ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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31.12.10
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COISAS DA SÁBADO: VAMOS TER MAIS LIBERDADE?
Não. Vamos ter muito menos liberdade. Começa porque com menos dinheiro há menos liberdade, com menos propriedade há menos liberdade. Os antigos sabiam isso, nós é que tendemos a esquecê-lo em teoria, embora saibamos muito bem que é assim na prática. Não é com mais dependência do “estado social” que há mais liberdade, é com menos, é com escolhas e com a possibilidade de fazer escolhas porque temos os meios para as fazer. Não é com um fisco galopante para pagar dívidas ainda mais velozes, que há mais liberdade. Não é com a polícia persecutória de tudo o que sobe que nós subimos, bem pelo contrário é assim que se desce mais. Não é com medo do presente e ainda mais medo do futuro, que há mais liberdade. Não é com a combinação tenebrosa de muito egoísmo individual e muita inveja socializada que há mais liberdade, mas muito menos. Este é um prognóstico que nem um cêntimo vale de tão evidente que é. (url) ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE E ESTES DIAS Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)
(url) EARLY MORNING BLOGS 1936 - A Song for New Year's Eve Stay yet, my friends, a moment stay— Stay till the good old year, So long companion of our way, Shakes hands, and leaves us here. Oh stay, oh stay, One little hour, and then away. The year, whose hopes were high and strong, Has now no hopes to wake; Yet one hour more of jest and song For his familiar sake. Oh stay, oh stay, One mirthful hour, and then away. The kindly year, his liberal hands Have lavished all his store. And shall we turn from where he stands, Because he gives no more? Oh stay, oh stay, One grateful hour, and then away. Days brightly came and calmly went, While yet he was our guest; How cheerfully the week was spent! How sweet the seventh day's rest! Oh stay, oh stay, One golden hour, and then away. Dear friends were with us, some who sleep Beneath the coffin-lid: What pleasant memories we keep Of all they said and did! Oh stay, oh stay, One tender hour, and then away. Even while we sing, he smiles his last, And leaves our sphere behind. The good old year is with the past; Oh be the new as kind! Oh stay, oh stay, One parting strain, and then away. (William Cullen Bryant)
(url) 28.12.10
HOJE DE NOVO
(url) (url) O MUNDO DOS LIVROS (3) "An anarchist collective bookstore": Left Bank Books, Seattle, EUA. (António João Correia) (url) (url) EARLY MORNING BLOGS 1935 - Further Instructions Come, my songs, let us express our baser passions. Let us express our envy for the man with a steady job and no worry about the future. You are very idle, my songs, I fear you will come to a bad end. You stand about the streets, You loiter at the corners and bus-stops, You do next to nothing at all. You do not even express our inner nobilitys, You will come to a very bad end. And I? I have gone half-cracked. I have talked to you so much that I almost see you about me, Insolent little beasts! Shameless! Devoid of clothing! But you, newest song of the lot, You are not old enough to have done much mischief. I will get you a green coat out of China With dragons worked upon it. I will get you the scarlet silk trousers From the statue of the infant Christ at Santa Maria Novella; Lest they say we are lacking in taste, Or that there is no caste in this family. (Ezra Pound) (url) 27.12.10
COISAS DA SÁBADO: OS DEBATES PRESIDENCIAIS: ESCREVER SOBRE O NADA Os pobres dos jornalistas que tem que andar à procura de alguma coisa de relevo nos debates e os comentadores que já ouvi dizendo absolutas enormidades (como por exemplo, Nobre “ganhou” o debate a Cavaco, ou Nobre “ganhou” a Francisco Lopes, ou enormidades de um simplismo brutal sobre o “voto católico”), também ajudam à desgraça. É pena que não tenhamos como os alemães a possibilidade de construir palavras como não-festa para caracterizar estes debates. Surpresas? Também não são critério, mas eu tive uma: Nobre tem a pior das posturas, pessoal e nos debates, uma mistura de vaidade e aproveitamento biográfico sem pudor, populismo e ignorância. Nobre acha que são virtudes, porque ele “é o único que não veio da política”, mas são política do pior. E também não é verdade que Nobre não mostrasse de há muito tempo o tipo de apetite político que costuma manifestar-se nos presidenciáveis-em-devir: tornou-se alguém que nos últimos anos mostrou um especial interesse em caucionar candidatos, Barroso no PSD, Costa do PS em Lisboa, o Bloco de Esquerda, etc. E mesmo o discurso que sempre teve sobre a AMI, em que ninguém contesta o mérito do seu trabalho, sempre foi muito politizado e, pelos vistos, agora usa-o como vantagem na campanha. (url) ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM) (url) HOJE DE NOVO
(url) (url) (url) COISAS DA SÁBADO: NÃO É SÓ DESGRAÇAS VZCZCXRO9896 PP RUEHAG RUEHBC RUEHDE RUEHKUK RUEHROV DE RUEHLB #0523/01 1071642 ZNY SSSSS ZZH P 161642Z APR 08 FM AMEMBASSY BEIRUT
TO RUEHC/SECSTATE WASHDC PRIORITY 1544
INFO RUEHEE/ARAB LEAGUE COLLECTIVE
RUCNMEM/EU MEMBER STATES COLLECTIVE
RUEHNO/USMISSION USNATO 2418
RHMFISS/CDR USCENTCOM MACDILL AFB FL
RHEHNSC/NSC WASHDC É óbvio que o tratamento das “revelações” da Wikileaks segue normalmente a linha do maior escândalo nacional, país a país, como é normal na comunicação nacional. Alguns telegramas publicitados esta semana ganhavam em ser sintetizados numa notícia, em vez de serem publicados na íntegra porque fazem parte da categoria que pode levar a retaliações físicas contra pessoas fáceis de identificar e envolvidas em histórias muito perigosas. Este é um dos aspectos mais censuráveis na actuação do Wikileaks, visto que o conteúdo informativo desses telegramas podia ser mantido sem qualquer perda, sem os elementos de identificação de pessoas. Mas o conteúdo desses telegramas, para variar, mostra um serviço mundial da diplomacia (e não só) americana: a luta contra o tráfego internacional de materiais radioactivos proibidos. Pode sempre ter-se a linha cínica e dizer que essa luta serve em primeiro lugar interesses americanos, porque os EUA são o alvo número um. Mas a verdade é que, mesmo assim, protege-nos a todos da possibilidade da utilização terrorista de “bombas sujas” com material nuclear e radiológico. (url) EARLY MORNING BLOGS 1934 - Night on the Mountain The fog has risen from the sea and crowned The dark, untrodden summits of the coast, Where roams a voice, in canyons uttermost, From midnight waters vibrant and profound. High on each granite altar dies the sound, Deep as the trampling of an armored host, Lone as the lamentation of a ghost, Sad as the diapason of the drowned. The mountain seems no more a soulless thing, But rather as a shape of ancient fear, In darkness and the winds of Chaos born Amid the lordless heavens' thundering— A Presence crouched, enormous and austere, Before whose feat the mighty waters morn. (George Sterling)
(url) 26.12.10
HOJE DE NOVO
(url) (url) EARLY MORNING BLOGS 1933 - Character Of The Happy Warrior Who is the happy Warrior? Who is he That every man in arms should wish to be? --It is the generous Spirit, who, when brought Among the tasks of real life, hath wrought Upon the plan that pleased his boyish thought: Whose high endeavours are an inward light That makes the path before him always bright; Who, with a natural instinct to discern What knowledge can perform, is diligent to learn; Abides by this resolve, and stops not there, But makes his moral being his prime care; Who, doomed to go in company with Pain, And Fear, and Bloodshed, miserable train! Turns his necessity to glorious gain; In face of these doth exercise a power Which is our human nature's highest dower: Controls them and subdues, transmutes, bereaves Of their bad influence, and their good receives: By objects, which might force the soul to abate Her feeling, rendered more compassionate; Is placable--because occasions rise So often that demand such sacrifice; More skilful in self-knowledge, even more pure, As tempted more; more able to endure, As more exposed to suffering and distress; Thence, also, more alive to tenderness. --'Tis he whose law is reason; who depends Upon that law as on the best of friends; Whence, in a state where men are tempted still To evil for a guard against worse ill, And what in quality or act is best Doth seldom on a right foundation rest, He labours good on good to fix, and owes To virtue every triumph that he knows: --Who, if he rise to station of command, Rises by open means; and there will stand On honourable terms, or else retire, And in himself possess his own desire; Who comprehends his trust, and to the same Keeps faithful with a singleness of aim; And therefore does not stoop, nor lie in wait For wealth, or honours, or for worldly state; Whom they must follow; on whose head must fall, Like showers of manna, if they come at all: Whose powers shed round him in the common strife, Or mild concerns of ordinary life, A constant influence, a peculiar grace; But who, if he be called upon to face Some awful moment to which Heaven has joined Great issues, good or bad for human kind, Is happy as a Lover; and attired With sudden brightness, like a Man inspired; And, through the heat of conflict, keeps the law In calmness made, and sees what he foresaw; Or if an unexpected call succeed, Come when it will, is equal to the need: --He who, though thus endued as with a sense And faculty for storm and turbulence, Is yet a Soul whose master-bias leans To homefelt pleasures and to gentle scenes; Sweet images! which, wheresoe'er he be, Are at his heart; and such fidelity It is his darling passion to approve; More brave for this, that he hath much to love:-- 'Tis, finally, the Man, who, lifted high, Conspicuous object in a Nation's eye, Or left unthought-of in obscurity,-- Who, with a toward or untoward lot, Prosperous or adverse, to his wish or not-- Plays, in the many games of life, that one Where what he most doth value must be won: Whom neither shape or danger can dismay, Nor thought of tender happiness betray; Who, not content that former worth stand fast, Looks forward, persevering to the last, From well to better, daily self-surpast: Who, whether praise of him must walk the earth For ever, and to noble deeds give birth, Or he must fall, to sleep without his fame, And leave a dead unprofitable name-- Finds comfort in himself and in his cause; And, while the mortal mist is gathering, draws His breath in confidence of Heaven's applause: This is the happy Warrior; this is he That every man in arms should wish to be. (William Wordsworth)
(url) 25.12.10
HOJE DE NOVO
(url) COISAS DA SÁBADO: O IMPASSE DA EUROPA Só há um mérito no actual impasse europeu, é o de as pessoas poderem perceber melhor uma realidade que já existia antes e que se negavam a admitir. Esta realidade é a das relações de força que levam a uma evolução da União Europeia para uma oligarquia, quase uma duarquia, europeia, que decide em função dos seus interesses nacionais e não de um “espírito europeu”. A retórica europeísta parece ser hoje pouco mais do que uma muleta dos necessitados para que os salvem da situação de desespero. Mas, se as pessoas percebem melhor aquilo que no optimismo beato europeu não queriam ver, convinha que compreendessem também que o que vai acontecer é que os que precisam vão ficar cada vez mais federalistas e integracionistas, e os que não precisam, cada vez mais nacionalistas. Ou seja, não se aprendeu nada. (url) EARLY MORNING BLOGS 1932 - Raindrops Raindrops are such funny things. They haven't feet or haven't wings. Yet they sail through the air, With the greatest of ease, And dance on the street, Wherever they please. (Anónimo)
(url) 24.12.10
(url) EARLY MORNING BLOGS 1931 - The Moods Time drops in decay, Like a candle burnt out, And the mountains and woods Have their day, have their day; What one in the rout Of the fire-born moods Has fallen away? (William Butler Yeats)
(url) 23.12.10
2011: O ANO NEFASTO
Diz-se que depois da tempestade vem a bonança, mas uma parecença de bonança também vem antes da tempestade. E, em tempo de metáforas meteorológicas, também há o olho do furacão, esse local de paz, antes de os céus nos caírem em cima. Estamos a viver um breve momento de alguma acalmia, depois da votação do Orçamento, acalmia que é mais da ordem de nem tudo continuar, de dia para dia, a ficar pior, do que de estar a ficar melhor. O Natal ajuda, mesmo um Natal mais difícil. Mas preparemo-nos para o pior, que está para vir.
Apesar de, por todo o lado, parecer (e aparecer) que a pobreza cresce exponencialmente, ainda não é verdade, mas vai ser. Eu escrevi, para fúria de alguns, que se estava a gritar ao lobo quando ele está apenas nas margens do povoado, embora caminhe com muita certeza para o seu centro. O cardeal patriarca disse a mesma coisa há uma semana: cuidado porque ainda só estamos a entrar na crise social, porque ela estará no seu pleno em 2011. Pelos vistos não foi interpretado como estando a negar a realidade - não está, nem ele, nem eu, seu humilde e civil companheiro de dizer a mesma coisa -, mas o significado profundo de se avisar que estamos a fazer o barulho todo antes do tempo, em particular dirigido aos media, devia ser ponderado. Quando precisarmos de todos os esforços, de todos os recursos, de todos os alertas para defrontar o momento mais cruel de miséria, as palavras estarão gastas e os que podem dar já estão cansados de as ouvir. Todas as reportagens possíveis e imaginárias sobre a pobreza já estarão feitas e, para os media, o que não tem "novidade" já não existe. O tenebroso efeito mediático da masturbação da dor estará acabado, e nenhuma redacção irá repetir pela enésima vez reportagens sobre o Banco Alimentar, sobre os sem-abrigo, sobre o afluxo às instituições de solidariedade social, sobre a quebra de vendas no comércio. As entrevistas com os que conhecem a pobreza pela acção junto aos pobres sairão da agenda de qualquer telejornal, porque o tema é "chato" e toda a gente está "farta" dele. Ficaremos dependentes dos actos de desespero, quanto mais espectaculares melhor, porque se há coisa que se esgota com muita rapidez é a cobertura televisiva impressionista e ligeira sobre a crise social.
É 2011 o ano de todos os perigos, porque é em 2011 que andaremos violentamente para trás, deixando fora de vista na sua dramaticidade o recuo lento dos últimos anos, mesmo o recuo mais acelerado dos últimos dois anos. Começa, porque é só em Janeiro de 2011 que, primeiro para os círculos concêntricos à volta do Estado, para 700.000 portugueses, depois para 3 milhões e, por último, para todos, a vida vai começar a apertar. Salários e reformas, subsídios e apoios, tudo começará a diminuir, menos os preços, e, para aqueles que já vivem no limiar da pobreza, a queda será rápida. Apesar de a experiência mostrar que o Governo e o Ministério das Finanças não são particularmente capazes de controlar as despesas - são até manifestamente incapazes -, tenho poucas dúvidas de que, entalados como estão, vão passar do oito para o oitenta e haverá um enorme apertão em todo o Estado. Nem é preciso mais do que perceber o que está obsessivamente na mente do ministro das Finanças, que sabe que falhou em 2009 e em 2010, e quererá acertar em 2011. Os homens contam muito e este homem está muito ferido. Se não for a bem (e não vai ser), vai a mal, tudo raso à frente.
E depois, há as pessoas, a começar pelos reformados com pensões mínimas, a continuar pelos desempregados de longa duração, depois pelas famílias desconstruídas, seguindo-se os que já estão muito endividados, e prosseguindo em mil e uma categorias de risco, em que o corte mensal de vinte, cinquenta, cem euros para cima fará toda a diferença. A luz vai custar mais, os barcos que atravessam o Tejo vão custar mais, a água vai custar mais, as portagens vão custar mais, os comboios e os autocarros vão custar mais, a gasolina e o gasóleo vão custar mais, o gás vai custar mais, a vida mais comum e quotidiana vai custar mais. Haverá um vidro que vai continuar partido numa janela, uma lâmpada fundida num candeeiro que se deixou de utilizar, um telemóvel sem serviço, o condomínio mais um ano por pagar, um farol do carro por arranjar, um jornal que se deixou de comprar, um tapete estragado que continuará estragado, uma camisola gasta que se usa puída, uns sapatos velhos de mais, numa vida cansada de mais. Decisões muito complicadas vão ter que ser tomadas em meados de 2011 por muitas famílias: saber se continua a haver dinheiro para pagar a prestação da casa, as dívidas do cartão de crédito, o transporte para a escola, as propinas do filho ou da filha, os medicamentos mensais, as contas a que se reduziu a correspondência, os impostos. E podia continuar indefinidamente, porque há mil e uma atitudes que estão envolvidas nesta queda, a vida toda está envolvida. Estas enumerações são profundamente aborrecidas? São, poucas coisas são mais aborrecidas do que a pobreza. Nada nela brilha.
Em teoria, toda a gente sabe o que há-de fazer. Mas, mesmo que o façam na perfeição, só uma pequena minoria, mais capaz, com mais literacias, é capaz dessa perfeição: poupar, gastar racionalmente, minimizar despesas supérfluas, aguentar, prevenir-se, singrar nas águas agitadas, ter sorte. O resto levará com o tumulto em cima, um tumulto que afecta tanto fisicamente como psicologicamente. Vergonha, humilhação, medo, perda de dignidade, mais medo. Poderá protestar como nunca imaginou, com imensa raiva e violência. Poderá culpar tudo e todos, trucidar os políticos, os bancos, os vizinhos, os ladrões, os ciganos. Mas o mais provável é que sofra em silêncio, que perca os primeiros anos da sua vida adulta, os anos do meio e os anos do fim e o tempo da vida é a única coisa que nunca se recupera. 2011 é o ano da perda.
(Versão do Público de 18 de Dezembro de 2010.) (url) 22.12.10
COISAS DA SÁBADO: DITO TUDO ISTO, COM TODOS OS CUIDADOS, PREVENÇÕES E COM TRABALHO EDITORIAL…
… eu, se fosse jornalista, não teria dúvidas em divulgar toda a informação de interesse público existente nos telegramas “revelados” pela Wikileaks. (url) (url) EARLY MORNING BLOGS 1930 - Like Rain it sounded till it curved Like Rain it sounded till it curved And then I new 'twas Wind -- It walked as wet as any Wave But swept as dry as sand -- When it had pushed itself away To some remotest Plain A coming as of Hosts was heard It filled the Wells, it pleased the Pools It warbled in the Road -- It pulled the spigot from the Hills And let the Floods abroad -- It loosened acres, lifted seas The sites of Centres stirred Then like Elijah rode away Upon a Wheel of Cloud. (Emily Dickinson) (url) 21.12.10
COISAS DA SÁBADO: DOCUMENTOS QUE MATAM
Depois há documentos que estão classificados exactamente porque matam pelo seu conteúdo. Esses só um critério de absoluto, urgente, inequívoco interesse público e de força maior justifica a sua divulgação e mesmo assim com todos os cuidados. Não tenho dúvidas que alguma informação retirada dos arquivos da PIDE/DGS em 1974-5, em particular a que mais interessava aos soviéticos porque era oriunda de serviços de informação que trocavam informações com a polícia portuguesa, como o BOSS sul-africano, ou mesmo com origem na própria PIDE/DGS nas colónias, matou gente na Guiné, Angola e Moçambique depois da descolonização. E a divulgação do telegrama sobre as instalações consideradas estratégicas pelos EUA, é de escasso interesse público geral quando medido com o risco de fornecer uma lista de alvos a tudo o que seja terrorista profissional e amador. E a continuar assim não faltarão “revelações” que ponham em causa o risco de países e a segurança de pessoas. (Continua.) (url) (url) 19.12.10
COISAS DA SÁBADO: MEDIAÇÕES Quem, como os historiadores e os jornalistas especializados, tem que lidar com arquivos de polícia oriundos de regimes totalitários ou arquivos envolvendo matérias de sigilo e segredo, como é o caso dos “arquivos Mitrokhin” copiados do KGB, os arquivos soviéticos revelados depois da queda do Muro, os arquivos da STASI, os arquivos já abertos da “intelligence” e das operações aliadas da II Guerra Mundial, e, para todos os efeitos, os 250.000 telegramas diplomáticos americanos, sabe que tem que lhes pegar com pinças e ter o know how para deles extrair informação, sem necessariamente os tomar à letra. Primeiro, porque os documentos não são verdadeiros em si mesmos, no seu conteúdo, mesmo quando são fidedignos. Toda a gente que trabalha com documentos sabe que é comum o seu autor burocrático valorizar-se exagerando o conteúdo da informação que transmite. Depois é fundamental a apreciação crítica e inserção no contexto, compreendendo a natureza das comunicações diplomáticas, que não são a mesma coisa que as comunicações de “intelligence”, nem são actas de reuniões validadas pelos dois interlocutores. Sem estes cuidados, quem usasse as comunicações diplomáticas do Foreign Office oriundas da embaixada e consulados ingleses, nos anos 10 e 20 do século XX, para estudar Portugal (que são conhecidas), chumbaria em qualquer exame de história. Por fim, é preciso saber ler, o “diplomatês”, ou até sequer o inglês e ser fiel ao que lá está, para evitar a manipulação descuidada que tem vindo a ser feita dos telegramas já conhecidos sobre os voos de repatriação de Guantanamo, uma política pública e conhecida ao ponto de até haver presos recolocados em Portugal, confundidos com os voos para a prisão em Cuba, de que até agora não há traços nos telegramas. Até agora. (Continua.) (url) EARLY MORNING BLOGS 1930 - Now Close the Windows Now close the windows and hush all the fields: If the trees must, let them silently toss; No bird is singing now, and if there is, Be it my loss. It will be long ere the marshes resume, I will be long ere the earliest bird: So close the windows and not hear the wind, But see all wind-stirred. (Robert Frost) (url) 18.12.10
HOJE DE NOVO
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COISAS DA SÁBADO: A EXPERIÊNCIA PORTUGUESA DA ABERTURA DOS ARQUIVOS DA PIDE
Passados muitos anos sobre esta conversa, pode-se fazer um balanço do que aconteceu com os arquivos da PIDE/DGS que mostram que tinha razão. Na Alemanha nem sempre tudo correu bem. Na parte conhecida dos arquivos, mas no essencial também, a divulgação não provocou o cataclismo previsto por Brandt. No caso português, houve no início uma interpretação de ordem administrativa muito restritiva do direito ao acesso aos arquivos, que contrariava o espírito e letra da lei e que acabava por proteger mais os informadores do que as vítimas da PIDE/DGS, mas com o tempo materializou-se muita da abertura desejada. Muitos historiadores e alguns jornalistas consultaram os arquivos da polícia política e fizeram-no sempre em observância da lei dos arquivos, mas também do bom senso e do não sensacionalismo, de modo a que a historiografia do século XX avançou muito, sem casos de voyeurismo tablóide. E quem conhece este tipo de arquivos sabe bem como eles se prestam a essa exploração sensacionalista, quase sempre abusiva da privacidade das pessoas e distante da verdade. Se eles estivessem nas mãos da Wikileaks seria bem diferente o seu destino e o seu uso. (Continua.) (url) (url) COISAS DA SÁBADO: UMA DISCUSSÃO COM WILLY BRANDT A única vez que encontrei Willy Brandt, com algum tempo e espaço em condições, pouco tempo antes de morrer, tive com ele uma discussão animada, mesmo dura. O tema foi saber se sim ou não deveriam ser abertos os arquivos da STASI, que tinham sido “herdados” pela Alemanha reunificada. Brandt era veementemente contra e eu era a favor. Já tinha sido essa a minha opinião (e até intervenção legislativa) sobre os arquivos da PIDE/DGS, cuja completa abertura defendi. Brandt entendia, até pela sua própria experiência pessoal, que tal não devia ser feito não só pelas perturbações que isso poderia causar na sociedade alemã, como também porque seria difícil confirmar a veracidade de muito do que continham os documentos da polícia secreta comunista, e que os jornais tomariam à letra. Alguns dos argumentos de Brandt eram comuns aos opositores da abertura dos arquivos da PIDE/DGS em Portugal. Eu considerava que, em ambos os casos, com arquivos que já tinham um acesso selectivo – no caso português, o PCP e os soviéticos tinham podido consultar, copiar, roubar o que entenderam – e não havendo garantias sobre se pessoas estariam a ser sujeitas a chantagem devido ao conteúdo desses documentos, mais valia abrir os arquivos e esperar que a responsabilidade e respeito pela lei dos que os consultariam, resultariam mais vantagens do que inconvenientes. (Continua.) (url) EARLY MORNING BLOGS 1929 - Ralph Rhodes All they said was true: I wrecked my father's bank with my loans To dabble in wheat; but this was true -- I was buying wheat for him as well, Who couldn't margin the deal in his name Because of his church relationship. And while George Reece was serving his term I chased the will-o'-the-wisp of women, And the mockery of wine in New York. It's deathly to sicken of wine and women When nothing else is left in life. But suppose your head is gray, and bowed On a table covered with acrid stubs Of cigarettes and empty glasses, And a knock is heard, and you know it's the knock So long drowned out by popping corks And the pea-cock screams of demireps -- And you look up, and there's your Theft, Who waited until your head was gray, And your heart skipped beats to say to you: The game is ended. I've called for you. Go out on Broadway and be run over, They'll ship you back to Spoon River. (Edgar Lee Masters) (url) 17.12.10
HOJE DE NOVO
(url) (url) (NOT SO) EARLY MORNING BLOGS 1928 - Frost at Midnight poem The Frost performs its secret ministry, Unhelped by any wind. The owlet's cry Came loud, -and hark, again! loud as before. The inmates of my cottage, all at rest, Have left me to that solitude, which suits Abstruser musings: save that at my side My cradled infant slumbers peacefully. 'Tis calm indeed! so calm, that it disturbs And vexes meditation with its strange And extreme silentness. Sea, hill, and wood, With all the numberless goings-on of life, Inaudible as dreams! the thin blue flame Lies on my low-burnt fire, and quivers not; Only that film, which fluttered on the grate, Still flutters there, the sole unquiet thing. Methinks its motion in this hush of nature Gives it dim sympathies with me who live, Making it a companionable form, Whose puny flaps and freaks the idling Spirit By its own moods interprets, every where Echo or mirror seeking of itself, And makes a toy of Thought. (...) (Samuel Taylor Coleridge) (url)
© José Pacheco Pereira
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