ABRUPTO

1.11.06


DEZ MILHÕES, IRRELEVÂNCIA E BENS ESCASSOS



Somos, mais ou menos, dez milhões de pessoas, num canto da Europa, entregues à nossa sorte. Pouca gente se importa connosco fora de Portugal, contamos muito pouco para quase nada fora do nosso cantinho. A língua, que é maior que nós, é cada vez mais definida pelo Brasil, e é natural que seja lá que esteja o Museu da Língua. Temos alguma poesia e literatura de primeira água, mas muito pouca. Temos a história que temos, menos trágica do que a da maioria da Europa. Não temos economia que conte para nada no mundo globalizado e, a que temos, vive muito dependente de tudo o que está fora e de alguns subsídios europeus.

Temos muito pouca noção do que verdadeiramente somos e do que valemos. Não somos nacionalistas porque já não há Império e mesmo a sua ficção póstuma já não entusiasma ninguém. Não somos patriotas a não ser sob forma futebolística, ou seja nem sequer sabemos o que isso é. Nem sequer o último luxo cínico de nos vermos ao espelho temos, porque esse espelho está sempre perturbado pelo efeito contraditório, por um lado da mania das grandezas (Descobrimentos, & etc.), e por outro pela imensa manha camponesa de um povo que ainda tem a pobreza muito perto para se dar ao luxo de fazer experiências. Todos os bens são escassos, há sempre mais gente do que empregos, prebendas, cargos, dinheiro e fama. A inveja, naturalmente, é uma doença nacional profunda. Este é o pano de fundo de muita coisa.

*
Nem menos. Mas há mais para se apontar.
Se toda esta maneira de viver tivesse sido apenas de portas para dentro talvez o isolamento se transformasse no próprio remédio.
Mas não. Durante séculos envangilisamos outros povos com esta cultura.
O resultado está à vista: pelo menos sete países funcionam e vivem sob o efeito directo desta cultura.
Em todos eles se apela ao patriotismo por estarem convencidos que são uma raça.
Em todos eles se estima muito as remessas dos emigrantes.
Em todos eles se mede o desenvolvimento pelo investimento estrangeiro.
Em todos eles o Estado é que é o sustento do próprio país.
E em todos eles a alegria é contagiante tal como a pobreza de espírito.
A solução tem nome: tempo e democracia.

(Sérgio)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]