ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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7.8.05
OLHARES
Cito de Gustavo Rubim no Casmurro: Resposta a JPP, 70 anos antes «A tradição da nossa cultura foi sempre colocar-nos dentro dos olhos dos outros, quanto mais Outro os outros forem. E num certo sentido este é um sinal da vitalidade da cultura ocidental [...]» J. Pacheco Pereira (Público e Abrupto, 2005) Responde Ruth Benedict, antropóloga: «O branco, esse, tem tido uma experiência diferente. Nunca, porventura, terá visto um homem de outra civilização, a não ser que o homem de outra civilização já esteja europeizado. Se viajou, muito provavelmente fê-lo sem nunca ter ficado fora de um hotel cosmopolita. Pouco sabe de quaisquer maneiras de viver que não sejam as suas. A uniformidade de costumes, de pontos de vista, que vê em volta de si parecem-lhe suficientemente convincentes, e esconde das suas vistas o facto de que se trata, afinal, de um acidente histórico. Aceita sem mais complicações a equivalência da natureza humana e dos seus próprios padrões de cultura.» Padrões de Cultura, p.18, tradução de Alberto Candeias (original: Patterns of Culture, 1934) Fim de citação. Ruth Benedict é nova-iorquina, branca, aluna de Vassar e de Columbia, e, entre outras coisas, participou no esforço de guerra (anti-japonês) dos americanos estudando a "cultura" japonesa. O que ela escreve na citação, como aliás todo o seu livro Padrões de Cultura, parece-me um típico exemplo de "tradição da nossa cultura [que] foi sempre colocar-nos dentro dos olhos dos outros, quanto mais Outro os outros forem." Exactamente o que eu queria dizer. Desconheço qualquer observação antropológica do mesmo teor, sobre os seus, provinda de qualquer outra tradição cultural (muçulmana, budista, animista, etc.), e que não possa ser suspeita de "ocidentalizada". Não me refiro obviamente apenas a frases avulsas de tolerância e compreensão face aos "bárbaros" (hoje diz-se os "cruzados"), refiro-me a uma visão desapiedada, exterior, com os olhos do Outro, sobre "nós", relativista culturalmente como os Padrões de Cultura, que tenha tido a influência sobre essas sociedades e culturas que olhares como o de Benedict, Mead, Levi-Strauss e outros tiveram sobre a nossa. Groucho Marx também é um excelente exemplo. A meu favor. (url)
© José Pacheco Pereira
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