ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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4.11.06
COISAS SIMPLES
(Giorgio Morandi) (url) RETRATOS DO TRABALHO NO RIO TEJO, PORTUGAL Afinando cabos, Setembro 2006. (MJ) Etiquetas: trabalho - retratos (url) O PROBLEMA DA WIKIPEDIA: OS ERROS DO ARTIGO “PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS” O debate sobre a Wikipedia tem vindo a acentuar-se no último ano, referindo-se a enorme massa de informação disponível em linha, numa dimensão sem paralelo com as enciclopédias tradicionais no papel e na Rede, assim como o seu aspecto de projecto de colaboração colectiva voluntária, sem autoria, mas também sem edição qualificada. É este último aspecto que mais reservas tem suscitado à Wikipedia como fonte de conhecimento rigoroso e científico, e que tem levado os responsáveis da própria enciclopédia a reforçar o seu controlo editorial. No entanto, quanto mais remoto for o tema, e quanto mais sensível do ponto de vista ideológico e político for, maior é a probabilidade de a Wikipedia ser o repositório não só de erros factuais graves, como de falsificações deliberadas. Um caso típico deste género de problemas é a entrada “Partido Comunista Português”. Todo o texto é confuso, mal escrito, parece ter sido pensado ou escrito originalmente numa língua estrangeira, contém erros factuais graves e revela como um conjunto de colaborações contraditórias (pró e contra a instituição PCP e o comunismo) dão origem a um texto ideologicamente controlado, não só inútil como perigoso como fonte para qualquer leitor, estudante ou investigador que o queira usar de boa fé. Como autor de muitos trabalhos sobre o PCP, nalguns casos os únicos existentes para determinados períodos da sua história, eu reconheço muito facilmente o que deles foi retirado, embora não haja nenhuma atribuição na bibliografia, que privilegia como fontes históricas os textos oficiais do PCP. Percebe-se que houve colaboradores da Wikipedia que tentaram introduzir alguns dados exteriores à história oficial do PCP, mas que acabaram por ser vencidos por outros colaboradores que impediram o texto de se afastar da ortodoxia. O resultado é um texto inútil e, acima de tudo, enganador. Vejamos alguns exemplos (a vermelho os textos originais da Wikipedia a que me refiro) 1. O Partido Comunista Português ou PCP, é um partido político de esquerda. É um partido comunista marxista-leninista e a sua organização é baseada no centralismo democrático. O partido considera-se também patriótico e o internacionalista.Uma algaraviada ideológica e política, inútil como caracterização. O PCP é tudo e o seu contrário. 2. Após o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, Portugal caiu numa grave crise económica, em parte devido à intervenção militar na guerra. A classe dos trabalhadores respondeu ao deteriorar do seu nível de vida com uma onda de greves. Com o apoio da União Operária, cresceram as movimentações reivindicativas e, no fogo dessas lutas, a classe operária conquistou, finalmente, a histórica vitória da jornada de 8 horas de trabalho.Errado. 3. Em Setembro de 1919, o movimento da classe dos trabalhadores fundou a Confederação Geral do Trabalho, ou CGT. Contudo, a falta de poder político devido, por sua vez, à falta de uma estratégia política coerente entre os trabalhadores, levou à fundação da Federação Maximalista Portuguesa (FMP) em 1919. O seu principal objectivo era promover ideias revolucionárias e socialistas, e organizar e desenvolver um movimento dos trabalhadores.Afirmação puramente de ortodoxia ideológica e não histórica. 4. Após algum tempo os membros da FMP sentiram a necessidade de uma "vanguarda revolucionária" entre os trabalhadores Portugueses. Depois de várias reuniões em várias sedes dos sindicatos, e com a ajuda da Comintern, foi fundado o Partido Comunista Português, ou PCP, como a secção Portuguesa do Internacional Comunista (Comintern), no dia 6 de Março de 1921.O mesmo do anterior. 5. O quinto congresso, realizado em Setembro de 1957, foi o primeiro e único a ser realizado fora do país. Em Kiev, na União Soviética, o Partido aprovou os seus primeiros programas e estatutos.Errado. O V Congresso realizou-se no interior de Portugal e só VI Congresso é que foi em Kiev. 6. O congresso tomou, pela primeira vez, uma posição oficial em relação ao Colonialismo, defendendo que todas as pessoas têm o direito à auto-determinação, e deixou claro o apoio aos movimentos populares de libertação das colónias Portuguesas, como o MPLA em Angola, FRELIMO em Moçambique, e PAIGC na Guiné-Bissau.História oficial. O anexo sobre as colónias é contraditório com os documentos políticos do próprio Congresso e é um documento que só é valorizado na história oficial pela necessidade de encontrar uma posição anti-colonial politicamente correcta antes do início da luta armada em 1961. 7. Toda a parte respeitante a 1974-5 ilude o "PREC" e não fala no 25 de Novembro 8. No final dos anos 80, o Bloco Socialista da Europa de Leste começou a desintegrar-se e o Partido passou por uma das maiores crises na história.O que é o Bloco Socialista da Europa do Leste? Será que se quer dizer que permaneceu intacto o Bloco Socialista Asiático ou Latino-Americano? Terminologia política e ideológica. 9. Lista de Líderes: Júlio Fogaça (1942-1961)Errado. Fogaça nunca assumiu cargos formais de liderança e o seu poder manifesta-se apenas de 1956 a 1961, sempre num clima de contestação interna. Etc., etc. * Este artigo é um dos candidatos a "melhor artigo da Wikipedia em português", o que diz muito sobre a inconsistência da escolha. Esta meia dúzia de exemplos podia ser reforçada por muitos erros, omissões, falsificações noutros artigos para que este remete, como a Cronologia do PCP para várias entradas sobre a oposição portuguesa e o sistema político-partidário nacional. Haverá quem diga que, em consequência, o que há a fazer é introduzir estas alterações na Wikipedia, corrigindo-a. Duvido que assim seja, até porque não acredito que qualquer "mão invisível" colectiva consiga escrever artigos científicos sem uma edição especializada, quer quanto ao seu conteúdo quer quanto à sua forma, visto que a escrita narrativa é um elemento fundamental na compreensão de um texto histórico. A Wikipedia é um esforço gigantesco, bem avontadado, e que utiliza recursos que só existem hoje em linha na Rede. Mas, sem um critério de validação, serve pouco para o trabalho científico. *
(url) EARLY MORNING BLOGS
903 - Rain-Songs The rain streams down like harp-strings from the sky; The wind, that world-old harpist sitteth by; And ever as he sings his low refrain, He plays upon the harp-strings of the rain. (Paul Laurence Dunbar) * Bom dia! (url) 3.11.06
RETRATOS DO TRABALHO NO QUÉNIA Fotografia tirada em 2003 numa aldeia El Molo no Lago Turkana, Quénia. (João Monge) Etiquetas: trabalho - retratos (url) O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO As pessoas têm os estados de alma associados ao tempo. Começa a entrar-se no Inverno, nem sentem o Outono. Vem as brumas e as chuvas e entra-lhes a morrinha da nossa Rosalia pela pele dentro. Começa a chover-lhes na alma e a ficarem tristes e deprimidas. Os psiquiatras recebem novos clientes. Os divórcios começam a gerar-se nas zangas contínuas. A casa conjugal parece um fardo infinito, com cada parede a exclamar: "Esta não é a vida que sonhavas." Namoros acabam lavados em lágrimas e recriminações. Nos quartos minúsculos dos subúrbios muitos adolescentes escrevem diários e poemas e abrem blogues. O telemóvel sobrecarrega-se de chamadas só para falar, por falar. Tudo parece mais penoso, tudo parece mais pesado, a existência um fardo. Estas nuvens pertencem a um quadro de Courbet intitulado Eternidade, uma das mais dramáticas ilustrações da relação entre o tempo e uma ideia abstracta, ou um sentimento. O mau tempo, as nuvens ameaçadoras, são a eternidade. O fragmento dela que vivemos é como este céu, este mar, estas rochas.Cá fora o mundo exterior encarrega-se de atirar ainda mais cinza para as almas perdidas no Inverno. Chega o Inverno, nas cidades chega o inferno. As ruas tornam-se intransitáveis, os transportes um martírio. Os carros nas ruas triplicam como por milagre e tudo fica bloqueado. Trajectos de um quarto de hora demoram uma hora. Molhada, encharcada, cansada. Levar os filhos à escola é perder as horas certas para entrar no emprego. Ninguém melhor que Hopper... Comer de pé, num qualquer café transformado em restaurante de almoços rápidos, é participar numa colisão de corpos informes e desconfortados, guarda-chuvas a pingar, competindo por uns centímetros de balcão pouco limpo. Nada aquece, nada está aquecido. Aquela sopa não se pode comer, não sei porque venho sempre aqui. Sei, sei, é mais perto, é mais barato. A imensa humidade que se espalha por todo o lado entra em tudo. Mesmo quando se olha pelo vidro da janela, quando se tem a sorte de ter uma janela por perto, tudo está tão completamente cinzento, castanho, pardo que não há cor que sobreviva. O céu está da cor da televisão, dizia Gibson. Está, da cor da estática, do ruído. Como não temos hábito de usar as flores para colorir os espaços, o néon brilha com crueza. Tudo se habita mal quando todos habitam mal em si próprios. The sky above the port was the color of television, tuned to a dead channel. Água, luz, TV Cabo com Sport TV, o carro, as compras no supermercado, as viagens, as prestações da casa, da mobília tão gentilmente empurrada pelo crédito ao consumo, das férias, sobem sem parar. Já fui uma vez ao Corte Inglés, agora vou ao Modelo, amanhã irei ao Lidl. Felizmente que os jornais gratuitos já não obrigam a comprar outros jornais que não os desportivos. E há as revistas, a Nova Gente, a Lux, que também são tão caras como indispensáveis. Como é que eu saberia com quem "anda" a Elsa Raposo sem ler a literatura especializada? O rapaz vem da escola a querer só roupa de marca, embora se contente com roupa de marca comprada na feira, aos ciganos, desde que tenha a etiqueta. Vai querer um computador só para ele, para "estudar". Será que ele se droga? Parece tão cansado, brusco... Este cinzento é o fundo do quadro O Inverno de David Teniers, o Jovem, pintado por volta de 1644, quatro anos depois da Restauração, reinava Sua Majestade D. João IV. As cores do Inverno não mudam.Insegurança. Mais insegurança, medo, preocupações. Medo de ir à rua à noite, medo de ir ao Multibanco mesmo quando preciso, medo que me risquem o carro, que me roubem o rádio, já que a antena eu levo para casa todas as noites. Atarracho, desatarracho. A culpa é de quem trouxe os pretos para aqui. Não respeitam nada. As fábricas têxteis fecham no Verão, ou melhor, não abrem no Outono. Mas como será na empresa, no escritório, onde o negócio anda mal? Vou ser despedido? E na repartição será que a minha mulher vai para o quadro dos excedentes? O chefe vai ter que nos classificar, mas ele foi lá posto pelo PS (ou pelo PSD) e vai de certeza escolher os da "cor". Os professores entram na escola desinteressados e sentindo-se humilhados. Como é que pode ser doutra maneira com "esta" ministra? Pois vou ter que passar horas a "substituir" a minha colega que faltou? Está bem, como não sou obrigado a ensinar nada, estas horas não podem ser "lectivas", ponho-os a jogar e a fazer puzzles ou simplesmente quietos. Será que posso pôr "aquele" rufia na rua? Não posso, tenho medo. Medo que me fure os pneus, medo que me agrida com o seu gang. Depois a quem me queixo? Ninguém faz nada. Ele ficará sempre aqui, a ameaçar-me. Medo de perder o pouco que tenho, medo que o pouco que tenho não me chegue. Medo que se perceba que não tenho capacidade para fazer o que estou a fazer. Medo de ser avaliado com justiça. Medo de ser injustamente avaliado para cumprir qualquer quota, ou fazer qualquer poupança ou para que o "chefe" ajuste as suas contas. Cada ano ganho menos. Nunca fui a uma manifestação, não gosto dos comunistas, sempre fui PS (ou PSD), mas este ano vou. E se não vou à manifestação, porque não gosto dessas coisas, e tenho medo de me mostrar, faço greve. Com medo, mas faço. "Eles", os políticos, não sabem nada disto, nem querem saber, repete-se no Norte nos cafés, no Sul nas pastelarias e snack-bars. Se houvesse um coro como nas tragédias gregas, ele sussurraria avisos para os de cima como o dos Idos de Março, avisaria que cá por baixo os ânimos exaltam-se ou as pessoas se cansam. Pior do que a exaltação, é a resignação. Não vai ser fácil este Inverno. Já ninguém acredita em qualquer luz no fundo do túnel. Nem acredita, nem caminha para o fim do túnel. Tende a caminhar para o princípio, para trás, onde tem a falsa memória de que estava luz. Talvez na Primavera tudo melhore e sempre se podem fazer férias no Algarve outra vez. Corso, ricorso. (No Público de 2 de Novembro de 2006) * Gostei da imagem do coro - assim os seus colegas politicos soubessem o que significa e fosse aos cafés ouvir o "povo anónimo". (url) EARLY MORNING BLOGS
902 - ...connaissant la mondaine inconstance, / Puisque Dieu seul au temps fait résistance C'était alors que le présent des dieux Plus doucement s'écoule aux yeux de l'homme, Faisant noyer dedans l'oubli du somme Tout le souci du jour laborieux; Quand un démon apparut à mes yeux Dessus le bord du grand fleuve de Rome, Qui, m'appelant du nom dont je me nomme, Me commanda regarder vers les cieux : Puis m'écria : Vois, dit-il, et contemple Tout ce qui est compris sous ce grand temple, Vois comme tout n'est rien que vanité. Lors, connaissant la mondaine inconstance, Puisque Dieu seul au temps fait résistance, N'espère rien qu'en la divinité. (Joachim Du Bellay, Les Antiquités de Rome) * Bom dia! (url)
INTENDÊNCIA
Actualizadas as notas O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TERMINOLOGIAS, e COISAS DA SÁBADO: ASCENSÃO E QUEDA DA IMPRENSA DIÁRIA E DEZ MILHÕES, IRRELEVÂNCIA E BENS ESCASSOS. Continua a lenta recuperação das imagens perdidas. (url) 2.11.06
RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL NO PASSADO (Artur Pastor) Etiquetas: trabalho - retratos (url)
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 2 de Novembro de 2006 Passa na abertura do telejornal da RTP das 13 horas mais um Momento-Chávez do Primeiro-ministro, com o respectivo eco na voz da senhora jornalista. Propaganda pura, intacta, sem mácula, como deve ser. Palavras certas, cores certas, imagens certas. Palco controlado, assistência reverencial, nenhuma dúvida, nenhuma pergunta incómoda, nenhum escrutínio. Hoje, o Público (declaração de interesses conhecida, ainda por cima à quinta-feira...) está um bom jornal, que acrescenta informação e alarga os temas, segundo uma agenda própria, para matérias relevantes, pouco ou nada tratadas na comunicação social portuguesa como a resposta dos sindicatos à globalização. Depois há Fátima Bonifácio sobre o "estado de graça", uma notícia relevante sobre as contrapartidas nas compras de material de guerra e várias notícias de qualidade, dispersas nas áreas da cultura e media. A reportagem sobre a partida das tropas para o Líbano tem uma série de fotos e mini-biografias de alguns militares portugueses, as fotos muito ao estilo esteticizante da Vanity Fair. A notícia sobre a polémica da missa em latim em França é apenas a ponta do icebergue do impacto das posições litúrgicas do novo Papa que, tendo impulsionado muitas das reformas do Vaticano II, veio depois a condená-las como perigosas e perversas. Por fim, vejo com alguma ironia percursora, que a CNN vai repetir, na cobertura das eleições, o que o Abrupto fez em directo também numa cobertura eleitoral da SIC, e que penso ter sido à data original. Se fosse a SIC reivindicava a primazia. (url) RETRATOS DO TRABALHO NA CHARNECA DA PERALVA - TOMAR, PORTUGAL Charneca da Peralva, um lugar perto de Tomar, onde se comprova que uns têm que trabalhar para outros comerem. (José Farinha) Etiquetas: trabalho - retratos (url) RETRATOS DO TRABALHO EM BERLIM, ALEMANHA Limpeza de uma estátua na Unter den Linden (Berlim), há cerca de 3 semanas. (César de Oliveira) Etiquetas: trabalho - retratos (url) EARLY MORNING BLOGS 901 - Who lived in the utmost disorder... There was an old man on the Border, (Edward Lear)
* Bom dia! (url) 1.11.06
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TERMINOLOGIAS Tenho vivido no Reino Unido no ultimo ano (e por isso peco desculpa pela grafia e pela falta de acentos) tenho contudo seguido atentamente a imprensa portuguesa. A cronica de Vasco Graca Moura (VGM) no DN de hoje sobre a nova terminologia linguística para os ensinos básico e secundário (TLEBS) voltou a chamar-me a atencao para um debate que comecou ha cerca de um ano e que, talvez por ser demasiado tecnico, se tem mantido sem a devida atencao da comunicacao social. Ao ler hoje algumas das alteracoes propostas : « Entre outros, há pronomes indefinidos que dão agora pelos nomes sorumbáticos de "quantificadores indefinidos", "quantificadores universais" e "quantificadores relativos". Nos advérbios, encontramos coisas alucinantes como "advérbios disjuntos avaliativos", "advérbios disjuntos modais", "advérbios disjuntos reforçadores da verdade da asserção" e "advérbios disjuntos restritivos da verdade da asserção". O sujeito indefinido passa a ser o luminoso "sujeito nulo expletivo". O "aposto ou continuado" chama-se bombasticamente "modificador do nome apositivo", podendo ser do tipo "nominal", "adjectival", "proposicional" ou "frásico"... » Ficou-me a pergunta: sera que a lingua que aprendi na escola mudou tanto nos ultimos 15 anos? E mais, nao estaram a complicar o que e simples? E alem destas resta a outra questao, que esta subjacente a a toda a cronica de VGM: sera que se pode ensinar uma lingua esquecendo a literatura que a fixa e a cria, desmontando-a apenas nas suas componentes mais tecnicas? Nao me parece que esta seja a melhor forma de ensinar o portugues e talvez seja altura de pensar que o cronico fracasso com a matematica possa estar relacionado com todas estas questoes. Ja ha 20 anos, a maior parte dos meus colegas tinha dificuldades em interpretar os enunciados dos problemas em matematica no 5o e no 6o anos. O fracasso e a sucessiva rejeicao comecaram ai, muito cedo. Por esta e outras questoes acho que o debate sobre a TLEBS merecia um pouco mais de visibilidade, afinal, tambem e por aqui que passa o futuro do pais que queremos tirar da crise. Como nota acrescento que nem sequer estou ligado as letras ou humanidades sou Bioquimico, mas nenhum plano tecnologico resultara se falharmos nas coisas mais basicas. (Andre M. N. Silva) * Acabo de ler o texto de André M N Silva sobre a TLEBS, publicado no "Abrupto". Tanto quanto me apercebo, tudo se resume a classificar de um modo diferente daquele a que estavamos habituados os nomes que integram a nossa língua. Ignoro as vantagens do exercício. Mas o exercício em si mesmo relembrou-me o texto "El idioma analítico de John Wilkins", de Jorge Luis Borges, (...) numa versão encontrada aqui. Talvez os responsáveis pela TLEBS ganhassem alguma coisa em lê-lo. (url) RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL A foto foi tirada durante este mês de Outubro na feira dos pássaros que todos os Domingos tem lugar no jardim da Cordoaria, em frente à antiga Cadeia da Relação. Pelos menos nestes momentos o centro histórico fica animado... (Jorge Silva) Etiquetas: trabalho - retratos (url) BOA SORTE
Bom trabalho! Voltem todos e bem. (url) COISAS DA SÁBADO: ASCENSÃO E QUEDA DA IMPRENSA DIÁRIA O dicionário Jornais Diários Portugueses do Século XX de Mário Matos e Lemos, editado pela ariadne editora é uma obra que devia estar em todas as redacções para, como o espectro do Manifesto Comunista, “assombrar” todos os jornalistas. Infelizmente, para quem gosta de jornais, “assombra” também os leitores dedicados da imprensa. Este dicionário é uma espécie de cemitério muito especial, o dos grandes títulos da imprensa, dos jornais mais ambiciosos e com mais recursos para se abalançarem a publicar-se diariamente e que, em diferentes tempos e por diversas razões, acabaram por morrer nem sempre gloriosamente. Ele permite comparar os diferentes períodos da história e ver facilmente a ascensão e queda da imprensa escrita. Fazendo o balanço da sobrevivência de um século, do século XIX para o XXI, apenas quatro jornais do continente em oito jornais, os outros são das ilhas com relevo para os Açores, sobreviveram. Mas mesmo este escasso número é enganador: entretanto o Comércio do Porto, morreu e o Primeiro de Janeiro sobrevive com muitas dificuldades. Na verdade, apenas o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias fizeram o salto. O que se verifica é que mesmo entre o momento em que este dicionário foi escrito e aquele em que foi publicado, a crise da imprensa atingiu mesmo as listas mais selectas, que se pensava poderem ter outra duração. Para além do Comércio do Porto, também já acabou A Capital, e O Dia, que vem na lista, nem sei bem se existe num limbo qualquer. O último diário criado foi o 24 Horas em 1998, porque o dicionário não menciona os gratuitos. O panorama, como se vê, não é brilhante. Desde 1998 , surgiu pelo menos mais um diário. O Jornal de Negócios que era semanário e que se transformou em diário. Julgo que a transformação foi em 2003. (url) DEZ MILHÕES, IRRELEVÂNCIA E BENS ESCASSOS Somos, mais ou menos, dez milhões de pessoas, num canto da Europa, entregues à nossa sorte. Pouca gente se importa connosco fora de Portugal, contamos muito pouco para quase nada fora do nosso cantinho. A língua, que é maior que nós, é cada vez mais definida pelo Brasil, e é natural que seja lá que esteja o Museu da Língua. Temos alguma poesia e literatura de primeira água, mas muito pouca. Temos a história que temos, menos trágica do que a da maioria da Europa. Não temos economia que conte para nada no mundo globalizado e, a que temos, vive muito dependente de tudo o que está fora e de alguns subsídios europeus. Temos muito pouca noção do que verdadeiramente somos e do que valemos. Não somos nacionalistas porque já não há Império e mesmo a sua ficção póstuma já não entusiasma ninguém. Não somos patriotas a não ser sob forma futebolística, ou seja nem sequer sabemos o que isso é. Nem sequer o último luxo cínico de nos vermos ao espelho temos, porque esse espelho está sempre perturbado pelo efeito contraditório, por um lado da mania das grandezas (Descobrimentos, & etc.), e por outro pela imensa manha camponesa de um povo que ainda tem a pobreza muito perto para se dar ao luxo de fazer experiências. Todos os bens são escassos, há sempre mais gente do que empregos, prebendas, cargos, dinheiro e fama. A inveja, naturalmente, é uma doença nacional profunda. Este é o pano de fundo de muita coisa. * Nem menos. Mas há mais para se apontar. (url)
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 1 de Novembro de 2006 Muito apropriado: ser acordado por uns miúdos a pedir o "pão por Deus". Espertos, finos, habilidosos, transformaram o Dia dos Mortos em rebuçados. Só uma correcção: o “Dia dos Mortos” ou, de acordo com o calendário litúrgico católico, o dia dos Fiéis Defuntos, é amanhã, dia 2 de Novembro. Hoje celebra-se a Solenidade de Todos os Santos e é dia de festa! * Uma tradução do poema de Auden , The Fall Of Rome no EARLY MORNING BLOGS - 898, num blogue brasileiro, enviado pelo próprio. (url)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UMA PERGUNTA COM PRÉMIO
Na imagem, vê-se um dos muitos ciber-pontos que, em boa-hora, foram semeados pelas estações dos CTT. Uma etiqueta pequena informa o contribuinte que foi «Co-financiado pelo FEDER e pelo Plano Operacional para a Sociedade do Conhecimento», mas um letreiro maior é um pouco mais claro: «FORA DE SERVIÇO / OUT OF ORDER». Tenho comigo um cartão Netpost (que me custou 5,49€ e ainda tem algum saldo) que ofereço à primeira pessoa que tiver "conhecimento" de uma estação dos CTT onde exista uma máquina destas a funcionar. (C. Medina Ribeiro) (url) RETRATOS DO TRABALHO EM LADOEIRO-IDANHA-A-NOVA, PORTUGAL Retratos do trabalho em Ladoeiro, Idanha-a-Nova, Portugal. Arrieiro conduz à guia uma jovem parelha de mulas, numa operação de gradagem da terra. (Pedro Rego) Etiquetas: trabalho - retratos (url) EARLY MORNING BLOGS 900 - ...a mystery There was a young person whose history, (Edward Lear)
* Bom dia! (url) 31.10.06
EARLY MORNING BLOGS 899 - The Cruel Moon The cruel Moon hangs out of reach Up above the shadowy beech. Her face is stupid, but her eye Is small and sharp and very sly. Nurse says the Moon can drive you mad? No, that’s a silly story, lad! Though she be angry, though she would Destroy all England if she could, Yet think, what damage can she do Hanging there so far from you? Don’t heed what frightened nurses say: Moons hang much too far away. (Robert Graves ) * Bom dia! (url) 30.10.06
RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL Trabalhos na barra do Douro. Hoje. (Gil Coelho) Etiquetas: trabalho - retratos (url) RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL Jardineiros no jardim do Passeio Alegre, no Porto. (Gil Coelho) Etiquetas: trabalho - retratos (url)
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 30 de Outubro de 2006 Em Portugal apoiam Sócrates por apertar o cinto, no Brasil apoiam Lula por dar dinheiro aos pobres. Há aqui qualquer coisa que não encaixa. Uma breve nota sobre a comparação entre Sócrates e Lula. Não há dissemelhanças, porque o ponto, creio, é este. A imagem de Sócrates é, tal como Lula, a de Robin dos Bosques. * Robert Fagles sobre as razões que o levaram a traduzir a Eneida de Virgílio: “My feeling is that if something is timeless, then it will also be timely.” * Continua a não haver um dia singular sem o Momento-Chávez do Primeiro-ministro, num palco controlado a dizer o que quer sem contraditório e, mais grave ainda, sem tratamento editorial em função da relevância e do conteúdo jornalístico da matéria. (url) COISAS DA SÁBADO: DIA SIM DIA SIM Contam-se pelos dedos de uma mão só, as pessoas que têm acesso à comunicação social de primeira linha e que falam dos mecanismos de controlo e manipulação da comunicação social pelo governo socialista. É uma matéria tabu, que suscita logo um ambiente de grande hostilidade, com exigência probatórias imediatas. Não acho mal as exigências probatórias, dado que penso não faltarem provas, sendo às vezes serem tão evidentes que a sua exigência já é suspeita. Só tenho pena que não tenham sido pedidas com a mesma convicção antes do período actual de governação. Mais: intriga-me que aqui os jornalistas que se indignam, muitos deles em posições de relevo em órgãos de comunicação estatais, alguns em posições de chefia, tenham nesta matéria a atitude exactamente contrária à que tomam face a todas as coisas, onde acham sempre que não há fumo sem fogo por regra geral, e onde exercitam abundantes doses de cinismo. Aqui, ficam ingénuos em absoluto, nesta matéria não são certamente o “ninho de víboras” com que são descritos no mundo anglo-saxónico. Veja-se um dos exemplos mais que evidentes, referido por Eduardo Cintra Torres na série que está a escrever para o Público, e que tanta hostilidade suscita contra o seu autor, que está a provar uma medicina que já conheço há muitos anos. Trata-se da tentativa de controlo da agenda comunicacional através da sobreposição de pseudo-factos, declarações, conferências de imprensa, manobras de diversão, criados do nada para esconderem ou minimizarem os factos que são incómodos para o governo. O Primeiro-ministro Sócrates não faz isto dia-sim-dia-não, faz isto dia-sim-dia-sim, com sucesso garantido. Exemplo: no dia da manifestação da CGTP com setenta mil pessoas na rua, Sócrates fez mais uma das suas deslocações a um palco controlado (é interessante ver como utiliza muitas vezes o grupo parlamentar do PS como “palco controlado”) para responder aos manifestantes a solo, sem contraditório. Nos noticiários o facto e o pseudo-facto equivaliam-se e mesmo que não se queira chamar às declarações de Sócrates pseudo-facto, elas não tinham o interesse jornalístico que justificasse um tratamento quase simétrico. Isto acontece, quase sempre com Sócrates a solo em palcos controlados, dia-sim-dia-sim. É evidente que não só os governos socialistas que aplicam estas técnicas, os do PSD e do CDS fizeram o mesmo, mas com muito menor eficácia porque há diferenças fundamentais e que têm a ver com o facto de a comunidade jornalística se comportar por regra de forma muito adversarial com governos “de direita”, como agora se diz. Provas? Provas, pergunto eu? E que tal pensarmos nisto: sabedores das tácticas de ocultação do Primeiro-ministro e de alguns membros do governo mais sábios como o Ministro António Costa, que fazem os jornalistas para manterem a informação crítica a fluir, que fazem as redacções para darem o devido valor (o de notas de quatro ou cinco linhas como fazem os jornais anglo-saxónicos) a actos que eles sabem serem de contra-informação, sem conteúdo jornalístico, não dando o benefício ao infractor? Nada, quase nada. Ao aceitarem as regras do Primeiro-ministro e do governo, aceitam a governamentalização e o controlo político. E não adianta dizerem, como já vi escrito, que não há problema nenhum em que o governo tenha investido tanto em “relações públicas” e em assessorias de imprensa que são “boas”, sem perceberem que esta frase é mortífera para a profissão de jornalista e auto-condenatória. Há quanto tempo se recordam de uma genuína pergunta e de uma genuína resposta do engenheiro Sócrates, fora do mundo da propaganda? Não me lembro. (url) EARLY MORNING BLOGS 898 - The Fall Of Rome The piers are pummelled by the waves; In a lonely field the rain Lashes and abandoned train; Outlaws fill the mountain caves. Fantastic grow the evening gowns; Agenst of the Fisc pursue Absconding tax-defaulters through The sewers of provincial towns. Private rites of magic send The temple prostitutes to sleep; All the literati keep An imaginary friend. Cerebrotonic Cato may Extol the Ancient Disciplines, But the muscle-bound Marines Mutiny for food and pay. Caesar's double-bed is warm As an unimportatnt clerk Writes I DO NOT LIKE MY WORK On a pink official form. Unendowed with wealth or pity Little birds with scalet legs, Sitting on their speckled eggs, Eye each flu-infected city. Altogether elsewhere, vast Herds of reindeer move across Miles and miles of golden moss, Silently and very fast. (W.H. Auden) * Bom dia! (url) 29.10.06
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 29 de Outubro de 2006 Lendo o Sol hoje: um editorial de miséria e uma miséria de editorial. Já se percebeu que tudo está maduro para se descer mais um passo na abjecção pública. É verdade que os sinais já estavam por todo o lado, que a porta que o Expresso abriu escancaradamente já estava semi-aberta. Mas cada vez temos menos respeito por nós próprios e pelos outros. Se há quem queira viver no mundo do Simplesmente Maria e na lama voyeuristica da exibição da privacidade e da intimidade, força! Que as páginas exibicionistas vos sejam leves! Mas não esperem de quem não é desse mundo outra coisa que não seja nojo e vergonha por terem descido tão baixo. (url) IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 2
(url) IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 1
(Enviada por Medina Ribeiro) (url) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: GOVERNAR POR DECRETO DÁ LUGAR AO "RELEVANTE INTERESSE PÚBLICO" Hoje, o mesmo acontece, mas sob um nome diferente, o de resolução fundamentada, que justifica se com o interesse público e se sobrepõe a decisões de carácter administrativo por parte dos Tribunais, evitando assim o normal curso da Justiça e revogando o efeito suspensivo imposto pelas instâncias judiciais. Perversamente, ao ultrapassar a decisão com carácter suspensivo de um Tribunal, supostamente garante da igualdade perante a Justiça, a decisão fundamentada pode tornar irreversível todo o processo, sendo que após este passo, muitas vezes, ultrapassou-se o ponto de retorno. Esta possibilidade legal, que assume cada vez mais contornos de verdadeiro artifício que permite contornar decisões desfavoráveis, pela sua vulgarização nos mais diversos domínios da governação, tem-se vindo a alastrar a todas as instâncias que, no âmbito das suas competências, a possam utilizar. Por outro lado, permite contornar a legislação em vigor e, por exemplo, proceder a adjudicações por ajuste directo quando um concurso público não foi lançado a tempo, mesmo sabendo-se da sua necessidade, ou quando um processo se atrasou de tal forma, por responsabilidade exclusiva dos próprio, que já não há possibilidade de seguir os trâmites legais sem um efectivo prejuizo. O recurso a esta figura jurídica tem, portanto, servido cada vez mais como uma alternativa processual do que como um último recurso para situações imprevistas, nas quais existe uma efectiva necessidade de ultrapassar um obstáculo de última hora, razão pela qual cada vez menos o chamado "relevante interesse público" adquire o carácter excepcional que o devia caracterizar. Entre a excepção e a regra, o uso e o abuso, aceita-se a normalidade, do que devia ser excepcional ganhando força à custa da imposição de uma figura de carácter administrativo que tende a transformar-se numa nova forma de governar. Afinal, a normalidade é um conceito estatístico, dependente do número de ocorrências, sobre as quais não emite qualquer valor. (Nuno M. Cabeçadas) (url) EARLY MORNING BLOGS 897 - The dangers to which we are exposed from our Women must now be manifest ... If our highly pointed Triangles of the Soldier class are formidable, it may be readily inferred that far more formidable are our Women. For, if a Soldier is a wedge, a Woman is a needle; being, so to speak, all point, at least at the two extremities. Add to this the power of making herself practically invisible at will, and you will perceive that a Female, in Flatland, is a creature by no means to be trifled with. But here, perhaps, some of my younger Readers may ask how a woman in Flatland can make herself invisible. This ought, I think, to be apparent without any explanation. However, a few words will make it clear to the most unreflecting. Place a needle on the table. Then, with your eye on the level of the table, look at it side-ways, and you see the whole length of it; but look at it end-ways, and you see nothing but a point, it has become practically invisible. Just so is it with one of our Women. When her side is turned towards us, we see her as a straight line; when the end containing her eye or mouth -- for with us these two organs are identical -- is the part that meets our eye, then we see nothing but a highly lustrous point; but when the back is presented to our view, then -- being only sub-lustrous, and, indeed, almost as dim as an inanimate object -- her hinder extremity serves her as a kind of Invisible Cap. The dangers to which we are exposed from our Women must now be manifest to the meanest capacity of Spaceland. If even the angle of a respectable Triangle in the middle class is not without its dangers; if to run against a Working Man involves a gash; if collision with an Officer of the military class necessitates a serious wound; if a mere touch from the vertex of a Private Soldier brings with it danger of death; -- what can it be to run against a woman, except absolute and immediate destruction? And when a Woman is invisible, or visible only as a dim sub-lustrous point, how difficult must it be, even for the most cautious, always to avoid collision! (Edwin A. Abbott, a Square, Flatland: A romance of many dimensions) * Bom dia! (url)
© José Pacheco Pereira
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