body and held quiet on a little tray—

Night was a starry dish. One side convex, one side concave.

This must be like winter for fish, she thought,
and all the nouns went seamless as ice and slightly opaque.

If she put out her tongue, she might stay there forever.

In the air, the smell of snow like bits of speech—may I
have a little word?, she wondered, because or so to cover me—


(Mary Ann Samyn)

*

Bom dia!

(url)


A IDEIA DE UM REFERENDO EUROPEU SIMULTÂNEO

mostra os perigos do actual processo europeu para a igualdade das nações na União. Como é que se contabilizavam os votos? Em termos nacionais ou europeus? Com base na demografia? Se fosse assim então estava verdadeiramente fundado um novo estado europeu, dominado pelos países com maior população. Mesmo que os resultados fossem contabilizados nacionalmente, o efeito da demografia numa opção comum de sim ou não gerariam uma deslegitimação dos resultados nacionais minoritários, que já se verifica em embrião no debate actual quando se argumenta que já “aprovaram” o tratado “tantos” milhões de europeus, esquecendo as especificidades nacionais.

Um referendo simultâneo europeu não pode ser comparado às eleições para o Parlamento Europeu, dada que a variedade das situações políticas nacionais impede um efeito de homogeneidade, embora já se verifique em embrião o efeito demográfico quando se agrupam os votos em termos de “partidos políticos europeus”, o PPE e PSE.

(url)


A JACTÂNCIA DOS DIRIGENTES EUROPEUS RESPONSÁVEIS POR ESTE PROCESSO CONSTITUCIONAL

Revela-se no beco sem saída em que se colocaram ao nunca verdadeiramente admitirem que pudesse haver “nãos” nos referendos. Nunca lhes passou pela cabeça, e por isso ficaram sem alternativas, que quando um documento é colocado à votação, pode receber dos eleitores um sim ou um não. A sua arrogância e imprevidência, agora sob a forma da cegueira de quererem continuar para a frente como se nada tivesse acontecido, é bem mais perigosa para o futuro da União do que os "nãos" franceses e holandeses.

(url)

1.6.05


APRENDENDO COM EÇA DE QUEIRÓS

Este é o primeiro pecado, bem negro. Considera agora outro, mais negro. Pelo jornal, e pela reportagem que será a sua função e a sua força, tu desenvolverás, no teu tempo e na tua terra, todos os males da vaidade! A reportagem, bem sei, é uma útil abastecedora da história. Decerto importou saber se era adunco, ou chato o nariz de Cleópatra, pois que do feitio desse nariz dependeram, durante algum tempo, de Filipe a Actium, os destinos do universo. E quantos mais detalhes a esfuracadora bisbilhotice dos repórteres revelar sobre o sr. Renan, e os seus móveis, e a sua roupa branca, tantos mais elementos positivos possuirá o século XX: para reconstruir com segurança a personalidade do autor das «Origens do Cristianismo», e, através dela, compreender a obra. Mas, como a reportagem hoje se exerce, menos sobre os que influem nos negócios do mundo ou nas direcções do pensamento, do que, como diz a Bíblia, sobre toda a «sorte e condições de gente vã», desde os jóqueis até aos assassinos, a sua indiscriminada publicidade concorre pouco para a documentação da história, e muito, prodigiosamente, escandalosamente, para a propagação das vaidades!

O jornal. é com efeito o fole incansável que assopra a vaidade humana, lhe irrita e lhe espalha a chama. De todos os tempos é ela, a vaidade do homem! já sobre ela gemeu o gemebundo Salomão, e por ela se perdeu Alcibíades, talvez o 100 maior dos Gregos. Incontestavelmente, porém, meu Bento, nunca a vaidade foi, como no nosso danado século XIX, o motor ofegante do pensamento e da conduta. Nestes estados de civilização, ruidosos e ocos, tudo deriva da vaidade, tudo tende à vaidade. E a forma nova da vaidade para o civilizado consiste em ter o seu rico nome impresso no jornal, a sua rica pessoa comentada no jornal! «Vir no jornal!» eis hoje a impaciente aspiração e a recompensa suprema! Nos regimes aristocráticos o esforço era obter, se não já o favor, ao menos o sorriso do Príncipe. Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as acções – mesmo as boas. Mesmo as boas, meu Bento!

O «nosso generoso amigo Z...» só manda os cem mil réis à creche, para que a gazeta exalte os cem mil réis de Z..., nosso amigo generoso. Nem é mesmo necessário que as sete linhas contenham muito mel e muito incenso: basta que ponham o nome em evidência, bem negro, nessa tinta cujo brilho é mais apetecido que o vê lho nimbo de ouro do tempo das santidades. E não há classe que não ande devorada por esta fome mórbida do reclamo. Ela é tão roedora nos seres de exterioridade e de mundanidade, como naqueles que só pareciam amar na vida, como a sua forma melhor, a quietação e o silêncio...

Etiquetas:


(url)


GRANDES CAPAS


De Roberto Araújo, 1937

(url)

31.5.05


NOTAS A DESENVOLVER PARA UM ARGUMENTÁRIO DO “NÃO”

Os defensores da Constituição têm que explicar por que razão o que classificam de uma mera simplificação dos tratados se chama uma Constituição.

Os defensores da Constituição têm que explicar por que razão aquilo que foi pedido, - uma mera simplificação dos tratados mais uma devolução de poderes aos parlamentos nacionais –, resultou no seu oposto: num tratado muito mais complicado e com menos poderes para os parlamentos nacionais.

Os defensores da Constituição têm que explicar para que país é que esta Constituição foi escrita porque a Europa não é um país.

Os defensores da Constituição têm que explicar a sua necessidade em geral para a União e a necessidade de várias das suas soluções particulares para resolver problemas para os quais não bastavam os tratados anteriores.

Quando se vota na Constituição não se vota só na Constituição. Não é legítimo reduzir um documento político desta dimensão e alcance apenas ao seu texto, ignorando olimpicamente o contexto. O contexto primeiro e depois o texto é o que se deve discutir para decidir o “sim” e o “não”. Sem o contexto o texto é na sua maior parte proclamatório e irrelevante, não acrescenta nada ao que já existe nos tratados anteriores. O que sobra dessa irrelevância é por seu lado relevantíssimo porque introduz lógicas de funcionamento da União que não são neutras em relação ao que existe e definem e consolidam e inovam tendências e formas de funcionamento da União muito diferentes das anteriores. Mas, mesmo a parte do texto irrelevante, colocada no contexto, ganha outro significado.

Por isso, não é de aceitar a mera discussão asséptica do texto constitucional sem a sua interpretação política linha a linha com tudo o que tem sido a União e a política dos estados nacionais que mais tem contribuído para o seu modus operandi. É por isso que não há verdadeiramente “questões internas” nacionais que não possam ser chamadas ao debate da Constituição.

É aliás assim que tem sido feita a discussão pelos defensores do “sim” que não se coíbem de a discutir na base de uma interpretação contextual (por exemplo a questão do “número de telefone da Europa”), ao mesmo tempo que pretendem obrigar os defensores do “não” a não ir mais longe do que a discussão abstracta do texto, repetindo sempre que “isso” (quase tudo) nada tem a ver com a Constituição.

(Continua)

(url)


APRENDENDO COM EÇA DE QUEIRÓS

"E quem nos tem enraizado estes hábitos de. desoladora leviandade? O jornal – o jornal, que oferece cada manhã, desde a crónica até aos anúncios, uma massa espumante de juízos ligeiros, improvisados na véspera, à meia-noite, entre o silvar do gás e o fervilhar das chalaças, por excelentes rapazes que rompem pela redacção, agarram uma tira de papel, e, sem tirar mesmo o chapéu, decidem com dois rabiscos da pena sobre todas as coisas da Terra e do Céu. Que se trate de uma revolução do Estado, da solidez de um banco, de uma mágica, ou de um descarrilamento, o rabisco da pena, com um traço, esparrinha e julga. Nenhum estudo, nenhum documento, nenhuma certeza.

Ainda este domingo, meu Bento, um alto jornal de Paris, comentando a situação económica e política de Portugal, afirmava, e com um aprumado saber, que «em Lisboa os filhos das mais ilustres famílias da aristocracia se empregam como carregadores da Alfândega, e ao fim de cada mês mandam receber as soldadas pelos seus Lacaios»! Que dizes tu aos herdeiros das casas históricas de Portugal, carregando pipas de azeite no cais da Alfândega, e conservando criados de farda para lhes ir receber o salário? Estas pipas, estes fidalgos, estes lacaios dos carregadores, formam uma deliciosa e quimérica Alfândega que é menos das Mil e Uma Noites, que das Mil e Uma Asneiras. Pois assim o ensinou um jornal considerável, rico, bem provido de enciclopédias, de mapas, de estatísticas, de telefones, de telégrafos, com uma redacção muito erudita, pinguemente remunerada, que conhece a Europa, pertence à Academia das Ciências Morais e Sociais, e legisla no Senado!

E tu, Bento, no teu jornal, fornecido também de enciclopédias e de telefones, vais com pena sacudida lançar sobre a França e sobre a China, e sobre o desventuroso universo que se torna assunto e propriedade tua, juízos tão sólidos e comprovados como os que aquela bendita gazeta arquivou definitivamente acerca da nossa Alfândega e da nossa fidalguia..."

Etiquetas:


(url)


COISAS SIMPLES


Zurbarán

(url)


UMA NOTA SUPLEMENTAR SOBRE A DISPLICÊNCIA

A displicência é uma das filhas dilectas do relativismo moral e político. Não se pode atacar o relativismo e cultivar a displicência porque isso é pecado. Vem na Bíblia, para os seus cultores apologéticos. É a acedia, a incarnação filosófica da “preguiça”, uma forma de indiferença moral. Dava no ennui para os franceses e no spleen para os britânicos. Aquilo de que fugia o nosso Henrique de Souselas, o que “bocejava” em todo o lado pelo imenso tédio que tudo lhe provocava, e que vai para as terras da Morgadinha.

É capaz de ser muita areia para algumas camionetas. Mas também está no Spectator, é preciso é lê-lo a montante e a jusante, para os lados, um bocado mais. Aqui fica, pois, uma verdadeira nota arrogante e para além disso com um plebeísmo – horror! – sobre camionetas e areia.

(url)


O MAL DA DISPLICÊNCIA

Se se faz o debate é porque se faz o debate, se não se faz o debate é porque não se faz o debate. Se se faz o debate, nunca é esclarecedor, falta sempre alguma coisa, nunca chegam os argumentos, tudo é mau e triste, todos são brutos e feios e porcos. Ninguém é um gentleman inglês, como nós somos, de manhã, ao espelho. Se se discute nunca é por gosto, ou dedicação a uma ideia ou causa, nunca é para esclarecer ou contraditar ou convencer, nunca é por interesse intelectual, é só para ganhar votos, para ter protagonismo, para servir obscuros interesses, por vaidade ou por ignorância presumida, para ajustar contas, ou qualquer sinistra agenda escondida. Ou se é xenófobo, ou racista, ou populista, ou reaccionário, ou revolucionário, ou torcionário, ou “bushista”, ou “lepenista”, ou fascista, ou comunista, ou partidário da “tripa” versus o “coração”, ou medroso ou ignorante. É-se sempre interessado, interesseiro. Sempre, é-se sempre incoerente em qualquer minudência verbal.

Por cima e ao lado, é que se está bem, nem com o sim, nem com o não, sempre à espera de alguém que nos esclareça definitivamente, de algum trabalho alheio que nos ilumine na preguiça, ou pior ainda, já com posição tomada, seja pelo partido, seja pelo grupo, seja pela tribo, seja pela confraria dos cumprimentos mútuos, mas, mantendo a reserva mental e a má fé necessária para castigar o vulgo, e o vulgo são todos aqueles que não são gentlemen ingleses como nós somos, e em particular, essa espécie ainda mais perigosa, daqueles que sabem o que é um gentleman inglês e sabem como nós estamos bem longe de o ser.

(url)


APRENDENDO COM EÇA DE QUEIRÓS

"Um inglês, com quem outrora jornadeei pela Ásia, varão douto, colaborador de revistas, sócio de Academias,considerava os franceses todos, desde os senadores até aos varredores, como «porcos e ladrões...». Porquê, meu Bento? Porque em casa de seu sogro houvera um escudeiro, vagamente oriundo de Dijon, que não mudava de colarinho e surripiava os charutos. Este inglês ilustra magistralmente a formação escandalosa das nossas generalizações."

Etiquetas:


(url)


EARLY MORNING BLOGS 508

El instante


¿Dónde estarán los siglos, dónde el sueño
de espadas que los tártaros soñaron,
dónde los fuertes muros que allanaron,
dónde el Arbol de Adán y el otro Leño?
El presente está solo. La memoria
erige el tiempo. Sucesión y engaño
es la rutina del reloj. El año
no es menos vano que la vana historia.
Entre el alba y la noche hay un abismo
de agonías, de luces, de cuidados;
el rostro que se mira en los gastados
espejos de la noche no es el mismo.
El hoy fugaz es tenue y es eterno;
otro Cielo no esperes, ni otro Infierno.


(Jorge Luis Borges)

*

Bom dia!

(url)

30.5.05


AFINAL HÁ LENDAS URBANAS QUE SÃO VERDADEIRAS 14

SINAIS DA POLÍTICA EM ERAS VIOLENTAS 2



As histórias que estes livros e brochuras contam são todas exemplares da violência que atravessou o século XX. As duas brochuras são propaganda alemã do tempo da guerra editada em português. Uma, é uma resenha do trabalho alemão nos "ersatz", produtos industriais inventados para substituir matérias-primas a que os alemães não tinham acesso durante o conflito. O livro tem no fim uma série de páginas de publicidade comercial de empresas alemãs ligadas a este esforço que incluem a AEG, a Krebs, a gigante química e farmacêutica Merck, a Siemens, as fábricas de vidros de Jena. Entre os produtos-"ersatz" estavam a baquelite, lãs de celulose, borracha sintética, vidro "Plexi", ligas cerâmicas e de alumínio e zinco.

A Vida Continua!
refere uma história bem mais trágica, até porque data de 1944: as destruições das cidades alemãs no fim da guerra. Na contra-capa interior uma citação de Hitler "as centenas de milhar daqueles que por acção das bombas perderam os seus haveres são a guarda avançada da vingança."

O "forçado", uma típica edição anticomunista do início da guerra fria, contendo o "verdadeiro depoimento do cardeal Mindszenty", o cardeal hungaro que foi feito prisioneiro pelos comunistas. A edição portuguesa é de 1949.

(url)


APRENDENDO COM EÇA DE QUEIRÓS

"A tua ideia de fundar um jornal é daninha e execrável. Lançando, e em formato rico, com telegramas e crónicas, uma outra «dessas folhas impressas que aparecem todas as manhãs», como diz tão assustada e pudicamente o arcebispo de Paris, tu vais concorrer para que no teu tempo e na tua terra se aligeirem mais os juízos ligeiros, se exacerbe mais a vaidade, e se endureça mais a intolerância. juízos ligeiros, vaidade, intolerância – eis três negros pecados sociais que, moralmente, matam uma sociedade! E tu alegremente te preparas para os atiçar.

Inconsciente como uma peste, espalhas sobre is almas a morte. já decerto o Diabo está atirando mais brasa para debaixo da caldeira de pez em que, depois do julgamento, recozerás e ganirás, meu Bento e meu réprobo! Não penses que, moralista amargo, exagero, como qualquer S. João Crisóstomo. Considera antes como foi incontestavelmente a Imprensa, que, com a sua maneira superficial, leviana e atabalhoada de tudo afirmar, de tudo julgar, mais enraizou no nosso tempo o funesto hábito dos juízos ligeiros. Em todos os séculos decerto se improvisaram estouvadamente opiniões: o Grego era inconsiderado e gárrulo, já Moisés, no longo deserto, sofria com o murmurar variável dos Hebreus; mas nunca, como no nosso século apressado, essa improvisação impudente se tornou a operação natural do entendimento. Com excepção de alguns filósofos escravizados pelo método, e de alguns devotos roídos pelo escrúpulo, todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar.

É com impressões fluidas que formamos as nossas maciças conclusões. Para julgar em política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal escutado a uma esquina, numa manhã de vento. Para apreciar em literatura o livro mais profundo, atulhado de ideias novas, que o amor de extensos anos fortemente encadeou – apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do fumo escurecedor do charuto. Principalmente para condenar, a nossa ligeireza é fulminante. Com que soberana facilidade declaramos «Este é uma besta! Aquele é um maroto!» Para proclamar «É um génio!» ou «É um santo!» oferecemos uma reSistência mais considerada. Mas ainda assim, quando uma boa digestão ou a macia luz de um céu de Maio nos inclinam à benevolência, também concedemos bizarramente, e só com lançar um olhar distraído sobre o eleito, a coroa ou a auréola, e aí empurramos para a popularidade um maganão enfeitado de louros ou nimbado de raios.

Assim passamos o nosso bendito dia a estampar rótulos definitivos no dorso dos homens e das coisas. Não há acção individual ou colectiva, personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos prontos a promulgar rotundamente uma opinião bojuda. E a opinião tem sempre, e apenas, por base aquele pequenino lado do facto, do homem, da obra, que perpassou num relance ante os nossos olhos escorregadios e fortuitos. Por um gesto julgamos um carácter: por um carácter avaliamos um povo. "

Etiquetas:


(url)


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UM BRILHOZINHO NOS OLHOS


Titã e Rea

Todos eles, todos eles, malvados, sedutores, malandros, aturdidos, admirados, impudicos, envergonhados, apanhados, exibicionistas, têm este brilhozinho nos olhos, uma claridade que se mostra, um fragmento de luz, para nos intrigar.

(url)


COISAS SIMPLES / GRANDES CAPAS


(url)


EARLY MORNING BLOG 507

De nada se sabe


La luna ignora que es tranquila y clara
Y ni siquiera sabe que es la luna;
La arena, que es la arena. No habrá una
Cosa que sepa que su forma es rara.
Las piezas de marfil son tan ajenas
Al abstracto ajedrez como la mano
Que las rige. Quizá el destino humano
De breves dichas y de largas penas
Es instrumento de otro. Lo ignoramos;
Darle nombre de Dios no nos ayuda.
Vanos también son el temor, la duda
Y la trunca plegaria que iniciamos.
¿Qué arco habrá arrojado esta saeta
que soy? ¿Qué cumbre puede ser la meta?


(Jorge Luis Borges)

*

Bom dia!

(url)


ESQUERDA / DIREITA

O referendo francês é mais um exemplo da esterilidade em querer pensar tudo em termos da dicotomia esquerda / direita. Acrescento-o a uma já longa lista de questões, de issues que mostram o esgotamento heurístico do dualismo reducionista.

(url)


HÁ QUEM NÃO APRENDA NADA

Esta insistência em “continuar” com a Constituição contra tudo e contra todos, afirmada por Jean-Claude Juncker., Durão Barroso e Freitas do Amaral, mostra a cegueira e a falta de espírito democrático (e na vez dele, espírito burocrático) com que se pretende impor uma solução indesejada. Por um lado, não querem perder a face, por outro, não sabem sair do sarilho em que se meteram. Mas o que mais falta é bom senso, porque qualquer pessoa que pense percebe logo que esta é uma atitude que só aprofundará a crise para que empurraram a Europa. Alguém pensa que sem a França, a Holanda e o Reino Unido, pelo menos, é possível haver uma União Europeia assente nesta Constituição?

(url)


TEMOS DIREITO A VOTAR “NÃO” OU NÃO PODEMOS?

Reproduzo aqui o que escrevi há mais de um mês sobre o referendo francês. Não preciso de mudar uma linha.

Como os dinamarqueses, os irlandeses e os suecos no passado, os franceses não podem votar “não” em matérias europeias. Como os portugueses num futuro próximo, também lhes vai ser descrito o apocalipse que cairá sobre eles se votarem “não”. A Europa é muito democrática, mas só se lhe pode dizer “sim”, nunca “não”, e os cidadãos dos países europeus tem o nefasto hábito de o fazer ou de então ficar em casa em massa, deixando “sins” mirrados e perplexos.

O vilipêndio dos que querem votar “não” começa antes de votarem. O voto “sim” é sempre o iluminado, o progressista, o que aposta no futuro, o dos que não tem medo. O “não” nunca é um “não” ao modo como está a ser construída a Europa, é sempre uma mesquinha soma de pequenos interesses corporativos e nacionais, sempre uma manifestação de vistas curtas da política interna de cada país, sempre menor.

Não tenho nenhuma simpatia política e ideológica pelas razões que levam muitos franceses a votar “não” à Constituição europeia porque não querem abrir o seu mercado à competição e à mão-de-obra de serviços mais baratos permitido pela directiva Bolkestein. Os franceses querem sempre “excepções”, na cultura e no “social”. Apoiados por tudo o que é esquerda europeia que entende, e bem, que o “modelo social europeu” assenta na closed shop, mobilizaram-se para combater aquilo que chamam a “deriva neo-liberal” da Europa, personificada no Frankenstein-Bolkestein e no nosso pobre José Manuel Barroso, apanhado no tiro cruzado.

Mas não é isso que é democrático, votar sim ou não conforme entendemos que uma lei ou directiva nos atinge e afecta? E não é um sofisma pretender que o voto nobre nos “princípios” da Constituição está “acima” moral e politicamente das políticas que dela decorrem e que ela, com todo o seu upgrade dos poderes burocráticos, potencia?

(De A LAGARTIXA E O JACARÉ, na Sábado, Abril 2005)

(url)

29.5.05


NADA SERÁ COMO DANTES...

...se se confirmarem os resultados franceses. Está aberto o caminho a repensar-se a União de forma diferente da dos últimos anos, mais democrática, mais solidária, menos ambiciosa e mais prudente. Melhor para todos os europeus, melhor para a Europa.

(Continua no SÍTIO DO NÃO.)

(url)


COISAS COMPLICADAS


Giotto, A expulsão dos demónios de Arezzo

(url)


EARLY MORNING BLOGS 506

Le jeune homme et le vieillard


De grâce, apprenez-moi comment l'on fait fortune,
Demandait à son père un jeune ambitieux.
Il est, dit le vieillard, un chemin glorieux,
C'est de se rendre utile à la cause commune,
De prodiguer ses jours, ses veilles, ses talents,
Au service de la patrie.
- Oh ! Trop pénible est cette vie,
Je veux des moyens moins brillants.
- Il en est de plus sûrs, l'intrigue... -elle est trop vile,
Sans vice et sans travail je voudrais m'enrichir.
- Eh bien ! Sois un simple imbécile,
J'en ai vu beaucoup réussir.

(Florian)

*

Bom dia!

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]