ABRUPTO

4.11.06


COISAS SIMPLES



(Giorgio Morandi)

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RETRATOS DO TRABALHO NO RIO TEJO, PORTUGAL



Afinando cabos, Setembro 2006.

(MJ)

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O PROBLEMA DA WIKIPEDIA:
OS ERROS DO ARTIGO “PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS”




O debate sobre a Wikipedia tem vindo a acentuar-se no último ano, referindo-se a enorme massa de informação disponível em linha, numa dimensão sem paralelo com as enciclopédias tradicionais no papel e na Rede, assim como o seu aspecto de projecto de colaboração colectiva voluntária, sem autoria, mas também sem edição qualificada. É este último aspecto que mais reservas tem suscitado à Wikipedia como fonte de conhecimento rigoroso e científico, e que tem levado os responsáveis da própria enciclopédia a reforçar o seu controlo editorial. No entanto, quanto mais remoto for o tema, e quanto mais sensível do ponto de vista ideológico e político for, maior é a probabilidade de a Wikipedia ser o repositório não só de erros factuais graves, como de falsificações deliberadas. Um caso típico deste género de problemas é a entrada “Partido Comunista Português”.

Todo o texto é confuso, mal escrito, parece ter sido pensado ou escrito originalmente numa língua estrangeira, contém erros factuais graves e revela como um conjunto de colaborações contraditórias (pró e contra a instituição PCP e o comunismo) dão origem a um texto ideologicamente controlado, não só inútil como perigoso como fonte para qualquer leitor, estudante ou investigador que o queira usar de boa fé.

Como autor de muitos trabalhos sobre o PCP, nalguns casos os únicos existentes para determinados períodos da sua história, eu reconheço muito facilmente o que deles foi retirado, embora não haja nenhuma atribuição na bibliografia, que privilegia como fontes históricas os textos oficiais do PCP. Percebe-se que houve colaboradores da Wikipedia que tentaram introduzir alguns dados exteriores à história oficial do PCP, mas que acabaram por ser vencidos por outros colaboradores que impediram o texto de se afastar da ortodoxia. O resultado é um texto inútil e, acima de tudo, enganador.

Vejamos alguns exemplos (a vermelho os textos originais da Wikipedia a que me refiro)

1.
O Partido Comunista Português ou PCP, é um partido político de esquerda. É um partido comunista marxista-leninista e a sua organização é baseada no centralismo democrático. O partido considera-se também patriótico e o internacionalista.
Uma algaraviada ideológica e política, inútil como caracterização. O PCP é tudo e o seu contrário.

2.

Após o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, Portugal caiu numa grave crise económica, em parte devido à intervenção militar na guerra. A classe dos trabalhadores respondeu ao deteriorar do seu nível de vida com uma onda de greves. Com o apoio da União Operária, cresceram as movimentações reivindicativas e, no fogo dessas lutas, a classe operária conquistou, finalmente, a histórica vitória da jornada de 8 horas de trabalho.
Errado.

3.

Em Setembro de 1919, o movimento da classe dos trabalhadores fundou a Confederação Geral do Trabalho, ou CGT. Contudo, a falta de poder político devido, por sua vez, à falta de uma estratégia política coerente entre os trabalhadores, levou à fundação da Federação Maximalista Portuguesa (FMP) em 1919. O seu principal objectivo era promover ideias revolucionárias e socialistas, e organizar e desenvolver um movimento dos trabalhadores.
Afirmação puramente de ortodoxia ideológica e não histórica.

4.
Após algum tempo os membros da FMP sentiram a necessidade de uma "vanguarda revolucionária" entre os trabalhadores Portugueses. Depois de várias reuniões em várias sedes dos sindicatos, e com a ajuda da Comintern, foi fundado o Partido Comunista Português, ou PCP, como a secção Portuguesa do Internacional Comunista (Comintern), no dia 6 de Março de 1921.
O mesmo do anterior.

5.

O quinto congresso, realizado em Setembro de 1957, foi o primeiro e único a ser realizado fora do país. Em Kiev, na União Soviética, o Partido aprovou os seus primeiros programas e estatutos.
Errado. O V Congresso realizou-se no interior de Portugal e só VI Congresso é que foi em Kiev.

6.
O congresso tomou, pela primeira vez, uma posição oficial em relação ao Colonialismo, defendendo que todas as pessoas têm o direito à auto-determinação, e deixou claro o apoio aos movimentos populares de libertação das colónias Portuguesas, como o MPLA em Angola, FRELIMO em Moçambique, e PAIGC na Guiné-Bissau.
História oficial. O anexo sobre as colónias é contraditório com os documentos políticos do próprio Congresso e é um documento que só é valorizado na história oficial pela necessidade de encontrar uma posição anti-colonial politicamente correcta antes do início da luta armada em 1961.

7.

Toda a parte respeitante a 1974-5 ilude o "PREC" e não fala no 25 de Novembro


8.
No final dos anos 80, o Bloco Socialista da Europa de Leste começou a desintegrar-se e o Partido passou por uma das maiores crises na história.
O que é o Bloco Socialista da Europa do Leste? Será que se quer dizer que permaneceu intacto o Bloco Socialista Asiático ou Latino-Americano? Terminologia política e ideológica.

9.

Lista de Líderes: Júlio Fogaça (1942-1961)
Errado. Fogaça nunca assumiu cargos formais de liderança e o seu poder manifesta-se apenas de 1956 a 1961, sempre num clima de contestação interna.


Etc., etc.

*

Este artigo é um dos candidatos a "melhor artigo da Wikipedia em português", o que diz muito sobre a inconsistência da escolha. Esta meia dúzia de exemplos podia ser reforçada por muitos erros, omissões, falsificações noutros artigos para que este remete, como a Cronologia do PCP para várias entradas sobre a oposição portuguesa e o sistema político-partidário nacional.

Haverá quem diga que, em consequência, o que há a fazer é introduzir estas alterações na Wikipedia, corrigindo-a. Duvido que assim seja, até porque não acredito que qualquer "mão invisível" colectiva consiga escrever artigos científicos sem uma edição especializada, quer quanto ao seu conteúdo quer quanto à sua forma, visto que a escrita narrativa é um elemento fundamental na compreensão de um texto histórico. A Wikipedia é um esforço gigantesco, bem avontadado, e que utiliza recursos que só existem hoje em linha na Rede. Mas, sem um critério de validação, serve pouco para o trabalho científico.

*

O comentário de um seu leitor ao artigo da Wikipedia sobre Cristóvão Colombo trouxe-me à memória um livro autobiográfico de Cavanna, chamado Bête et Méchant. Aí, o autor descreve a sua viagem, levada a cabo em meados dos anos cinquenta, até à terra natal do seu pai: Bettola, em Itália. Quando ele chegou à praça central da terra, viu que havia lá uma estátua. Foi ver o que dizia o pedestal e, para seu grande espanto, leu:

QUI NELLA CITTA DI BETTOLA E NATO NELL' ANNO 145O CRISTOFORO COLOMBO NAVIGATORE ITALIANO IL QUALE PRIMO DI TUTTI SCOPRI L'AMERICA

Isto não fazia sentido! Como era possível que nunca nenhum dos seus parentes originários daquela região lhe tivesse alguma vez mencionado que Bettola era a terra natal de Cristóvão Colombo? Cavanna viu então o padre da igreja local e pôs-lhe aquela dúvida. O padre explicou-lhe que, em toda aquela região, em praticamente qualquer povoação com mais de mil habitantes havia uma estátua, mais ou menos bem conseguida do ponto de vista artístico e de riqueza do material, onde era dito de forma inequívoca que Cristóvão Colombo nascera lá.

Já agora, não resisto a transcrever o texto da contra-capa do livro em
questão:

Qualquer semelhança entre nomes citados neste livro e imbecis vivos não passa de pura coincidência. Com efeito, tive o cuidado de mudar o nome dos imbecis, pois os imbecis são maus e eu sou cobarde.

Consequentemente, qualquer semelhança entre nomes citados neste livro e nomes de pessoas vivas é uma homenagem à não-imbecilidade dessa pessoas. A menos, naturalmente, que elas desatem a fornecer a demonstração, arranjando-me chatices, de que errei ao confiar nelas neste aspecto.

(José Carlos Santos)

P. S. Sobre Cavanna, pode consultar a Wikipedia.

*

Venho pelo presente chamar a atenção para o conteúdo da entrada "Portugal" na wikipedia em língua inglesa. Penso que o teor, que em seguida reproduzo, é suficientemente eloquente para merecer a atenção sobretudo pelo rigor científico que presumivelmente se propõe demonstrar, atestado por diversas citações.
Qualquer que tenha sido a intenção do seu autor,julgo que a perplexidade não poderá ser menor que a minha.

(David Guerra Bonifácio, Duke University Law School)


"The Status of Portugal

Portuguese rebels led by General Spinola were engaged in heavy fighting against successive Spanish and Moroccan regimes from 1960 to 1971. In March 1973, Spain announced a peace plan providing for Portuguese autonomy. The plan was to be implemented in four years.[3] However, at the same time, the Franco regime started an Spaniardization program in the peasant regions of Faro and Azores.[4] The peace agreement did not last long, and in 1972, the Moroccan government began a new offensive against the Portuguese claiming them to be rightfully Moroccan. Moreover in March of that year, Spain and Morocco signed the Palermo Pact in Sicily in front of international monitors according to which Morocco cut supplies to Portuguese people. Spain then started yet another wave of Spaniardization by moving Catelans to the holiday regions of the Algarve, particularly the ones around the seaside.[5] Between 1975 and 1978, 700,000 Portuguese rebels were deported to other parts of Spain.[6] During the Anglo-Argentinian war in 1982, the regime implemented anti-Portuguese policies and a de facto civil war broke out. Spain was widely-condemned by the international community, but was never seriously punished for oppressive measures, such as mass murder of hundreds of thousands of civilians, wholesale destruction of thousands of villages and deportation of thousands of Portuguese to southern and central Europe. The campaign of the Moroccan government on the other hand against Portuguese in 1988 was called Anfal (Spoils of War). The Anfal attacks led to destruction of 2,000 villages and death of 300,000 Portuguese.[7]

After the Portuguese uprising in 1991 (Portuguese:Raperîn, led by the Portuguese Peasant Army and Portuguese Fascist Factor), Moroccan troops finally recaptured the Portuguese areas, hundreds of thousand of Portuguese returned to their homes. To alleviate the situation a safe haven was established by the Security Council. The autonomous Portuguese area was mainly controlled by the rival parties PFF and PPA. The Portuguese population welcomed the entry into NATO by Spain. The area controlled by peshmerga was expanded, and Portuguese peasants now have effective control in Porto and parts of Northern Portugal. By the beginning of 2006 the two Portuguese areas were merged into one unified region. A series of referenda are scheduled to be held in 2007, to determine the final borders of the Portuguese region. For now it remains an autonomous province of Morocco and no longer a Spanish Crownland as it was before September 2, 2002."

*

A Wikipédia parte duma ideia simples: que cada um dê um pouco do que sabe para contribuir para o conhecimento de todos. Com isso quem não sabe aprende, quem julga saber pode ser corrigido e quem sabe ensina. Mas só em Utopia se considera que o conhecimento vale pelo conhecimento em si e que este não é um instrumento de dominação.

Contudo, no mundo real nada disto se passa. Aqui, o conhecimento, a sua ausência ou a sua manipulação são usados para dominar, para prevalecer sobre os demais, por isso não é estranho que um instrumento simples como a Wikipédia seja transformado no oposto daquilo para que foi concebido.

Tal como o exemplo da entrada «PCP», a de «Cristóvão Colombo» também é candidata a "melhor artigo da Wikipedia em português" - que anedota!

- O que têm os dois em comum?

- Ambos são pseudo-história com uns pequenos laivos de História.

(João C. da Silva de Jesus)


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EARLY MORNING BLOGS

903 - Rain-Songs

The rain streams down like harp-strings from the sky;
The wind, that world-old harpist sitteth by;
And ever as he sings his low refrain,
He plays upon the harp-strings of the rain.

(Paul Laurence Dunbar)

*

Bom dia!

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3.11.06


RETRATOS DO TRABALHO NO QUÉNIA



Fotografia tirada em 2003 numa aldeia El Molo no Lago Turkana, Quénia.

(João Monge)

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O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO



As pessoas têm os estados de alma associados ao tempo. Começa a entrar-se no Inverno, nem sentem o Outono. Vem as brumas e as chuvas e entra-lhes a morrinha da nossa Rosalia pela pele dentro. Começa a chover-lhes na alma e a ficarem tristes e deprimidas. Os psiquiatras recebem novos clientes. Os divórcios começam a gerar-se nas zangas contínuas. A casa conjugal parece um fardo infinito, com cada parede a exclamar: "Esta não é a vida que sonhavas." Namoros acabam lavados em lágrimas e recriminações. Nos quartos minúsculos dos subúrbios muitos adolescentes escrevem diários e poemas e abrem blogues. O telemóvel sobrecarrega-se de chamadas só para falar, por falar. Tudo parece mais penoso, tudo parece mais pesado, a existência um fardo.


Estas nuvens pertencem a um quadro de Courbet intitulado Eternidade, uma das mais dramáticas ilustrações da relação entre o tempo e uma ideia abstracta, ou um sentimento. O mau tempo, as nuvens ameaçadoras, são a eternidade. O fragmento dela que vivemos é como este céu, este mar, estas rochas.
Cá fora o mundo exterior encarrega-se de atirar ainda mais cinza para as almas perdidas no Inverno. Chega o Inverno, nas cidades chega o inferno. As ruas tornam-se intransitáveis, os transportes um martírio. Os carros nas ruas triplicam como por milagre e tudo fica bloqueado. Trajectos de um quarto de hora demoram uma hora. Molhada, encharcada, cansada. Levar os filhos à escola é perder as horas certas para entrar no emprego.


Ninguém melhor que Hopper...

Comer de pé, num qualquer café transformado em restaurante de almoços rápidos, é participar numa colisão de corpos informes e desconfortados, guarda-chuvas a pingar, competindo por uns centímetros de balcão pouco limpo. Nada aquece, nada está aquecido. Aquela sopa não se pode comer, não sei porque venho sempre aqui. Sei, sei, é mais perto, é mais barato.

A imensa humidade que se espalha por todo o lado entra em tudo. Mesmo quando se olha pelo vidro da janela, quando se tem a sorte de ter uma janela por perto, tudo está tão completamente cinzento, castanho, pardo que não há cor que sobreviva. O céu está da cor da televisão, dizia Gibson. Está, da cor da estática, do ruído. Como não temos hábito de usar as flores para colorir os espaços, o néon brilha com crueza. Tudo se habita mal quando todos habitam mal em si próprios.

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The sky above the port was the color of television, tuned to a dead channel.

Depois há menos dinheiro, cada vez menos dinheiro. Em contrapartida há cada vez mais dívidas difíceis, os cartões de crédito mostram a sua face rapace, por detrás da enganadora facilidade de comprar sem pagar dinheiro. Falta dinheiro para comprar os livros para a escola, centenas de euros se se fizesse o que a "escola" pedia. Falta dinheiro para pagar esta análise, demasiado cara. Falta dinheiro para o aparelho dos dentes. Os telemóveis do pai, da mãe, do filho adolescente, da filha no 3.º ano da escolaridade, custam cada vez mais, mas como é que se pode viver sem eles?
Água, luz, TV Cabo com Sport TV, o carro, as compras no supermercado, as viagens, as prestações da casa, da mobília tão gentilmente empurrada pelo crédito ao consumo, das férias, sobem sem parar. Já fui uma vez ao Corte Inglés, agora vou ao Modelo, amanhã irei ao Lidl. Felizmente que os jornais gratuitos já não obrigam a comprar outros jornais que não os desportivos. E há as revistas, a Nova Gente, a Lux, que também são tão caras como indispensáveis. Como é que eu saberia com quem "anda" a Elsa Raposo sem ler a literatura especializada? O rapaz vem da escola a querer só roupa de marca, embora se contente com roupa de marca comprada na feira, aos ciganos, desde que tenha a etiqueta. Vai querer um computador só para ele, para "estudar". Será que ele se droga? Parece tão cansado, brusco...


Este cinzento é o fundo do quadro O Inverno de David Teniers, o Jovem, pintado por volta de 1644, quatro anos depois da Restauração, reinava Sua Majestade D. João IV. As cores do Inverno não mudam.
Insegurança. Mais insegurança, medo, preocupações. Medo de ir à rua à noite, medo de ir ao Multibanco mesmo quando preciso, medo que me risquem o carro, que me roubem o rádio, já que a antena eu levo para casa todas as noites. Atarracho, desatarracho. A culpa é de quem trouxe os pretos para aqui. Não respeitam nada. As fábricas têxteis fecham no Verão, ou melhor, não abrem no Outono. Mas como será na empresa, no escritório, onde o negócio anda mal? Vou ser despedido? E na repartição será que a minha mulher vai para o quadro dos excedentes? O chefe vai ter que nos classificar, mas ele foi lá posto pelo PS (ou pelo PSD) e vai de certeza escolher os da "cor".

Os professores entram na escola desinteressados e sentindo-se humilhados. Como é que pode ser doutra maneira com "esta" ministra? Pois vou ter que passar horas a "substituir" a minha colega que faltou? Está bem, como não sou obrigado a ensinar nada, estas horas não podem ser "lectivas", ponho-os a jogar e a fazer puzzles ou simplesmente quietos. Será que posso pôr "aquele" rufia na rua? Não posso, tenho medo. Medo que me fure os pneus, medo que me agrida com o seu gang. Depois a quem me queixo? Ninguém faz nada. Ele ficará sempre aqui, a ameaçar-me.

Medo de perder o pouco que tenho, medo que o pouco que tenho não me chegue. Medo que se perceba que não tenho capacidade para fazer o que estou a fazer. Medo de ser avaliado com justiça. Medo de ser injustamente avaliado para cumprir qualquer quota, ou fazer qualquer poupança ou para que o "chefe" ajuste as suas contas. Cada ano ganho menos. Nunca fui a uma manifestação, não gosto dos comunistas, sempre fui PS (ou PSD), mas este ano vou. E se não vou à manifestação, porque não gosto dessas coisas, e tenho medo de me mostrar, faço greve. Com medo, mas faço.

"Eles", os políticos, não sabem nada disto, nem querem saber, repete-se no Norte nos cafés, no Sul nas pastelarias e snack-bars. Se houvesse um coro como nas tragédias gregas, ele sussurraria avisos para os de cima como o dos Idos de Março, avisaria que cá por baixo os ânimos exaltam-se ou as pessoas se cansam. Pior do que a exaltação, é a resignação.
Não vai ser fácil este Inverno. Já ninguém acredita em qualquer luz no fundo do túnel. Nem acredita, nem caminha para o fim do túnel. Tende a caminhar para o princípio, para trás, onde tem a falsa memória de que estava luz. Talvez na Primavera tudo melhore e sempre se podem fazer férias no Algarve outra vez. Corso, ricorso.

(No Público de 2 de Novembro de 2006)

*
Gostei da imagem do coro - assim os seus colegas politicos soubessem o que significa e fosse aos cafés ouvir o "povo anónimo".

Contudo, há factores de esperança. Eis um: este ano estou a dar aulas a dezenas de pessoas que entraram na Universidade por causa lei dos mais 23. E digo-lhe: a força daquela gente, é impressionante. Lutam que nem uns danados, para agarrarem uma oportunidade de se licenciarem. E de melhorarem a vida. Oxalá aguentem o Inverno. Eu vou ajudá-los. Na Primavera digo-lhe o que sucedeu.

(ET)

*

(...) capta muito bem o Pathos urbano do Inverno. Fiquei só a perguntar-me se esses traços sao de facto conjunturais ou estruturais nos portugueses. Para mais, recordou-me um seu outro artigo, acerca do casal da margem sul, talvez nao por mero acaso.

Nao resisto a fazer somente uma sugestao. Imagine o que é uma pessoa atravessar esses dias de descontentamento e, usando o metro (Odivelas), como eu e muitos, se depara com um revisor. E por acaso nesse dia você até se tinha esquecido de trazer ou renovar o passe (e acontece). Resultado: multa. Digo-o simplesmente porque, andando de metro desde há 3 anos, nunca tinha visto um revisor até recentemente. Surgiram do nada. Parecem ter escolhido justamente estes dias sombrios para melhor deprimir as pessoas. Sao mais uma acha na fogueira que é avivada ao longo de um dia difícil. Sabe Deus onde é consumida.

(Pedro Oliveira)

*

Traduz e expressa bem a realidade portuguesa, a nossa realidade. Aquela que os políticos e o povo querem ignorar. Aquela que alguns de nós – graças a Deus, ainda há alguns de nós – sabem existir e grassar cada vez mais.
Qualquer dia, já nem vale a pena escrever coisas destas. São tal incompreendidas ou, então, mal recebidas, que não vale a pena. A única luz que vejo é a do passado, a de que, em finais de 1800, também assim era, mutatis mutandis. Ler Eça ou As Farpas é perceber isso. Mas, confesso-lhe, não me consola.

(Rui Esperança)

*

Estive a ler o seu "Inverno do nosso descontentamento" e embora seja um optimista, não posso deixar de concordar consigo. Portugal está-me a deixar cada vez mais pessimista. Tenho 36 anos e a vida puxou-me o tapete aos 25 quando me diagnosticaram esclerose múltipla.Fui entretanto estagiário, vendedor, responsável de zona, director de marketing em várias empresas. Agora sou pensionista.

Felizmente nunca fugi à segurança social (mesmo quando servia à mesa numa pizaria nos tempos de estudante) e hoje usufruo de 396 euros mensais. Felizmente sempre fui precavido e acho que o que o que investi me vai dar para viver. Felizmente tenho uns pais maravilhosos que me vão ajudando enquanto podem com as tarefas do dia a dia. Felizmente tenho amigos que têm estado sempre presentes.

Só penso é nos deficientes que não têm tanta sorte como eu: nos que ganham mais de 485 euros e vão começar a ter menos benefícios fiscais, nos que têm pais ou amigos que não os podem ajudar. Nos que não puderam juntar algum dinheiro.
Estes varredores de tostões, ao retirarem estas migalhas, esquecem-se de todas as outras despesas ligadas ao portador de uma deficiência. No meu caso, fisioterapia paga por mim, alguns medicamentos não comparticipados, deslocações que não podem ser feitas em transportes públicos...

Foi só um desabafo. E de alguém que tem sorte.

(miguel abreu)


*

... mas se poderia supor-se alguma empatia pelos problemas das pessoas comuns, essa ideia parece dissolver-se na constatação de que nada do que relata o afecta a si. Aliás, como é que se pode deixar de ter estados de alma? Se Descartes errou, como António Damásio refere...

(S.)

*

Da sua (...) crónica, que reflecte fielmente o espírito que prevalece transversalmente na sociedade portuguesa, uma palavra se destaca de todas as outras.: O Medo...esse medo de que fala é paralizante, tolhe a iniciativa, afecta a auto estima, debilita a dinâmica social...é um medo quase Kafkiano, endógeno quase tangível.

Portugal continua a ser na sua essência um país adiado, apesar dos mega bytes mediáticos do actual governo, anunciando "amanhãs que cantam", pondo em marcha uma espécie de "marcha cultural balofa" pela modernização tecnológica num país em que as telecomunicações são encaradas como um bem de luxo e como tal oneradas com a taxa máxima de IVA de 21 %. São estes sinais contraditórios entre politica económica "tecnologicamente pura" e política fiscal diametralmente oposta que colide com os objectivos estratégicos de desenvolvimento anunciados, que confundem o cidadão e descrebilizam o actual governo fazendo deste um agente do tal clima de medo e frustração.

(António Ruivo)

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EARLY MORNING BLOGS

902 - ...connaissant la mondaine inconstance, / Puisque Dieu seul au temps fait résistance

C'était alors que le présent des dieux
Plus doucement s'écoule aux yeux de l'homme,
Faisant noyer dedans l'oubli du somme
Tout le souci du jour laborieux;

Quand un démon apparut à mes yeux
Dessus le bord du grand fleuve de Rome,
Qui, m'appelant du nom dont je me nomme,
Me commanda regarder vers les cieux :

Puis m'écria : Vois, dit-il, et contemple
Tout ce qui est compris sous ce grand temple,
Vois comme tout n'est rien que vanité.

Lors, connaissant la mondaine inconstance,
Puisque Dieu seul au temps fait résistance,
N'espère rien qu'en la divinité.

(Joachim Du Bellay, Les Antiquités de Rome)

*

Bom dia!

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INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TERMINOLOGIAS, e COISAS DA SÁBADO: ASCENSÃO E QUEDA DA IMPRENSA DIÁRIA E DEZ MILHÕES, IRRELEVÂNCIA E BENS ESCASSOS.

Continua a lenta recuperação das imagens perdidas.

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2.11.06


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL NO PASSADO



(Artur Pastor)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 2 de Novembro de 2006



Passa na abertura do telejornal da RTP das 13 horas mais um Momento-Chávez do Primeiro-ministro, com o respectivo eco na voz da senhora jornalista. Propaganda pura, intacta, sem mácula, como deve ser. Palavras certas, cores certas, imagens certas. Palco controlado, assistência reverencial, nenhuma dúvida, nenhuma pergunta incómoda, nenhum escrutínio.


Hoje, o Público (declaração de interesses conhecida, ainda por cima à quinta-feira...) está um bom jornal, que acrescenta informação e alarga os temas, segundo uma agenda própria, para matérias relevantes, pouco ou nada tratadas na comunicação social portuguesa como a resposta dos sindicatos à globalização. Depois há Fátima Bonifácio sobre o "estado de graça", uma notícia relevante sobre as contrapartidas nas compras de material de guerra e várias notícias de qualidade, dispersas nas áreas da cultura e media. A reportagem sobre a partida das tropas para o Líbano tem uma série de fotos e mini-biografias de alguns militares portugueses, as fotos muito ao estilo esteticizante da Vanity Fair. A notícia sobre a polémica da missa em latim em França é apenas a ponta do icebergue do impacto das posições litúrgicas do novo Papa que, tendo impulsionado muitas das reformas do Vaticano II, veio depois a condená-las como perigosas e perversas. Por fim, vejo com alguma ironia percursora, que a CNN vai repetir, na cobertura das eleições, o que o Abrupto fez em directo também numa cobertura eleitoral da SIC, e que penso ter sido à data original. Se fosse a SIC reivindicava a primazia.

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RETRATOS DO TRABALHO NA CHARNECA DA PERALVA - TOMAR, PORTUGAL



Charneca da Peralva, um lugar perto de Tomar, onde se comprova que uns têm que trabalhar para outros comerem.

(José Farinha)

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RETRATOS DO TRABALHO EM BERLIM, ALEMANHA



Limpeza de uma estátua na Unter den Linden (Berlim), há cerca de 3 semanas.

(César de Oliveira)

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EARLY MORNING BLOGS

901 - Who lived in the utmost disorder...

There was an old man on the Border,
Who lived in the utmost disorder;
He danced with the cat,
And made tea in his hat,
Which vexed all the folks on the Border.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

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1.11.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TERMINOLOGIAS



Tenho vivido no Reino Unido no ultimo ano (e por isso peco desculpa pela grafia e pela falta de acentos) tenho contudo seguido atentamente a imprensa portuguesa. A cronica de Vasco Graca Moura (VGM) no DN de hoje sobre a nova terminologia linguística para os ensinos básico e secundário (TLEBS) voltou a chamar-me a atencao para um debate que comecou ha cerca de um ano e que, talvez por ser demasiado tecnico, se tem mantido sem a devida atencao da comunicacao social.

Ao ler hoje algumas das alteracoes propostas :

« Entre outros, há pronomes indefinidos que dão agora pelos nomes sorumbáticos de "quantificadores indefinidos", "quantificadores universais" e "quantificadores relativos". Nos advérbios, encontramos coisas alucinantes como "advérbios disjuntos avaliativos", "advérbios disjuntos modais", "advérbios disjuntos reforçadores da verdade da asserção" e "advérbios disjuntos restritivos da verdade da asserção". O sujeito indefinido passa a ser o luminoso "sujeito nulo expletivo". O "aposto ou continuado" chama-se bombasticamente "modificador do nome apositivo", podendo ser do tipo "nominal", "adjectival", "proposicional" ou "frásico"... »

Ficou-me a pergunta: sera que a lingua que aprendi na escola mudou tanto nos ultimos 15 anos? E mais, nao estaram a complicar o que e simples?

E alem destas resta a outra questao, que esta subjacente a a toda a cronica de
VGM: sera que se pode ensinar uma lingua esquecendo a literatura que a fixa e a cria, desmontando-a apenas nas suas componentes mais tecnicas?

Nao me parece que esta seja a melhor forma de ensinar o portugues e talvez seja altura de pensar que o cronico fracasso com a matematica possa estar relacionado com todas estas questoes. Ja ha 20 anos, a maior parte dos meus colegas tinha dificuldades em interpretar os enunciados dos problemas em matematica no 5o e no 6o anos. O fracasso e a sucessiva rejeicao comecaram ai, muito cedo.

Por esta e outras questoes acho que o debate sobre a TLEBS merecia um pouco mais de visibilidade, afinal, tambem e por aqui que passa o futuro do pais que queremos tirar da crise.

Como nota acrescento que nem sequer estou ligado as letras ou humanidades sou Bioquimico, mas nenhum plano tecnologico resultara se falharmos nas coisas mais basicas.

(Andre M. N. Silva)

*
Acabo de ler o texto de André M N Silva sobre a TLEBS, publicado no "Abrupto". Tanto quanto me apercebo, tudo se resume a classificar de um modo diferente daquele a que estavamos habituados os nomes que integram a nossa língua. Ignoro as vantagens do exercício. Mas o exercício em si mesmo relembrou-me o texto "El idioma analítico de John Wilkins", de Jorge Luis Borges, (...) numa versão encontrada aqui. Talvez os responsáveis pela TLEBS ganhassem alguma coisa em lê-lo.

(António Cardosos da Conceição)

*

Se a TLEBS tem certamente muitos defeitos -- como a mudança gratuita dos "nomes" em "substantivos" e, porventura, a suposição antipedagógica de que as aulas de gramática, nos liceus, seriam aulas de linguística (não são) -- é preciso notar que a oposição de VGM à TLEBS se insere na sua antiga oposição... aos linguistas, bem clara nos seus ataques palavrosos e, de resto, vácuos disponíveis on line no Ciberdúvidas, devidamente respondidos por Inês Duarte.

E muitas das críticas que faz são puro desconhecimento. Por exemplo, o desconhecimento de que muitos dos antigos "pronomes" não eram pronomes e alguns dos "sujeitos indefinidos" não tinham nada de indefinido. As aulas de gramática não são aulas de linguística, mas convém saber um mínimo de linguística para perceber, pelo menos, que os quantificadores são mesmo quantificadores.
As tristes guerras entre "literatos" e "linguistas" dificilmente nos trarão alguma coisa de bom. Sobretudo, impedem que se vejam alguns meios termos óbvios, soterrados pelo facciosismo e pela confusão.

(Pedro Múrias)

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RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



A foto foi tirada durante este mês de Outubro na feira dos pássaros que todos os Domingos tem lugar no jardim da Cordoaria, em frente à antiga Cadeia da Relação. Pelos menos nestes momentos o centro histórico fica animado...

(Jorge Silva)

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BOA SORTE

http://www.voanews.com/english/images/un_unifil_logo_195_eng_17aug06.jpg

Bom trabalho!
Voltem todos e bem.

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COISAS DA SÁBADO: ASCENSÃO E QUEDA DA IMPRENSA DIÁRIA

O dicionário Jornais Diários Portugueses do Século XX de Mário Matos e Lemos, editado pela ariadne editora é uma obra que devia estar em todas as redacções para, como o espectro do Manifesto Comunista, “assombrar” todos os jornalistas. Infelizmente, para quem gosta de jornais, “assombra” também os leitores dedicados da imprensa.

Este dicionário é uma espécie de cemitério muito especial, o dos grandes títulos da imprensa, dos jornais mais ambiciosos e com mais recursos para se abalançarem a publicar-se diariamente e que, em diferentes tempos e por diversas razões, acabaram por morrer nem sempre gloriosamente. Ele permite comparar os diferentes períodos da história e ver facilmente a ascensão e queda da imprensa escrita. Fazendo o balanço da sobrevivência de um século, do século XIX para o XXI, apenas quatro jornais do continente em oito jornais, os outros são das ilhas com relevo para os Açores, sobreviveram. Mas mesmo este escasso número é enganador: entretanto o Comércio do Porto, morreu e o Primeiro de Janeiro sobrevive com muitas dificuldades. Na verdade, apenas o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias fizeram o salto.

O que se verifica é que mesmo entre o momento em que este dicionário foi escrito e aquele em que foi publicado, a crise da imprensa atingiu mesmo as listas mais selectas, que se pensava poderem ter outra duração. Para além do Comércio do Porto, também já acabou A Capital, e O Dia, que vem na lista, nem sei bem se existe num limbo qualquer. O último diário criado foi o 24 Horas em 1998, porque o dicionário não menciona os gratuitos. O panorama, como se vê, não é brilhante.

Desde 1998 , surgiu pelo menos mais um diário. O Jornal de Negócios que era semanário e que se transformou em diário. Julgo que a transformação foi em 2003.

(João Melo)

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DEZ MILHÕES, IRRELEVÂNCIA E BENS ESCASSOS



Somos, mais ou menos, dez milhões de pessoas, num canto da Europa, entregues à nossa sorte. Pouca gente se importa connosco fora de Portugal, contamos muito pouco para quase nada fora do nosso cantinho. A língua, que é maior que nós, é cada vez mais definida pelo Brasil, e é natural que seja lá que esteja o Museu da Língua. Temos alguma poesia e literatura de primeira água, mas muito pouca. Temos a história que temos, menos trágica do que a da maioria da Europa. Não temos economia que conte para nada no mundo globalizado e, a que temos, vive muito dependente de tudo o que está fora e de alguns subsídios europeus.

Temos muito pouca noção do que verdadeiramente somos e do que valemos. Não somos nacionalistas porque já não há Império e mesmo a sua ficção póstuma já não entusiasma ninguém. Não somos patriotas a não ser sob forma futebolística, ou seja nem sequer sabemos o que isso é. Nem sequer o último luxo cínico de nos vermos ao espelho temos, porque esse espelho está sempre perturbado pelo efeito contraditório, por um lado da mania das grandezas (Descobrimentos, & etc.), e por outro pela imensa manha camponesa de um povo que ainda tem a pobreza muito perto para se dar ao luxo de fazer experiências. Todos os bens são escassos, há sempre mais gente do que empregos, prebendas, cargos, dinheiro e fama. A inveja, naturalmente, é uma doença nacional profunda. Este é o pano de fundo de muita coisa.

*
Nem menos. Mas há mais para se apontar.
Se toda esta maneira de viver tivesse sido apenas de portas para dentro talvez o isolamento se transformasse no próprio remédio.
Mas não. Durante séculos envangilisamos outros povos com esta cultura.
O resultado está à vista: pelo menos sete países funcionam e vivem sob o efeito directo desta cultura.
Em todos eles se apela ao patriotismo por estarem convencidos que são uma raça.
Em todos eles se estima muito as remessas dos emigrantes.
Em todos eles se mede o desenvolvimento pelo investimento estrangeiro.
Em todos eles o Estado é que é o sustento do próprio país.
E em todos eles a alegria é contagiante tal como a pobreza de espírito.
A solução tem nome: tempo e democracia.

(Sérgio)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 1 de Novembro de 2006


Muito apropriado: ser acordado por uns miúdos a pedir o "pão por Deus". Espertos, finos, habilidosos, transformaram o Dia dos Mortos em rebuçados.
Só uma correcção: o “Dia dos Mortos” ou, de acordo com o calendário litúrgico católico, o dia dos Fiéis Defuntos, é amanhã, dia 2 de Novembro. Hoje celebra-se a Solenidade de Todos os Santos e é dia de festa!
O facto de amanhã ser dia de trabalho levou a que a romagem aos cemitérios fosse feita no feriado. Com o tempo, principalmente entre os que não participam nas celebrações litúrgicas e que, portanto, estão menos informados, começaram a confundir-se as datas...

(Manuela Silva)
*

Uma tradução do poema de Auden , The Fall Of Rome no EARLY MORNING BLOGS - 898, num blogue brasileiro, enviado pelo próprio.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UMA PERGUNTA COM PRÉMIO

Na imagem, vê-se um dos muitos ciber-pontos que, em boa-hora, foram semeados pelas estações dos CTT.

Uma etiqueta pequena informa o contribuinte que foi «Co-financiado pelo FEDER e pelo Plano Operacional para a Sociedade do Conhecimento», mas um letreiro maior é um pouco mais claro: «FORA DE SERVIÇO / OUT OF ORDER».

Tenho comigo um cartão Netpost (que me custou 5,49€ e ainda tem algum saldo) que ofereço à primeira pessoa que tiver "conhecimento" de uma estação dos CTT onde exista uma máquina destas a funcionar.

(C. Medina Ribeiro)

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RETRATOS DO TRABALHO EM LADOEIRO-IDANHA-A-NOVA, PORTUGAL



Retratos do trabalho em Ladoeiro, Idanha-a-Nova, Portugal. Arrieiro conduz à guia uma jovem parelha de mulas, numa operação de gradagem da terra.

(Pedro Rego)

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EARLY MORNING BLOGS

900 - ...a mystery

There was a young person whose history,
Was always considered a mystery;
She sate in a ditch,
Although no one knew which,
And composed a small treatise on history.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

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31.10.06


EARLY MORNING BLOGS

899 - The Cruel Moon

The cruel Moon hangs out of reach
Up above the shadowy beech.
Her face is stupid, but her eye
Is small and sharp and very sly.
Nurse says the Moon can drive you mad?
No, that’s a silly story, lad!
Though she be angry, though she would
Destroy all England if she could,
Yet think, what damage can she do
Hanging there so far from you?
Don’t heed what frightened nurses say:
Moons hang much too far away.

(Robert Graves )

*

Bom dia!

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30.10.06


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Trabalhos na barra do Douro. Hoje.

(Gil Coelho)

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RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Jardineiros no jardim do Passeio Alegre, no Porto.

(Gil Coelho)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 30 de Outubro de 2006


Em Portugal apoiam Sócrates por apertar o cinto, no Brasil apoiam Lula por dar dinheiro aos pobres. Há aqui qualquer coisa que não encaixa.

Uma breve nota sobre a comparação entre Sócrates e Lula. Não há dissemelhanças, porque o ponto, creio, é este. A imagem de Sócrates é, tal como Lula, a de Robin dos Bosques.
Daí a popularidade, de ambos. Imagem, ou realidade, "a história o julgará". Tenhamos paciência!

(Amílcar Lopes António)
*

Robert Fagles sobre as razões que o levaram a traduzir a Eneida de Virgílio: “My feeling is that if something is timeless, then it will also be timely.

*

Continua a não haver um dia singular sem o Momento-Chávez do Primeiro-ministro, num palco controlado a dizer o que quer sem contraditório e, mais grave ainda, sem tratamento editorial em função da relevância e do conteúdo jornalístico da matéria.

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COISAS DA SÁBADO: DIA SIM DIA SIM



Contam-se pelos dedos de uma mão só, as pessoas que têm acesso à comunicação social de primeira linha e que falam dos mecanismos de controlo e manipulação da comunicação social pelo governo socialista. É uma matéria tabu, que suscita logo um ambiente de grande hostilidade, com exigência probatórias imediatas. Não acho mal as exigências probatórias, dado que penso não faltarem provas, sendo às vezes serem tão evidentes que a sua exigência já é suspeita. Só tenho pena que não tenham sido pedidas com a mesma convicção antes do período actual de governação. Mais: intriga-me que aqui os jornalistas que se indignam, muitos deles em posições de relevo em órgãos de comunicação estatais, alguns em posições de chefia, tenham nesta matéria a atitude exactamente contrária à que tomam face a todas as coisas, onde acham sempre que não há fumo sem fogo por regra geral, e onde exercitam abundantes doses de cinismo. Aqui, ficam ingénuos em absoluto, nesta matéria não são certamente o “ninho de víboras” com que são descritos no mundo anglo-saxónico.

Veja-se um dos exemplos mais que evidentes, referido por Eduardo Cintra Torres na série que está a escrever para o Público, e que tanta hostilidade suscita contra o seu autor, que está a provar uma medicina que já conheço há muitos anos. Trata-se da tentativa de controlo da agenda comunicacional através da sobreposição de pseudo-factos, declarações, conferências de imprensa, manobras de diversão, criados do nada para esconderem ou minimizarem os factos que são incómodos para o governo. O Primeiro-ministro Sócrates não faz isto dia-sim-dia-não, faz isto dia-sim-dia-sim, com sucesso garantido. Exemplo: no dia da manifestação da CGTP com setenta mil pessoas na rua, Sócrates fez mais uma das suas deslocações a um palco controlado (é interessante ver como utiliza muitas vezes o grupo parlamentar do PS como “palco controlado”) para responder aos manifestantes a solo, sem contraditório. Nos noticiários o facto e o pseudo-facto equivaliam-se e mesmo que não se queira chamar às declarações de Sócrates pseudo-facto, elas não tinham o interesse jornalístico que justificasse um tratamento quase simétrico. Isto acontece, quase sempre com Sócrates a solo em palcos controlados, dia-sim-dia-sim.

É evidente que não só os governos socialistas que aplicam estas técnicas, os do PSD e do CDS fizeram o mesmo, mas com muito menor eficácia porque há diferenças fundamentais e que têm a ver com o facto de a comunidade jornalística se comportar por regra de forma muito adversarial com governos “de direita”, como agora se diz. Provas? Provas, pergunto eu? E que tal pensarmos nisto: sabedores das tácticas de ocultação do Primeiro-ministro e de alguns membros do governo mais sábios como o Ministro António Costa, que fazem os jornalistas para manterem a informação crítica a fluir, que fazem as redacções para darem o devido valor (o de notas de quatro ou cinco linhas como fazem os jornais anglo-saxónicos) a actos que eles sabem serem de contra-informação, sem conteúdo jornalístico, não dando o benefício ao infractor? Nada, quase nada. Ao aceitarem as regras do Primeiro-ministro e do governo, aceitam a governamentalização e o controlo político.

E não adianta dizerem, como já vi escrito, que não há problema nenhum em que o governo tenha investido tanto em “relações públicas” e em assessorias de imprensa que são “boas”, sem perceberem que esta frase é mortífera para a profissão de jornalista e auto-condenatória. Há quanto tempo se recordam de uma genuína pergunta e de uma genuína resposta do engenheiro Sócrates, fora do mundo da propaganda? Não me lembro.

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EARLY MORNING BLOGS

898 - The Fall Of Rome

The piers are pummelled by the waves;
In a lonely field the rain
Lashes and abandoned train;
Outlaws fill the mountain caves.

Fantastic grow the evening gowns;
Agenst of the Fisc pursue
Absconding tax-defaulters through
The sewers of provincial towns.

Private rites of magic send
The temple prostitutes to sleep;
All the literati keep
An imaginary friend.

Cerebrotonic Cato may
Extol the Ancient Disciplines,
But the muscle-bound Marines
Mutiny for food and pay.

Caesar's double-bed is warm
As an unimportatnt clerk
Writes I DO NOT LIKE MY WORK
On a pink official form.

Unendowed with wealth or pity
Little birds with scalet legs,
Sitting on their speckled eggs,
Eye each flu-infected city.

Altogether elsewhere, vast
Herds of reindeer move across
Miles and miles of golden moss,
Silently and very fast.

(W.H. Auden)

*

Bom dia!

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29.10.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 29 de Outubro de 2006


Lendo o Sol hoje: um editorial de miséria e uma miséria de editorial. Já se percebeu que tudo está maduro para se descer mais um passo na abjecção pública. É verdade que os sinais já estavam por todo o lado, que a porta que o Expresso abriu escancaradamente já estava semi-aberta. Mas cada vez temos menos respeito por nós próprios e pelos outros. Se há quem queira viver no mundo do Simplesmente Maria e na lama voyeuristica da exibição da privacidade e da intimidade, força! Que as páginas exibicionistas vos sejam leves! Mas não esperem de quem não é desse mundo outra coisa que não seja nojo e vergonha por terem descido tão baixo.

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IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 2


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IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 1



(Enviada por Medina Ribeiro)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
GOVERNAR POR DECRETO DÁ LUGAR AO "RELEVANTE INTERESSE PÚBLICO"




Dantes era o "governar por decreto", sinónimo de falta de respeito pelas normas democráticas e como forma de imposição de algo que não seria passível de aceitação nas instâncias apropriadas ou que enfermam de deficiências formais ou processuais.

Hoje, o mesmo acontece, mas sob um nome diferente, o de resolução fundamentada, que justifica se com o interesse público e se sobrepõe a decisões de carácter administrativo por parte dos Tribunais, evitando assim o normal curso da Justiça e revogando o efeito suspensivo imposto pelas instâncias judiciais.

Perversamente, ao ultrapassar a decisão com carácter suspensivo de um Tribunal, supostamente garante da igualdade perante a Justiça, a decisão fundamentada pode tornar irreversível todo o processo, sendo que após este passo, muitas vezes, ultrapassou-se o ponto de retorno.

Esta possibilidade legal, que assume cada vez mais contornos de verdadeiro artifício que permite contornar decisões desfavoráveis, pela sua vulgarização nos mais diversos domínios da governação, tem-se vindo a alastrar a todas as instâncias que, no âmbito das suas competências, a possam utilizar.

Por outro lado, permite contornar a legislação em vigor e, por exemplo, proceder a adjudicações por ajuste directo quando um concurso público não foi lançado a tempo, mesmo sabendo-se da sua necessidade, ou quando um processo se atrasou de tal forma, por responsabilidade exclusiva dos próprio, que já não há possibilidade de seguir os trâmites legais sem um efectivo prejuizo.

O recurso a esta figura jurídica tem, portanto, servido cada vez mais como uma alternativa processual do que como um último recurso para situações imprevistas, nas quais existe uma efectiva necessidade de ultrapassar um obstáculo de última hora, razão pela qual cada vez menos o chamado "relevante interesse público" adquire o carácter excepcional que o devia caracterizar.

Entre a excepção e a regra, o uso e o abuso, aceita-se a normalidade, do que devia ser excepcional ganhando força à custa da imposição de uma figura de carácter administrativo que tende a transformar-se numa nova forma de governar.

Afinal, a normalidade é um conceito estatístico, dependente do número de ocorrências, sobre as quais não emite qualquer valor.

(Nuno M. Cabeçadas)

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897 - The dangers to which we are exposed from our Women must now be manifest ...


 If our highly pointed Triangles of the Soldier class are formidable, it may be readily inferred that far more formidable are our Women. For, if a Soldier is a wedge, a Woman is a needle; being, so to speak, all point, at least at the two extremities. Add to this the power of making herself practically invisible at will, and you will perceive that a Female, in Flatland, is a creature by no means to be trifled with.

But here, perhaps, some of my younger Readers may ask how a woman in Flatland can make herself invisible. This ought, I think, to be apparent without any explanation. However, a few words will make it clear to the most unreflecting.

Place a needle on the table. Then, with your eye on the level of the table, look at it side-ways, and you see the whole length of it; but look at it end-ways, and you see nothing but a point, it has become practically invisible. Just so is it with one of our Women. When her side is turned towards us, we see her as a straight line; when the end containing her eye or mouth -- for with us these two organs are identical -- is the part that meets our eye, then we see nothing but a highly lustrous point; but when the back is presented to our view, then -- being only sub-lustrous, and, indeed, almost as dim as an inanimate object -- her hinder extremity serves her as a kind of Invisible Cap.

The dangers to which we are exposed from our Women must now be manifest to the meanest capacity of Spaceland. If even the angle of a respectable Triangle in the middle class is not without its dangers; if to run against a Working Man involves a gash; if collision with an Officer of the military class necessitates a serious wound; if a mere touch from the vertex of a Private Soldier brings with it danger of death; -- what can it be to run against a woman, except absolute and immediate destruction? And when a Woman is invisible, or visible only as a dim sub-lustrous point, how difficult must it be, even for the most cautious, always to avoid collision!

(Edwin A. Abbott, a Square, Flatland: A romance of many dimensions)

*

Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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