ABRUPTO

12.11.05


UM PORTUGAL QUE NÃO SE VÊ TODOS OS DIAS 3

Fora de Fátima, claro. Mas Fátima é um ecossistema.

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UM PORTUGAL QUE NÃO SE VÊ TODOS OS DIAS 2

Um Portugal “orgânico” que responde a velhas palavras. Uma voz que enumera nomes antigos:

Rainha dos Patriarcas
Rainha dos Confessores
Rainha do Santíssimo Rosário
Rainha da Paz
Mãe do Céu

Falando para que mundo? Patriarcas? Confessores? Rosário?

Uma cruz de néon, um Cristo que parece bizantino, escuteiros, muitas crianças, milhares de pessoas por detrás de uma estátua de uma mulher jovem e bela, com um manto branco, de mãos postas. Dois mil anos de cultura europeia, mas nem por isso menos estranho. Realmente estranho. Já não temos um espelho fácil para nos vermos.

*

Falando para que mundo? Patriarcas? Confessores? Rosário?

E acredite (...) era tudo tão simples. Desconfio que não encontra ninuém que lhe explique as lágrimas na intimidade daqueles momentos.

Consoladora dos aflitos,
Auxílio dos cristãos

(Isabel G.)
*

Não percebi o seu post sobre a procissão ontem em Lisboa. Estranho? Porquê? O que eu vi ontem foi uma manifestação feita por um conjunto enorme de pessoas que têm, pelo menos, uma coisa em comum: a devoção por Nossa Senhora. Como ouvi várias vezes ontem, «o “Tuga” tem destas coisas». E é verdade. Haja coragem para reconhecer que muito poucas coisas para além da Igreja Católica movimentam tanta gente.

Não é estranho. É bonito. E ao mesmo tempo comovente.

(Rui Esperança)

*
Agustina Bessa Luís num do seus últimos romances, numa daquelas frases perturbadoras que nos fazem parar a leitura, dizia que o sec. XXI vai ser o século do misticismo. Há vinte anos tínhamos todas as certezas e agora não temos nenhuma.
Será isso?

A minha Mãe há uns tempos disse-me: quando tu eras pequeno, quando a vida era mais doce... Não estaremos todos tomados por uma amargura procurando, por uma via ou outra, o remédio que a adoce? O Mundo perdeu o Espírito? Ou será apenas ausência de Reflexão numa Sociedade em que nos querem dar tudo pronto?

(Miguel Geraldes Cardoso)

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UM PORTUGAL QUE NÃO SE VÊ TODOS OS DIAS

atravessa neste momento Lisboa.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A JOANA TEVE APENAS AZAR

E se Cristo morresse hoje? Será que a TV o entrevistava em directo?
Talvez, se fosse em horário nobre.
O jogo das emoções é o mesmo.
A morte da Joana tem mais interesse televisivo do que a sua vida.Stop.
A morte da Joana é apenas um mero episódio da vida dela.
A morte da Joana era um facto pré-anunciado.
E ninguém reagiu, nem tribunais, nem Institutos daqui e de acolá.
A nossa distância ao Burkina Faso é uma mera questão televisiva.
Todos os anos cerca de 17 000 crianças ficam orfãs de pai.Ou porque o pai não quer ou por decisão dos tribunais que empurram estas crianças para a orfandade.Legal, racional, sem espinhas para a sociedade. Mandatos de captura em branco.Perdem a herança do pai e de tudo o que está a jusante e a montante do mesmo.
Quem nos protege dos nossos protectores?
A vida da Joana é muito mais televisiva.
A Joana teve apenas azar

(Fernando Sequeira)

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BIBLIOTECA


António Leal, Biblioteca da M. 22

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INTENDÊNCIA

Actualizados os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO com a publicação da nota introdutória do III Volume da minha biografia política de Cunhal.

Actualizadas as notas O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DIA DO ARMISTÍCIO e O RETORNO DA VIOLÊNCIA POLÍTICA DISFARÇADA DE "REVOLTA SOCIAL".

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A FORTALEZA EUROPA

Quais são os Continentes que rodeiam a Europa? Pergunta de fácil resposta, logo aqui ao pé está Africa e depois da Europa de Leste fica a Ásia e a Pérsia… Os Europeus fundamentalmente desde o Sec. 15 que não tiveram pejo em sair dos seus respectivos países e confortavelmente (na maioria dos casos) instalarem-se nos países de outros continentes à época menos desenvolvidos.

Mais de quinhentos anos volvidos, algumas antigas ex-colónias são hoje verdadeiras potencias em franco desenvolvimento (Índia, Africa do Sul, Brasil, Tailândia), no entanto, a grande maioria dos países Africanos e alguns do Leste Europeu ainda se encontram em verdadeiro estado de subdesenvolvimento e precariedade social. É esta diferença de desenvolvimento e de condições de vida que leva a que milhares de pessoas oriundas do Magrebe, da Africa Central e do Médio Oriente a tentem agora a sua sorte na Europa. A questão que se levanta é: Apesar de, conscientemente, sabermos que esses povos nos receberam à mais de quinhentos anos e que de lá trouxemos fortunas e riquezas, pode a Europa receber hoje tanta gente oriunda desses (e de outros) locais?

A França, país de sólidos princípios de igualdade e fraternidade recebeu-os aos milhares mas também, Alemanha, Espanha e até Portugal constam da rota da imigração, agora a Europa social está em crise… não há emprego para ninguém, no entanto a situação dos não Europeus é mais grave ainda, pois não se encontram ainda instalados nem têm as condições mínimas de conforto. A Utopia tem um preço, nem a Europa é um inesgotável Éden, nem é uma inexpugnável fortaleza, algures no meio andará a verdade das coisas. Quanto mais realistas formos e quanto mais nos aproximarmos da verdade dos factos, melhor poderemos compreender o que motiva a prática destes actos desesperados e talvez até inconsequentes, para já, tal como já sucedeu no “Projecto para uma Constituição Europeia”, há que parar para reflectir.

(Pedro Betâmio de Almeida)

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COISAS SIMPLES


Alex Katz, Grey light

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EARLY MORNING BLOGS 642

Pastelaria

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

(Mário Cesariny)

*

Bom dia!

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11.11.05


DAQUI A DIAS


estará cá fora.

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O POÇO

Construir um poço é um trabalho hegeliano, cheio de futuro, feito pela dialéctica, teleológico. Depois, trabalha a negação da negação, ou seja, o tempo. O poço é muito antigo, enorme, profundo, escavado directamente na rocha calcária, mais um abismo do que um poço se não fosse o seu formato de círculo perfeito. Que campos regaria? Não sei, desapareceram cercados por casas, por ruas. Em 1945, com as esperanças do pós-guerra, foi-lhe feita um cobertura de cimento armado, rudimentar, cobrindo o seu enorme arco e deixando sobre a terra uma pequena abertura, um poço que parecia um tanque de lavar, com um guincho para tirar água.

Com o tempo, a negação de novo, a cobertura foi sendo tapada por terra e ninguém sabia da dimensão do poço, a não ser pelo humilde tanque. Raízes estriaram as paredes procurando sempre cada vez mais fundo a água. O poço deixou de ser preciso, os ferros enferrujaram, o balde substituído por um regador que se desfez nas suas partes de ferro. Terra, ervas, silvas taparam quase tudo. Um dia, metade foi abaixo fazendo o abismo comunicar com as partes superiores do mundo. A ordem quebrou-se.

Para a repor tentou-se evitar que o que sobrava, uma laje ferida, perigosa, caísse para dentro. Impossível. A máquina azul que veio ficou com um dilema: ou se agarrava aos fragmentos superiores e corria o risco de mergulhar atrás deles, se o seu peso fosse o bastante para levar tudo atrás, ou tentava parti-los de forma ordenada. O poço mandou mais e à mais pequena tentativa caiu tudo dentro. A máquina não chegou a prender-se, felizmente, bastou tocar nas velhas paredes e foi tudo por ali abaixo. A terra tem este modo peculiar de nos engolir.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FICÇÃO DE MÁ QUALIDADE


"
Depuis 0 heure, mercredi 9 novembre, l'état d'urgence s'applique donc en France" - Le Monde.


"
Manuais escolares do estado do Kansas vão poder por em causa a teoria da evolução" - Público.

Há uns anos atrás, não teria acreditado, se me tivessem dito que estas seriam notícias de 10 de Novembro de 2005. Teria pensado em ficção de má qualidade, em devaneios irrealistas sobre a decadência ocidental, em cenários desviantes, marginais, em baterias mal apontadas...

(Artur Furtado)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DIA DO ARMISTÍCIO



Hoje é dia 11 de Novembro. Um pouco por toda a Europa e em vários países do resto do mundo celebra-se o Dia do Armistício. Celebra-se o fim da Grande Guerra e homenageia-se os que nela morreram. Tanto quanto sei, em Portugal não se fala sequer disso. E, no entanto, também nós lá estivemos. Também morreram portugueses nos campos da Flandres. E ninguém sequer lembra o que este dia representa. Apesar de novo, já me habituei a este tipo de coisas em Portugal. Gostava era de saber porque é que é assim.

Lembro-me de ouvir a minha avó dizer, quando se falava na Grande Guerra, que o seu pai tinha estado "na França" nessa altura. Não sei se o meu bisavó esteve ou não a combater na França, e a memória da minha avó (já falecida) não permitia tirar conclusões definitivas. Será que em Portugal se pode obter os nomes dos que foram enviados para combater? Essa informação existe de todo?

Acho triste não se falar deste dia em Portugal. Sei que no Reino Unido é um dia de grande significado. Basta sintonizar a BBC e ver os apresentadores com as papoilas vermelhas da Flandres ao peito. Acho que numa altura em que a Europa enfrenta crises de maturidade é apropriado que se lembre a guerra que acabou com a sua inocência.

(Jorge Pereira)

Uma vez que "lançou" o meu e-mail (...) talvez não sem importe de colocar este poema como forma de lembrar os mortos da Grande Guerra, incluindo os nossos. Trata-se do poema "In Flanders fields" do médico canadiano John McCrae, que morreu em França.

In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly,
Scarce heard amid the guns below.
We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved, and were loved, and now we lie,

In Flanders fields.
Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields.


*

A msg de Jorge Pereira (DIA DO ARMISTÍCIO), sugere-me uma outra observação sobre a memória colectiva. Que, no caso, até se reporta bastante à sua área de investigação (e de vivência...), e bem demonstra o apagamento presente de um passado que naturalmente nos conformou e cuja relevãncia não soubemos, afinal, reter:
Por alturas do PREC, numa vila do Alentejo Litoral, falando com gente operária/artesã (sapateiros, carpinteiros, gentes assim) de geração anterior (que então teria 45/70 anos, para os meus 20), era comum dizerem-me terem lido Vitor Hugo, Zola, Kropotkin, tudo amalgamado numa literatura/pedagogia revolucionária que teria sido usual (?) no seu meio social e profissional e na sua juventude, isto é, lá para os anos de 30/40/50. Mas acrescentavam mais: que essa literatura vinha desde os tempos de outra geração - a que imediatamente os antecedera, ou seja, a que fora coetânea da Grande Guerra e da Revolução Russa.

Daí, dava-se o caso, pelo que me transmitiam, que aquelas leituras e influências tinham vindo de França trazidas pelos soldados portugueses expedicionários.
E mais, ocorreria uma junção «sócio-cultural» entre a influência daqueles soldados e das suas experiências «franco-socialistas» e a influência que, pela altura, exercia a Revolução Russa, de tudo resultando uma geração operária (ou, talvez melhor, dos artesãos locais) que, no meio local, na Vila, veio a ficar conhecida como a d' «os camaradinhas», gente que ainda em 1974 era conhecida de toda a sociedade local, a qual teria desempenhado com algum vigor oposição ao Estado Novo e era o contraponto, no mundo do trabalho, aos homens «da Legião».
Como é bom de ver (e aqui volto à msg «DIA DO ARMISTÍCIO»), a transmissão da memória - que a historieta que relato demonstra que se manteve naturalmnete até, pelo menos, aos anos 70, até às transformações sociais que vivemos nas nossas vidas - deixou de se efectuar. Com que custos e perdas de valores sociais?

(António Marques)
*
Diz o leitor Jorge Pereira, e com razão, que em Portugal ninguém se lembra de comemorar o armistício da Grande Guerra. E dos mortos na Flandres.

E eu acrescentaria: e poucos sabem que em África, em Moçambique e em Angola, onde os portugueses defrontaram os alemães do Tanganica e da Namíbia (então colónias deles), morreram tantos portugeses (2500, sem contar os “indígenas”) como em França (2400)! De facto, proporcionalmente à população nacional das épocas, morreram quase tantos portugueses então, nessa intervenção militar de 2,5 anos que visava garantir o direito português ao seu quinhão colonial, como na própria Guerra colonial (8300, incluindo os “indígenas”?)!

(Pinto de Sá)
*
Ja' que os mortos aliados da Grande Guerra se estão a manifestar no seu blogue, sugiro que conceda algumas linhas ao Wilfred Owen, morto uma semana antes do Armisticio.

THE NEXT WAR

War's a joke for me and you,
While we know such dreams are true.
SIEGFRIED SASSOON

Out there, we've walked quite friendly up to Death;
Sat down and eaten with him, cool and bland, -
Pardoned his spilling mess-tins in our hand.
We've sniffed the green thick odour of his breath, - Our eyes wept, but our courage didn't writhe.
He's spat at us with bullets and he's coughed
Shrapnel. We chorused when he sang aloft; We whistled while he shaved us with his scythe.

Oh, Death was never enemy of ours!
We laughed at him, we leagued with him, old chum.
No soldier's paid to kick against his powers.
We laughed, knowing that better men would come, And greater wars; when each proud fighter brags He wars on Death - for lives; not men - for flags.

Muito melhor ainda do que as evocações de poetas mortos, seria a comemoração da inteligência que resta. A minha recomendação seria a leitura do clássico Témoins, essai d'analyse et de critique des souvenirs de combattants édités en français de 1915 à 1918 de Jean Norton Cru, publicado pela primeira vez em 1929. Melhor exposição da grande mentira (Dulce et decorum est pro patria mori) de que falava o Owen, bem como das legiões de pequenos mentirosos, não conheço.

(A.S.M.)

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: SATURNIANO TRIO


Dione, Tetis e Pandora dançando no vazio, no silêncio, no frio.

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(11 de Novembro)



Nunca, jamais , em tempo algum, vão a este sítio . Depois queixem-se. O Rocketboom foi lá e viu-se o resultado.

*

Rocketboom vai longe, vai, vai.

*

Na blogosfera um dos objectivos de Mário Soares foi conseguido: a discussão está bipolarizada entre Soares e Cavaco. Alegre, Louçã e Jerónimo não existem no debate, o que é significativo e premonitório.

*

A maioria dos jornalistas não consegue falar dos blogues a não ser de uma forma defensiva e reservada. A maioria dos defeitos que lhes assacam, já sabemos que não existe nos jornais... Mas uma coisa eu tenho nos blogues que não encontro nos jornais, e, quando encontro, não encontro melhor do que nos blogues - informações, comentários e transcrições sobre eventos, debates, conferências, colóquios que alargam o espaço público de informação. Disse informação, não opinião. Também há muita inforopinião, como quase tudo nos jornais, com a vantagem de se perceber o que é e não estar disfarçada de notícia. Posso seguir, por exemplo, o debate de ontem sobre blogues na Almedina a partir da Engrenagem, do Indústrias Culturais, e haverá hoje certamente mais.

*

Pergunta que precisa de ser respondida: "Isto é para os blogues ou para a confusão?", no ContraFactos & Argumentos. Só faltava mais esta, uma entidade reguladora para os blogues, com uma composição política (tenho aliás sobre esta Entidade as mesmas enormes reservas que tive sobre a Alta-Autoridade). A única regulação que os blogues precisam é a da lei comum, adaptada minimalisticamente sempre que for necessário às características do meio.

*

Sobre a RTP Memória, de um leitor :
Uma das ‘rubricas’ deste canal é uma sequência de excertos de telejornais de datas várias, interessante, aliás, justapondo reportagens políticas, culturais, desportivas, de importância diversa. Há no entanto uma diferença na forma de apresentação, entre as imagens de antes e depois de 25 de Abril de 1974.

As do ‘depois’, são integralmente apresentadas. As do ‘antes’, sem o som original. De início, desatento, não reparei, até reconhecer uma melodia, sempre a mesma. Os telejornais do ‘antes’ estão narcotizados numa longínqua música ‘ambiente’, algo nostálgica, que não destoa da data das imagens. Por gostar da ‘pequena história’, seria delicioso saber do meandro desta decisão editorial. Mas já basta a ironia da coisa.

(Luís Abel Ferreira)

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EARLY MORNING BLOGS 641

Escolha

Entre vento e navalha escolho o vento
entre verde e vermelho aquele azul
que até na morte servirá de espelho
ao vento que por dentro me deslumbra

Entre ventre e cipreste escolho o Sol
Entre as mãos que se dão a que se oculta
Entre o que nunca soube o que já sobra
Entre a relva um milímetro de bruma.

(David Mourão Ferreira)

*

Bom dia!

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10.11.05


O RETORNO DA VIOLÊNCIA POLÍTICA DISFARÇADA DE "REVOLTA SOCIAL"



(No Público de hoje)


Se se pensa que está consolidada nas democracias a condenação da violência como instrumento político, pensa-se mal. Desde que os movimentos radicais da extrema-esquerda e extrema-direita, que defendiam a violência "revolucionária", perderam influência e se desintegraram nos anos 80, com o fim do surto terrorista que das Brigadas Vermelhas italianas, às FP portuguesas, atravessou toda a Europa, que parecia haver um consenso político de intransigência quanto ao uso da violência nos sistemas democráticos. O caso da ETA e do IRA eram excepções que confirmavam a regra de que em democracia a violência estava de todo excluída.

Mas desenganemo-nos. Bastou surgir uma nova violência, com novos actores e novas causas, ocupando, mesmo que ilusoriamente, o local e a memória dessa violência radical do passado, para se verificar que importantes sectores políticos da nossa sociedade democrática mostram uma enorme complacência com a sua utilização como instrumento político. Nos sectores tradicionalmente da "esquerda", e numa "direita" complexada e temerosa, volta de novo a haver um caldo cultural para que a violência política surja como aceitável, como "justificada".

O mecanismo fundamental de aceitação da violência nos nossos dias é uma espécie de sociologia de pacotilha, mais herdeira do marxismo do que parece, que explica a "revolta dos jovens" (bem-aventurado eufemismo) pelas condições sociais da sua vida. É uma "explicação" que tem muito de voluntarismo político e pouco de ciência, embora, como também acontecia com o marxismo no passado, pretenda fornecer uma inevitabilidade causal. Antes, os proletários deveriam fazer a revolução violenta porque eram explorados e a sua "mais-valia" apropriada pelos capitalistas, agora os jovens revoltam-se porque não têm "esperança no futuro" e são marginalizados. Em ambos os casos há sempre uma explicação social útil, que ilude o adquirido político do pensamento democrático, dissolvendo-o nas mesmas perigosas ideias sobre a "justificação" da violência pela causalidade social.

De novo, aqui se está num terreno de dupla ilusão: nem a "revolta" é tão "social" como parece, e inclui dimensões criminais, de vandalismo juvenil, de "mentalidade", que não são redutíveis à economia, como são deliberadamente minimizadas as motivações de ordem cultural, religiosa e civilizacional, bastante mais importantes do que parecem. É evidente que há factores "sociais" que explicam o que se passa, mas não é por aqui que se vai longe. Há desemprego, guetização, marginalidade, exclusão e racismo, mas há também outras causas de que se evita falar, tão "sociais" como as anteriores, como seja o efeito em populações deprimidas da intensa subsidiação do providencialismo do Estado, gerando expectativas artificiais e um direito permanente de reivindicação, cada vez mais incomportável numa Europa em declínio, da recusa do trabalho por uma "vida de rua" sem controlo, nem "patrão", de discriminações sexuais de origem cultural e religiosa que têm a ver com a ideia patrimonial da mulher muçulmana pelos homens da sua família. O urbanismo dos HLM é culpabilizado, mas cada uma das cités que agora se inflama - e pouco sabemos, porque ninguém nos quer dizer, se é significativo o número de "jovens" envolvido - é um verdadeiro paraíso comparado com os bidonvilles onde os emigrantes portugueses viveram.

Que a explicação "social" circulante é um passe-partout simplista, torna-se evidente quanto ela se centra na condenação da acção policial, na recusa da criminalização dos actos de destruição e violência, na ênfase na culpabilização do Estado, do Governo e dos políticos, na sucessão até ao infinito das desculpas para o que acontece, como se fosse inevitável que acontecesse. Abra-se um jornal, ouça-se uma rádio ou uma televisão, assista-se a um debate e é desculpa sobre desculpa, tudo isto culminando com a conclusão que os "jovens" têm razão em "revoltar-se". Ora isto tem mais a ver com a política do que com a sociologia.

É por isso que nenhuma desta mecânica explicativa se usaria se os tumultos tivessem origem em grupos racistas da extrema-direita, ou de grupos neonazis. Aí, o que se ouviria de imediato era o apelo à repressão, a criminalização ideológica, a exigência de acções punitivas drásticas. Ora, tanto quanto eu saiba, a proliferação de grupos neonazis, na Alemanha de leste, por exemplo, também traduz a mesma "falta de esperança" de uma juventude que tem elevadas taxas de desemprego. Só que aí ninguém avança ou aceita explicações "sociais", e ai de quem minimizasse qualquer violência desses "jovens" que nunca teriam direito a este tratamento tão simpático, mesmo quando também são jovens...

Outra variante da desculpa "social" para a violência é o factor identitário, a crise da segunda geração entre dois mundos culturais muito diferentes. Só que também muito voto para Le Pen e muito da violência racista alemã traduz igualmente a crise de identidade dos nacionais, quase sempre mais velhos e encurralados, face a um mundo que lhes parece estrangeiro, agressivo e hostil.

O que está em jogo não é o pastiche sociológico carregado de culpa que nos querem vender, num daqueles sobressaltos de unanimismo explicativo, a que estamos a assistir cada vez mais desde a guerra do Iraque, feito de pouco pluralismo, simplismos brutais e ideologia dominante do politicamente correcto. O que está em jogo é o primado do Estado de direito - contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que tiveram a coragem de falar das leis - e, com ele, as nossas liberdades e direitos adquiridos. Sim, são as nossas liberdades e a nossa democracia que ardem nos arredores das cidades francesas, não é Sarkozy, que, se fosse demitido, seria o melhor atestado da fragilidade do Estado francês e a receita para muitos mais tumultos em que ninguém teria mão. A oposição socialista em França e a cizânia dentro da maioria andam aqui a brincar com o fogo.

A minha geração namorou o suficiente com a violência política para a conhecer bem. Tinha as melhores das razões para esse namoro, havia um Estado ditatorial que conduzia uma guerra iníqua. Mas, como muitas vezes acontece, há uma mistura entre as melhores das razões e as piores das ideias, e há que reconhecer que o impulso terrorista que levou aos crimes das Brigadas Vermelhas também existia por cá. Se o 25 de Abril não se tivesse dado em 1974, vários grupos da extrema-esquerda portuguesa teriam caminhado para o terrorismo político que se prolongaria mesmo em democracia. Felizmente, a alegria e a força da liberdade reconquistada varreu tudo e todos e essa mesma geração tornou-se um pilar da democracia portuguesa, a que trouxe outras experiências de vida e luta.

Por isso, podemos perceber bem o que se está a passar na Europa. Os "jovens" são de facto os filhos dos imigrantes, cuja demografia salva e condena a Europa ao mesmo tempo, salva-a da extinção demográfica e condena-a a ser uma Europa em cujo espelho a antiga Europa greco-latina e judaico-cristã, a única que há, não se reconhece. Este dilema não está apenas a fazer arder os carros, está também a incendiar a democracia política com ideias que lhe são alheias e hostis.

Este dilema só pode ser superado com intransigência na defesa da lei e do direito e na proclamação, sem dúvidas, de que não é legítima em qualquer circunstância, insisto, em qualquer circunstância, o uso da violência para obter objectivos políticos quando se vive em liberdade. Este é um adquirido de muitos anos de luta, que custou muito sacrifício e muito sangue, mas é das coisas em que a Europa deve ter orgulho e não culpa. O modo como se está a ser complacente com os tumultos franceses mostra que onde devíamos ter orgulho passamos a ter vergonha, e passamos a ter culpa.

Estamos velhos e com medo, este é o estado da Europa.

*
Pensar sobre os acontecimentos em França requer desde logo a enunciação clara de uma prevenção: enveredar pelo discurso exprobatório e fazer comparações temerárias sobre a violência urbana não é prudente e indicia a useira e vezeira a preguiça do pensamento (o menosprezo apriorístico das interpretações da "pseudo-sociologia" não é atitude avisada, embora seja uma atitude que, entre nós, tenha um longuíssimo passado mas uma curtíssima história.). Recusar a explicação ou, melhor, recusar alguns conceitos que, tentativa e lacunarmente, concedem inteligibilidade aos acontecimentos é inaceitável do ponto de vista racional e é uma recusa risível do pensamento crítico (o que nos faz, também, recordar algumas reacções ao 11 de Setembro).

Em estupor, muitos descobrem agora que a Vieille France já não existe e apressam-se a apresentar agora uma versão Mad Max dos acontecimentos - distópica e apocalíptica. Outros, culpam o Welfare State e, perante o sofrimento social pandémico, pregam a self help e o fim do garantismo social do estado, visto como bloqueio inercial ao desenvolvimento económico. A "mão esquerda do estado" - , os "trabalhadores sociais" dos ministérios ditos despesistas (professores, polícias, assistentes sociais, médicos de família) - sabiam que o sofrimento social era pungente e a explosão social eminente, enquanto a "mão direita" - responsáveis do ministérios da economia e finanças, da banca ( a "alta nobreza de estado") - prosseguia a política consabida de estrito autismo e equilibrismo financeiro .

O recalcamento do sofrimento social retorna sempre. Não raras vezes, de forma conflitual e agónica. Recusar pensar este sofrimento é remetê-lo à invisibilidade, suplantando-o com o fulgor mediático das suas terríveis consequências.
Quem tem medo da sociologia?

(D.)
*
Sobre um post no Abrupto, de 7.11.05, gostaria de perguntar o seguinte:

- Quanto é que essa "enorme rede de subsídios e financiamentos estatais"
pesa realmente no orçamento de estado francês?

- Quanto é que "a enorme quantidade de pessoas que trabalha nestes programas, associações, ONGs" pesa no mesmo orçamento?

- Do conjunto de subsídios atribuídos na França, qual é a percentagem entregue às empresas e qual é a percentagem entregue a pessoas ou projectos sociais? (e, já agora, o mesmo para os EUA, porque ouvi lá dizer que os custos das ajudas a pessoas necessitadas é uma parte ínfima das ajudas estatais para as empresas)

Não escondo que este post me chocou pelo modo como desprestigia o sistema social europeu, que considero fundamental. Vivi alguns anos nos EUA, e vi algo completamente diferente desse "modo americano que vive acima de tudo do dinamismo da sociedade que lhes dá oportunidades de emprego e ascensão social". Vi um quadro de leis laborais tão incipiente (ou desconhecido?) que permitia fenómenos próximos da escravatura; imigrantes ilegais a viver em caves insalubres; acesso a um ensino com um mínimo de qualidade apenas para quem tem os meios para o pagar; escolas públicas com detectores de metais à porta; uma enorme mobilidade social para baixo (no espaço de semanas pode-se passar de classe média para homeless).

Também achei interessante o comentário sobre a fuga de cérebros. O estado social europeu garante ensino praticamente gratuito e até dá bolsas de estudo para os melhores irem para o estrangeiro aprender mais. Vi como isso se passa nos EUA: o pessoal chega, trabalha vários anos sem grandes custos para o laboratório que os recebe, e no fim o laboratório oferece propostas irrecusáveis aos que considera realmente bons. O "descontentamento destes cérebros em relação ao funcionamento da sociedade e ao sistema de impostos" é um caso de morder na mão que dá de comer - sem o estado social, a maior parte deles nunca teria tido a possibilidade de passar por uma universidade estrangeira, ou sequer estudar.

(Helena Araújo)
*
(...) a propósito deste seu artigo sobre a violência gostaria de lhe contrapor o seguinte:

Que embora concorde totalmente consigo existem culpados. Tanto à esquerda como à direita nunca lhes incomodou a exploração que foram alvo estes emigrantes. Uns com subsídios adiaram o inevitável os outros não tiveram a coragem para alterar as coisas. Porque se uns dão pão para não serem incomodados os outros não se incomodam e usam a sua supremacia económico-social para esmagar o próximo.

(Carlos Brás)

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: PÓ E LUZ



Nós que nascemos do pó, e voltamos ao pó, respeitamos pouco o pó. Até a palavra, olhando bem para ela, é um pouco ridícula. Em latim é melhor, pulvis como nas campas; em inglês também, dust, powder é bem melhor que pó. Mas olhando estas montanhas de pó a palavrinha pequena ganha outra dimensão. Como em tudo, está no olhar. Há quem veja grande, e há quem sempre veja pequenino, baixinho, rente aos ácaros. Verdade seja que Deus dá por ela de todos.

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INTENDÊNCIA

Em actualização as notas e bibliografias dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(10 de Novembro)




Cada vez melhor o Rocketboom.

*

Diferenças, recenseamento. No La République des Livres

"Puisque tout s’enseigne, pourquoi n’apprendrait-on pas à écrire des textes, voire des livres ? Pas une université américaine digne de ce nom qui n’ait son workshop of creative writing. Raymond Carver, Philip Roth, Jay MacInerney, John Irving, William Styron, EL Doctorow, Richard Ford, Joyce Carol Oates et d’autres y ont étudié avant d’y enseigner à leur tour. Rien de tel en France où l’idée fait encore hurler. On n'en voit que l'aspect négatif : le risque de standardisation de l'écriture et d'uniformisation du goût littéraire. "

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No Bicho Carpinteiro um esconjuro de Medeiros Ferreira: "É mesmo o único candidato [Soares] no terreno. Os mais novos devem estar a poupar-se. A ver se aguentam."

No Ritual da Celebração dos Exorcismos vem explicado que "esconjuro" é "uma forma imperativa usada pelo exorcista para que Satanás deixe o possesso."

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No BoingBoing este SuperChe da família do SuperMario e a pergunta: "This t-shirt mashes up the canonical Che Guevara image with Mario -- sure, Che helped liberate Cuba and Bolivia, but what did he ever do to save Mushroom Princesses?"

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No Overheard in the Office, uma nova categoria "Friday brain": "Worker: Crap. It's Wednesday afternoon and I already have Friday brain."

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: NAUTICAL SLANG

Quando abro um dicionário para procurar uma palavra acabo sempre por ser levada a muitas outras (ao ponto de às vezes me esquecer o que me levou a abrir o dicionário). No Shorter Oxford English Dictionary - que é, de resto, o meu dicionário favorito, e um modelo exemplar daquilo que um bom dicionário deve ser - encontrei, por mero acaso, a seguinte expressão:

Portuguese parliament Nautical slang a discussion in which many speak at once and few listen; a hubbub.

A fama da Assembleia da República chega longe!

(Madalena Ferreira Åhman)

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COISAS COMPLICADAS


Edward Ruscha, Etc.

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EARLY MORNING BLOGS 641

Gato


Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?


(Alexandre O’Neill)

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Bom dia!

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9.11.05


BIBLIOTECA


António Leal, Biblioteca da M. 21

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DE REGRESSO

de mais uma corrida, mais uma viagem, mais uns livros, mais uns jornais, mais uns papéis. Como um selvagem caçador-recolector.

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7.11.05


BIBLIOTECA


António Leal, Biblioteca da M. 20

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(7 de Novembro)



Notícias do MyLifeBits um dos mais interessantes projectos de investigação da Microsoft e que um dia chegará a uma "janela" junto de si. O MyLifeBits, sobre o qual já escrevi vários textos, é uma espécie de backup da vida toda. Gordon Bell, o seu principal animador, anda há já vários anos a registar a sua vida em bits. Como se vê pelo gráfico junto, uma vida inteira não ocupa muito espaço num disco duro:




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Num artigo de hoje do Libération , que se queixa de que o “Estado abandonou os bairros sociais (as “Cités”)”, percebem-se três coisas:

a enorme rede de subsídios e financiamentos estatais típicos do “modelo social europeu”. O artigo cita a crise das acções de alfabetização, financiamentos do Fasild (antigo Fundo de Acção Social), acções de prevenção com adolescentes, programa de empregos-jovem, acções com mulheres, associações subsidiadas (o exemplo é uma intitulada Sable d’Or Mediterranée) que fazem acções de inserção, acolhimento dos recém emigrados, acesso à cultura, teatro de adultos, iniciação ao cinema, vários projectos artísticos e culturais, etc., etc.;

a enorme quantidade de pessoas que trabalha nestes programas, associações, ONGs, que são elas próprias um grupo de pressão para o aumento dos subsídios e o alargamento dos apoios estatais, e que, não é por acaso, aparecem nesta crise como as principais vozes “justificando” a “revolta dos jovens”;

e, por último, o enorme contraste entre o modo europeu de “receber” e integrar os emigrantes envolvendo-os em subsídios e apoios, centrado no estado e no orçamento, hoje naturalmente em crise; e o modo americano que vive acima de tudo do dinamismo da sociedade que lhes dá oportunidades de emprego e ascensão social.

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A propósito da nota sobre o artigo do "Libération", e do peso do "modelo social europeu" que se sente, gostaria de acrescentar um facto de que pouco se fala: é que a França, tal como Portugal, também atravessa um momento de "fuga de cérebros": jovens com formação académica superior que, descontentes com o tipo de sociedade, emprego, impostos, vão à procura de melhores oportunidades de realização profissional e de criação de riqueza, nomeadamente em Inglaterra, EUA, Canadá, Suissa. Pelos vistos já não são só os jovens de 2ª geração de origem africana e magrebina que andam descontentes: têm é formas diversas de o manifestar.

(J.)

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AR PURO


James B. Abbott, Winter Dune

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EARLY MORNING BLOGS 640

A City Winter 5


I plunge deep within this frozen lake
whose mirrored fastnesses fill up my heart,
where tears drift from frivolity to art
all white and slobbering, and by mistake
are the sky. I'm no whale to cruise apart
in fields impassive of my stench, my sake,
my sign to crushing seas that fall like fake
pillars to crash! to sow as wake my heart

and don't be niggardly. The snow drifts low
and yet neglects to cover me, and I
dance just ahead to keep my heart in sight.
How like a queen, to seek with jealous eye
the face that flees you, hidden city, white
swan. There's no art to free me, blinded so


(Frank O'Hara)

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Bom dia!

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6.11.05


BIBLIOTECA


António Leal, Biblioteca da M. 19

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA 2 (Actualizado) de ontem.

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA
(6 de Novembro)




Sobre os comentadores anónimos e os seus comentários divirtam-se no Rocketboom... (Ou vão lá hoje, ou só no arquivo.)

O Sol brilhando como o milho no chão da eira, no Astronomy Picture of the Day. (Ou vão lá hoje, ou só no arquivo.)

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AR PURO


Ansel Adams, Sunrise Mt. Tom, Sierra, NV

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EARLY MORNING BLOGS 639

A vazia sandália de S. Francisco


A gratidão da macieira e a amnésia do gato
nunca pautaram o curso dos meus dias.
“Fiquem onde estão!”,
foi a minha ordem para a macieira e para o gato,
ainda bem exteriores ao meu fraco por eles.

Salvei-os (e salvei-me!) de uma fábula
cuja moral necessariamente devia ser eu, o parlante
amigo de macieiras e conhecido de gatos.

Dá um certo desconforto malbaratar assim amigos
em dois reinos da natureza.
Mas também dá liberdade.

Há uma gente que desponta do outro lado do vale.
Está a correr para cá.
São os meus semelhantes.
Com eles vou desentender-me (mais que certo!),
mas a ideia que deles faço
é ainda um laço.

Repousem em paz as macieiras e os gatos.

(Alexandre O’Neill)

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Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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