ABRUPTO

28.10.05


DESLEIXO



O afã do Ministro das Obras Públicas e do Primeiro-Ministro em anunciar com tanta antecedência (normalmente a informação pública de qualquer outro anúncio governamental é feita apenas um ou dois dias antes) que, pela enésima vez, se vai "fazer a OTA e o TGV", mostra que qualquer coisa não está bem. Aqui, nos blogues, sabemos bem o quê: uma exigência a que se tentou fazer orelhas moucas (a divulgação em linha dos estudos realizados para suportar a decisão governamental), acabou por ter que ser respondida à força. O Ministro das Obras Públicas, notoriamente irritado por ter que dar explicações, e por desvendar uma pequena ponta do véu sobre uma decisão estritamente política e com pouca sustentação actualizada, acabou por dizer que, em Outubro, divulgaria os estudos existentes, setenta, pelos vistos.

Depois seguiu-se o silêncio, e agora, mais uma vez, o governo dá o péssimo exemplo de desleixo ao não cumprir um prazo que ele próprio estabeleceu. É que o governo já percebeu várias coisas que o incomodam: uma, é que se abriu um precedente para a exigência de divulgação dos estudos técnicos associados a uma decisão política, que vai valer para outros casos; outra, é que se vão ver as fragilidades e a negligência com que se decidiu primeiro e se vai estudar depois. O governo, depois de dizer que tinha tudo estudado, que já viera tudo estudado dos outros governos, e que não era necessário actualizar os estudos, está agora a fazê-los à pressão, não para dizer "sim" ou "não", porque já não tem essa liberdade, mas para serem usados para propaganda do "sim" e para serem ocultados, caso apontem para o "não".

É, a democracia tem destas complicações. Ainda bem.

Esperemos agora pela nova data do desleixo.

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© José Pacheco Pereira
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