ABRUPTO

31.10.05


BIBLIOTECA


António Leal, Biblioteca da M. 17

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INTENDÊNCIA

Actualizados os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO com a publicação de todas as fotografias (inéditas?) relativas aos fuzilamentos de Llerena e de outros eventos da guerra civil espanhola. Depois da publicação, em Março de 2005, da primeira versão desta nota, recebi vários pedidos vindos de Espanha e em particular da região de Llerena, incluindo da Asociación para la Recuperación de la Memoria Histórica de Extremadura, que trabalha na identificação de cadáveres nas fossas comuns encontradas nos últimos anos. Daí a publicação de toda a série de fotografias, quinze no total, com algumas duplicações, esperando que sirvam para identificar pessoas e eventos de uma das grandes tragédias do século XX.

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TRISTE



É triste ver o desespero de causa que leva Mário Soares a levantar a questão da pensão de Cavaco. É a mais desapropriada das questões, em particular, vinda de Mário Soares que se pensava estar acima deste tipo de ataques rasteiros, que nele tem o precedente da campanha contra a situação conjugal de Sá Carneiro. É exactamente o mesmo tipo de tiros desesperados, alimentando a nossa inveja socializada de país pobre, que normalmente se voltam contra quem os dispara. O problema é que no caminho deixam lama por todo o lado, atingindo sempre mais quem mais próximo está dos defeitos típicos do nosso sistema político e do seu crónico desprestígio. E isso, queira-se ou não, seja injusto ou não, será sempre mais fácil de cair em cima de um político como Soares do que de um político como Cavaco.

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA



As paisagens de Edward Burtynsky no Washington Post.

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VER A NOITE


Não foi bem assim, mas quase. Lá estava ele, solitário e agressivo, espreitando sobre as nuvens, velho Deus da guerra, portador do tumulto, dizendo-nos: "não vos deixarei nunca".

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COISAS COMPLICADAS


Nan Goldin, Window

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EARLY MORNING BLOGS 635

Aló pola mañanciña
subo enriba dos outeiros
lixeiriña, lixeiriña.

Como unha craba lixeira,
para oir das campaniñas
a batalada primeira.

A primeira da alborada
que me traen os airiños
por me ver máis consolada.

Por me ver menos chorosa,
nas suas alas ma traen
rebuldeira e queixumbrosa.

Queixumbrosa e retembrando
por antre verde espesura,
por antre verde arborado.

E pola verde pradeira,
por riba da veiga llana,
rebuldeira e rebuldeira.

(Rosalia de Castro)

*

Bom dia, "enriba dos outeiros"!

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30.10.05


COISAS SIMPLES / AR PURO


Gustave Caillebotte

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EARLY MORNING BLOGS 634

Cada estrela, o seu diamante;
cada nube, branca pruma;
triste a lúa marcha diante.

Diante marcha crarexando
veigas, prados, montes, ríos,
onde o día vai faltando.

Falta o día e noite escura
baixa, baixa, pouco a pouco,
por montañas de verdura.

De verdor e de follaxe,
salpicada de fontiñas
baixo a sombra do ramaxe.

Do ramaxe donde cantan
paxariños piadores,
que ca aurora se levantan.

Que ca noite se adormecen
para que canten os grilos
que cas sombras aparecen.

(Rosalia de Castro)

*

Bom dia!

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UM RETRATO DA NOSSA ELITE DO PODER

Somem-se os nomes das Comissões de Honra de Soares e Cavaco, e dá mais de mil nomes, que são um retrato de quem manda em Portugal. Do establishment. Do "quem é quem". Somem-se mais meia dúzia de nomes, mais os militares no activo, juízes e embaixadores, alguns jornalistas, mais a hierarquia da Igreja, e está toda a nossa elite. Quem manda.

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29.10.05


BIBLIOTECA


António Leal, Biblioteca da M. 16

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
MONTE PILAR, PENAMAIOR (PAÇOS DE FERREIRA)




O vento outonal agitava a espaços as folhas dos eucaliptos, alguns deles infelizmente despidos, pois assolados por queimadas que consumiram muito do país este verão. Uma névoa rasteira e leve encobria momentâneamente o sol e estendia-se pelos vales até se perder pela linha do horizonte. Bem lá mais para a frente, para além dos vales, situa-se o Concelho da Maia e do Porto. Em dia de céu limpo até as chaminés das refinarias se avistam.

(Vítor Alexandre Leal)

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OUVINDO MEREDITH MONK, VOLCANO SONGS
E A SUITE LÍRICA DE ALBAN BERG PELO QUARTETO KRONOS E DAWN UPSHAW



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COISAS DA SÁBADO: ORÇAMENTO E OPOSIÇÃO



O PSD irá provavelmente votar contra este orçamento, mas não escapará à dificuldade de justificar esse voto. Porque, estando as coisas como estão, não há muitas razões para o PSD votar contra um orçamento que contempla uma maioria de medidas que era suposto o PSD, se estivesse no governo, tentar realizar. O PSD pode dizer que o equilíbrio orçamental é mais conseguido pelo aumento (virtual e imaginativo, nalguns casos) da receita do que pelos cortes na despesa. Mas duvido que, se o PSD estivesse no governo, fosse capaz de ir mais longe do que o PS nos cortes da despesa pública. Depois, há mil e umas razões avulsas, todas reais, para criticar o orçamento, a insistência nos “grandes investimentos” (ainda que adiada pela encomenda de mais estudos…), a teimosia de não fazer pagar as SCUTs pelos utentes, e outras opções erradas. Mas não basta, porque são claramente pormenores.

Ora eu penso que este orçamento devia ser recusado por toda uma outra série de razões, o problema é que a oposição social-democrata não as assume como suas e por isso tem dificuldade em assumir uma alteridade que lhe permitisse estar à vontade na recusa do orçamento socialista. O adjectivo que escolhi ,“socialista”, não é meramente descritivo, é o socialismo em que vivemos impregnados, e que hoje se chama “estado-providência”, ou “modelo social europeu”, que nos condena à mediocridade e à gestão no fio da navalha da cada vez menos riqueza produzida.

O orçamento devia ser recusado porque precisamos vitalmente de outra coisa, precisamos de mais liberalismo, de mais liberdade económica, de mais espírito empresarial. Sem mais “crise” (das que falava Schumpeter) e sem mais “boa” insegurança, não somos capazes de mudar. O estado tudo faz para nos poupar a essa insegurança, e, como toda a Europa, afundamo-nos, pouco a pouco, na manutenção, geracionalmente egoísta, de um modelo social insustentável a prazo e que nos condena a definhar. É verdade que duvido que hoje alguém consiga ganhar uma eleição propondo o fim do conforto providencial, mas isso remete para a perda de margem de manobra democrática, face ao crescendo demagógico. E nem sequer vale a pena apelar á racionalidade, porque ela, a não ser para meia dúzia de iluminados normalmente sem fome e com emprego certo, aconselha a ter a pomba na mão a troca-la pelas duas que estão a voar. Estamos de facto, um pouco tramados, mas se calhar foi sempre assim na história.

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COISAS SIMPLES / COISAS COMPLICADAS


William Eggleston, Untitled (Cloud in Sky, California)

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EARLY MORNING BLOGS 633

October (section I)



Is it winter again, is it cold again,
didn't Frank just slip on the ice,
didn't he heal, weren't the spring seeds planted

didn't the night end,
didn't the melting ice
flood the narrow gutters

wasn't my body
rescued, wasn't it safe

didn't the scar form, invisible
above the injury

terror and cold,
didn't they just end, wasn't the back garden
harrowed and planted--

I remember how the earth felt, red and dense,
in stiff rows, weren't the seeds planted,
didn't vines climb the south wall

I can't hear your voice
for the wind's cries, whistling over the bare ground

I no longer care
what sound it makes

when was I silenced, when did it first seem
pointless to describe that sound

what it sounds like can't change what it is--

didn't the night end, wasn't the earth
safe when it was planted

didn't we plant the seeds,
weren't we necessary to the earth,

the vines, were they harvested?


(Louise Glück)

*

Bom dia! Adeus Outubro!

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BIBLIOTECA


António Leal, Biblioteca da M. 15

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28.10.05


PARA A HISTÓRIA DA PROPAGANDA NEGRA E CINZENTA E DA DESINFORMAÇÃO EM PORTUGAL

Este é o papel falso que foi distribuído em vários bairros de Lisboa pouco antes das eleições autárquicas. O seu efeito parece ter sido nulo, mas não há meios para o saber com certeza.

O facto de ter sido produzido, num papel de qualidade, bastante espesso e com cuidadoso trabalho de montagem na utilização falsa dos símbolos da candidatura de Carmona Rodrigues, mostra que não foi obra de amadores. A amplitude da sua distribuição também revela ser fruto de uma actividade minimamente organizada.

Nas últimas eleições não foi um caso único. Na área metropolitana de Lisboa, deu-se um outro caso, em Oeiras, com um papel anónimo contra Teresa Zambujo. É provável que outros casos tenham existido por todo o país.

Nas últimas legislativas, para além da história contra Sócrates, publicada num obscuro jornal brasileiro, oportunamente lido pelo Crime que a reproduziu na capa, houve também uma campanha de grafitis nos cartazes do PS, que também só poderia ter sido organizada, de tão sistemática que era. Ninguém individualmente anda pela cidade toda e, numa ou duas noites, escreve em várias dezenas de cartazes.

Houve também a bola vermelha de palhaço nos narizes dos candidatos, - aliás não de todos -, mas esta iniciativa parece de outra natureza.

Todos estes casos revelam que há gente capaz de tudo para beneficiar os seus candidatos, atacando os seus adversários, e que se move na sombra, mesmo nos partidos. Para além de me parecer ser evidente que se trata de crimes, os quais ninguém investiga que se saiba.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MUITO, MUITO IMPORTANTE...



é acompanhar a acusação de I. Lewis Libby, nº 3 da Administração Bush (assessor de Dick Cheney), por perjúrio e prestação de falsos testemunhos. É um com certo prazer que se vê o Estado de Direito a funcionar, e com amargura que observamos a incompetência (...) do nosso Ministério Público. Acompanhar este caso é aprender com os melhores. E para quem, como eu, apoio a intervenção no Iraque, saber até que ponto as informações foram manipuladas. Só mais uma coisa, Lewis Libby é suspeito de ter praticado um crime muito mais grave (divulgar o nome de uma agente secreta da CIA), mas os procuradores preferiram ir para o simples perjúrio porque é muito mais fácil de provar e lá, nesses bárbaros países anglo-saxónicos, mentir sob juramento é mesmo uma coisa séria.

(João Lopes)

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DESLEIXO



O afã do Ministro das Obras Públicas e do Primeiro-Ministro em anunciar com tanta antecedência (normalmente a informação pública de qualquer outro anúncio governamental é feita apenas um ou dois dias antes) que, pela enésima vez, se vai "fazer a OTA e o TGV", mostra que qualquer coisa não está bem. Aqui, nos blogues, sabemos bem o quê: uma exigência a que se tentou fazer orelhas moucas (a divulgação em linha dos estudos realizados para suportar a decisão governamental), acabou por ter que ser respondida à força. O Ministro das Obras Públicas, notoriamente irritado por ter que dar explicações, e por desvendar uma pequena ponta do véu sobre uma decisão estritamente política e com pouca sustentação actualizada, acabou por dizer que, em Outubro, divulgaria os estudos existentes, setenta, pelos vistos.

Depois seguiu-se o silêncio, e agora, mais uma vez, o governo dá o péssimo exemplo de desleixo ao não cumprir um prazo que ele próprio estabeleceu. É que o governo já percebeu várias coisas que o incomodam: uma, é que se abriu um precedente para a exigência de divulgação dos estudos técnicos associados a uma decisão política, que vai valer para outros casos; outra, é que se vão ver as fragilidades e a negligência com que se decidiu primeiro e se vai estudar depois. O governo, depois de dizer que tinha tudo estudado, que já viera tudo estudado dos outros governos, e que não era necessário actualizar os estudos, está agora a fazê-los à pressão, não para dizer "sim" ou "não", porque já não tem essa liberdade, mas para serem usados para propaganda do "sim" e para serem ocultados, caso apontem para o "não".

É, a democracia tem destas complicações. Ainda bem.

Esperemos agora pela nova data do desleixo.

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BIBLIOTECA


António Leal, Biblioteca da M. 14

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA



Excelente notícia no Público: "O Parlamento da Galiza aprovou, por unanimidade, uma declaração institucional de apoio à candidatura das tradições orais galaico-portuguesas a Património Imaterial da UNESCO." Eu sou pouco regionalista, mesmo nada, mas esta é a única "região" a que me sinto pertencer. Não me esqueço da emoção com que ouvi pela primeira vez, há muitos anos, falar galego, o nosso português do Norte, numa passagem clandestina da fronteira. Era a palavra certa, na língua certa, no momento certo. Na língua de Rosalia.

*

Interessante, muito interessante. No Diário de Notícias, uma notícia para ilustrar o provérbio de que "mais depressa se apanha um mentiroso ..." :
"A possibilidade de Paulo Portas se perfilar como candidato à Presidência da República foi levada muito a sério por alguns dos nomes que mais de perto o acompanharam na anterior direcção do CDS/PP. Prova disso foi a realização de uma sondagem sobre eleições presidenciais, que incluía o nome do ex-líder centrista. O estudo, feito pela empresa Eurosondagem e depositado na Alta Autoridade para a Comunicação Social, foi pedido em nome de ex-secretários-gerais do CDS - referindo os nomes dos actuais deputados Pedro Mota Soares e João Rebelo -, mas o DN apurou que a iniciativa partiu de um universo mais abrangente de nomes próximos de Portas."
*

Não se percebe por que é que no Diário de Notícias em linha alguns artigos de opinião aparecem na secção "Editorial" e não na "Opinião". É um erro que deve ser corrigido, porque senão um dos editoriais de hoje é escrito por Jorge Coelho e ainda não chegamos lá.

*

No bloc mais francês que a França, La Republique des Livres de Assouline, novidades sobre o Divino Marquês. Um apontamento de Sade lá citado:

"1. Il y avait à Athènes une loi qui séparait l'homme de l'opinion qu'il annonçait, et l'auteur de l'ouvrage qu'il publiait.

2. Galilée fut persécuté pour avoir découvert les secrets du ciel; des ignorants furent ses bourreaux. Je le suis pour avoir révélé les mystères de la conscience des hommes; et des sots me tyrannisent. L'esprit, la science et l'imagination seront toujours le désespoir des gens stupides."

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COISAS SIMPLES


Duane Michals, Cavafy Cheats Playing Strip Poker

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EARLY MORNING BLOGS 632

Now Winter Nights Enlarge

Now winter nights enlarge
The number of their houres ;
And clouds their stormes discharge
Upon the ayrie towres.
Let now the chimneys blaze
And cups o'erflow with wine,
Let well-tun'd words amaze
With harmonie diuine.
Now yellow waxen lights
Shall waite on hunny Loue
While youthfull Revels, Masks, and Courtly sights,
Sleepes leaden spels remove.

This time doth well dispence
With louers long discourse ;
Much speech hath some defence,
Though beauty no remorse.
All doe not all things well ;
Some measures comely tread ;
Some knotted Ridles tell ;
Some Poems smoothly read.
The Summer hath his ioyes,
And Winter his delights ;
Though Love and all his pleasures are but toyes,
They shorten tedious nights

(Thomas Campion)

*

Bom dia, Inverno!

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BIBLIOTECA


António Leal, Biblioteca da M. 13

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27.10.05


TEMAS PRESIDENCIAIS ENTRE SOARES E CAVACO

(No Público de 27/10/2005)



Discursos presidenciais – São todos muito pobres porque são modelados pela enunciação de “propósitos”, “desígnios”, “ideias para Portugal”, tão vagos, genéricos e retóricos como os slogans de campanha. É preciso conhecer muito bem os candidatos e perceber as nuances, saber quais são os não-ditos, para entender a lógica das candidaturas. Hoje a retórica está tão estabelecida no discurso político, que é cada vez maior o seu efeito de ocultação. O que salva estas eleições do vazio discursivo, é que os candidatos principais são bem conhecidos do eleitorado, e por isso são mais facilmente “lidos” nas suas efectivas intenções.

“O que nos distingue? Estilo e conteúdo” - Disse Mário Soares e é verdade. Só que quer o estilo, quer o conteúdo, já lá estavam antes da campanha. Esta é tão dominada por convenções, que é preciso escavar mais fundo para perceber as diferenças. A pose e encenação valem hoje mais do que os discursos, fazem “falar” a coreografia dos actos de apresentação. São eles que temos que analisar para ir mais longe.

Encenações - Em nenhum momento da campanha houve uma pura encenação autónoma, e quer Soares, quer Cavaco, cada um já se constrói face ao outro: um tem apoiantes na sala, o outro só os mandatários, um entrega o cartão, o outro só entrega depois de ganhar as eleições, um aceita perguntas á cabeça, outro recusa-as, para depois as aceitar quando verifica que o adversário o faz, um intitula-se de “político profissional”, o outro recusa o epíteto, um afirma-se independente dos partidos, o outro nega a condição de “suprapartidário”. Há todo um diálogo coreográfico, como se ambos “falassem” por estes gestos quer entre si, quer connosco. E é aqui que estão efectivamente a falar.

Pose – Toda a pose é uma metáfora programática e de poder. Cada um coloca-se diante de um Portugal imaginário, feito de densidade significativa, escolhendo lugares, posturas, silêncios e falas. A solidão desejada de Cavaco, a sua pose ritualistica, a sua relação com os símbolos do poder, as bandeiras alinhadas, a perfeição do cenário, o controlo do espaço à sua volta, onde só entra a esposa, pretendem acentuar a ruptura do exercício do poder com os actos quotidianos, valorizar o sentido de estado da função presidencial.
Soares, pelo contrário, chega normalmente a uma porta de hotel, conversa, acelera e recua, olha para trás, acompanha um jornalista com quem conversa, passeia mais do que anda. Soares é mais terra à terra, mais natural, menos convencional, domina melhor o espaço à sua volta, por isso sente menos necessidade de o organizar. Onde Cavaco está contido e tenso, Soares está à vontade, é mais corporal nos gestos, a qualquer momento espera-se que dê o braço a um amigo. Nesta diferença ambos são naturais, embora depois a encenação acentue artificialmente o que os separa. Soares, a quem Cavaco irrita, tende a ainda mais acentuar a sua liberdade corporal, a dizer o que lhe apetece, a fazer o que lhe apetece. Cavaco não se pode dar a esse luxo, nem se sentiria bem nele.

Soares é um típico membro de uma elite, preparado por toda a sua vida a estar naturalmente próximo do poder, mesmo quando, antes do 25 de Abril, era perseguido. Cavaco forçou a sua entrada numa elite que não o reconhece como um dos deles, que o verá sempre, como Soares o faz, como um parvenu. Só que, quando Cavaco tem poder, tem mais poder e quando Soares o tem, tem menos.

Palavras contidas, palavras distraídas – Cavaco falou pouco, Soares falou muito mais e falou de mais. O valor da palavra é aliás diferente em ambos. Cavaco valoriza mais o gesto, a postura, a locução severa e escassa. Sente-se menos à vontade do que Soares na fala, o que o leva acentuar a sua característica de acção.
No actual sistema político isso tem vantagens e inconvenientes. Por um lado, valoriza na sua imagem o papel de realizador, de “trabalho” (a frase “deixem-nos trabalhar”, ou a metáfora do “bom aluno” só podiam ter vindo de Cavaco e nunca de Soares), por outro torna mais importante a autoridade do que diz. Falando pouco e escrevendo pouco, obtêm maior efeito das suas palavras, e os seus escritos pesam mais (Soares escreve muito mais do que Cavaco, mas os seus artigos raramente tem impacto).
O que faz Cavaco é um procedimento adequado em períodos longos, em que a raridade das intervenções torna-as escutadas e influentes. Mas numa campanha eleitoral, com muitas situações em que o controlo da palavra não existe ou é partilhado, como nos debates, é um inconveniente.
Com Soares é o contrário. Soares é um grande conversador nato, um mestre da conversa mais do que do discurso, por isso prefere como terreno o maior número possível de debates. Terá para eles uma só condição, evitar que sejam demasiado específicos ou técnicos, dado que Soares evitará o confronto entre saberes específicos, como seja a economia, que, quer se queira quer não, entrará sempre nos debates como questão global. Soares insistirá por isso em debates colectivos que o resguardam mais.

Linha de ataque – Uma linha de ataque vinda da candidatura de Soares é o combate ao pretendido “presidencialismo” da candidatura de Cavaco. Duvido que resulte, até porque não tem objecto. Cavaco nunca se revelou “presidencialista”, e a maioria dos seus apoiantes nunca defendeu com a sua candidatura qualquer reforço dos poderes presidenciais. As excepções são excepções ou são exercícios de má fé destinados a comprometer o candidato. Quando Soares ataca uma direita “batida nas urnas”, com um “ messianismo revanchista” que pretende uma “subversão do sistema presidencial” – as palavras mais duras e politizadas da sua intervenção programática - pretende conjurar um fantasma, mais do que o esconjurar.

Linha de ataque 2 – Uma outra linha de ataque de Soares a Cavaco é antiga: Cavaco não teria passado de luta contra a ditadura. Foi avançada por António Tabucchi, em resposta a um artigo que escrevi no Público , e foi retomada esta semana por Medeiros Ferreira no Diário de Notícias:

Com efeito, o professor, embora não tenha sido um fura-greves como estudante, nos anos 60, resignou-se perante a ditadura, e não se conhecem atitudes suas contra o regime salazarista e marcelista. (…) Não foi um bom começo para quem quer ser presidente da República em democracia, (…) além de demonstrar fraco entendimento sobre os decisivos momentos históricos do seu país. “

Também me parece que a candidatura de Soares não irá longe por aqui. Caso tomássemos a sério este critério de exclusão, António Guterres, que também não tem qualquer passado de luta contra o regime não podia ter sido Primeiro-Ministro, e o mesmo acontecia com Maria de Lourdes Pintasilgo. E, tomando à letra este “argumento”, por maioria de razão, estariam banidos da vida pública portuguesa muitos políticos como o socialista Veiga Simão ou o centrista Adriano Moreira, que foram ministros de Salazar e Marcelo.

(Continua para a semana, falando-se de partidos e candidatos anti-partidos, independentes e “dependentes”, Soares e o PS, Cavaco e o PSD, a comunicação social, Europa, outras linhas de ataque, e outras coisas mais).

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BIBLIOFILIA:
NOS MONTES DE LIVROS E REVISTAS QUE NEM SEQUER OS ALFARRABISTAS SEPARAM




Trata-se de um Atlas minúsculo (reproduzido aqui quase em tamanho real), muito provavelmente um mostruário de mapas de parede para as escolas. O mapa político da Europa é do século XIX, com a Polónia ainda integrada na Rússia.


Uma pilha da Tweentieth Century, uma velha revista inglesa fundada em 1877, com as melhores das colaborações, pagas a 5 guinéus por 1000 palavras por volta de 1960. A outra, de que encontrei meia dúzia de números, é Le Carillon Illustré, publicada entre 1896 e os primeiros anos do século XX. Tem um formato muito pequeno, pouco comum, e tem críticas de teatro e contos.

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA



No Village Voice, as primeiras comemorações do aniversário do jornal. Norman Mailer sobre a Village (o bairro), escreve o mesmo que se podia dizer de alguma blogosfera:

"Greenwich Village is one of the bitter provinces—it abounds in snobs and critics. That many of you are frustrated in your ambitions, and undernourished in your pleasures, only makes you more venomous. Quite rightly. If found myself in your position I would not be charitable either. Nevertheless, given your general animus to those more talented than yourselves, the only way I see myself becoming one of the cherished traditions of the Village is to be actively disliked each week."

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AR PURO / AR LAVADO


Feodor Vasilyev

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EARLY MORNING BLOGS 631

Uns


Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
o dia, porque és ele.


(Ricardo Reis)

*

Bom dia!

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25.10.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
MAIS BIBLIOTECAS



Ainda sobre bibliotecas, ou melhor, sobre fotografias de bibliotecas, aqui vai uma montagem feita com fotografias tiradas na recentemente inaugurada (e belíssima) biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, na Rua dos Bragas. A montagem foi feita para ilustrar o post "A nossa biblioteca e outras bibliotecas", que inclui um excerto d' A Cidade e as Serras, no qual Zé Fernando se deslumbra com a biblioteca "do seu amigo Jacinto".

(Maria Raquel Guimarães)



1- Biblioteca Pública, em Praga (República Checa), Junho de 2000.

2- Árvore de Livros em Madrid (29/Dezembro/2003).

As duas torres, em Praga e Madrid, impressionavam. Sobretudo pela quantidade de livros "armados".

(Amílcar Lopes António)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
VOZES VINDAS DAS GREVES



Sou um dos funcionários ( Auxiliar da PJ) que optou por fazer greve, tendo sido uma decisão muito dificil para mim. Desde que começaram as mudanças na Adm. Pública, que nunca foram explicadas internamente, sinto que estou perante um organismo que no relacionamento com os funcionários, é rigído e sem diálogo. Por exemplo, o chefe do meu serviço, vem á minha sala duas vezes por ano. Por vezes considero que esta necessidade de diálogo é um pecha socialista minha. O que interessa é seguir ordens mesmo que não sejam as melhores.

Num trabalho intensivo que abarca áreas terríveis da faceta humana, tento sempre que a minha parte seja feita de modo rápido e eficaz, não apenas por brio; mas sei que as pessoas que constam dos processos, necessitam que a justiça seja cumprida. Neste trabalho o tempo realmente conta para as pessoas , para as vítimas/ofendidos em especial.

No Público de hoje refere-se que a Directoria Nacional indicou que 14 por cento dos funcionários de apoio fizeram greve. No meu local de trabalho a percentagem é muito maior. Os restantes tem as suas razões, tal como, terem nascido submissos com o gene do "Receio não se sabe do quê", que é parte do DNA dos Portugueses; por esperarem uma promoção que talvez nunca chegue,etc.

(Anónimo identificado)

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BIBLIOTECA



António Leal, Biblioteca da M. 12

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EARLY MORNING BLOGS 630

Death The Barber


Of death
the barber
the barber
talked to me

cutting my
life with
sleep to trim
my hair—

It’s just
a moment
he said, we die
every night—

And of
the newest
ways to grow
hair on

bald death—
I told him
of the quartz
lamp

and of old men
with third
sets of teeth
to the cue

of an old man
who said
at the door—
Sunshine today!

for which
death shaves
him twice
a week


(William Carlos Williams)

*

Bom dia!

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24.10.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
"ISTO É TUDO POLÍTICA!"




Acerca da proibição do comércio de aves em mercados e feiras, passo a citar alguns excertos da entrevista de uma repórter da SIC Notícias a uma senhora, esta manhã, na feira de Espinho, que saía em prol dos comerciantes de aves:

(tom exaltado)

Se não concordo?!?!?! Claro que não concordo!!!! Olhe, sabe, isto é tudo política, só política!! Quando foi das ‘bacas’ loucas também diziam que vinha isto, e aquilo, eu sei lá, e foi o que se viu! Também diziam que vinha um vírus nas meias e roupas dos “chinos” que nos matava a todos e andamos aqui, não nos aconteceu mal nenhum!

(tom ainda mais exaltado)

(…) “e não tenho medo nenhum! E olhe, tenho mais de cem galinhas, lá em casa, e vou continuar a comer e a comprar! E se morrer das galinhas, olhe, não morro de outra coisa qualquer!

(Alexandre Cunha)

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: BOATOS E DESINFORMAÇÃO.

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LENDO / VENDO BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÃO E OUTROS MEDIA



Com o Google na defesa do Google Print.

Na Prospect a favor e contra Chomsky, o número um dos intelectuais "públicos", a julgar por uma reveladora sondagem sobre o estado do "público".

No Super Mário - que, diga-se de passagem, é até hoje a iniciativa com maior sucesso da candidatura Soares, o que é dizer muito - uma leitora do Abrupto (Maria Baldinho) recenseou: "Admito erro de contagem, mas desde o dia 19 de Outubro, data em que foi iniciado, o blog Super Mário tem 79 entradas da palavra "Cavaco" e apenas 39 de "Soares", isto sem contar com todo o rico vocabulário com origem em "Cavaco", como cavaquismo, cavacologia, cavaquiana e cavacóloga. E (...) até tem uma fotografia de Cavaco Silva (!) e nenhuma do Super Mário!"

Ainda não se leu nos blogues, mas à medida que o mês de Outubro vai chegando ao fim, vai-se com certeza voltar a ler a cívica exigência de divulgação em linha dos estudos da OTA. Será que um ministério, ou melhor, dois, o das Obras Públicas e do da Economia, não são capazes de cumprir um prazo que eles próprios estabeleceram para, com os seus gigantescos recursos, publicarem um conjunto de estudos que já estão (já estão, não estão?) em formato electrónico?

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ROSTOS / RESTOS 5
(De uma pilha de fotografias à venda num alfarrabista)




Fardas, medalhas, honras, cenários.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
"
PELA PATRIALOTAR CONTRE AOS CANHOIS MARXAR MARXAR!"


(De um leitor.)


*

A imagem publicada sob o título "PELA PATRIALOTAR CONTRE AOS CANHOIS MARXAR MARXAR!" circula há anos pela internet. Tem todo o ar de ser apócrifa.

(António Cardoso da Conceição)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
LIVROS VOANDO




Como tem andado há algum tempo a versar o tema 'biblioteca' lembrei-me de lhe dar a conhecer uma instalação insólita, que a biblioteca central da Univ da California, Berkeley se lembrou de patrocinar. Mando-lhe duas fotos em anexo tiradas com o telemóvel. Pode tambem encontrar aqui uma breve notícia.

(Rui Esteves)

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AR PURO


Feodor Vasilyev

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EARLY MORNING BLOGS 629

Cando penso que te fuches,
negra sombra que me asombras,
ó pé dos meus cabezales
tornas facéndome mofa.

Cando maxino que es ida,
no mesmo sol te me amostras,
i eres a estrela que brila,
i eres o vento que zoa.

Si cantan, es ti que cantas,
si choran, es ti que choras,
i es o marmurio do río
i es a noite i es a aurora.

En todo estás e ti es todo,
pra min i en min mesma moras,
nin me abandonarás nunca,
sombra que sempre me asombras.


(Rosalia de Castro)

*

Bom dia!

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22.10.05


ROSTOS / RESTOS 4
(De uma pilha de fotografias à venda num alfarrabista)


Ódios. Não é só nos filmes: alguém recortou esta fotografia, com esforço porque a cartolina onde está colada é muito dura, eliminando pelo menos duas figuras, ambas masculinas. Amores, amizades quebradas, mortes que não se querem lembrar, infidelidades da memória. Ficaram dois pés de um ausente.

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COISAS DA SÁBADO:
ESTAMOS VELHOS, MAIS VALE NÃO DISFARÇAR



Existe um blogue “não oficial de apoio à candidatura de Mário Soares à Presidência da República” chamado Super Mário . A coisa não deixa de ter graça e ser …infinitamente reveladora. É uma tentativa de reeditar o “Soares é fixe” de 1985, dando o ar primaveril e de juventude, que ninguém é capaz de descortinar na candidatura. Suspeito até que o candidato é o mais novo de todos eles, porque depois é tudo como aqueles “jovens” do Konsomol que, com quarenta anos, “representavam” as juventudes comunistas soviéticas.

O boneco é muito juvenil, o lettering a imitar os jogos de consola, mas já muito moderadamente porque o bom gosto grave impede de ir mais longe. Sugeria aliás que fizessem o “Super Mário” correr aos saltinhos numa tira por baixo, em vez de o colocar estático ao lado. A recolher bolinhas e a coleccionar estrelinhas, ou, porque não, votinhos e a gritar coisas de italiano de pizaria. E a pisar o nefando Alegre, amador de peixe grelhado e não de pizas, para no último dia, da última hora, encontrar no Passeio da Avenida a incarnação do mal, o seco Cavaco.

Depois é tudo “oficial” a começar pelo “não oficial”. Fosse o blogue uma iniciativa de jovens, nunca lhes ocorreria o pomposo “não oficial” e fariam as maiores aleivosias à candidatura … divertindo-se. Mas não, é tudo gente séria e respeitável, que começa logo por nos explicar: “no nome do blog há uma ironia e uma homenagem. Uma ironia porque Soares não é, evidentemente, nenhum super-herói”, com medo de parecer politicamente incorrecta.

E não é que o imperialismo americano está demasiado presente... No Blogspot? Sediado nos EUA, o Grande Satã? Depois escrevem “blog” e não “bloc” como mandam os franceses, o pilar anti-americano da Europa, e nem sequer aportuguesam para “blogue”. E depois, há lá alguma coisa mais culturalmente globalizadora do que os jogos da Sony, da Nintendo, da Playstation, da X-Box? Vá lá, acertem ao menos no juvenil disfarce.

Boa sorte, Super Mário, cuidado com os alçapões!

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ROSTOS / RESTOS 3
(De uma pilha de fotografias à venda num alfarrabista)



Os de cima


Os de baixo

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: BOATOS E DESINFORMAÇÃO



De onde surge o boato (chamo-o de boato precisamente por desconhecer a sua veracidade) que circula na internet, que indica o nome do candidato à presidência Mário Soares como proprietário dos terrenos na Ota onde, presumivelmente, se construirá o famoso aeroporto?

O texto que circula indica a autoria de Miguel Sousa Tavares, o que é absolutamente falso. Sousa Tavares escreveu um artigo para o Público intitulado " Um crime na Ota", no qual não consta nenhuma "História de dois aeroportos". Este é o título que tem passado de mail em mail e que contém a tal revelação sórdida sobre a pertença dos terrenos da Ota.

Como trabalho num ambiente em que todos os colegas têm acesso à internet e onde há espaço para comentar informação, este tem sido um ponto de polémica. Não faltam colegas prontos a acreditar em tudo o que leêm mas, como toda esta história me parece tão perigosa e sinistra, resolvi apelar para quem tem a isenção necessária (talvez não toda a informação, mas esta é apenas uma tentativa) para apontar alguma luz nesta direcção.

(Susana Cunha)

*

Como muitas vezes acontece, o módulo original é genuíno (o texto sobre os aeroportos, ver explicação no Blasfémias, a que depois se acrescenta o boato e a desinformação (a acusação a Soares, havendo variantes do mesmo texto envolvendo outros dirigentes políticos). Este é um exemplo entre muitos de uma prática comum na rede (mais nos e-mail do que nos blogues) e nas redacções dos jornais, só que, nestas últimas, o mecanismo da edição impede, por regra, a sua publicação. Em períodos de luta política, este tipo de boatos intensificam-se, e associam-se ao recrudescimento de intrigas com origem em fontes anónimas. Aqui, jornalista prevenido vale por uma redacção inteira, embora as intrigas “passem” bem na imprensa, e os boatos não. Do mal, o menos.

Quanto aos boatos, há várias escolas de pensamento sobre o modo de os defrontar. Penso que devem ser tratados caso a caso, como excepções à regra de os ignorar. No caso de boatos sobre património, como é este caso, um esclarecimento rápido e incisivo pode ajudar a combater o boato. Mas, insisto, não há regra estabelecida.

*
"Assim começam os boatos: Faz-se um resumo do estudo apresentado por Rui Rodrigues em 21 de Março de 2005, acrescenta-se "por Miguel Sousa Tavares" e termina com "dono dos terrenos da Ota... Pois é... (!) o Dr. Mário Soares". Autoria do Miguel Sousa Tavares sobre este artigo, não existe, apenas do título. Se o Dr. Mário Soares é dono, ou não? Também não vem mencionado em nenhum lado. A única verdade são os números apresentados sobre os dois aeroportos e retirados do estudo apresentado com autoria de Rui Rodrigues."

(Eduardo Proença)

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BIBLIOTECA



António Leal, Biblioteca da M. 11

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O DISCURSO DO PAI NATAL





Que o actual comunismo chinês viesse ameaçar de forma tão assustadora o actual socialismo europeu é algo que quase ninguém poderia imaginar. O "medo" da invasão dos produtos chineses nos mercados europeus com o consequente fecho de muitas indústrias, aumento do desemprego e instabilidade social (que agora se designa por precaridade no trabalho) é algo de muito presente nos discurso político da maioria dos nossos agentes económicos.

Curiosamente (ou talvez não) estes mesmos agentes económicos viram-se para o Estado como o seu último recurso , exigindo medidas de protecção contra o que designam como "concorrência desleal" (os chineses estão a escravizar as suas criançinhas, etc.). O Estado, por sua vez, cumpre o seu dever: proteger os seus cidadãos (ou alguns dos seus cidadãos) das ameaças externas, particularmente desta terrível e nova ameaça chinesa.

O nosso conforto socialista necessita de estabilidade e não de rupturas, de gradualismo para se adaptar, de tempo para se re-organizar, não podemos abrir as nossas fronteiras desta forma tão descarada, principalmente a quem vai destruir o nosso simpático modo de vida. Embora o tempo das benesses esteja a chegar ao fim, pode sempre telefonar-se para Bruxelas e ver o que se pode arranjar.A oligarquia burocrática de Bruxelas faz o que pode quanto mais não seja para proteger os seus empregos.

O que existe de curioso neste discurso é a sua imensa capacidade para o auto-engano, para a auto-ilusão, é um pouco como o Natal e as crianças: nós , os adultos, já não acreditamos no Pai Natal, mas para felicidade das crianças fingimos que acreditamos e lá fazemos a festa. Por sua vez, as crianças fingem que acreditam para não desiludirem os adultos de quem tanto gostam. Afinal de contas se eles se dão a tanto trabalho porquê estragar a sua felicidade. O amor é recíproco e genuíno embora sejam ambos amores enganados. As crianças vão todas à escola: eles cedo descobrem que o Pai Natal não existe, não é real. O que é real, o que verdadeiramente existe, são as sapatilhas Nike com rodinhas, fabricadas na China. E é todo um mundo que desaba: é suposto as crianças acreditarem no Pai Natal (para receberem presentes), é suposto não os desapontarmos nesta sua ingenuidade comovente (porque os amamos).
E é sempre com imensa expectativa e alguma ansiedade que todos aguardamos a chegada do Pai Natal.

Em Portugal o discurso político é o discurso do Pai Natal: o ritual perpetua-se na esperança da chegada dos presentes.

(João Costa)

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EARLY MORNING BLOGS 638

A las estrellas


Esos rasgos de luz, esas centellas
que cobran con amagos superiores
alimentos del sol en resplandores,
aquello viven, si se duelen dellas.

Flores nocturnas son; aunque tan bellas,
efímeras padecen sus ardores;
pues si un día es el siglo de las flores,
una noche es la edad de las estrellas.

De esa, pues, primavera fugitiva,
ya nuestro mal, ya nuestro bien se infiere;
registro es nuestro, o muera el sol o viva.

¿Qué duración habrá que el hombre espere,
o qué mudanza habrá que no reciba
de astro que cada noche nace y muer


(Pedro Calderón de la Barca)

*

Bom dia!

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21.10.05


ROSTOS / RESTOS 2
(De uma pilha de fotografias à venda num alfarrabista)



Homens



Mulheres

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ROSTOS / RESTOS
(De uma pilha de fotografias à venda num alfarrabista)





Violência infantil.


Vestidos maiores que a vida.

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© José Pacheco Pereira
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