ABRUPTO

1.1.11


ESPÍRITO DO TEMPO: ONTEM E HOJE 


31.12.10, Costa de Caparica (Luiz Boavida Carvalho).


Entardecer em São Martinho do Porto (Vítor Xavier ).


 Última tarde de 2010, na Quinta do Campo, Fregim, Amarante (Helder Barros).

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COISAS DA SÁBADO: VAI HAVER VIOLÊNCIA COLECTIVA NAS RUAS?



Talvez. A doutrina estabelecida é que os “nossos costumes são brandos”, frase originária do mesmo autor que defendia os “safanões a tempo” para evitar males maiores. Ou seja de um defensor da violência in camera, para a poupar nas ruas, onde a visibilidade dos tumultos atentava contra a perfeição da ordem. Mas a verdade e que essa doutrina estabelecida não tem fundamento histórico. Os portugueses foram capazes das maiores violências, quer entre si, quer com os estrangeiros. E estão tanto no código genético da nação as violências descritas na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, como as da guerra civil oitocentista em que nos matámos com grande vigor uns aos outros. Como já não temos identidade nacional para encontrar inimigos externos a não ser no futebol, tudo indica que o risco de violência será civil, interno, interior. Ou seja o pior dos riscos.

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O MUNDO DOS LIVROS (7)

Livraria Munro's, Victoria, Bristish Columbia, Canadá. (António João Correia)

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COISAS DA SÁBADO:
 


VAI CONTROLAR-SE O DEFICIT À PRIMEIRA?

Não. O actual governo é de uma total incompetência em controlar despesas de forma racional e programada, como se viu em 2009 e 2010. Como a gente é a mesma e não há milagres em matéria de competência, vamos continuar a ter o mesmo descalabro. Até um dia.

VAI CONTROLAR-SE O DEFICIT À SEGUNDA?

Talvez. No dia em que se perceber que é politicamente insustentável continuar a aumentar despesa, face ao novo Presidente, face a qualquer maioria parlamentar censória, face aos nossos controleiros de Bruxelas, face ao FMI, talvez, talvez, talvez, haja um tocar todos os sinos de alarme e ouvidos para os ouvir. A sobrevivência tem muita força, o desespero ainda mais. E se este governo é incapaz de fazer as coisas by the book, disso estou certo, pode ser capaz de as fazer disparando para todos os lados. Disso estou incerto.

COM QUE MEDIDAS?

Tudo o que venha à mão. Impostos, salários, pensões, investimentos, subsídios, despesas correntes, necessárias ou não, podem vir a levar um outro valente safanão lá para meio do ano maldito. Talvez disso seja capaz o actual governo. Relembro: a sobrevivência tem muita força, o desespero ainda mais.

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O MUNDO DOS LIVROS (6)


Lucy Parsons Center "an independent radical bookstore", Boston, EUA.

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EARLY MORNING BLOGS

1937

Ahab turned.


“Starbuck!”


“Sir.”


“Oh, Starbuck! it is a mild, mild wind, and a mild looking sky. On such a day—very much such a sweetness as this—I struck my first whale—a boy-harpooneer of eighteen! Forty—forty—forty years ago!—ago! Forty years of continual whaling! forty years of privation, and peril, and storm-time! forty years on the pitiless sea! for forty years has Ahab forsaken the peaceful land, for forty years to make war on the horrors of the deep! Aye and yes, Starbuck, out of those forty years I have not spent three ashore. When I think of this life I have led; the desolation of solitude it has been; the masoned, walled-town of a Captain’s exclusiveness, which admits but small entrance to any sympathy from the green country without—oh, weariness! heaviness! Guinea-coast slavery of solitary command!—when I think of all this; only half-suspected, not so keenly known to me before—and how for forty years I have fed upon dry salted fare—fit emblem of the dry nourishment of my soul!—when the poorest landsman has had fresh fruit to his daily hand, and broken the world’s fresh bread to my mouldy crusts—away, whole oceans away, from that young girl-wife I wedded past fifty, and sailed for Cape Horn the next day, leaving but one dent in my marriage pillow—wife? wife?—rather a widow with her husband alive? Aye, I widowed that poor girl when I married her, Starbuck; and then, the madness, the frenzy, the boiling blood and the smoking brow, with which, for a thousand lowerings old Ahab has furiously, foamingly chased his prey—more a demon than a man!—aye, aye! what a forty years’ fool—fool—old fool, has old Ahab been! Why this strife of the chase? why weary, and palsy the arm at the oar, and the iron, and the lance? how the richer or better is Ahab now? Behold. Oh, Starbuck! is it not hard, that with this weary load I bear, one poor leg should have been snatched from under me? Here, brush this old hair aside; it blinds me, that I seem to weep. Locks so grey did never grow but from out some ashes! But do I look very old, so very, very old, Starbuck? I feel deadly faint, bowed, and humped, as though I were Adam, staggering beneath the piled centuries since Paradise. God! God! God!—crack my heart!—stave my brain!—mockery! mockery! bitter, biting mockery of grey hairs, have I lived enough joy to wear ye; and seem and feel thus intolerably old? Close! stand close to me, Starbuck; let me look into a human eye; it is better than to gaze into sea or sky; better than to gaze upon God. By the green land; by the bright hearthstone! this is the magic glass, man; I see my wife and my child in thine eye. No, no; stay on board, on board!—lower not when I do; when branded Ahab gives chase to Moby Dick. That hazard shall not be thine. No, no! not with the far away home I see in that eye!”

(Herman Melville, Moby Dick)

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31.12.10


O MUNDO DOS LIVROS (5)


Commonwealth Books, Boston, EUA.

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COISAS DA SÁBADO: VAMOS TER MAIS LIBERDADE?

Não. Vamos ter muito menos liberdade. Começa porque com menos dinheiro há menos liberdade, com menos propriedade há menos liberdade. Os antigos sabiam isso, nós é que tendemos a esquecê-lo em teoria, embora saibamos muito bem que é assim na prática. Não é com mais dependência do “estado social” que há mais liberdade, é com menos, é com escolhas e com a possibilidade de fazer escolhas porque temos os meios para as fazer. Não é com um fisco galopante para pagar dívidas ainda mais velozes, que há mais liberdade. Não é com a polícia persecutória de tudo o que sobe que nós subimos, bem pelo contrário é assim que se desce mais. Não é com medo do presente e ainda mais medo do futuro, que há mais liberdade. Não é com a combinação tenebrosa de muito egoísmo individual e muita inveja socializada que há mais liberdade, mas muito menos. Este é um prognóstico que nem um cêntimo vale de tão evidente que é.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE E ESTES DIAS




Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1936 - A Song for New Year's Eve

Stay yet, my friends, a moment stay—
Stay till the good old year,
So long companion of our way,
Shakes hands, and leaves us here.
Oh stay, oh stay,
One little hour, and then away.

The year, whose hopes were high and strong,
Has now no hopes to wake;
Yet one hour more of jest and song
For his familiar sake.
Oh stay, oh stay,
One mirthful hour, and then away.

The kindly year, his liberal hands
Have lavished all his store.
And shall we turn from where he stands,
Because he gives no more?
Oh stay, oh stay,
One grateful hour, and then away.

Days brightly came and calmly went,
While yet he was our guest;
How cheerfully the week was spent!
How sweet the seventh day's rest!
Oh stay, oh stay,
One golden hour, and then away.

Dear friends were with us, some who sleep
Beneath the coffin-lid:
What pleasant memories we keep
Of all they said and did!
Oh stay, oh stay,
One tender hour, and then away.

Even while we sing, he smiles his last,
And leaves our sphere behind.
The good old year is with the past;
Oh be the new as kind!
Oh stay, oh stay,
One parting strain, and then away.

(William Cullen Bryant)

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28.12.10

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O MUNDO DOS LIVROS (4)

 Exposição no Smithsonian de livros raros.

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O MUNDO DOS LIVROS (3)


"An anarchist collective bookstore": Left Bank Books, Seattle, EUA. (António João Correia)

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE

Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1935 - Further Instructions

Come, my songs, let us express our baser passions.
Let us express our envy for the man with a steady job and no worry about the future.
You are very idle, my songs,
I fear you will come to a bad end.
You stand about the streets, You loiter at the corners and bus-stops,
You do next to nothing at all.


You do not even express our inner nobilitys,
You will come to a very bad end.


And I? I have gone half-cracked.
I have talked to you so much that I almost see you about me,
Insolent little beasts! Shameless! Devoid of clothing!


But you, newest song of the lot,
You are not old enough to have done much mischief.
I will get you a green coat out of China
With dragons worked upon it.
I will get you the scarlet silk trousers
From the statue of the infant Christ at Santa Maria Novella;
Lest they say we are lacking in taste,
Or that there is no caste in this family.

(Ezra Pound)

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27.12.10


COISAS DA SÁBADO: OS DEBATES PRESIDENCIAIS: ESCREVER SOBRE O NADA

Os pobres dos jornalistas que tem que andar à procura de alguma coisa de relevo nos debates e os comentadores que já ouvi dizendo absolutas enormidades (como por exemplo, Nobre “ganhou” o debate a Cavaco, ou Nobre “ganhou” a Francisco Lopes, ou enormidades de um simplismo brutal sobre o “voto católico”), também ajudam à desgraça. É pena que não tenhamos como os alemães a possibilidade de construir palavras como não-festa para caracterizar estes debates.

Surpresas? Também não são critério, mas eu tive uma: Nobre tem a pior das posturas, pessoal e nos debates, uma mistura de vaidade e aproveitamento biográfico sem pudor, populismo e ignorância. Nobre acha que são virtudes, porque ele “é o único que não veio da política”, mas são política do pior. E também não é verdade que Nobre não mostrasse de há muito tempo o tipo de apetite político que costuma manifestar-se nos presidenciáveis-em-devir: tornou-se alguém que nos últimos anos mostrou um especial interesse em caucionar candidatos, Barroso no PSD, Costa do PS em Lisboa, o Bloco de Esquerda, etc. E mesmo o discurso que sempre teve sobre a AMI, em que ninguém contesta o mérito do seu trabalho, sempre foi muito politizado e, pelos vistos, agora usa-o como vantagem na campanha.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE

Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)
 
 
Corte da Mina de São Domingos, Mértola, hoje de tarde. (Fernando Correia de Oliveira)
 

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O MUNDO DOS LIVROS (2)


Revolution Books, Nova Iorque, EUA.

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O MUNDO DOS LIVROS (1)


Cave da Livraria Galileu, Cascais.

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COISAS DA SÁBADO: NÃO É SÓ DESGRAÇAS

VZCZCXRO9896
PP RUEHAG RUEHBC RUEHDE RUEHKUK RUEHROV
DE RUEHLB #0523/01 1071642
ZNY SSSSS ZZH
P 161642Z APR 08
FM AMEMBASSY BEIRUT
TO RUEHC/SECSTATE WASHDC PRIORITY 1544
INFO RUEHEE/ARAB LEAGUE COLLECTIVE
RUCNMEM/EU MEMBER STATES COLLECTIVE
RUEHNO/USMISSION USNATO 2418
RHMFISS/CDR USCENTCOM MACDILL AFB FL
RHEHNSC/NSC WASHDC




É óbvio que o tratamento das “revelações” da Wikileaks segue normalmente a linha do maior escândalo nacional, país a país, como é normal na comunicação nacional. Alguns telegramas publicitados esta semana ganhavam em ser sintetizados numa notícia, em vez de serem publicados na íntegra porque fazem parte da categoria que pode levar a retaliações físicas contra pessoas fáceis de identificar e envolvidas em histórias muito perigosas. Este é um dos aspectos mais censuráveis na actuação do Wikileaks, visto que o conteúdo informativo desses telegramas podia ser mantido sem qualquer perda, sem os elementos de identificação de pessoas. Mas o conteúdo desses telegramas, para variar, mostra um serviço mundial da diplomacia (e não só) americana: a luta contra o tráfego internacional de materiais radioactivos proibidos. Pode sempre ter-se a linha cínica e dizer que essa luta serve em primeiro lugar interesses americanos, porque os EUA são o alvo número um. Mas a verdade é que, mesmo assim, protege-nos a todos da possibilidade da utilização terrorista de “bombas sujas” com material nuclear e radiológico.

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EARLY MORNING BLOGS

1934 -  Night on the Mountain

The fog has risen from the sea and crowned
The dark, untrodden summits of the coast,
Where roams a voice, in canyons uttermost,
From midnight waters vibrant and profound.
High on each granite altar dies the sound,
Deep as the trampling of an armored host,
Lone as the lamentation of a ghost,
Sad as the diapason of the drowned.

The mountain seems no more a soulless thing,
But rather as a shape of ancient fear,
In darkness and the winds of Chaos born
Amid the lordless heavens' thundering—
A Presence crouched, enormous and austere,
Before whose feat the mighty waters morn.

(George Sterling)

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26.12.10

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE

Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1933 - Character Of The Happy Warrior

Who is the happy Warrior? Who is he
That every man in arms should wish to be?
--It is the generous Spirit, who, when brought
Among the tasks of real life, hath wrought
Upon the plan that pleased his boyish thought:
Whose high endeavours are an inward light
That makes the path before him always bright;
Who, with a natural instinct to discern
What knowledge can perform, is diligent to learn;
Abides by this resolve, and stops not there,
But makes his moral being his prime care;
Who, doomed to go in company with Pain,
And Fear, and Bloodshed, miserable train!
Turns his necessity to glorious gain;
In face of these doth exercise a power
Which is our human nature's highest dower:
Controls them and subdues, transmutes, bereaves
Of their bad influence, and their good receives:
By objects, which might force the soul to abate
Her feeling, rendered more compassionate;
Is placable--because occasions rise
So often that demand such sacrifice;
More skilful in self-knowledge, even more pure,
As tempted more; more able to endure,
As more exposed to suffering and distress;
Thence, also, more alive to tenderness.
--'Tis he whose law is reason; who depends
Upon that law as on the best of friends;
Whence, in a state where men are tempted still
To evil for a guard against worse ill,
And what in quality or act is best
Doth seldom on a right foundation rest,
He labours good on good to fix, and owes
To virtue every triumph that he knows:
--Who, if he rise to station of command,
Rises by open means; and there will stand
On honourable terms, or else retire,
And in himself possess his own desire;
Who comprehends his trust, and to the same
Keeps faithful with a singleness of aim;
And therefore does not stoop, nor lie in wait
For wealth, or honours, or for worldly state;
Whom they must follow; on whose head must fall,
Like showers of manna, if they come at all:
Whose powers shed round him in the common strife,
Or mild concerns of ordinary life,
A constant influence, a peculiar grace;
But who, if he be called upon to face
Some awful moment to which Heaven has joined
Great issues, good or bad for human kind,
Is happy as a Lover; and attired
With sudden brightness, like a Man inspired;
And, through the heat of conflict, keeps the law
In calmness made, and sees what he foresaw;
Or if an unexpected call succeed,
Come when it will, is equal to the need:
--He who, though thus endued as with a sense
And faculty for storm and turbulence,
Is yet a Soul whose master-bias leans
To homefelt pleasures and to gentle scenes;
Sweet images! which, wheresoe'er he be,
Are at his heart; and such fidelity
It is his darling passion to approve;
More brave for this, that he hath much to love:--
'Tis, finally, the Man, who, lifted high,
Conspicuous object in a Nation's eye,
Or left unthought-of in obscurity,--
Who, with a toward or untoward lot,
Prosperous or adverse, to his wish or not--
Plays, in the many games of life, that one
Where what he most doth value must be won:
Whom neither shape or danger can dismay,
Nor thought of tender happiness betray;
Who, not content that former worth stand fast,
Looks forward, persevering to the last,
From well to better, daily self-surpast:
Who, whether praise of him must walk the earth
For ever, and to noble deeds give birth,
Or he must fall, to sleep without his fame,
And leave a dead unprofitable name--
Finds comfort in himself and in his cause;
And, while the mortal mist is gathering, draws
His breath in confidence of Heaven's applause:
This is the happy Warrior; this is he
That every man in arms should wish to be.

(William Wordsworth)

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© José Pacheco Pereira
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