ABRUPTO

18.12.10


COISAS DA SÁBADO: UMA DISCUSSÃO COM WILLY BRANDT

A única vez que encontrei Willy Brandt, com algum tempo e espaço em condições, pouco tempo antes de morrer, tive com ele uma discussão animada, mesmo dura. O tema foi saber se sim ou não deveriam ser abertos os arquivos da STASI, que tinham sido “herdados” pela Alemanha reunificada. Brandt era veementemente contra e eu era a favor. Já tinha sido essa a minha opinião (e até intervenção legislativa) sobre os arquivos da PIDE/DGS, cuja completa abertura defendi. Brandt entendia, até pela sua própria experiência pessoal, que tal não devia ser feito não só pelas perturbações que isso poderia causar na sociedade alemã, como também porque seria difícil confirmar a veracidade de muito do que continham os documentos da polícia secreta comunista, e que os jornais tomariam à letra. Alguns dos argumentos de Brandt eram comuns aos opositores da abertura dos arquivos da PIDE/DGS em Portugal. Eu considerava que, em ambos os casos, com arquivos que já tinham um acesso selectivo – no caso português, o PCP e os soviéticos tinham podido consultar, copiar, roubar o que entenderam – e não havendo garantias sobre se pessoas estariam a ser sujeitas a chantagem devido ao conteúdo desses documentos, mais valia abrir os arquivos e esperar que a responsabilidade e respeito pela lei dos que os consultariam, resultariam mais vantagens do que inconvenientes.

(Continua.)

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© José Pacheco Pereira
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