ABRUPTO

28.2.07


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MONTAIGNE E OS JORNAIS DO FUTURO

http://www.bibliotecasvirtuales.com/biblioteca/LiteraturaFrancesa/Montaigne/Montaigne.jpgA propósito das suas reflexões sobre os jornais do futuro, gostava de lhe dar notícia de um exercício um pouco semelhante feito por Montaigne nos Essais (Cap. 35, excerto transcrito abaixo). Montaigne cita o pai e o seu desejo de que houvesse locais acessíveis onde se pudessem registar os pequenos "negócios" (affaires) de cada um. A ideia prenuncia os anúncios classificados da imprensa periódica, mas toma como ponto assente que a intervenção de um notário é indispensável. O pequeno anúncio teria portanto a forma de um registo notarial, consultável em estabelecimento público. A observação mais automática é a de que, em qualquer época, se dá uma importância gigantesca à estabilidade dos formatos e dos contextos de leitura dos suportes de escrita.

(Rita Marquilhas)

Feu mon pere, homme, pour n'estre aydé que de l'experience et du naturel, d'un jugement bien net, m'a dict autrefois qu'il avoit desiré mettre en train qu'il y eust és villes certain lieu designé, auquel ceux qui auroient besoin de quelque chose, se peussent rendre et faire enregistrer leur affaire à un officier estably pour cet effect, comme: Je cherche à vendre des perles, je cherche des perles à vendre. Tel veut compagnie pour aller à Paris; tel s'enquiert d'un serviteur de telle qualité; tel d'un maistre: tel demande un ouvrier; qui cecy, [Image 0094v ] qui cela, chacun selon son besoing. Et semble que ce moyen de nous entr'advertir apporteroit non legiere commodité au commerce publique: car à tous coups il y a des conditions qui s'entrecherchent, et, pour ne s'entr'entendre, laissent les hommes en extreme necessité.

Fonte:
Michel de Montaigne, Les Essais, 1580-1588 (Chapitre 35 - D'un Defaut de nos Polices)

*
Para mim Montaigne, (a avenida de seu nome em Paris é uma das minhas favoritas: hotel, teatro, bar e moda que mais pode pedir um homem!?) tanto pede umas páginas amarelas como pede um mercado onde se pode comprar e vender: uma bolsa de produtos e serviços - uma bolsa de produtos agricolas é algo que faz muita falta cá em Portugal! O que Montaigne não diz é como tal coisa deve ser feita, eu arrisco a dizer que ele se estava nas tintas para isso, mas calculo que ele também desejaria a melhor tecnologia disponivel.

(DG)

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
"BOKREA", SALDOS DOS LIVROS NA SUÉCIA




Bokr
ea numa livraria Wettergrens, há uma hora. A fila para pagar era comprida, terei de lá voltar.

(Madalena Ferreira Åhman)

(url)


SOFTWARE QUE SE PORTA MAL

http://blog.garethjmsaunders.co.uk/wp-content/office2007.gifA um mês da sua instalação. Se o Vista se porta muito bem, já o mesmo não se pode dizer do Office 2007, ainda por cima na versão Ultimate. Já usava o Beta há vários meses por isso já estava habituado às inovações dos programas, em particular da sua "face". O Outlook sempre se portou mal, no Beta, e continua na mesma. Avaria várias vezes, é excessivamente lento. É verdade que eu nem sempre "arquivava" quando devia, tinha muitas "regras" para organizar a correspondência e trabalhava com pastas com muito correio, mas mesmo assim parece-me pouco "profissional" para um programa profissional. Mas a minha desilusão, pior ainda, o meu problema, que me surgiu pela primeira vez desde que trabalho com o Access foi o aparecimento de tabelas com campos corrompidos, apagando conteúdos de umas entradas e colocando-os em campos de outras entradas. Nunca me aconteceu isto com nenhuma base de dados até agora (nem sequer no Beta) e por isso interrompi de imediato o uso das bases de dados em Access 2007 até mais ver. É uma enorme complicação para o meu trabalho, mas a integridade das bases de dados é essencial.

(url)


EARLY MORNING BLOGS

978 - Air has no Residence, no Neighbor

Air has no Residence, no Neighbor,
No Ear, no Door,
No Apprehension of Another
Oh, Happy Air!

Ethereal Guest at e’en an Outcast’s Pillow—
Essential Host, in Life’s faint, wailing Inn,
Later than Light thy Consciousness accost me
Till it depart, persuading Mine—

(Emily Dickinson)

*

Bom dia!

(url)

26.2.07


RESTOS: LINHA DO TUA








(Ana da Palma)

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "BOKREA"

http://www.alingsas.se/bibliotek/bilder/bokrea.jpgUma “tradição” sueca, que começou nos anos 20, é a “bokrea”, ou seja, os saldos dos livros. No fim de Fevereiro (por razões de fácil compreensão, depois do pagamento dos ordenados de Fevereiro...) as livrarias, pequenas e grandes, os alfarrabistas, as livrarias dos museus, as secções de livros dos supermercados e, nestes tempos modernos, até as livrarias on-line, saldam entre 3 e 5 mil títulos.

Encontra-se de tudo: ficção e não-ficção, literatura infantil e juvenil, livros de bolso e “coffee table books”, enciclopédias, guias de viagem e mapas. A maior parte é, evidentemente, em sueco, mas há também bastantes livros em inglês (e em menor escala noutras línguas). Há edições especiais para os saldos de alguns autores mais antigos (obras que já estão no domínio público e não estão assim sujeitas a pagamento de direitos).

O interesse costuma ser enorme. Com umas semanas de antecedência, as grandes livrarias publicam e distribuem catálogos dos livros que vão saldar, para que os leitores possam comparar os preços e fazer as suas listas. Os jornais e os blogues publicam críticas dos livros apresentados nos catálogos e sugerem as “boas compras”.

Embora os saldos comecem “oficialmente” amanhã, muitas livrarias abrem as portas já esta noite, à meia-noite, aos bibliófilos mais entusiastas (ou mais noctívagos) que se vão acotovelar entre toneladas de "papéis pintados com tinta". Vou esperar pela relativa acalmia de quinta ou sexta-feira, e este ano vou levar um daqueles sacos de compras com rodas, porque já sei que vou acabar por comprar mais do que pensava...

(Madalena Ferreira Åhman)

(url)


COISAS DA SÁBADO: LINHA DO TUA

http://aptus.gotdns.org/nml/admin/conteudos/screenshots/687.jpgPoucos sítios mantêm a paisagem natural rude e agreste, bela ao modo do “terrível”, do que os vales dos afluentes do Douro, rio de montanha rodeado por rios de montanha, que fizeram o seu leito cavando rochas e não espraiando-se por terras baixas irrigadas. O vale do Tua é um desses casos de beleza, ignorado, perdido, numa parte de Portugal que a maioria dos portugueses nem sabe que existe.

Mas, não tenhamos ilusões, a sua beleza selvagem só tem uma explicação, a de não ter havido até agora nenhum negócio rapace que tornasse o vale numa selva de empreendimentos e as cumedas em enxames de eólicas. É natural que este seja o desejo dos locais, que precisam de emprego, negócio, comércio e riqueza e que, como, uma vez, me disse um velho de um desses locais pristinos, “não percebo porque gosta disto, são só montes, estamos fartos de só ver montes, que interesse têm?”. A verdade é que se for assim, nem o pouco que têm em potência vai sobrar em acto. Gastar-se-á em meia dúzia de anos. .Porque o nosso problema é que passamos sempre do oito para o oitenta, do nada miserável do atraso, para o novo riquismo da combinação construção-turismo barato subsidiado-obras públicas.

E no meio do caminho da sua vida, como Dante à entrada do Inferno, lá continuará o vale do Tua, com a sua linha de “metro” que transporta meia dúzia de pessoas ao dia, de lado nenhum para lado nenhum, num sítio tão remoto e deserdado de tudo menos da beleza, que nem um responsável dos comboios achou necessário ir lá para honrar os seus mortos, os mortos da empresa que “gere”. Retirado o último morto das águas, o silêncio voltará, se calhar também já sem o “metro” de Mirandela.

*
O seu post s/ o Tua e o Douro fez-me lembrar a velha anedota s/ a diferença entre o inferno p/ turistas e o inferno p/ residentes. O campo, a montanha, os vales, etc. são muito bonitos p/ quem não tem que tirar deles o seu sustento e está farto da correria (para ganhar o pão) da cidade. Para quem lá vive todos os dias (“viver todos os dias cansa”), tem que de lá tirar o seu sustento (muitas vezes c/ trabalhos fisicamente duros e de resultados muito dependentes das condições climatéricas), tem muito pouco p/ ver ou fazer ao nível do lazer / cultura / consumo (onde estão cinemas, teatros, livrarias, cafés- concerto, etc, etc.? e até os centros comerciais? Não sei se ainda há mas nos idos de 80/90 havia excursões da província p/ visitar os grandes centros comerciais) e difícil acesso a alguns serviços básicos (saúde, educação,
outros) o campo é muito pouco bucólico. Naturalmente a solução não passa por “algarvizar” o país que ainda não está “algarvizado”. Por exemplo o “turismo rural” tem permitido manter a paisagem, complementar actividades agrícolas, criar condições p/ um turismo de qualidade e oportunidades de emprego quer directamente nas unidades de turismo rural quer ao nível de alguns produtos regionais (gastronomia, doçaria, tapeçaria, cerâmica, etc).

Termino relembrando um comentário que li há uns anos quando em Berlim um antigo hotel da Ex-Alemanha de Leste re-abriu reproduzindo as características “originais” (decoração de propaganda comunista, controlo documental por funcionários fardados a rigor, etc) “uma coisa do velhos tempos não pode ser mantida, as condições higiénicas, porque nesse caso as autoridades sanitárias não permitiriam a abertura”. Felizmente há certas coisas “tradicionais” que a evolução faz desaparecer para sempre.

(Miguel Sebastião)

(url)


RETRATOS DO TRABALHO EM ISTAMBUL, TURQUIA

Local onde se esteve a trabalhar - Hagia Sophia - Istambul

(Raul César de Sá)

(url)


EARLY MORNING BLOGS

977 - Driving to Town Late to Mail a Letter


It is a cold and snowy night. The main street is deserted.
The only things moving are swirls of snow.
As I lift the mailbox door, I feel its cold iron.
There is a privacy I love in this snowy night.
Driving around, I will waste more time.

(Robert Bly)

*

Bom dia!

(url)

25.2.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Serra de Arga.

(AM)

(url)


EARLY MORNING BLOGS

976 - L' Homme et la Mer

Homme libre, toujours tu chériras la mer !
La mer est ton miroir, tu contemples ton âme
Dans le déroulement infini de sa lame,
Et ton esprit n'est pas un gouffre moins amer.

Tu te plais à plonger au sein de ton image ;
Tu l'embrasses des yeux et des bras, et ton coeur
Se distrait quelquefois de sa propre rumeur,
Au bruit de cette plainte indomptable et sauvage.

Vous êtes tous les deux ténébreux et discrets :
Homme, nul n'a sondé le fond de tes abîmes ;
O mer, nul ne connaît tes richesses intimes,
Tant vous êtes jaloux de garder vos secrets !

Et cependant voilà des siècles innombrables
Que vous vous combattez sans pitié, ni remords,
Tellement vous aimez le carnage et la mort,
O lutteurs éternels, ô frères implacables !

(Charles Baudelaire)


*

Bom dia!

(url)


PENSAR OS JORNAIS - 2
(Devido à sua extensão o artigo não pode ser publicado integralmente no jornal. As partes em vermelho foram cortadas e são aqui repostas.)
1. O exercício que se fará a seguir é o de pensar num jornal ideal a partir do que é um jornal de hoje e das possibilidades tecnológicas que o podem moldar num período de cerca de uma década. Esse jornal do próximo futuro será reconhecível como um jornal, da mesma maneira que a Gazeta de Lisboa pode ser reconhecida ainda nos dias de hoje como um jornal. Não estou a falar de qualquer coisa exótica, nem sequer revolucionária, mas de um jornal, mantendo o núcleo de identidade de um órgão diário (ou semanário) assente no acto de ler, pelo qual se obtém informações, notícias, análises, comentários, críticas sobre a realidade do mundo à nossa volta. Dentro desta definição, muita coisa pode mudar, a ênfase pode ser colocada no político, no cultural, no social, o texto pode ser factual ou de creative non-fiction, privilegiar histórias ou estórias, ter mais ou menos opinião, dirigir-se a públicos eruditos ou populares, ter causas ou não ter, etc., etc., mas todas estas modalidades cabem numa concepção comum de jornalismo.


2. Não custa muito pensar no jornal ideal, nem são necessários exercícios de futurologia ou de ficção científica. O jornal ideal que refiro será possível em meia dúzia de anos, incorporando tecnologias já existentes, mas ainda experimentais e caras. Será apenas uma questão de tempo, e pouco tempo, até este jornal existir e não será em papel, mas em "papel" electrónico. O jornal do próximo futuro poderá ter apenas uma folha dupla aberta, de plástico, do tipo dos que hoje a Plastic Logic produz, pesará cerca de 100 gramas e o texto que terá será um texto electrónico, transmitido em wireless e mudando durante o dia. O jornal poderá ter uma estrutura diária e partes que não são diárias, mas o fluxo noticioso será isso mesmo, um fluxo contínuo.
Uma experiência deste tipo, ainda muito rudimentar, é a do jornal de negócios belga De Tijd usando um leitor chamado iLiad, tecnologia da Philips. Sobre e-paper ver E-paper et encre électronique : les habitudes de lecture commencent à changer.
3. Um jornal deste tipo não é apenas um ecrã portátil, mas uma folha de papel electrónico com a qual se poderá fazer o mesmo que se faz hoje com o papel, menos deitá-lo fora no fim, ou usá-lo para embrulhar peixe, porque fica caro. Há apenas uma razão, para além do custo actual, para o papel electrónico não ter ainda substituído o papel: ainda há limitações técnicas na sua funcionalidade para se adaptar em pleno ao principal factor limitador das tecnologias, o corpo humano e os seus hábitos. Há certas coisas que não fazemos, ou que não é confortável fazer com os ecrãs actuais de computador e, enquanto não existir papel electrónico capaz e barato, a mutação do papel para o ecrã plástico não se fará. Quando houver, a mutação será muito rápida e o papel de impressão ficará um nicho de mercado de luxo como os relógios analógicos.


4. O jornal estará obviamente numa forma de ecrã, mas não estará preso ao computador, não será laptop, nem desktop, embora consigo vá um computador especializado e uma ligação permanente à rede. Será mais um dos múltiplos objectos que passarão a ser inteligentes porque tem um processador, software e a comunicar em rede: casas, frigoríficos, lâmpadas, roupas, automóveis, etc. Transportar-se-á como um jornal, ler-se-á como um jornal, terá a mesma resolução, ou ainda mais do que um jornal. O suporte tem de permitir o espaço que necessita um jornal, precisa de páginas e de paginação, e também aqui há considerações ergonómicas que dependem do nosso corpo, do nosso olhar. A razão pela qual o jornal ideal depende mais do papel electrónico do que de um grande ecrã, mesmo que ultrafino, é que tem de ter espaço para se espraiar e ler e portabilidade. Não cabe num telemóvel, e não cabe num ecrã de computador que não necessita na maioria das suas funções de tanto espaço como a página dupla aberta de um jornal.

O seu grafismo mudará, a partir do modelo clássico do jornal, mas incorporará o grafismo dos sítios em rede, como aliás já acontece com o grafismo da rede a influenciar o grafismo dos livros, jornais e revistas e publicidade. Posso partir do princípio de que esse jornal terá o mesmo tamanho do Público e do Diário de Notícias, cujas qualidades ergonómicas permitem que se possa ler nos mesmos sítios onde hoje se lê um jornal, no carro, na cama, numa cadeira, num autocarro. E que se possa levar debaixo do braço ou numa pasta.

5. Até aqui, o papel electrónico foi mais papel de plástico do que electrónico, mas a verdadeira revolução dos jornais virá do electrónico, ou seja, do conteúdo em linha e do hipertexto. Começa logo no facto de todas as vantagens do ecrã e da ligação em linha estarem presentes, tornando o papel vivo: os que lêem mal podem alterar o tipo de letra, os cegos podem ouvir o jornal, e nesse jornal não se lerá apenas, pode-se ouvir sons e ver filmes, pode-se procurar palavras-chave, ler artigos para que remete uma bibliografia, seguir ligações em linha na rede. O hipertexto acelera a integração de todos os fluxos digitais, numa só estrutura de "leitura". O papel vivo pode ser lido por contacto na página, como no iPhone, ou nos ecrãs sensíveis e por isso, desde a simples função de folhear as páginas, até ao acesso aos arquivos, à sequência de notícias, a canais em directo de televisão, tudo se poderá fazer a partir de uma estrutura que será essencialmente voltada para informar, analisar, debater, como é suposto serem os jornais. Todos os actos simples que se fazem com um jornal, preencher as palavras cruzadas, responder a um anúncio, escrever uma carta à redacção, marcar um artigo e recortá-lo, deitar fora um suplemento que não se deseja, estão presentes.

6. Este jornal ideal acabará com a distinção entre o jornal em papel e o jornal em linha, mas essa mudança não se fará apenas pela hegemonia do jornal em linha, mas pela valorização de um contínuo que incorpora o mecanismo fundamental que os distingue: o hipertexto. O que está a gerar a crise do jornal de papel é a sua impossibilidade de incorporar hipertexto, ou seja, de comunicar com todos os outros fluxos de informação que um jornal em linha pode utilizar: som, vídeo, arquivo, leitura em volume típica do hipertexto propriamente dito, tempo real.

Um exemplo: um artigo sobre a actual campanha do aborto nesse jornal do futuro conterá a notícia da novidade que foi a utilização utilização dos vídeos no YouTube e conterá os vídeos de Marcelo Rebelo de Sousa e do Gato Fedorento. O leitor poderá ler sobre eles e ter de imediato disponível toda a informação em que se baseia o jornalista. Quando, ao lado, estiver um artigo de crítica ou um comentário, quem o escreve terá que o fazer com muito mais rigor e precisão, com valor acrescentado, porque o leitor que o lê dispõe da mesma informação em bruto que tem o jornalista ou o crítico. No final, os textos, as análises, as fontes, os números, as opiniões, fornecem o tipo-ideal da informação: matéria prima noticiosa, mediação e opinião plural. Isto hoje só é possível num orgão de informação com o hipertexto.

O próprio conceito clássico do artigo mudará com o hipertexto. Embora este "texto" de Lawrence Lessig não seja um artigo no sentido clássico do termo, funciona como se fosse um artigo de opinião: expõe uma posição usando mecanismos que estão entre o texto, o filme, a conferência, a imagem como reforço da palavra, etc. O jornal do futuro terá artigos clássicos, e artigos deste tipo.

7. O primeiro objectivo de um jornal é informar, e um jornal em papel é um meio mais pobre para informar do que um jornal em linha. Esta é que é a chave da crise da imprensa escrita, a impossibilidade de incorporar o hipertexto. Eu próprio, ao escrever este artigo, já várias vezes tive de abandonar formas mais simples e explicativas de dizer o que quero dizer. Quando o colocar em linha, vou poder fazê-lo: incorporar imagens da Gazeta de Lisboa, do Diário de Notícias de 1945 e do papel electrónico da Plastic Logic, com ligações para os vídeos em que se percebe como se pode manipular o novo papel. Se eu colocar aqui [na edição em papel] um endereço electrónico, uma URL, ele mostrará de imediato a inadequação do meio actual: http://www.plasticlogic.com/index.php . Este “texto” não serve para ser lido como a frase anterior e não pode ser clicado. Terá que ser copiado à mão e reescrito, algo que muito poucos utilizadores intensivos da Rede farão. Eles verão o nome da companhia, Plastic Logic e colocarão o nome no Google e chegarão lá de forma que já tem muito pouco a ver com o jornal. Acima de tudo, terão que, pelo caminho, deixar o jornal de papel de lado, porque a partir daqui lhes é inútil.

8. Há também algo que tem que mudar, mas também já se percebe de modo grosseiro como tal possa acontecer: o modelo económico dos jornais, quem paga os jornais e como, para estes sobreviverem como empresas que são. Deixo de lado o facto de a edição em papel ser por si só muito cara e para, uma outra ocasião, as mudanças na produção jornalística que a “vida” do papel electrónico trará a redacções e aos jornais como organização. A aparição de produtoras de textos, reportagens, análises, de material para os jornais, será uma consequência da desadaptação de redacções muito grandes, pouco flexíveis e muito caras ao modelo do jornal do futuro. Como já existe para o audiovisual, haverá um novo mercado de “textos” (e de imagens, vídeos, sons, etc.) dando uma outra dimensão ao jornalismo freelancer e será um caminho que pode mudar o tamanho gigantesco que atingiram as redacções, com os enormes custos associados.
Mas o modelo económico do jornal do futuro estará na Rede. Na Rede, os grandes percursores dos pagamentos em linha não foram os bancos, nem as instituições financeiras, mas os sítios pornográficos. Eles precisavam de meios fáceis, simples, seguros e quase anónimos de pagamento e desenvolveram mecanismos que depois a Amazon, a Ebay e a Paypal utilizaram. Há investigações em curso para encontrar meios fáceis (que não exijam sequer um clic suplementar) e seguros para pagamentos muito diferenciados, incluindo sistemas de “pay-per-view” quase nominais, um cêntimo por exemplo, para o consumo de todas as partes do jornal em linha, que não incorporam muito valor acrescentado. Mesmo numa Rede que tem uma cultura da gratuitidade, estes pagamentos nominais podem obter aceitação generalizada no acesso a sítios profissionais e empresariais que “vendem” um produto único e de necessidade. Uma das formas de combater a pirataria nas músicas e nos filmes foi tornar os produtos digitais muito mais baratos do que o que eram, e, com a crescente centralidade da Rede em todas as actividades, o mercado de massas será aí.

Um artigo do New York Times sobre o problema do "pay-per-view" a partir da situação do próprio jornal em que "the number of people who read the paper online now surpasses the number who buy the print edition."

Esta mudança nos pagamentos, reflectir-se-á a prazo na publicidade e dependerá, como nas bancas, em última razão, das “vendas”, das “audiências” e dos públicos especializados. Na rede é possível fazer uma diferenciação de públicos muito mais certeira do que no jornal em papel e as formas de publicidade, que muito embrionariamente estão a surgir à volta do Google, mostram caminhos novos.

9. Será por aqui que os jornais irão e, se quiserem sobreviver, deverão pensar-se desde já no modelo do futuro mais próximo, para onde já estão, sem se aperceberem, a migrar. É por aqui que eu parto para analisar o presente, porque, utilizando-se este método de aproximação, verifica-se que muita coisa que se pode fazer desde já não está a ser feita. Ou seja, se eu tivesse de analisar como se devem mudar os jornais actuais, em particular os que pretendem manter o estatuto "de referência", eu pensava-os essencialmente a partir da pergunta: o que é que eu posso fazer desde já na combinação jornal de papel com versão em linha, para os fundir cada vez mais, aproveitando as vantagens de cada um dos meios e tentando minimizar as desvantagens que existem em cada um deles. Uma coisa eu não faria de certeza: era pensar os jornais em papel para "competir" com os meios electrónicos, jornais em linha, sítios e blogues, pela simples razão de que essa competição está perdida a prazo. Eles têm hipertexto, o papel não tem. Ponto final, por aí não há competição.

(No artigo seguinte farei a aplicação deste modelo: como é que desde já os jornais em papel - em complemento com a versão em linha, que quase todos têm - podem evoluir para maximizar tudo o que os aproxima deste jornal do futuro. É muito mais do que se pensa, e mudará profundamente a organização, métodos de trabalho, preparação, o "tempo e o modo" dos jornalistas. Mas continuará a ser jornalismo.)

(A partir da versão do Público de 24 de Fevereiro de 2007)

*
1. Parece evidente que o futuro da imprensa escrita passará, inevitavelmente, pelas soluções electrónicas emergentes;

2. O salto que (...) visiona, para uma solução do tipo da "Plastic Logic", pode ser uma entre muitas soluções, embora os timings que propôs me parecem muito apertados. De facto dentro de cinco anos não me parece que aquela tecnologia possa estar suficientemente testada, evoluída e disseminada pelo mercado, com capacidade para substituir os actuais suportes impressos. Além disso, a emergência dessas tecnologias fará com que o número de leitores ainda diminua mais, tendo em conta que a capacidade económica será um factor de selecção, aliada ao acesso e manuseamento da tecnologia. Nesse contexto, dificilmente teríamos o jornal no café, um dos locais onde, hoje em dia, é mais lido.

3. A própria filosofia do jornal teria que mudar muito. Depois do jornal que morre e nasce a cada dia que passa, teríamos o jornal que nunca morre mas que se transforma a cada minuto; o sistema de venda da informação também seria radicalmente alterado, eventualmente para o sistema de assinatura on-line.

4. Para um futuro próximo, crieio que a melhor solução para a imprensa escrita, que está a ser fortemente condicionada pelos media on-line, poderia ser uma maior articulação e complementaridade escrito/on-line, com jornais em papel mais leves e sintéticos, ao nível das necessidades e tempo de leitura actuais, complementado com a informação no digital, com desenvolvimentos, dossiers, disponibilização de links utilizados como fontes, multimedia (imagem, audio e filme), ou seja, tornar o impresso e o digital um pacote que contém um produto informativo. Á grande novidade poderia residir no modo de acesso ao on-line, que deveria ser codificado, apenas disponível durante 24 horas para os utilizadores que tenham adquirido a versão impressa, onde seria fornecido um código de duração limitada.

(João Carlos Gonçalves)

*

O seu artigo é bastante interessante, mas parece-me que peca por um vício de raciocínio - tenho para mim que uma boa parte das pessoas que compram um Jornal o fazem por uma questão sentimental, e não por um motivo meramente informativo.
O ritual, o cheiro, o dividir em várias partes com diferentes utilizadores e utilizações.
Claro está que, sendo uma questão sentimental, se pode mudar alterando os sentimentos - mas não me parece que tal aconteça em grande escala.
E, neste sentido, a versão papel e a versão "electrónica" serão concorrentes.

Eu continuarei a ler os jornais electrónicos no meu computador, e a comprar na minha tabacaria de bairro a versão papel. Que lerei num café ou esplanada; e que, terminado, oferecerei amavelmente ao anónimo vizinho da mesa ao lado, não sem antes ter rasgado uma indicação de um restaurante onde nunca irei, e que transportarei na minha carteira por várias semanas, até ir parar ao lixo na "limpeza" mensal da mesma.

A versão electrónica será mais funcional, mas felizmente já vivemos num estágio de desenvolvimento tal que, em muitas situações, podemos dar-nos ao luxo de por o emotivo à frente do racional! E haverá mercado para ambos - a não ser que o electrónico acabe por abafar o outro - o que não seria desejável.

(Pedro Pereira)

Etiquetas: ,


(url)

24.2.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Cascata grande, Ilha das Flores.

(Ana Monteiro)

(url)


EARLY MORNING BLOGS

975 - A Clear Midnight


This is thy hour O Soul, thy free flight into the wordless,
Away from books, away from art, the day erased, the lesson done,
Thee fully forth emerging, silent, gazing, pondering the themes thou lovest best,
Night, sleep, death and the stars.

(Walt Whitman)

*

Bom dia!

(url)

23.2.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR




Angra do Heroísmo . Vista a partir do monumento da Memória. (R. Castro)

Ponta de Sagres. (Carlos Cunha)

Mount S. Odile (Heloísa P. Silva)

Castelo e ruínas da vila intra-muros de Montemor-o-Novo.(A.C. Silva)

(url)


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR




Alcabideque, concelho de Condeixa-a-Nova, Coimbra. (André Guerra)

Dôme de Puy Sallié (3421m), Les Deux Alpes, França. (José Paulo Andrade)

Cova do Vapor. (Carlos Monteiro)

Penacova (perto de Coimbra), numa manhã invulgarmente límpida já que, por esta altura, em 95% dos dias, o nevoeiro do Mondego toma conta do vale e do morro da vila. (António Luís)

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VISTO DO LADO DE LÁ



Escrever-lhe sobre o que penso... Não sei se concorda, mas é uma construção feita aqui do norte, por um professor, com um filho, com um empréstimo (um apenas) que gosta do que faz e que acredita que o que faz é realmente importante.

Hoje discute-se qual o papel do estado nuns e outros jornais, por este ou aquele comentador. Está na moda pensar e repensar a função pública, a função do estado. São tempos de crise institucional. Ninguém sabe para que serve um estado, sobretudo quando serve mal. É geralmente aceite a ideia de que os serviços que o estado presta são maus e caros e portanto dispendiosos e ineficientes. As correntes mais em voga ditam um estado regulador e mínimo relegando para o sector privado todos os serviços que face a uma concorrência sempre à espreita se tornará eficiente e eficaz. São tempos em que o que é privado é tido como melhor que a coisa pública. Do estado diz-se que é pesado e torna-se por isso necessário agilizar, reduzir e emagrecer o "Monstro".

Visto de fora Sócrates é um homem empenhado em reformar e tornar o país melhor preparado para o futuro. Para quem trabalha para o estado é um pesadelo, um mostrengo. É que os funcionários públicos além da má fama têm o pior dos patrões. É um patrão sem cara, irresponsável que ao longo dos anos foi tomando medidas que hoje dizem terem sido erradas mesmo absurdas. Hoje quem está a pagar as imbecilidades com que muitos dos pavões que migraram para terras mais temperadas é o funcionário público.

Este patrão além de inconsequente faz as regras do jogo ao contrário dos outros. E Sócrates muda as regras do jogo a toda a hora e a meio do jogo. Altera cursos superiores retirando-lhes um estágio real e trocando-o por uma prática supervisionada sem quaisquer responsabilidades frustrando as expectativas de quem 4 anos antes se inscreveu no curso; altera regras da segurança social 5 anos depois (se não me engano) de ter afirmado que a reforma estava feita tornando as regras demasiados flexíveis e oferecendo um futuro incerto a quem dela dependerá; a carreira dos professores e funcionários públicos foram alteradas frustrando e violando o acordo estabelecido à data da entrada de cada funcionário para o estado; usa legislação aprovada pela direita e que chegou a criticar para agora deslocar e colocar no corredor dos despedimentos uns não sei quantos funcionários públicos; altera a lei das finanças locais a meio e bruscamente sem o respeito pelos compromissos assumidos pelos autarcas que foram eleitos numas condições e agora têm de governar noutras.

O estado não se comporta como pessoa de bem, de palavra. Um governo assim "reformista" está a calcinar o estado tal como o conhecemos. E isto não foi objecto do programa eleitoral do PS. As reformas são demasiados profundas e o que o PS pensava do papel do estado antes das eleições era bem diferente do que hoje realiza sob uma capa de um pragmatismo reformista. Governar de forma déspota é fácil mas não gera confiança. A confiança é necessária para gerar mudança e semear o futuro. A única ilusão que Sócrates sabiamente vende é a de que está a trabalhar.

Sócrates está enganado e posso afirma-lo com a mesma convicção com que Guterres disse adeus ao lamaçal e com a mesma obstinação com que Cavaco se deixou governar, no seu segundo mandato, pelo Monstro. Acredito que Sócrates pense que se livra do Monstro antes que ele lhe caia em cima. É isso que o leva a quebrar todos os vínculos que o estado assumiu perante os portugueses durante e ao longo de anos (na saúde, educação, justiça, segurança social, etc.). Mas está enganado, pois o estado somos todos nós, é o país que está a falhar com todos.

As orientações espirituais vêm de Bruxelas e o governo trabalhador lá vai no bom caminho ainda à dias recebeu boa nota e mais umas orientações para os próximos tempos: a flexigurança. É um termo giro e ajuda ao marketing. Nós por cá sempre tivemos um fraquinho por estrangeirismos e nunca tivemos nem um pingo de vergonha, nem um horizonte que o diga Gil Vicente e Eça.

Isto tudo para dizer que o principal papel do estado, para mim, é a capacidade de gerar confiança, segurança e estabilidade. Com Sócrates apenas vislumbro o último, o mais perigoso.

(Carlos Brás)

*
Sabe-se que o nosso Estado-Providência é incipiente de algum modo porque nasceu já no fim dos "trinta gloriosos" quando se dá uma inversão das condições que levam a questionar a sua própria viabilidade nos moldes em que tinha sido pensado no pós-guerra. Reconheço a diversidade de qualidade e empenhamento dos "funcionários públicos" que, por isso, devem ter uma avaliação externa. Mas há outra coisa: a defesa incondicional dos "direitos adquiridos do funcionário público" reproduz uma sociedade pervertida em que é a própria administração pública que "faz as vezes" do "Estado-Providência". Para além de perverso, isto é profundamente injusto para aqueles que, por opção ou por falta dela, não são funcionários públicos. É que não ser funcionário público, por estranho que pareça, pode ser uma opção deliberada das pessoas que ambicionam construir de forma mais autónoma o seu próprio percurso profissional.

(Sandra Marques Pereira)

(url)


EARLY MORNING BLOGS

974 - Sonnet from a letter to Bernard Barton

Who first invented work, and bound the free
And holyday-rejoicing spirit down
To the ever-haunting importunity
Of business in the green fields, and the town--
To plough, loom, anvil, spade--and oh! most sad
To that dry drudgery at the desk's dead wood?
Who but the Being unblest, alien from good,
Sabbathless Satan! he who his unglad
Task ever plies 'mid rotatory burnings,
That round and round incalculably reel--
For wrath divine hath made him like a wheel--
In that red realm from which are no returnings:
Where toiling, and turmoiling, ever and aye
He, and his thoughts, keep pensive working-day.

(Charles Lamb)

*

Bom dia!

(url)

22.2.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Serra da Peneda

(Alcides Strecht Monteiro)

(url)


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL

Fotografia de publicidade. Foz do Douro, Porto. Ontem.

(Gil Coelho)

(url)


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 22 de Fevereiro de 2007


The image “http://seara.seara.com/intranet/nos/pacheco/azul/antigona/capas/89.gif” cannot be displayed, because it contains errors.Ler dicionários é uma tarefa ingrata. Eu disse ler dicionários, não consultar dicionários. Li o de Ana Barradas, na versão já não incompleta, editado pela Ela por Ela. É uma obra amadora, com todas as vantagens e inconvenientes que têm as obras amadoras. Mas não é isso que vem ao caso. Mais vale tê-lo do que não ter, e este acrescenta alguns dados à escassez das biografias portuguesas. O caso, é a mania que tem as feministas de organizarem as suas entradas por ordem do primeiro nome, para evitar o dilema do nome de solteira-nome de casada. Já não é o primeiro caso de dicionários de mulheres em que se tem que se andar à volta da nuvem de Marias à procura do segundo nome ou do terceiro da Maria certa. É verdade que o dicionário de Ana Barradas tem um índice final, mas este prurido ideológico prejudica, e muito, a consulta.

(url)


EARLY MORNING BLOGS

973 - Non es mentitus hominibus, sed Deo

http://www.wga.hu/art/r/raphael/6tapestr/5ananias.jpg
O primeiro acto judicial que exercitou S. Pedro, foi no caso de Ananias. Eram naquele tempo da primitiva Igreja as fazendas e bens temporais dos cristãos comuns a todos: e contra esta Lei ou voto, vendeu Ananias uma herdade e ocultou parte do preço; manda-o chamar à sua presença S. Pedro; e que é o que fez e o que disse? O que só podia dizer e fazer Deus.

O que disse foi: Non es mentitus hominibus, sed Deo:« sabe, Ananias, que no que encobriste não mentiste aos homens, senão a Deus.» Vede se se tratava como Deus quem assim falava.. O que fez foi ainda mais divino, mais admirável: e de maior terror. «Ouvindo aquelas palavras, caiu morto Ananias aos pés de Pedro»: Audiens autem hæc Ananias, expiravit.

Descrevendo Isaías a justiça de Cristo, diz que só com o espírito de sua boca matará o impio:
Et spiritu labiorum suorum interficiet impium. E nisto mostrou o Profeta que o mesmo que havia de ser o Redentor, era o Deus que tinha sido o Criador. O modo com que Deus, quando criou o primeiro homem, lhe deu vida, foi inspirar-lhe no rosto com o espírito de sua boca: Inspiravit in faciem ejus spiraculum vitæ , et factus est homo in animam viventem. Pois assim como só com o espírito de sua boca deu a primeira vida, assim com o mesmo espírito, sem outro instrumento, diz Isaías que Cristo dará a morte ao ímpio. Isto é, nem mais nem menos, o que fez S. Pedro. Nem mandou matar a Ananias, nem lhe disse que morresse, e só com lhe tocar nos ouvidos o espírito de sua boca, caiu morto.

Mas tal execução como esta, posto que de poder tão divino, nunca a fez Cristo. Como diz logo o Profeta que com o espírito de sua boca havia de matar o ímpio? É profecia que ainda está por cumprir, e diz S. Paulo que se cumprirá quando Cristo, no fim do Mundo, com o espírito só de sua boca matará o Anticristo. Tunc revelabitur ille iniquus, quem Dominus Jesus interficiet spiritu oris sui et destruet illustratione adventus sui. Esta será a última execução de justiça de Cristo e tal foi a primeira de Pedro.

(Padre António Vieira)

*

Bom dia!

(url)

21.2.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Serra da Peneda

(Alcides Strecht Monteiro)

(url)


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: UMA ESPÉCIE DE FIM

http://www.pienoismalli.com/cam154.jpg



David Nicolle, Acre 1291: Bloody Sunset of the Crusader States, Oxford, Osprey, 2005

Cento e cinquenta anos antes, parece um déja vu ao contrário: a queda de Acre, parece a queda de Bizâncio. O mesmo isolamento no meio de terras hostis, a mesma progressiva incapacidade de perceber o que estava a acontecer, seguida de um desesperado apelo aos outros cristãos, recebido com indiferença, protelamentos e intrigas de corte e poder, a mesma resistência final desesperada e solitária. E, depois do desastre, o mesmo choque na Europa cristã pelo que aconteceu, no caso de Acre, o verdadeiro toque de finados da aventura cristã das cruzadas e dos reinos latinos no Levante.

(url)

20.2.07


JARDINS DE INVERNO

Jardim do mosteiro de Tibães, Braga. Hoje.

(Gil Coelho)

(url)


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 20 de Fevereiro de 2007



Pack journalism diz o dicionário Merriam-Webster é "journalism that is practiced by reporters in a group and that is marked by uniformity of news coverage and lack of original thought or initiative." Os jornais estão cheios de pack journalism, sem acrescentar um átomo ao que circula: por exemplo, Marcelo proclamou a remodelação inevitável dos Ministros da Economia e da Saúde, logo "há certezas: alguns ministros - casos de Manuel Pinho ou Correia de Campos - dificilmente ultrapassarão o enorme desgaste de que padecem." (Diário de Notícias) Porquê? Alguém se dá ao trabalho de analisar, para além das gaffes e das controvérsias, se o seu trabalho é mesmo mau por outro critério que não seja o do eco no pack das gaffes e controvérsias? Se este tipo de comentários fosse feito há uns meses, sem a memória fresca (a única que pelos vistos existe) da viagem à China e dos incidentes em Valença, não estariam na lista também a Ministra da Educação ou da Cultura? Isto não é informação, mas opinião, aliás sem qualquer qualificação porque não acrescenta nada. Ninguém lê jornais para ler estes textos.

*

Interessante: no Público, na página cinco do suplemento P2, o jornal utiliza uma espécie de quadro de palavras-chave, ao modelo dos tags nos blogues. Embora ainda falte um sublinhado dentro de um sublinhado, dado pelo tamanho da palavra em função da sua importância, mesmo assim resulta em papel.

Resulta tanto mais quanto acaba por ser revelador: as palavras (tags) que definem Sócrates acabam por mostrar o mecanismo de construção da personagem feita a partir dos depoimentos citados no artigo, Encaixa tudo demasiado bem, só destoa o "dissimulado". Para não ser tudo muito hagiográfico, seria interessante saber, no plano da política, o que é que "dissimula" o "dissimulado".

(url)


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Campus da Princeton University.

(Bruno Ribeiro)

(url)


EARLY MORNING BLOGS

972 - The Tale of Two Bad Mice

illustration from 'The Tale of Two Bad Mice', The mice smash the food - Copyright Frederick Warne & Co, 2004 Once upon a time there was a very beautiful doll's-house; it was red brick with white windows, and it had real muslin curtains and a front door and a chimney.

It belonged to two Dolls called Lucinda and Jane; at least it belonged to Lucinda, but she never ordered meals.

Jane was the Cook; but she never did any cooking, because the dinner had been bought ready-made, in a box full of shavings.

There were two red lobsters and a ham, a fish, a pudding, and some pears and oranges.

They would not come off the plates, but they were extremely beautiful.

One morning Lucinda and Jane had gone out for a drive in the doll's perambulator. There was no one in the nursery, and it was very quiet. Presently there was a little scuffling, scratching noise in a corner near the fireplace, where there was a hole under the skirting-board.

Tom Thumb put out his head for a moment, and then popped it in again. Tom Thumb was a mouse.

A minute afterwards, Hunca Munca, his wife, put her head out, too; and when she saw that there was no one in the nursery, she ventured out on the oilcloth under the coal-box.

The doll's-house stood at the other side of the fire-place. Tom Thumb and Hunca Munca went cautiously across the hearthrug. They pushed the front door--it was not fast.

Tom Thumb and Hunca Munca went upstairs and peeped into the dining-room. Then they squeaked with joy!

Such a lovely dinner was laid out upon the table! There were tin spoons, and lead knives and forks, and two dolly-chairs--all SO convenient!

(Beatrix Potter)

*

Bom dia!

(url)

19.2.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Ilha do Pico - Açores

(Maria José Silva)

(url)


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A MEMÓRIA DE BIN LADEN

http://www.principlesofwar.com/miva/graphics/00000001/Osprey/1841768685.jpgDavid Nicolle, The Third Crusade 1191: Richard the Lionheart, Saladin and the battle for Jerusalem,
Oxford, Osprey, 2006

Os comunicados da Al Qaida utilizam correntemente a expressão "os cruzados" para designar os europeus e os americanos. Como nós já esquecemos a nossa história, eles lembram-nos à bomba. Sim, de facto, na origem da Europa. tal como a conhecemos, também estão as cruzadas, mostrando a antiquíssima relação que temos com essa parte do mundo a que chamávamos o Levante. É uma relação que continua, porque, a uma certa luz, o estado de Israel, produto do sionismo, uma ideia europeia, não deixa de ter uma continuidade com séculos de conflito em que o judaismo e o cristianismo defrontam o Islão. Verdade seja que não é só um conflito religioso, é também um conflito geopolítico, porque o Levante é a primeira linha de qualquer projecção do poder europeu. E não é um conflito entre "nós" e "eles", porque desde as próprias cruzadas que as potências europeias também ali se digladiam entre si, nalguns casos com estranhas alianças que incluiam muçulmanos contra muçulmanos. A terceira cruzada foi um exemplo típico, de um xadrez complexo que envolvia desde os bizantinos, aos reis e nobres do Sacro Império, aos Angevinos (os Plantagenetas ingleses), aos francos, aos monarcas dos reinos criados pelas cruzadas, e aos cavaleiros das ordens religiosas. A capa deste pequeno livro da série das "campanhas" da colecção de história militar da Osprey retrata aliás o momento em que partidários do Ricardo Coeur de Lion derrubam a bandeira do Duque Leopoldo da Aústria que achavam não ter o direito de ser hasteada em Acre. E depois há Saladino, o herói do Islão, que era de ascendência curda e que tinha tal fama que Dante o colocou no Limbo, entre os grandes homens não cristãos, e que domina não só a resistência às cruzadas como a ofensiva que alterará de forma decisiva a relação de forças e acabará, a prazo, com a presença europeia no Levante até à queda do império otomano.

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]