ABRUPTO

7.8.05


INTENDÊNCIA

Amanhã farei a actualização final de todos os blogues que participaram na exigência da divulgação dos estudos da OTA, que como se sabe, teve um não de resposta do governo, pelo menos para já. Afinal o número foi muito maior do que os cinquenta e seis que tinha recenseado.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
NENHUMA RESPONSABILIDADE, COISAS VAGAS, FALTA DE SOLIDARIEDADE

As respostas que o Ministro António Costa (que também substitui o Primeiro-ministro) tem dado, no telejornal da RTP1, ao jornalista José Rodrigues dos Santos quando confrontado com perguntas directas sobre as medidas que o governo tenciona tomar até ao fim da época de fogos. Diz coisas vagas tipo “é preciso aplicar a lei” sempre que confrontado com medidas concretas nomeadamente em relação à limpeza de matas a 50 metros das casas e a 10 metros das estradas. Inacreditável também a resignação e falta de empenho que desde o início desta calamidade tem mostrado na televisão quando confrontado com o facto de este ano ter havido mais 70% de fogos do que em igual período do ano passado: “já esperávamos”..., “a seca”... E finalmente, inacreditável o facto de não ter mostrado um átomo de solidariedade e mesmo de compaixão para com tantos portugueses que viram as suas casas, animais e bens arderem.

Um drama que se desenrola perante os nossos olhos e ninguém, do Presidente da República aos ministros ou mesmo deputados vai “lá” perto das populações que sofrem para verem por si a calamidade que estas vivem. São os políticos que temos.

(J.)

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PORQUE É QUE TUDO ESTÁ PARADO, MENOS OS POBRES

Que cansaço faz parar o país dos que menos tem razões para estarem cansados?

Bom. O país não está bem parado, os pobres continuam a trabalhar, a defender as suas casas dos fogos, a cuidar dos seus campos e animais, a manter os turnos nas fábricas de laboração contínua, a trabalhar a dias, a servir à mesa, a trabalhar nas obras, a asfaltar estradas (sim, a proximidade das autárquicas leva a um surto nacional de obras de estradas, alindamentos, rotundas, calcetamentos), debaixo de quarenta graus. Não são só os portugueses, há muitos emigrantes, a ganharem o seu, sob este sol impiedoso.

O país não está parado. O país que se auto-representa nos jornais, esse é que está parado.

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OLHARES

Cito de Gustavo Rubim no Casmurro:

Resposta a JPP, 70 anos antes

«A tradição da nossa cultura foi sempre colocar-nos dentro dos olhos dos outros, quanto mais Outro os outros forem. E num certo sentido este é um sinal da vitalidade da cultura ocidental [...]» J. Pacheco Pereira (Público e Abrupto, 2005)

Responde Ruth Benedict, antropóloga:
«O branco, esse, tem tido uma experiência diferente. Nunca, porventura, terá visto um homem de outra civilização, a não ser que o homem de outra civilização já esteja europeizado. Se viajou, muito provavelmente fê-lo sem nunca ter ficado fora de um hotel cosmopolita. Pouco sabe de quaisquer maneiras de viver que não sejam as suas. A uniformidade de costumes, de pontos de vista, que vê em volta de si parecem-lhe suficientemente convincentes, e esconde das suas vistas o facto de que se trata, afinal, de um acidente histórico. Aceita sem mais complicações a equivalência da natureza humana e dos seus próprios padrões de cultura.»

Padrões de Cultura, p.18, tradução de Alberto Candeias (original: Patterns of Culture, 1934)

Fim de citação.

Ruth Benedict é nova-iorquina, branca, aluna de Vassar e de Columbia, e, entre outras coisas, participou no esforço de guerra (anti-japonês) dos americanos estudando a "cultura" japonesa. O que ela escreve na citação, como aliás todo o seu livro Padrões de Cultura, parece-me um típico exemplo de "tradição da nossa cultura [que] foi sempre colocar-nos dentro dos olhos dos outros, quanto mais Outro os outros forem." Exactamente o que eu queria dizer.

Desconheço qualquer observação antropológica do mesmo teor, sobre os seus, provinda de qualquer outra tradição cultural (muçulmana, budista, animista, etc.), e que não possa ser suspeita de "ocidentalizada". Não me refiro obviamente apenas a frases avulsas de tolerância e compreensão face aos "bárbaros" (hoje diz-se os "cruzados"), refiro-me a uma visão desapiedada, exterior, com os olhos do Outro, sobre "nós", relativista culturalmente como os Padrões de Cultura, que tenha tido a influência sobre essas sociedades e culturas que olhares como o de Benedict, Mead, Levi-Strauss e outros tiveram sobre a nossa.

Groucho Marx também é um excelente exemplo. A meu favor.

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COISAS SIMPLES


Robert Mapplethorpe, Italian Devil

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EARLY MORNING BLOGS 571

Ouvir Estrelas


"Ora direis ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".


(Olavo Bilac)

*

Bom dia!

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6.8.05


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: TORTURADA MIMAS


Aqui.

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FOI SÓ HÁ DOIS ANOS



O Orador (Vitalino Canas, que se seguia a António Costa que tinha feito uma intervenção no mesmo sentido): — A pergunta que se coloca é a seguinte: terão hoje o Primeiro-Ministro, o Ministro da Administração Interna e os restantes Ministros coragem para dizer, olhos nos olhos, às populações, aos bombeiros, aos autarcas que o Governo fez tudo o que podia fazer?!

Aos autarcas e às populações que se queixam de deficiências de coordenação, de modo generalizado, de falta de meios, de terem de combater os fogos sozinhos, de deficiências operacionais, pode o Governo dizer que nada disso é verdade?!
Não se trata apenas de admitir que o sistema teve falhas, como já fizeram o Primeiro-Ministro, o Ministro da Administração Interna e também, agora, o próprio Presidente do SNBPC. Trata-se de admitir com humildade que o Governo falhou. E falhou, desde logo, quando menosprezou os avisos que em tempo útil, muito antes de Agosto, lhe foram endereçados com serenidade, equilíbrio e responsabilidade.
Que maior exemplo de falha do Governo e do sistema que montou se pode apontar do que o facto de o Governo ter demorado vários dias a aperceber-se da gravidade da catástrofe?

Já o Sr. Presidente da República andava há vários dias no terreno sugerindo, aliás, a declaração de calamidade pública e ainda o Sr. Primeiro-Ministro, após o Conselho de Ministros do Porto, desvalorizava a situação e se mostrava confiante na adequação dos instrumentos mobilizados pelo Governo para enfrentar essa mesma situação!
Enganaram o Primeiro-Ministro ou enganou-se este redondamente. Qualquer das hipóteses é, obviamente, grave.


(IX Legislatura - 1.ª Sessão Legislativa (2002-2003) Comissão Permanente - Reunião de 14 de Agosto de 2003)

Todo o debate sobre os fogos, é um documento exemplar do que está mal na nossa política puramente posicional (o que se diz na oposição é o contrário do que se diz no governo e vice-versa), que tem desacreditado o PS e o PSD. Aqui a vergonha é do PS e estas palavras devem servir para "ler" o que diz hoje António Costa, um dos participantes do debate de 2003 e hoje Ministro com responsabilidades no sector, substituindo o Primeiro-ministro que está em férias.

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APRENDENDO COM CLARICE LISPECTOR SOBRE OS SÁBADOS

Atenção ao Sábado

Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.

No sábado é que as formigas subiam pela pedra.

Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho.

De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a rosa de nossa semana.

Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?

No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde.

Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.

Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã.

Domingo de manhã também é a rosa da semana.

Não é propriamente rosa que eu quero dizer.


(Clarice Lispector)

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INTENDÊNCIA

Actualizada a lista dos blogues que aderiram ao pedido de divulgação dos estudos da OTA. Estão listados cinquenta e seis e ainda devem faltar alguns.

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A LER

Comércios no avatares de um desejo.

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A VER




nas fotos portuguesas destacadas pelos Frescos, o Portugal que os portugueses fotografam em férias. Tudo bonitinho, tudo direitinho, tudo limpinho, tudo com cores fortes, tudo ao sol,tudo boa comidinha, um pouco de "mostrar as cores da bandeira" não vá ser preciso para o futebol. Onde é que é este país? Mostrem-me lá no mapa, depois de limparem o fumo. Com este olhar "pompier", não admira que ninguém queira ousar sair da silly season. Lá para Outubro coemçamos outra vez a resmungar, mas é só porque as férias acabaram. Então é que os "políticos" vão ver!

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COISAS SIMPLES


Julião Sarmento, Parasite (the gendering of narrative space)

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EARLY MORNING BLOGS 570

L'espoir luit comme un brin de paille dans l'étable.
Que crains-tu de la guêpe ivre de son vol fou ?
Vois, le soleil toujours poudroie à quelque trou.
Que ne t'endormais-tu, le coude sur la table ?

Pauvre âme pâle, au moins cette eau du puits glacé,
Bois-la. Puis dors après. Allons, tu vois, je reste,
Et je dorloterai les rêves de ta sieste,
Et tu chantonneras comme un enfant bercé.

Midi sonne. De grâce, éloignez-vous, madame.
Il dort. C'est étonnant comme les pas de femme
Résonnent au cerveau des pauvres malheureux.

Midi sonne. J'ai fait arroser dans la chambre.
Va, dors ! L'espoir luit comme un caillou dans un creux.
Ah ! quand refleuriront les roses de septembre !


(Paul Verlaine)

*

Bom dia!

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
MICRO-CAUSAS


Valia a pena investigar se o Estado tem o direito de se recusar a fornecer informação que não seja de natureza secreta por qualquer razão válida. Não o é certamente no caso da OTA, ou então há algo de muito estranho neste processo todo.

(Tiago Azevedo Fernandes)
*
Apesar de achar que os estudos sobre o aeroporto da OTA, como qualquer estudo prévio sobre qualquer obra pública, devam ser públicos e publicitados em favor da transparência das decisões governamentais não posso deixar de o censurar pela forma como está a abordar no seu blogue esta questão. Passo a citar:

"Finalmente, e como era inevitável, o governo dá a resposta: não, para já. E confirma o que já se suspeitava: nenhum estudo específico foi feito por este governo para suportar a sua decisão, baseando-se apenas nos que existiam antes, e que eram contraditórios e estão desactualizados (a conjuntura do tráfego aéreo mudou muito entretanto). e longe de serem conclusivos. Confirma-se assim o carácter estritamente político da decisão, que, em vez de ser tecnicamente fundada, vai agora procurar justificar-se. É um estilo. Péssimo."

1. Segundo o Portugal Diário já foram gastos cerca de 12,7 milhões de euros em estudos de viabilidade para esta obra.
2. Este governo está em funções ainda há menos de 6 meses.
3. Qualquer estudo sério, como deverão concerteza ter sido os efectuados, a julgar logo à partida pelos montantes envolvidos, deverá necessáriamente ter um horizonte temporal bastante mais alargado.

Perante estes factos resta apenas constatar que a sua observação é demagógicamente especulativa, alimenta por isso a especulação, e peca em simplismo. Mesmo na sua linguagem, ou se quiser usando as suas palavras, pelo estilo, esse sim patentemente falacioso e demagógico.

Não sei se a obra da OTA é boa ou é má. Podem haver outras soluções mais baratas e racionais. Uma coisa sei: é bom que os estudos sejam divulgados para debate público, mas não para pública especulação. Estudos que custam fortunas como estas não são concerteza passíveis de análises simplistas, devem por isso ser discutidos por quem perceba minimamente da matéria e que não se limite a 'atirar para o ar' que por exemplo "o tráfego mudou muito entretanto".

(António Fonseca)
*
(...) acabo de ler o artigo do Portugal Diário que cita no seu post de há bocado quanto à resposta do ministro à campanha iniciada por si para a divulgação na internet dos tais estudos. Fraca e tímida resposta, mas somos o que somos em matéria de transparência do Estado e da sua máquina. (...)

Lembrei-me entretanto de consultar a Constituição, onde seguramente os Pais da Pátria terão previsto alguma coisa sobre os direitos dos cidadãos à informação em posse do Estado. Assim de repente, encontrei 3 preceitos, que transcrevo:

Artigo 37.º
(Liberdade de expressão e informação)

1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.

Artigo 48.º
(Participação na vida pública)

2. Todos os cidadãos têm o direito de ser esclarecidos objectivamente sobre actos do Estado e demais entidades públicas e de ser informados pelo Governo e outras autoridades acerca da gestão dos assuntos públicos.

Artigo 268.º
(Direitos e garantias dos administrados)
2. Os cidadãos têm também o direito de acesso aos arquivos e registos administrativos, sem prejuízo do disposto na lei em matérias relativas à segurança interna e externa, à investigação criminal e à intimidade das pessoas.

Não sou jurista e muito menos constitucionalista, mas parece-me que estes artigos conferem-nos direitos claros à informação da coisa pública. O que aconteceria se um grupo de cidadãos de boa vontade os invocasse, directamente junto da administração, se necessário até ao Tribunal Constitucional, para obter o que o governo não quer, inexplicavelmente, publicar? Era capaz de ser interessante, e pelo menos agitava-se o conformismo nacional...
(Cristina Laranjeira)
*
De um leitor: O artigo anexo trata do futuro da aviação face ao esgotamento petrolífero, enfatizando o absurdo de expandir aeroportos, com base nas tendências passadas de crescimento das viagens, sem levar em conta os constrangimentos de combustível — para não mencionar a ascensão dos seus custos (mesmo sem impostos).

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5.8.05


BIBLIOFILIA: O MEDO DA BOMBA


Mais um papel recuperado: um boletim da Defesa Civil do Território, uma organização ligada então à Legião Portuguesa, dedicado aos abrigos atómicos. É um típico produto dos anos cinquenta, resultado do medo da guerra atómica, medo muito racional nesses anos. Vale a pena revisitar estes medos, porque o terrorismo de hoje vai de novo gerar um mesmo ambiente de finitude, de fim do mundo, de queda não apenas da civilização, mas da humanidade.

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MICRO-CAUSAS:
PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?

Finalmente, e como era inevitável, o governo dá a resposta: não, para já. E confirma o que já se suspeitava: nenhum estudo específico foi feito por este governo para suportar a sua decisão, baseando-se apenas nos que existiam antes, e que eram contraditórios e estão desactualizados (a conjuntura do tráfego aéreo mudou muito entretanto). e longe de serem conclusivos. Confirma-se assim o carácter estritamente político da decisão, que, em vez de ser tecnicamente fundada, vai agora procurar justificar-se. É um estilo. Péssimo.

Quem finalmente obteve esta informação foi o jornalista André Pinto do Portugal Diário, um jornal digital. Cito as partes mais significativas:

Governo recusa-se a publicitar agora estudos sobre a Ota

1ª MÃO: Ministro apresenta planos para novo aeroporto em Outubro. Só depois, disponibilizará publicamente os documentos na internet. Entre 1997 e 2005, foram realizados 70 estudos que custaram 12,7 milhões de euros. Mas Executivo de Sócrates ainda não realizou nenhum
(...)
O Governo recusa-se a publicitar para já os estudos que tem na sua posse sobre o novo aeroporto da Ota e que sustentam a decisão em avançar para a sua construção. «O Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações vai promover, em Outubro, uma apresentação pública do projecto do novo aeroporto e posteriormente divulgaremos toda a informação pertinente e necessária na internet», divulga o gabinete do ministro Mário Lino num esclarecimento solicitado pelo PortugalDiário.

Mas o Executivo nega que haja qualquer secretismo sobre os estudos. A assessora do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Ana Rute Peixinho, exemplifica com os «estudos preliminares de impacte ambiental relativos às localizações Ota e Rio Frio que estiveram em consulta pública entre Março e Maio de 1999. Os resumos não técnicos e relatórios executivos estiveram também disponíveis para consulta. No âmbito da consulta do público chegaram a ser realizadas duas audiências públicas.»

Só entre Julho de 1997 e Abril de 2005, a Naer - Novo Aeroporto S.A. realizou ou "encomendou" a universidades e outras instituições 70 estudos sobre a Ota, de acordo com uma listagem facultada pelo ministério ao PortugalDiário. Mas o acesso aos documentos é reservado, argumenta o gabinete de Mário Lino. Apesar da insistência do PortugalDiário, uma decisão sobre a consulta dos estudos pedidos está dependente do ministro da tutela. Contactada a Naer, a mesma dificuldade: «Só com autorização do ministério.»

Na lista a que o PortugalDiário teve acesso incluem-se estudos sobre a definição da localização do novo aeroporto, o seu impacte ambiental, análises posteriores à definição do local e a eventual «sensibilidade do turismo à deslocalização» do aeroporto da Portela para a Ota.

O PortugalDiário sabe que o valor gasto pela empresa nestes mesmos estudos ascende já a mais de 12,7 milhões de euros. Deste total, 6,5 milhões foram comparticipados pela Comissão Europeia. De acordo com Ana Rute Peixinho, este Governo ainda «não fez nenhum estudo sobre a Ota». (Sublinhados meus.)

*
O Portugal Diário cita a campanha dos blogues para obter esta resposta: "Na última semana, um conjunto de blogues na internet tem exigido a divulgação dos estudos que sustentem a viabilidade do novo aeroporto da Ota."

Tendo-se obtido esta resposta, que vale o que vale, pode-se agora continuar a discussão noutros termos, e esperar por Outubro. Para quem pensa que a blogosfera não tem força, este é um bom exemplo do que se pode fazer, para melhorar o debate público. Foi tanto mais importante para a blogosfera quanto foi uma campanha solitária: não contou com a comunicação social tradicional que se mostrou, para ser caridoso, indiferente. Mérito, só dos blogues e agora do Portugal Diário.

Mérito destes cinquenta e seis blogues: Bloguítica. Blasfémias , Ciberjus , Von Freud , Grande Loja do Queijo Limiano, [ai-dia], A destreza das dúvidas , crackdown, ContraFactos & Argumentos , ' A Esquina do Rio , Almocreve das Petas, Um prego no sapato, ...bl-g- -x-st-, sorumbático, Portuense, ABnose, Portugal dos Pequeninos, Teoria da Suspiração, A Baixa do Porto, Minha Rica Casinha, Sombra ao Sol, Insustentável, Insustentável Leveza, Virtualidades , Blogdamarta, Adufe, Tela Abstracta, opinar, Abnegado, Cabo Raso, Bateria da Vitória, Foz, Tempo Suspenso, Galo Verde, Navio Negreiro, Entre Pedras, Palavras, Viver Bem na Alta de Lisboa, Faz Tudo, SEDE, Observador Cosmico, Nortadas, Piano, primadesblog, Pura Economia, Impertinencias, Nova Floresta, Acid Junk Food, Prova dos Nove, Quinta do sargaçal, O cacique, Cuidado de Si, My Guide to your Galaxy, no Ideias Dispersas, no Gatochy's blog, no Congeminar-

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: "SURGINDO VEM AO LONGE A NOVA AURORA"


Eis uma vista que um anarquista tomaria como sua.

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MICRO-CAUSAS:
PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?

"Respeito muito os signatários, mas há sociedades que valorizam mais a especulação e a análise, enquanto outras valorizam mais a busca de soluções."
(Manuel Pinho, Diário Económico, 28-07-07)

No Bloguítica. no Blasfémias , no Ciberjus , no Von Freud , na Grande Loja do Queijo Limiano, no [ai-dia], no A destreza das dúvidas , no crackdown, no ContraFactos & Argumentos , n' A Esquina do Rio , no Almocreve das Petas, no Um prego no sapato, no ...bl-g- -x-st-, no sorumbático, no Portuense, no ABnose, no Portugal dos Pequeninos, no Teoria da Suspiração, no A Baixa do Porto, na Minha Rica Casinha, no Sombra ao Sol, no Insustentável, na Insustentável Leveza, no Virtualidades , no Blogdamarta, no Adufe, na Tela Abstracta, no opinar, no Abnegado, no Cabo Raso, no Bateria da Vitória, na Foz, no Tempo Suspenso, no Galo Verde, no Navio Negreiro, no Entre Pedras, Palavras, no Viver Bem na Alta de Lisboa, no Faz Tudo, na SEDE, no Observador Cosmico, no Nortadas, no Piano, no primadesblog, no Pura Economia, no Impertinencias, no Nova Floresta, no Acid Junk Food, no Prova dos Nove, e noutros que não pude recensear, também se apoia esta divulgação. Mostrando uma qualidade rara na blogosfera que é a persistência, não deixar cair uma pergunta e um pedido SFF mais que razoável, alguns blogues repetiram e vão repetir enquanto for necessário a mesma pergunta.

O Inimigo Público também aderiu ao "mostra!" da micro-causa, e o Ministro das Obras Públicas respondeu a estas pressões com uma das mais completas colecções de generalidades e banalidades que viu a luz do dia na imprensa. Se não fosse de um ministro, um director de um jornal decente não considerava haver qualidade mínima para publicar o artigo.

Vários blogues fazem uma pergunta certa: por que é que a comunicação social, não diz uma palavra sobre esta micro-causa, que não é preciso ter cursos de jornalismo para saber que é notícia? "Cinquenta blogues pedem (exigem, imploram, arrasam, etc.) divulgação na Internet dos estudos da OTA", dá notícia. "Movimento na blogosfera a favor da divulgação electrónica dos estudos da OTA", dá notícia, mesmo que seja só na secção dos Media. "Blogues exigem papéis", é um estilo também conhecido. "Porque é que não se divulgam os estudos da OTA?" dá editorial. "Mais transparência é preciso - reivindicam blogues” também se admite. Coisas bem menores já têm dado notícia, esta não.

Há quem interprete o silêncio com a vontade de proteger o governo. Talvez, nalguns casos será assim. Mas penso que a melhor resposta é outra, é por corporativismo no pior sentido. Os jornalistas acham que matérias deste tipo pertencem-lhes e sentem uma crescente competitividade nos blogues. (Dito isto tenho consciência de que o que escrevo ainda diminui mais a probabilidade de haver notícias, mas não precisam de citar o Abrupto sequer.) E a verdade é que nestes dias de férias tem sido nos blogues que tem circulado a melhor informação (falo de informação, dados, investigações fundadas, não de boatos) e análise de todo o espaço público sobre o que se está a passar, e não só sobre a OTA. De graça, sem grandes meios, sem redacções, sem enviados especiais.

No Diário da República uma série de ligações sobre o debate da OTA nos blogues, que serve de ilustração ao que escrevi acima.

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COISAS COMPLICADAS


Rick Scott, Fire Glow and Star Trails at Sunset Crater

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EARLY MORNING BLOGS 569

The Fascination of What's Difficult


The fascination of what's difficult
Has dried the sap out of my veins, and rent
Spontaneous joy and natural content
Out of my heart. There's something ails our colt
That must, as if it had not holy blood
Nor on Olympus leaped from cloud to cloud,
Shiver under the lash, strain, sweat and jolt
As though it dragged road-metal. My curse on plays
That have to be set up in fifty ways,
On the day's war with every knave and dolt,
Theatre business, management of men.
I swear before the dawn comes round again
I'll find the stable and pull out the bolt.


(Yeats)

*

Bom dia!

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4.8.05


PELO QUE VI

o modo como foi tratado o trânsito na A1 só pode ser classificado de negligência. Só não teve piores consequências, por sorte.

*
uma tragédia que não tem passado na comunicação social.
desci e subi a A1 com 4 horas de intervalo e a destruição parecia a equivalente a um bombardamento de napalm... leiria, pombal e condeixa pareciam um inferno para onde, por vezes, nos apetece lançar os rostos mais visíveis de uma incompetência atroz - ao nível da decisão, bem entendido -, que tem custado muitos hectares a esta nossa babilónia perdida no déficit, na quinta das celebridades e no novo clube de luís figo...
é grave que os principais eixos rodoviários e ferroviários tenham sido cortados [ou condicionados, como referia a brisa nos seus painéis electrónicos, ou a bt-gnr nos seus briefings para a tsf - nota mental: fixar este novo termo mais elegante para corte de estrada, impossibilidade de circulação ou barreira de fogo e fumo].
é grave a descoordenação total entre as autoridades de trânsito, que, por um lado, deixavam toda a gente passar na A1 até à zona do pombal onde, era tão evidente, não se podia passar [naquela zona vi dois agentes da bt-gnr] e, por outro, na zona de coimbra, três carros de patrulha em cada sentido bloqueavam o acesso à via rápida coimbra - figueira, onde o fogo estava a quilómetros de distância...
mas mais grave era a dimensão da área ardida, a impotência dos bombeiros que esperavam que a auto-estrada servisse de bloqueio ao fogo e as casas, fábricas e armazéns que tinham as chamas em seu redor.
(Rui)

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POBRE PAÍS O NOSSO

Não estará na altura de o senhor Primeiro-ministro interromper as férias e assumir o seu papel e responsabilidades numa situação que o responsável da Protecção Civil classifica de “emergência”?

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BASTANTE MAIS GRAVE DO QUE PENSAVA

Mais cedo do que esperava pude ver a gravidade da situação dos fogos. Hoje, directamente. Tentei chegar ao Porto e não consegui. Entre Santarém e Pombal, zona em que a A1 foi interrompida, observei dezenas de incêndios, alguns muito grandes. Sempre que chegava a um plataforma elevadA, como quando se entra na Serra dos Candeeiros, a toda a volta levantavam-se colunas de incêndios, na direcção de Santarém, de Leiria. A uma dada altura na A1 havia chamas vivas de um lado e de outro da estrada, ao lado da estrada. Não eram muito altas, mas atrás havia grossas colunas de fumo. Bastava uma paragem, e houve várias, para se observar um novo incêndio, que rapidamente progredia. Nem sempre era mato ou árvores, o fumo muito negro mostrava que havia outras coisas a arder.

Na estrada, o ambiente era caótico, com filas formando-se rapidamente em vários quilómetros, e com autotanques com gasolina nas filas. Carros da polícia passavam sem se perceber para quê. Quando a A1 foi finalmente interrompida e a coluna de veículos desviada para a estrada Figueira da Foz-Pombal ninguém sabia dizer nada sobre as alternativas. A Brisa continuava a receber portagens criando um congestionamento perigoso. Quando se chegava á outra estrada percebia-se logo que o mar de chamas e fumo para Norte impedia qualquer passagem, e, se dúvidas havia de que alguma coisa de muito grave se passava, era ver chegar os carros com mulheres e crianças evacuados das aldeias, desesperadas e em pânico. Uma rapariga procurava o pai, uma mulher com um bebé ao colo chorava convulsivamente porque a sua casa e a “aldeia” (não sei se é verdade, mas era o que dizia) tinha ardido.

Como não havia ninguém nos acessos de entrada à A1 – a polícia sem se saber porquê em vez de estar à entrada dos acessos para impedir o bloqueamento, estava depois das portagens, onde os camiões que pretendiam entrar já não podiam dar a volta. Percebia-se que os agentes estavam preocupados com as suas terras, as suas famílias, a julgar pelas conversas ao telemóvel. Compreende-se, mas havia um ar de caos em tudo.

É preciso acrescentar que esta portagem está ela própria numa área de floresta e o incêndio estava demasiado perto. Os sistemas que deviam ajudar a informar os automobilistas não serviam para nada. O número da Brisa dava informações erradas: os camionistas tinham entrado no acesso à portagem convictos de que se podia seguir para o Norte. Errado. A Antena1, a rádio cuja sintonia era recomendada em cartazes na A1, pelo menos em dois noticiários nada dizia de útil e não interrompia os seus programas para dar informações de trânsito. Era surrealista ver o que se estava a passar e o clima de relativa normalidade nos noticiários, com as notícias dos incêndios cada vez mais estereotipadas e trivializadas.

Fiquei ainda mais convicto que, pelos órgãos de informação, os portugueses não tem tido a ideia da gravidade dos incêndios este ano. E hoje tenho a certeza que, pelo menos ali, coisas graves se estavam a passar. Espero que não. Espero que tenha sido apenas impressão minha.

Adenda: não vi um único bombeiro, as pessoas diziam que não estavam bombeiros num fogo particularmente violento (Pombal, às 18 horas). Mas, sublinho, podiam estar noutro local, ou eu não os ter visto.

Adenda2: para ver se não era injusto com as televisões, e hoje são as televisões que definem a dramaticidade (ou a importância, o que pode não coincidir) dos eventos, e numa observação cruzada entre a RTP e a SIC, reconheci o que vi pessoalmente na SIC, mas não na RTP. A RTP, na abertura das notícias, omitiu aquilo que era evidente - o fogo estava a atingir habitações e fábricas - enquanto na SIC as imagens davam melhor a dimensão da destruição em curso. Não sei se depois no decorrer do noticiário se corrigiu.

Adenda3: (para desenvolver depois) é evidente nestas alturas que o "Portugal feio", caótico, desordenado, que atinge o seu clímax na faixa á volta da antiga EN1, é um claro risco de segurança. O modo como casas, fábricas, sucatas, barracões e oficinas se estendem no meio de fragmentos de mata, erva seca, lixo, é explosivo. Esta é a marca dos incêndios deste ano.

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PARECE SILLY SEASON MAS NÃO DEVIA PARECER



Quem esteja atento ao que se está a passar, verifica que se estão a somar sinais claros de ingovernabilidade, e de declive político acentuado. Desde os fogos à seca, desde o "mensalão" às mudanças de várias administrações e responsáveis, (e não só na CGD), e suas razões conhecidas e obscuras, à saída do Ministro das Finanças, á contestação generalizada (muito, muito para além da oposição) do plano de investimentos do governo, ao modo como estão a arrancar as presidenciais, à revolução que se vai dar na comunicação social privada, as televisões em particular, mas onde questões de controlo político vão ser centrais, tudo aponta para uma reorganização de interesses e poderes que favorece pouco a democraticidade e a transparência.

Tudo isto nos devia fazer pensar que coisas muito sérias estão a acontecer em Portugal, em Agosto, no Verão, quando a classe média que pensa que nos governa (quem nos governa é uma classe mais alta, ela própria a sofrer uma usura e uma exposição que nunca previu) vai a banhos para o Algarve.

Muitos órgãos de comunicação social estão na silly season, e estão desatentos, felizmente nem todos. Mas o ambiente é de irresponsabilidade e deixa andar, não é de alarme. Ninguém se alarma em Agosto. Muitos portugueses são empurrados para distracções mais fúteis, mas isto está a ficar complicado. Tanto mais complicado quanto a legitimidade e excepcionais condições políticas, alcançadas onde está a força, nos votos, existem como já não havia desde 1991. Ou seja, não é nas urnas que se pode procurar meios e respostas. Está visto que não chega.

Os riscos começam quando se começa a perceber que nem um governo com todas as condições para ser forte, consegue a tarefa de nos "organizar" minimamente para defrontar incêndios e escândalos sérios, estruturais, no âmago do estado e do seu funcionamento, decide ligeiramente e torna-se teimoso no erro, atira ao lado, para trás e não em frente.

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MICRO-CAUSAS:
PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?

"Respeito muito os signatários, mas há sociedades que valorizam mais a especulação e a análise, enquanto outras valorizam mais a busca de soluções."
(Manuel Pinho, Diário Económico, 28-07-07)

No Bloguítica. no Blasfémias , no Ciberjus , no Von Freud , na Grande Loja do Queijo Limiano, no [ai-dia], no A destreza das dúvidas , no crackdown, no ContraFactos & Argumentos , n' A Esquina do Rio , no Almocreve das Petas, no Um prego no sapato, no ...bl-g- -x-st-, no sorumbático, no Portuense, no ABnose, no Portugal dos Pequeninos, no Teoria da Suspiração, no A Baixa do Porto, na Minha Rica Casinha, no Sombra ao Sol, no Insustentável, na Insustentável Leveza, no Virtualidades , no Blogdamarta, no Adufe, na Tela Abstracta, no opinar, no Abnegado, no Cabo Raso, no Bateria da Vitória, na Foz, no Tempo Suspenso, no Galo Verde, no Navio Negreiro, no Entre Pedras, Palavras, no Viver Bem na Alta de Lisboa, no Faz Tudo, na SEDE, no Observador Cosmico, no Nortadas, e noutros que não pude recensear, também se apoia esta divulgação. Mostrando uma qualidade rara na blogosfera que é a persistência, não deixar cair uma pergunta e um pedido SFF mais que razoável, alguns blogues repetiram e vão repetir enquanto for necessário a mesma pergunta.

Como ninguém vai desistir, ver-se-ão os resultados. A não ser, como já há indicações sérias nesse sentido, que não haja qualquer estudo a suportar a decisão governamental excepto os que vieram herdados dos governos anteriores. Estes são parciais, não estão actualizados para a situação presente (que tem que entrar em conta com variáveis não previstas há uma década), são contraditórios entre si e não apontam explicitamente, e nalguns casos contrariam, os fundamentos técnicos para a decisão governamental.

É evidente que eu não confundo o carácter político da decisão, que merece um determinado tipo de debate, com os seus fundamentos técnicos. É legítimo decidir tendo em conta factores estritamente políticos - ideias sobre o desenvolvimento, a regionalização, a interioridade, modelos de crescimento, etc. Mas para fazer um aeroporto num determinado sítio, é preciso mais. Para gastar tanto da nossa escassa bolsa, é preciso ter garantias de que não é dinheiro deitado fora. O que está aqui em causa são as componentes técnicas, ou se se quiser, técnico-políticas de um investimento tão vultuoso, sem ponto de retorno. Para isso é preciso conhecer os documentos, os estudos. O silêncio incomodado do governo é um péssimo sinal.


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COISAS SIMPLES


Milton Avery, Yellow Still Life

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EARLY MORNING BLOGS 568

A list of some observation. In a corner, it's warm.
A glance leaves an imprint on anything it's dwelt on.
Water is glass's most public form.
Man is more frightening than its skeleton.
A nowhere winter evening with wine. A black
porch resists an osier's stiff assaults.
Fixed on an elbow, the body bulks
like a glacier's debris, a moraine of sorts.
A millennium hence, they'll no doubt expose
a fossil bivalve propped behind this gauze
cloth, with the print of lips under the print of fringe,
mumbling "Good night" to a window hinge.


(Joseph Brodsky)

*

Bom dia!

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3.8.05


PARA UMA HISTÓRIA DA "CULTURA" ENQUANTO INSTRUMENTO DE PROPAGANDA POLÍTICA MODERNA

Para voltar a uma questão antiga, que já suscitei várias vezes, encontrei nos livros salvos da pasta do papel mais duas interessantes ilustrações. O meu ponto inicial era que o cerne da política Malraux - Lang, que é hoje dominante nos Ministérios da Cultura como o português, é a utilização da aparente intangibilidade da cultura e da criação estética, e do seu suposto carácter meta-político, como mecanismo ideal de propaganda do Estado, e por contágio, do governo.

Nos seus momentos originais, a ideia que o Estado podia ter uma política de "cultura", ou de "espírito", como se dizia, era totalitária. Fascistas, nazis e comunistas lançaram as primeiras pedras.


Nas democracias, esta política nasceu no lado direito do espectro político, com Malraux, ministro de De Gaulle, precursor quer da política de "grandes obras" culturais, quer de consolidação de uma importante área subsidiada de empregos estatais na área da cultura. Malraux limpou com espavento os monumentos de Paris, e restaurou-os e enxameou a província de Casas da Cultura, criando uma rede nacional e local de "animadores culturais", estabelecendo pela primeira vez, numa democracia ocidental moderna, a área da "cultura" como um grande departamento do Estado. A partir de quase nada, criaram-se 22 departamentos regionais de cultura, culminando num poderoso ministério. Esse ministério, dirigido por um político de perfil político elevado, ele próprio legitimado como criador pela sua obra romanesca, tornou-se no principal e, sublinhe-se, mais eficaz instrumento de propaganda do "gaullismo".

O modelo Malraux acabou por emigrar para a esquerda, quando a esquerda francesa encontrou um Mitterrand obcecado pela "grandeur", e que tinha como ministro Jacques Lang, que encheu a França de "grandes obras" monumentais, desde o novo "arco de triunfo", até à Opera da Bastilha, e à pirâmide de Louvre. Note-se, de passagem, que Lang acentuou os traços políticos da actividade da "cultura" do Estado, usando-a como instrumento anti-americano, ao serviço da peculiar variante francesa de chauvinismo europeu. Daí resultou a "excepção cultural" francesa, modo político de defender o papel da indústria cultural francesa, contra a "globalização cultural" americana. Foram estas políticas que serviram de modelo a Carrilho (na sequência de Santana Lopes, que também se reivindicava de Lang), e ainda hoje são o modelo dominante da actividade do Ministério da Cultura.





Estes dois livros, ou melhor, um álbum de fotografias comentado e um folheto, são exemplos da genealogia desta questão. O álbum Gli Spettacoli per Il Popolo é uma edição de propaganda fascista, com exemplos da política de fomento das artes pelo Duce. O folheto é uma muito interessante (e actual) defesa do papel da animação cultural, de autoria de Humberto d’Avila, publicada em 1957. O autor queixa-se de em Portugal não se realizarem “festivais de arte”, cujo interesse “turístico-comercial” é valorizado. Quando se fizer uma história da “cultura” no século XX português, este será um texto pioneiro, com observações e anexos (Ávila faz um plano de um “festival) que cinquenta anos depois permanecem inteiramente actuais. Valia a pena publica-lo de novo, se tivéssemos uma colecção de fontes de história das políticas “culturais”.

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OS NOSSOS RAPAZES E RAPARIGAS NO AFEGANISTÃO


Se nós tivéssemos mais respeito por nós próprios, valorizaríamos e muito a missão dos militares portugueses que estão a guardar o Aeroporto de Cabul no Afeganistão. Boa sorte!

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MICRO-CAUSAS:
PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?
(Actualizado)

"Respeito muito os signatários, mas há sociedades que valorizam mais a especulação e a análise, enquanto outras valorizam mais a busca de soluções."
(Manuel Pinho, Diário Económico, 28-07-07)

No Bloguítica. no Blasfémias , no Ciberjus , no Von Freud , na Grande Loja do Queijo Limiano, no [ai-dia], no A destreza das dúvidas , no crackdown, no ContraFactos & Argumentos , n' A Esquina do Rio , no Almocreve das Petas, no Um prego no sapato, no ...bl-g- -x-st-, no sorumbático, no Portuense, no ABnose, no Portugal dos Pequeninos, no Teoria da Suspiração, no A Baixa do Porto, na Minha Rica Casinha, no Sombra ao Sol, no Insustentável, na Insustentável Leveza, no Virtualidades , no Blogdamarta, no Adufe, na Tela Abstracta, no opinar, no Abnegado, no Cabo Raso, no Bateria da Vitória, na Foz, no Tempo Suspenso, no Galo Verde, e noutros que não pude recensear, também se apoia esta divulgação. Mostrando uma qualidade rara na blogosfera que é a persistência e o não deixar cair uma pergunta e um pedido SFF mais que razoável, alguns blogues repetiram e vão repetir enquanto for necessário a mesma pergunta.

Até porque, em breve, haverá mais notícias e cada dia que passa é pior.

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BIBLIOFILIA: "INSTRUIR É CONSTRUIR"


Estas Premières Leçons de Français vieram com os livros salvos da pasta de papel. O dono da biblioteca era um autodidacta de várias coisas, com relevo para as línguas, e há centenas de manuais, gramáticas, dicionários de francês, inglês, alemão, russo, espanhol, etc.

No prefácio deste livro, de 1914, está esta moderníssima defesa do uso do gramofone no ensino das línguas.


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COISAS SIMPLES / COISAS COMPLICADAS


Piranesi

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EARLY MORNING BLOGS 567

Cabecinha romana de Milreu

Esta cabeça evanescente e aguda,
tão doce no seu ar decapitado,
do Império portentoso nada tem:
Nos seus olhos vazios não se cruzam línguas,
na sua boca as legiões não marcham,
na curva do nariz não há os povos
que foram massacrados e traídos.
É uma doçura que contempla a vida,
sabendo como, se possível, deve
ao pensamento dar certa loucura,
perdendo um pouco, e por instantes só,
a firme frieza da razão tranquila.
É uma virtude sonhadora: o escravo
que a possuía às horas da tristeza
de haver um corpo, a penetrou jamais
além de onde atingia; e quanto ao esposo,
se acaso a fecundou, não pensou nunca
em desviar sobre el' tão longo olhar.
Viveu, morreu, entre colunas, homens,
prados e rios, sombras e colheitas,
e teatros e vindimas, como deusa.
Apenas o não era: o vasto império
que os deuses todos tornou seus, não tinha
um rosto para os deuses. E os humanos,
para que os deuses fossem, emprestavam
o próprio rosto que perdiam. Esta
cabeça evanescente resistiu:
nem deusa, nem mulher, apenas ciência
de que nada nos livra de nós mesmos.

(Jorge de Sena)

*

Bom dia!

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1.8.05


MICRO-CAUSAS:
PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?

"Respeito muito os signatários, mas há sociedades que valorizam mais a especulação e a análise, enquanto outras valorizam mais a busca de soluções."
(Manuel Pinho, Diário Económico, 28-07-07)

No Bloguítica. no Blasfémias , no Ciberjus , no Von Freud , na Grande Loja do Queijo Limiano, no [ai-dia], no A destreza das dúvidas , no crackdown, no ContraFactos & Argumentos , n' A Esquina do Rio , no Almocreve das Petas, no Um prego no sapato, no ...bl-g- -x-st-, no sorumbático, no Portuense, no ABnose, no Portugal dos Pequeninos, no Teoria da Suspiração, no A Baixa do Porto, na Minha Rica Casinha, no Sombra ao Sol, no Insustentável, na Insustentável Leveza, no Virtualidades e noutros que não pude recensear, também se apoia esta divulgação. Mostrando uma qualidade rara na blogosfera que é a persistência e o não deixar cair uma pergunta e um pedido SFF mais que razoável, alguns blogues repetiram e vão repetir enquanto for necessário a mesma pergunta.

Será que os senhores ministros (Primeiro, Economia, Obras Públicas) podem ao menos explicar quais as razões porque os estudos, alguns estudos, parte dos estudos, os estudos que foram relevantes para a tomada de decisão, não podem ser divulgados? Partindo do príncipio que existem.

Vamos acompanhar a página do Ministério da Economia e Inovação onde aliás há um formulário de reclamações, e cujas últimas entradas são a Nota à Comunicação Social com a resposta da Direcção-Geral de Geologia e Energia ao comunicado da Quercus e a Nota à Comunicação Social relativa à actividade de fiscalização desenvolvida pela IGAE - Inspecção-Geral das Actividades Económicas, no mês de Junho de 2005. Haverá com certeza informações mais úteis para todos para disponibilizar na página.

Saibam os senhores ministros que há muitos meios ao alcance dos cidadãos para obter os documentos deste tipo, que o seu conhecimento público é uma mera questão de bom senso e exigência democrática, e por isso tem o apoio de todos, sendo muito fácil mobilizar as pessoas para esta "micro-causa". Se os senhores ministros estão preocupados com o custo político de eles serem conhecidos, pensem bem no custo político de eles não serem conhecidos. pelo menos por suas mãos.

*

Anexo: a pouca transparência em não querer divulgar tudo não significa a pouca transparência de muita gente envolvida no processo , a começar por muitos técnicos, como me lembra e bem esta mensagem:

Não sendo apologista de qualquer solução em concreto em relação ao aeroporto de Lisboa e em relação ao TGV, cumpre-me em boa medida corrigir uma ideia que, de tanto lançada na opinião pública, cria raiz. Nomeadamente, a ideia de que, pelo menos o projecto da Ota foi realizado sem estudos. Sei que, pelo menos no tempo do Eng. João Cravinho, a empresa criada para a realização de estudos sobre o novo aeroporto – a NAER, S.A. (e que o bloguista do Portugal Sim só agora descobre) pelo menos em 1998 realizou um estudo comparativo das localizações de Ota e Rio Frio, onde as mesmas foram analisadas sob todos os pontos de vista – capacidade aeronáutica, birdstriking, impactes na economia local e regional, emprego, impactes ambientais sobre a avifauna, etc… Esse processo de consulta pública foi dos mais avançados na época para Portugal, por ter sido inclusivamente a primeira vez que um processo de avaliação do impacte ambiental (e que incluía estudos económicos e de mercado) foi utilizado para informar uma decisão de escolha de localização. Na altura como representante da Quercus, participei em sessões públicas em Alenquer e Pinhal Novo, altamente participadas, com trocas de argumentos dos dois lados. O estudo de impacte ambiental foi tornado público, nos primórdios da Internet e será acessível, julgo, junto do Instituto do Ambiente. O processo pecava, mesmo assim, por alguns defeitos, tais como, a insuficiente informação sobre as condições de viabilização financeira do projecto. Mas tudo isso esteve em discussão. Se agora o digo, é porque sei que houve pessoas, que ainda hoje cumprem o seu dever na Auditoria Ambiental do Ministério das Obras Públicas que, indo muito além do que lhes seria exigível, pugnaram pelo sucesso da participação pública nesse processo – tenho presente em particular a Eng. Isabel Guerra. Cada vez que ouço ou leio que não há informação sobre o Aeroporto da Ota ou que os processos são “escuros”, sinto de alguma forma que há pessoas que estão a ser ofendidas por quem do assunto não percebe.

Esclareço que a Quercus na altura questionou a necessidade do novo aeroporto e conclui, com base nos dados do EIA, pela localização da Ota. Esclareço também, porque há sempre más interpretações, que não tenho nada a haver da Auditoria Ambiental do ministério em questão.
(Pedro Martins Barata)
*

Começam agora a vir ao debate público, porque nalguns casos já eram públicas, algumas informações que merecem rápido esclarecimento, como sejam as contidas nesta nota de Jorge Palinhos no Bloque de Esquerda. Esta nota e muitas outras que estão a parecer só acentuam a necessidade de tudo o que há para esclarecer ser esclarecido, o mais depressa possível. Digo isto, sem suspeita, e sem esquecer que o esclarecimento total implica vários governos, do PS e do PSD.

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota COLECCIONADOR DE EFEMERA: FRAGMENTOS DE PORTUGAL NO SEU MELHOR.

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COISAS SIMPLES


Prato de porcelana de Delft com o cometa Halley, 1910

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EARLY MORNING BLOGS 566

Oh! como se me alonga, de ano em ano

Oh! como se me alonga, de ano em ano,
a peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
este meu breve e vão discurso humano!

Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
perde-se-me um remédio, que inda tinha;
se por experiência se adivinha,
qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem que não se alcança;
no meio do caminho me falece,
mil vezes caio, e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,
se os olhos ergo a ver se inda parece,
da vista se me perde e da esperança.


(Luís de Camões)

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Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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