ABRUPTO

12.8.06


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS



Detalhes.


(url)


A RECUPERAÇÃO DAS IMAGENS

começou a ser feita, com prioridade para os "Retratos do Trabalho". A série é em grande parte constituída por trabalhos dos leitores que merecem toda a consideração pelo seu esforço, até porque iniciativas como esta estão em curso usando o material do Abrupto.


(url)


NUNCA É TARDE PARA APRENDER:
KUBRICK COMO FOTÓGRAFO EXISTENCIALISTA

http://images.amazon.com/images/P/0714844381.01.LZZZZZZZ.jpg

O trabalho de Kubrick como fotógrafo é uma descoberta relativamente recente. No final dos anos quarenta, Kubrick trabalhou como fotógrafo da Look, à qual vendia os seus trabalhos sem manter os direitos de autor nem ficar com cópias. O esquecimento do fotógrafo tinha crescido com a sua fama de cineasta. Descobertas no arquivo da revista, agrupadas em séries, como o autor as tinha realizado, as fotografias retratam a América de um modo mais sombrio e cruel do que se podia imaginar nesses anos do pós-guerra. A preto e branco, num tom felliniano, "drama" e "sombras" quanto baste. Foi a fotografia da capa que me fez comprar o livro, um momento e um olhar de medo de cair que quem transportou muitas pilhas de livros por escadas, conhece muito bem. Depois encontrei poucos livros no álbum, a não ser fotos do metropolitano em que se vê muita gente a ler, mas também não era suposto ser um livro sobre livros. Mas quase tudo vale a pena nestes retratos de um mundo essencialmente urbano perdido numa solidão individual, perdido nas imagens quando as pessoas se tornam personae, figuras, traços, sinais numa paisagem em que não há nada para se agarrarem. As fotos de Kubrick são contemporâneas do existencialismo francês do pós-guerra, e mostram como o "espírito do tempo" lavra pelo tempo, pelo mesmo tempo ao mesmo tempo.


(url)


EARLY MORNING BLOGS
838 - Aubade

The lark now leaves his wat’ry nest,
And climbing shakes his dewy wings.

He takes this window for the East,

And to implore your light he sings
Awake, awake! the morn will never rise
Till she can dress her beauty at your eyes.


The merchant bows unto the seaman’s star,
The ploughman from the sun his season takes,

But still the lover wonders what they are

Who look for day before his mistress wakes.

Awake, awake! break thro’ your veils of lawn!

Then draw your curtains, and begin the dawn!


(William Davenant)

*

Bom dia!

(url)

11.8.06


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS


Detalhes.

(url)


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 11 de Agosto de 2006


A ler WARNING... no BLOGUITICA. A questão tem todo o sentido, porque, se em matéria de defesa, o governo tem a capacidade de governar nas matérias "habituais" sem droit de regard, em tudo o que seja mais sensível, o PR tem mais do que um direito de "olhar", tem capacidade política para decidir, enquanto Comandante Supremo das Forças Armadas. Foi o que se viu quando Sampaio impediu a ida de tropas regulares para o Iraque impondo a presença apenas de um contingente da GNR. É um mau precedente por parte do governo, mas pode ser desatenção e incúria que venha a ser corrigida. Mas que foi notada, foi. E bem.

*

No Diário de Notícias, Fernanda Câncio, Assumir a relação :
"As pessoas têm o direito de saber", ouve-se nas rodas de comadres das TV e repete-se em publicações consideradas de "informação geral", em nome, imagine-se, da "democracia". Este "direito de saber" inclui as fotos à traição e à força, "revelações" sobre quem dançou com quem , quem beijou quem, quem fez topless. As regras são simples: é fora de casa, é público; é público, é publicável; quem se mostra uma vez legitima todas as intrusões; quem não se mostra está a esconder algo, logo, legitima todas as intrusões. A indústria tem sempre razão.

Contra isto, nenhum argumento é aceite, nenhuma lei eficaz. Proteste-se ou processe-se e é-se acusado de "falta de transparência", "censura", ou, mais uma vez, "ter algo a esconder". Para esta nova polícia de costumes, preservar é sonegar, recusar "esclarecimentos" é crime. Em poucos anos, aqueles que decorreram desde o triunfo desta inquisição, o que era considerado o cúmulo da vulgaridade - a exposição da intimidade -, passou a norma. Na relação entre o direito à reserva da vida privada, garantido pela Constituição, e o "direito" à intrusão, proclamado pela confederação dos alcoviteiros, ganhou o que vende mais. Perdeu a liberdade, claro."
Há já muitos anos, este tema foi discutido no "Terça à Noite" e lembro-me de me opor a Miguel Sousa Tavares que dizia que "isto" nunca iria acontecer na imprensa portuguesa. Tanto iria que foi mesmo. Um dia que se faça a genealogia desta intrusão obscena na privacidade e intimidade, ver-se-á como tudo começou na "Gente" do Expresso, passou por uma página de "revelações" nunca esclarecida na sua autoria e intenções do Semanário, e depois disseminou-se nas "revistas cor-de-rosa". Isto para que não se pense que começou na imprensa pimba. Não, começou na imprensa "séria".

(url)


RETRATOS DO TRABALHO EM ÍLHAVO, PORTUGAL



Ílhavo (Praia da Costa Nova do Prado). Esta senhora passou por mim por volta das 11 horas da manhã. Faz a limpeza da praia a horas impróprias, sob um sol abrasador! A vida custa a ganhar! A senhora tem certamente mais de 50 anos! Ainda por cima vestida daquela maneira - imagino o sofrimento!

(Ângelo Eduardo Ferreira)

(url)


EARLY MORNING BLOGS
837 - Proserpina, Cyane Libro V - vv 385-520

http://www.latein-pagina.de/ovid/pic_ovid_5/proserpina%20krauss%205,7.jpg
Ora, mentre scorrevo per i gorghi dello Stige,
vidi Proserpina, triste ed ancora spaurita
nel volto, ma regina del mondo delle ombre,
ma già sposa potente del re dell'Averno.»
E a questo parole, la madre parve di pietra,
e a lungo rimase stupita, come presa dal fulmine.
Ma quando il dolore vinse la sua grave inerzia,
allora si levò col carro su per l'alto cielo.
E là, cupa in volto, coi capelli sparsi, irata,
ferma davanti a Giove, così disse: «O Giove,
per il sangue mio, ti prego, per il tuo sangue.
Se non hai amore per me, chiedo pietà per la figlia:
invoco il tuo aiuto, anche se nacque da me.
Ho ritrovato la figlia che così a lungo cercai,
se ritrovarla vuol dire sapere d'averla perduta;
se sapere dov'è vuol dire averla trovata.»

(Salvatore Quasimodo, Dalle "Metamarfosi" di Ovidio)

*

Bom dia!

(url)

10.8.06


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: PAISAGEM MARCIANA


(url)


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: NAPOLEÃO

http://www.powells.com/cgi-bin/imageDB.cgi?isbn=0141391014


J Marshall Cornwall, Napoleon as Military Commander

O livro, escrito por um militar inglês, tem como tese que Napoleão nunca inovou no plano militar, foi apenas (e este "apenas" não é pouco) um brilhante estudioso da teoria e da história militar e um não menos brilhante comandante no terreno. Por exemplo, nas suas travessias alpinas nas campanhas no norte da actual Itália, Napoleão estudou a passagem dos Alpes por Aníbal.

(Continua)

*
Sobre o seu comentário em relação a Napoleão, o historiador alemão Hans Delbruch (no seu livro "História da Arte da guerra") dissera o mesmo sobre Júlio César, que não inovara mas se limitara a usar a máquina romana ao limite das suas capacidades (e com uma genial capacidade de improvisação).
Inovadores tinham sido Filipe e o seu filho Alexandre da Macedónia, Aníbal e Cipião o Africano.

(Fabiano)

(url)


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL


Engraxador.

(Gil Coelho)

(url)


PIRATARIA 18







O "ataque" ao outro blogue português é falso. O facto foi comunicado ao Blogger.

(url)


A GUERRA ...

mesmo que não o queiramos admitir, está em curso.

(url)


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL



Pintura de uma torre de telecomunicações em Lisboa (zona expo).

(Luís Campos Pinto)

(url)


PIRATARIA 17


Os ataques ao Abrupto repetiram-se durante a noite, o que já não é , infelizmente, novidade. A novidade é que o "Mike" se chama agora "Pimpinha" e atacou outro blogue português, o Licenciosidades (sem ligação para não haver benefício do infractor), exactamente da mesma forma, e com o mesmo template. Estranho californiano, tão versado em coisas portuguesas, leitor fiel do Abrupto, seguidor das suas notas e dos seus horários... Deve ser uma máquina a actuar ao acaso, como diziam os "técnicos".

(url)


EARLY MORNING BLOGS
836 - Proserpina, Cyane Libro V - vv 385-520

The image “http://web.tiscali.it/mitologia/ritorno.jpg” cannot be displayed, because it contains errors.
Lungo sarebbe dire per quante terre e mari

vagò la dea: non c'era più luogo al mondo
dove ancora cercare. E ritornò in Sicilia,
e andò per tutta l'isola e giunse fino a Ciane,
che certo, se ninfa, le avrebbe detto ogni cosa;
ma non aveva più bocca, né lingua per parlare,
né modo per esprimersi; pure le mostrò un segno:
caduta là, galleggiava sull'acqua
della sorgente la cintura di Proserpina,
nota alla madre. E appena Cerere la vide,
come se allora sapesse la sorte della figlia,
cominciò a strapparsi i capelli e a lungo a battersi il petto.
E ancora non sa dove si trovi la figlia,
e dà colpa a tutta la terra (e la chiama nemica
e indegna del dono delle messi), e più alla Sicilia,
dove vide quel segno, ragione del suo pianto.
E là con mano spietata rompe gli aratri che voltano
le zolle, e con ira dà morte ai coloni ed ai giovenchi,
e vuole i campi sterili, e guasta le sementi.
E si perde la fama della terra siciliana,
dovunque esaltata come fertile; e le messi
muoiono appena verdi, ora perché il sole infuria
pioggia, e avversi sono i venti e le stelle.
E gli uccelli divorano i semi appena sparsi,
e il loglio e l'erbe spinose e la tenace gramigna
frmano il grano che cresce. Allora Aretusa
levò il capo fuori dall'acque dell'Elide
e, gettate le chiome stillanti dalla fronte
dietro le orecchie, così disse: «O madre delle messi,
madre della vergine cercata in ogni luogo, riposa
della lunga fatica, non fare violenza alla terra.
La terra è fedele, non ha colpa, senza volere
si aprì quando veniva rapita Proserpina.
Non prego per la mia terra, sono qui straniera,
io nacqui a Pisa. la mia patria è l'Elide.
Abito la Sicilia come ospite; ma questa terra
mi è cara più d'ogni altra; e per me, Aretusa,
questi sono i Penati, questa la casa, e tu,
dea benigna, difendila. Perché venni in Ortigia
dalla mia terra lungo infinite onde del mare,
dirò a suo tempo, quando avrai meno dolore
e più sereno il volto. Vado per un sentiero
aperto sotto terra e per caverne profonde
sollevo qui il capo e vedo stelle ignote.

(Continua)

(Salvatore Quasimodo, Dalle "Metamarfosi" di Ovidio)

*

Bom dia!

(url)


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Segurança do Metro do Porto.

(Tiago Azevedo Fernandes)

(url)

9.8.06


PIRATARIA 16

O Blogger afirma que ainda não conseguiu resolver o ataque e continua a "investigar". O Blogger confirma também a perda irreparável das imagens de arquivo:

"(...) In regards to your images, unfortunately we believe they were lost in the process of trying to move the second blog to another URL. We attempted to recover them but were unsuccessful. We apologize greatly for the inconvenience and hope you are able to upload them again, if possible."

Três anos de trabalho e ainda há uns imbecis que dizem que não aconteceu nada.

(url)


INTENDÊNCIA

Actualizada a nota O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FOGOS, BALDES E BALDAS.

(url)


QUANDO O MUNDO ERA SIMPLES: "NENHUM POVO DO MUNDO..."





(url)


RETRATOS DO TRABALHO NO TOGO



No Togo há zonas que de tão pobres serem não é possivel adquirir o que quer que seja com notas (Franco CFA) de maior valor uma vez que ninguém tem troco para essas notas, pelo que existem estes individuos, geralmente sentados num banco á beira das estradas, que as trocam por notas de pequeno valor cobrando para o efeito uma comissão. São os bancos.

(A. Bento)

(url)


PIRATARIAS 15

O pirata parece muito sensível às notícias sobre ele no Abrupto e activa o falso Abrupto sempre que se pensa que está a desaparecer. Para um inocente californiano que, por acaso, escolheu o nome de Abrupto em milhões e nem sequer sabe o que está a fazer - a lenda urbana que alguns circulam para negar a evidência dos ataques ao Abrupto - é muita perseverança e dedicação. A tese do roubo de visitas também é débil porque se esse fosse o objectivo o autor da pirataria, que certamente descobriu uma falha no Blogger (isso é incontroverso, porque, repito-o mais uma vez, não há intrusão nos dados, nem roubo de password, senão eu não tinha blogue por esta altura), teria sido tentado fazer o mesmo com blogues em inglês com muito mais "audiência". O ataque ao Abrupto na forma que ele assume é "único", como admite o próprio Blogger, que afirma continuar as "investigações" mas que, começa a ser óbvio, não sabe como resolver o problema. Pode ser que precise do mastim acima.

Muito obrigado a todos que altas horas da noite, consultando o Abrupto, me enviam dados importantes para combater o pirata, assim como a todos que estão a ajudar a identificar e resolver o problema.

(url)


EARLY MORNING BLOGS
836 - Proserpina, Cyane Libro V - vv 385-520

Né l'Aurora dai capelli freschi di rugiada,
non Espero la vide mai in riposo,
andò con due torce di pino accese
nel fuoco dell'Etna, lungo le gelide notti,
quando la dolce luce oscura le stelle.
E sempre cercava la figlia dal sorgere
Al tramonto del sole; e stanca, arsa di sete,
dai aveva bagnato le labbra ad una fonte,
vide una capanna dal tetto di paglia
andò subito a battere alla piccola porta.
Ina vecchia venne ad aprire, e alla dea
che chiedeva da bere, offrì dell'acqua dolce
da lei preparata con il grano cotto.
E mentre beve, un fanciullo senza grazia in volto,
anche audace, si ferma davanti alla dea,
e la deride dicendole: «Avida!» E la dea offesa
riversa sul fanciullo ciò che ancora restava
dell'acqua mescolata al grano. E subito quel volto
si copre di macchie, e le braccia diventano gambe,
e la coda s'aggiunge alle membra mutate,
e il corpo (perché non abbia molto potere nel male)
si contrae in piccola forma: non più lungo
d'una lucertola. E la vecchia, stupita, piangendo
vuole toccare il mostro che fugge e si nasconde:
il mostro ha un nome che s'addice al suo colore,
screziato sul corpo di macchie variopinte.

(Continua)

(Salvatore Quasimodo, Dalle "Metamarfosi" di Ovidio)

*

Bom dia!

(url)


exp

(url)

8.8.06


HOJE, AGORA



Lua cheia, imperfeita como tudo, perfeita uma vez só.

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FOGOS, BALDES E BALDAS



Há cerca de um ano, Jorge Sampaio, acompanhado por António Costa, visitou uma zona martirizada pelo fogo. A certa altura, perplexo com o facto de haver casas com a floresta a entrar pelo quintal adentro, o Presidente perguntou ao Ministro como é que tal era possível - e a resposta foi tão curta quanto esclarecedora: «É proibido, mas a lei não é cumprida».
Não ficámos a saber se, porventura, Sampaio lhe terá respondido que um Ministro da Administração Interna é pago, precisamente, para fazer com que a lei seja cumprida - porque, se as árvores estão junto às casas, não é só porque alguém lá as meteu, mas também porque as autoridades o não impedem. Suponhamos, no entanto, que esta acção, pela sua envergadura, é impraticável.
Mas... e se alguém dissesse a essas pessoas - que parece que convidam o fogo para almoçar... - que o Estado não pagará os prejuízos que venham a ter?
E se os bombeiros fizessem saber que, em caso de escassez de meios, elas não terão prioridade no socorro?
Que diabo! Não há autarcas, bombeiros nem GNR que ajudem ou obriguem as pessoas a cumprir a lei, cortando, atempadamente, as árvores que estão onde não deviam estar, mesmo que seja preciso intervir em propriedades de donos desconhecidos ou ausentes?
Mas, é claro, palpita-me que vamos continuar indefinidamente a ver gente desesperada, a clamar por meios aéreos enquanto enfrenta as chamas do quintal com mangueiras de jardim e baldes de plástico - porque o mais certo é que desabafos como este não passem de conversa... debalde.

(C. Medina Ribeiro)

*
Em jeito de comentário sobre o assunto e sobre o que escreveu o C. Medina Ribeiro apetece-me citar o velho provérbio que diz “só te lembras de S. Barbara quando fazem trovões”, e já agora aquela velha filosofia do “isto só acontece aos outros”.
É verdade que toda a gente sabe que não se deve ter mato até à porta de casa, que as arvores até uma determinada distância devem ser abatidas, que as matas devem ser limpas. E é também verdade que os autarcas, bombeiros, parques naturais, protecção civil, comunicação social etc. dizem repetidamente às pessoas o que devem fazer.

E isto não é um problema de lei é um problema de bom senso. Além disso a afirmação do ministro de que a lei não é cumprida é apenas o reconhecimento de que a sanha legisladora deste país produz coisas impensáveis e impossíveis de fazer cumprir (conhece algum peão que alguma vez tenha sido multado por atravessar uma rua a menos de 50 metros de uma passadeira?).
Acontece ainda que a floresta e o mato deixaram de ter importância económica para as pessoas. Já não se apanha mata para fazer camas para o gado nem para o alimentar, os baldios já não existem, não há lareiras nem fogões nas casas (a não ser para divertimento) que consumam os resíduos florestais. Tudo isso deixou de ter importância. Disso tudo resta apenas a beleza das paisagens e o impacto ambiental na desertificação.
O que é espantoso é o facto de na televisão nós sermos bombardeados com a atitude desesperada das pessoas quando lhes ardem coisas às quais não dão qualquer importância durante o resto do ano. Para além disso o velho provérbio espanhol que diz que “os fogos se apagam no Inverno” faz todo o sentido.

Fernando Frazão

*

1 - A questão colocada por C.Medina Ribeiro, das "árvores junto às casas", carece de melhor precisão. O que vejo no território são cada vez mais casas novas a serem construídas junto às árvores. Não se pode falar apenas nas "árvores que estão onde não deviam estar", isso é escamotear o problema das casas que estão onde não deviam estar. Estão aqui subjacentes questões profundas do ordenamento do território que é preciso enfrentar.

Confrontando os PDM com a realidade no terreno, verifica-se que, especialmente nas áreas periféricas, permanecem vagos a esmagadora maioria dos solos que eram destinados a novas construções para colmatação dos núcleos e consolidação dos aglomerados. Entretanto, o valor patrimonial desses solos aumentou graças à sua classificação como "urbanos" no PDM. Aumentou também porque, em virtude da sua classificação, é nessas áreas que se vão fazendo investimentos públicos na instalação de novas infraestruturas e melhoria das já existentes. Basta dar uma volta por qualquer aldeia do norte e do centro para ver a imensa quantidade de espaços livres entre as casas existentes, terrenos que confinam com a rua, com passeios de peões, com redes de água e esgotos, iluminação pública, etc, com todas as aptidões para receber casas – mas que permanecem desaproveitados. No entanto, na matriz esses solos permanecem, de um modo geral, inscritos como "rústicos", e é nessa base que são tributados. Em suma: a classificação administrativa como "urbanos" valoriza-os automaticamente, o dinheiro público infraestrutura-os, os proprietários, sem esforço, ficam com o seu património altamente valorizado, não pagam impostos por isso, especulam com o seu valor no mercado, o preço do metro quadrado atinge valores absurdos até nas aldeias – e muitas pessoas acabam por ir construir em áreas indesejáveis, onde o solo é mais barato, dispersando cada vez mais as construções. É por isso que as casas estão a ir para ao pé das árvores. Depois, recomeça o ciclo: os eleitores reclamam, a junta da freguesia asfalta a estrada, 4 anos depois põe a rede de água...
Este fenómeno da dispersão urbanística, combinado com a profusão descontrolada do eucalipto – que, sendo a mais rentável, é a árvore que arde melhor e a que mais eficazmente propaga o fogo – constituem a matriz do nosso actual ordenamento do território em extensas áreas do país.

2 - Agora cabe perguntar-se: porque é que se deixam construir as casas nesses locais? Porque são muito débeis os regimes de protecção dos solos não urbanos:
um vulgar solicitador facilmente monta esquemas que, a coberto da compropriedade, dão cobertura jurídica ao fraccionamento descarado de artigos rústicos; facilmente se manipulam e multiplicam os artigos; facilmente se obtém uma desafectação da RAN (Reserva Agrícola Nacional) ou da floresta para construção de "habitação própria"; facilmente se vende essa "habitação própria" e se faz outra, noutro "artigo"; as áreas florestais, nos PDM, são em regra "o que sobra" em termos de ordenamento, sem regime de protecção ou com fracas restrições à urbanização; etc.
Ou seja: as facilidades e os direitos inerentes ao uso da propriedade do solo são cada vez mais fortes e mais desproporcionais em relação ao interesse público.
A verdade é que a legislação e a regulamentação são cada vez mais protectoras dos direitos da propriedade do solo (vd os valores absurdos alcançados em sede de expropriação para fins de utilidade pública). Por outro lado, no que se refere ao controlo do uso do solo / ordenamento do território, as leis e regras são cada vez mais defensivas e cada vez menos proactivas.

Por outras palavras: quem de facto tem a iniciativa e a capacidade de ocupar, usar e transformar o solo é essencialmente o agente do interesse privado, alicerçado no valor financeiro do solo. A administração pública reduz-se ao papel de defensora dos outros valores inerentes ao território (vd estrutura ecológica, RAN, valores intangíveis como a "paisagem", etc) – e mesmo aí vai recuando e cedendo cada vez mais. Entregue à iniciativa do interesse privado, o crescimento das povoações é inconsistente, errático, descontínuo no espaço e no tempo.
Entretanto, nas nossas vilas e cidades, é extraordinário o número de edifícios abandonados e em ruínas, absurdo o número de novos fogos excedentários, incontável o número de construções não licenciadas. Simultaneamente, cresce imparável o fenómeno das periferias.

Nas aldeias também há especulação fundiária, por isso também há periferias. "As casas vão para ao pé das árvores. Depois, recomeça o ciclo... "
Em suma: desenvolveu-se, generalizou-se e consolidou-se por todo o país, e no próprio aparelho de Estado, um complexo e poderoso modelo de operação sobre o território, em que o interesse privado é definitivamente o líder proactivo e o interesse público é o espectador conformado, o agente servil, passivo/defensivo.
O ordenamento do território está cada vez mais refém dos grandes, médios, pequenos e manhosos interesses do mercado fundiário e imobiliário, o qual assenta essencialmente no valor do solo e nos exagerados direitos da propriedade.
As implicações deste modelo vão muito para além do mero resultado físico e do aspecto (in)estético das nossas cidades, vilas, paisagens.
Os eucaliptos e as casas vão ardendo, mas nem por isso o negócio dos solos deixa de prosperar.

(Joaquim Jordão)

(url)


RETRATOS DO TRABALHO NA RIA DE AVEIRO, PORTUGAL



(Gil Coelho)

(url)


COISAS DA SÁBADO:
GUERRA, A DIMENSÃO QUE NÓS PERDEMOS, FELIZMENTE / INFELIZMENTE



Felizmente que nós, a minha geração europeia, perdemos a noção do que era a guerra. Infelizmente que nós, a minha geração europeia e as gerações seguintes, perdemos a dimensão do que é a guerra. Pode parecer contraditório mas não é. Entre 1945 e 1990, os europeus conheceram o período maior de paz continuada de toda a sua história. Toda, desde há mais de dois mil anos, se é que se pode contar a Europa desde o império romano e o nascimento de Cristo no Médio Oriente.

Pudemos viver grande parte da nossa vida em paz, em Portugal mais do que no resto da Europa, sem sequer as angústias dos nossos pais e avós, com a guerra espanhola ao lado e a segunda guerra europeia de que escapamos por um fio. Como os europeus desde 1945, vivemos a guerra fria protegidos pelo guarda-chuva nuclear americano, nem sequer tivemos que pagar os custos plenos da defesa, construindo um “modelo social” que deve muito da sua existência aos gastos americanos com a defesa. Foi bom, enquanto durou, mas está a acabar.

Subitamente, a guerra da Jugoslávia e os terrorismos de Madrid e Londres, mostraram que a guerra está mais perto do que imaginamos, mas continuamos a não querer ver e a confiar no destino. O conflito no Médio Oriente, o terrorismo em Nova Iorque são muito nossos, mas continuamos a meter a cabeça na areia e a desejar que os americanos e os israelitas paguem o preço do sangue e nos protejam. É por isso que, ou estamos dispostos a assumir que a paz se defende, inclusive por meios militares, ou teremos guerra na nossa casa em condições de muito maior fragilidade. Um teste importante pode ser a disposição europeia de participar numa força efectiva que garanta que não há ataques na fronteira norte de Israel, diminuindo assim significativamente a tensão na zona, construindo a paz com os moderados árabes e impedindo que os extremistas a sabotem todos os dias. Uma força efectiva, disse eu.

(url)


PIRATARIAS 14



Nos últimos quatro dias o Abrupto foi ele mesmo, sem perturbações alheias. A última vez que o falso apareceu, a uma hora habitual, por volta das 20 horas, o Blogger prometeu mais uma vez "investigar". Já tive retornos suficientes para ainda não considerar a pirataria encerrada e o Abrupto navegando como habitual. O(s) responsável(eis) ainda não teve (tiveram) que se passear pela prancha ou ver a vista de uma corda alta, pelo que continua a vigilância.

(url)


EARLY MORNING BLOGS
835 - Proserpina, Cyane Libro V - vv 385-520

Raub der Proserpina - Kunstdrucke, Gemälde und Bilder

(Continuação)

Fra Ciane ed Aretusa si stende una zona di mare
chiusa da due esili punte di terra:
qui visse Ciane, la ninfa più famosa di Sicilia,
e da lei ebbe nome lo stagno. Ora la ninfa
uscendo improvvisa dall'acque sino ai fianchi,
riconobbe la dea e così disse: «O Plutone,
non andrai lontano; se Cerere non vuole
non potrai avere la fanciulla: dovevi chiedere
Proserpina, non prenderla con forza.
E se piccole cose posso accostare alle grandi,
anch'io, amata da Anapo, divenni la sua sposa
alle vive preghiere, non per timore.»
Disse, e aprendo le braccia cercava di fermarlo.
Ma non tenne più l'ira il figlio di Saturno,
e incitando i tremendi cavalli, col braccio potente
vibrò lo scettro dentro il profondo dell'acque:
e la terra percossa aprì la via del Tartaro,
e riportò nell'abisso l'obliquo carro veloce.
Ora Ciane piangendo la dea rapita e le leggi
della fonte spezzate da Plutone, ha come ferito
il cuore silenzioso, e si consuma in lacrime
e si scioglie in quelle acque di cui fu dea suprema.
Avresti potuto vedere le membra farsi tenere,
le ossa Flessibili, le unghie perdere durezza,
e sciogliersi in acqua le parti più sottili:
le chiome azzurre, i piedi, le dita, le gambe,
perché più rapide mutano le esili membra
in acque gelide. Poi gli òmeri, la schiena,
fianchi e il petto furono piccoli ruscelli,
l'acqua giunse al sangue per le vene guaste,
nulla rimase di lei che si potesse prendere.
Intanto la madre cercava con ansia la figlia
per tutta la terra e nel profondo del mare.

(Continua)

(Salvatore Quasimodo, Dalle "Metamarfosi" di Ovidio)

*

Bom dia!

(url)

7.8.06


RETRATOS DO TRABALHO NA TUNÍSIA



(José Farinha)

(url)


COISAS DA SÁBADO:
SERÁ QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO CONSEGUE FAZER AS COISAS BEM UMA ÚNICA VEZ?



A mediatização da justiça podia ser inevitável, era só uma questão de tempo, mas, no caso nacional, essa mediatização foi deliberadamente procurada por um dos “agentes da justiça”, o Ministério Público. Tudo resultou de uma prática que uniu dois interesses convergentes: o Ministério Público no tempo de Narciso da Cunha Rodrigues, que exerceu o cargo de 1984 a 2000 e moldou a instituição e um jornal populista, e o Independente, destinado a combater o governo do PSD e a abrir caminho para a carreira política de Paulo Portas. Esta coligação de interesses era muito semelhante à que se tinha verificado em Itália durante os tempos da “república dos juízes” e associava o justicialismo comunista e da extrema-esquerda, muito bem representado na corporação dos procuradores, com o populismo anti-políticos e anti-parlamentar da direita radical.

Com o tempo, esta aliança começou a desgastar-se e a revelar os seus efeitos perversos. O MP, afinal só anunciava não “produzia” e aqueles que viam o seu nome envolvido em suspeitas públicas e publicadas nunca eram levados a tribunal e, se o eram, saiam inocentes. Por outro lado, o principal político populista, Portas, a quem esta estratégia serviu para colocar o PS no poder (com quem objectivamente se aliou) em vez do PSD, acabou por provar da sua própria medicina no “caso Moderna”. No intervalo, os políticos do PSD, do PS, do CDS e do PCP deram ao MP quase tudo que ele exigia, em particular um modelo de autonomia quase sem limites, à italiana, com medo de parecerem pouco zelosos na luta contra a corrupção.

Com a mudança do Procurador, este encontrou um MP fortalecido com poderes até ao limite da afronta às liberdades pessoais e direitos de defesa, com utilização quase indiscriminada e incontrolada das escutas telefónicas (responsável: António Costa) e da prisão preventiva como instrumento de coação. A instituição estava solidamente ancorada no justicialismo. Só que o monstro que o anterior Procurador tinha despertado, a comunicação social, já não era apenas e só um jornal e um político, mas sim uma multidão de voyeurs (no meio de alguns poucos bons jornalistas) que queria sangue dos políticos e queria resultados, queria barras da cadeia à frente de caras conhecidas. Como isso não acontecia, começou a olhar para os lados do próprio MP com uma nova curiosidade e com perguntas cada vez mais complicadas. A chave de todo este “sistema” era a violação programada do segredo de justiça, mas, a uma dada altura, o “programado” passou a ser “programado por A contra B” e vice-versa. O vice-versa estragou tudo e o caso Casa Pia explodiu no ar rarefeito.

Começou a perceber-se que o MP usava e abusava das escutas telefónicas e que os métodos de investigação mostravam que esta descambara de uma procura de responsáveis para os crimes que se sabiam ter sido cometidos, para uma investigação sistemática de todos os políticos. O caso chamado do “envelope 9”, que é um subproduto do caso Casa Pia, tornou-se revelador dessa inquirição sistemática, tipo rede de arrasto, o que pouco tem a ver com a investigação de um crime. É outra coisa, é política.

SERÁ QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO CONSEGUE FAZER AS COISAS BEM UMA ÚNICA VEZ? - 2

As notícias sobre a ilibação de Nobre Guedes, cuja busca ao escritório foi precedida de indicação à comunicação social de que esta ia ser realizada, (como aconteceu também com Jorge Coelho) , obriga a condenar a forma como se fez uma penalização social gravíssima para pessoas que acabam por ser inocentadas sem nada de semelhante às parangonas com que foram culpabilizadas. Isto, junto com a negação pelo tribunal do acesso aos computadores do 24 Horas, cortando cerce uma cortina de fumo sobre o objectivo inicial do inquérito (saber por que razão estavam no processo Casa Pia listagens que não deveriam estar e quem foi responsável por esse acto), são importantes revezes do Ministério Público. Somam-se a muitos outros revezes, do caso Apito Dourado ao que aconteceu com Fátima Felgueiras e Isaltino de Morais. O MP atira para vários lados, as fugas de informação criam expectativas de culpas e de penas e depois, nada, nada, nada…

No intervalo, ficam estilhaços por todos os lados, inocentes que carregarão sempre a culpa que lhes foi lançada nos jornais, culpados que se escapam no meio de métodos de investigação, que se revelam incompetentes e negligentes. Mais do que isso: os abusos entretanto cometidos revelam os efeitos perigosos de uma atitude justicialista, ou seja, de uma política que nada tem a ver com a democracia. Quando uma instituição central do nosso sistema de justiça entra na política está posto em causa o funcionamento normal da democracia.

Esta é a questão de fundo do que se passa no MP e, hoje, é responsabilidade do Primeiro-Ministro e do Presidente da República. Assim não pode continuar.

(url)


RETRATOS DO TRABALHO EM VALADARES, PORTUGAL



Venda ambulante na praia.

(Gil Coelho)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]